Sartori
Sartori é sobrenome de ampla difusão internacional, documentado historicamente nas variantes Sartorius, Sarto, Sartorio, Sartorelli, Sartoro, Sartore, Sartor, Sartory e outras. Seus registros mais antigos são do século XII, encontrados na Itália. O sobrenome produziu muitos grupos em vários países, de origens diferentes. A palavra deriva do latim sartorius, alfaiate. De qualquer maneira, muitas personalidades que levam o sobrenome se destacaram em várias áreas, como na política, nas artes e na ciência, e vários grupos foram enobrecidos. A variante Sartori predomina na Itália, concentrada até hoje nas regiões do Vêneto e Lombardia, mas encontrada quase em todas as suas regiões, em menores números.
Itália
[editar | editar código-fonte]O sobrenome teve origens múltiplas. Entre as citações mais antigas está a de Petrus Sartor, que em 1156 estabeleceu uma sociedade com Guglielmo Burone em Gênova.[2] Depois rapidamente aparecem outros em vários pontos do norte italiano, como Veneza (1186, 1181, 1191, 1197, 1207),[2][3][4] Monselice (1212),[5] Pádua e Melara (1213),[6] em geral com personagens ocupados em ações de pouca importância. Entre os primeiros a se destacar estão Patavino, filho de Giovanni, filho de Pietro, registrado como notário em Pádua em 1235;[7] Giovanni, em 1239 procurador de Walficherio, filho do juiz Eppone,[8] Boninsegna, senhor de Castel Rubino, que em 1283 teve sua fortaleza requisitada pela República de Veneza,[9] e o frade Bartolomeo, que em 1297 é procurador de Santa Maria della Misericordia.[10] Em Bardolino, Nogarole, Rimini, Veneza e Bobbio aparecem vários outros entre os séculos XIII e XIV, em geral negociando terras.[11][12][13][14][15]
Em Mestre, ao lado de Veneza, em 1672 Zuan Batista aparece chamado de dominus, uma dignidade reservada à nobreza,[16] e no século seguinte o signor Pietro é "riquíssimo mercador".[17] Giuseppe foi senador e secretário de Estado do governo veneziano no século XVIII.[18] No fim do século XIX Giuseppe foi feito cavaleiro hereditário em Veneza.[19]
A área ao redor de Veneza está cheia de outros núcleos de Sartoris com títulos nobres, presentes também em Belluno, Fagagna, Teolo, Borgoricco, Rovigo, Pádua e até Bolonha.[20][21][22][23][24] Na Cárnia foram chamados signori chiarissimi (senhores ilustríssimos).[25] Muitas villas em posse atual ou antiga de Sartoris se espalham pelo Vêneto, mostrando sua riqueza e influência e suas relações matrimoniais com muitas outras famílias da elite. Em Pádua adquiriram uma famosa villa histórica no início do século XIX, a Villa Selvatico Sartori.[26][27][28][29][30]
Destacaram-se em Treviso no século XIX Luigi, prodígio do piano morto precocemente, aluno de Liszt;[31] e o abade Luigi Sartorio, famoso literato, bibliotecário e personagem da história da Igreja. Também na cidade e província de Treviso possuíram várias villas, entre elas a grande Villa Cavarzerani, de estilo clássico e um exemplo típico da villa vêneta, ainda em posse de Sartoris.[28][32][33][34][35]
Na região de Trento viriam a adquirir reputação e posses. Matteo é citado em Pergine, em 1377, entre vários gastaldi e delegados de comunas presentes em uma assembleia, recebendo ordem de recolher os impostos devidos ao príncipe-bispo de Trento. Em 1438 Martino, filho do patrício Pietro, foi investido pelo bispo Alessandro no priorado de Santa Margherita.[36]
Antonio Giuseppe Sartori foi notado arquiteto; Franz Sartori foi escultor ativo na região germânica; o cavaleiro Giuseppe Federico foi conselheiro privado da duquesa reinante de Lucca,[37] e o padre Raffaello se tornou beato.[38] Membros da família se associaram por casamento aos condes de Ragogna e de Silvestro,[39][24] e podem ser citados ainda os podestà de Castel Goffredo e os nobres e barões do Sacro Império.[40]
No entanto, no século XIX a situação se torna bastante diversificada, os grandes dignitários declinam e começam a surgir rapidamente vários registros de Sartoris sem indicação de nobreza em diversos lugares no Vêneto e em outras partes da Itália e além, em grande difusão, ocupando ofícios diversificados, alguns bem comuns, como operários, artesãos e camponeses, outros são políticos, artistas, cientistas, juristas e doutores,[41][42][43][44] A Itália naquele período sofreu grandes atribulações, sendo palco de guerras, mudanças políticas, fome, devastações e carestias gerais, que foram as causas principais para o desencadeamento de uma grande onda emigratória para a América, havendo registro de muitos Sartoris se deslocando para a Argentina, Brasil e Estados Unidos, em variável situação financeira. Muitos estavam empobrecidos.[45][46][47][48][49][50]
Na Itália a família continuou a dar figuras notáveis no século XX, como Giovanni, famoso cientista político e ganhador do Prêmio Príncipe de Astúrias,[51][52] Claudio, musicólogo,[53] Alessio, campeão olímpico e comendador da Ordem do Mérito da República Italiana.[54] e Giovanni Maria, arcebispo de Trento.[55]
O grupo vicentino
[editar | editar código-fonte]O grupo mais populoso e notório do norte da Itália é provavelmente o de Vicenza, fundado em 1295 por membros do séquito do bispo florentino Andrea dei Mozzi.[56] Seus fundadores receberam um feudo em Roana, uma das Sete Comunas situadas no planalto vicentino, e foram inscritos na vassalagem da Mesa Episcopal, naturalizando-se como nobres vicentinos.[57][56] Dispondo de uma base social e econômica bem estabelecida, os novos Sartori prosperaram adquirindo vastas áreas de terras no planalto vicentino em torno de Roana,[58][59] fixando novas sedes sucessivamente em Enego, Foza, Gallio, Asiago e Valstagna, descendo então pelo vale do rio Brenta, onde estabeleceram laços de parentesco com as principais famílias da região, e depois se espalhando por muitas outras comunas no Vêneto, sendo invariavelmente recebidos nos patriciados locais.[60][61][62] Já haviam sido recebidos no patriciado cívico de Vicenza antes de 1500.[62] Construíram sepulcros monumentais nas Igrejas de San Michele e San Biagio, e deixaram descendência viva pelo menos até o século XIX.[63][64]
No século XVI a família já havia se dividido em múltiplos ramos e adquirido uma grande riqueza, especialmente através da exploração e comércio de madeira.[65][61] Podem ser citados Nicolò, comerciante riquíssimo, o notário Giovanni Giacomo Antonio, atestado em Vicenza 1537;[66] Matheus, reitor da Igreja de San Martin em 1644;[67] Giovanni, reitor da Igreja e do Orfanotrófio da Misericórdia em 1653;[68] um Sartori citado sem nome próprio, que em 1677 foi vicario pretorio (podestà substituto e capitão do povo); Lodovico, sacerdote e poeta ativo no final do século XVIII.[69] No século XIX se destacam Antonio, abastado notário;[70] Jacopo, funcionário de alto escalão da Deputação Provincial;[71] e o médico Lodovico, membro da Accademia Olimpica.[72]
A partir do século XVI fixaram sua principal sede em Bassano del Grappa, centro de um importante mercado regional, e ali foram recebidos no patriciado. Ao contrário do que ocorreu em Vicenza, em Bassano os Sartori por muito tempo ocuparam importantes posições no Conselho e na administração pública.[73] Produziram muitos próceres e intelectuais e abastados comerciantes, ganharam fama como família brilhante e empreendedora, mas também orgulhosa e turbulenta. Devido ao seu prestígio, os crimes e abusos cometidos por alguns de seus membros eram sempre tratados com muita benevolência pelas autoridades.[62] Foram agregados à nobreza da República de Veneza e reconfirmados como nobres em 1726 e 1816.[74]
Grupo de Commezzadura
[editar | editar código-fonte]Um outro grupo de interesse histórico foi formado em Commezzadura, atestado a partir do século XV, que usou principalmente a grafia latina de Sartoribus. Estabeleceram sede no distrito de Piano, onde o primeiro registro é de 1492, com Giovanni e seu filho Ognibene, que estavam entre as testemunhas na aquisição do Monte de la Costa. No início do século XVI aparecem no patriciado cívico Odorico e Giacomo. Andrea era cônsul de Commezzadura em 1731, e Giuseppe era padre no fim do século. A família se extinguou em Commezzadura no início do século XX, mas produziu ramos fixados nas redondezas.[75]
Em 1681 Donato, filho de Iacobo, comprou o feudo de Belveder, em Croviana, e deu origem a uma distinguida linhagem de notários, entre eles Francesco Lorenzo, que participou da reforma dos estatutos comunais em 1700, e Donato Giovanni Grisostomo, notário público de Croviana, chanceler de Rabbi entre 1735 e 1763 e síndico de Croviana em 1747.[75] Seu antigo casarão, hoje conhecido como Casa Busetti, é uma das mais destacadas edificações da cidade pela sua antiguidade e importância histórica.[76]
Um ramo se fixou em Pergine Valsugana no século XVII, onde tiveram um palácio, a antiga Casa Sartori, hoje chamada Palazzo Tomelin.[77] Nicolao, filho do dominus Seraphino, em 1618 era o regolano de Pergine. Em 1642 o dominus Ioannes participou da doação de novos sinos para a Igreja de Sant'Ana.[78] Em 1705 Giovan Batista era gastaldo e conselheiro, em 1775 Giovanni e seu filho Pietro eram notários, em 1776 Giovanni Battista era conselheiro no distrito de Costasavina.[79] No mesmo ano Giovanni Domenico era pároco de Pergine.[80] No século XIX o sobrenome reverte à forma Sartori. Pietro foi médico e cedeu o palácio da família para o general Giacomo Medici montar sua sede de comando. Em 1911-15 Giuseppe foi vice-capocomune do distrito de Roncogno.[79]
Outros países
[editar | editar código-fonte]Outros grupos foram condes de Sehwanenfeld e barões de Waltershausen.[81] Um grupo espanhol originou os viscondes de Priego e os condes de San Luis; nesta Casa nasceu don Luis José Sartorius, ministro de Estado e Grande de Espanha.[82] Num grupo inglês nasceu sir George Sartorius, almirante que lutou na Batalha de Trafalgar e na Guerra Peninsular.[38] Um grupo que se fixou nos Estados Unidos adquiriu reputação, riqueza e influência no século XIX, descendendo de Carlo, joalheiro de Pio VI. Seu principal expoente foi Giovanni Battista, grande industrial, benemérito da sociedade e cônsul dos Estados Unidos em Roma.[50]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- Imigração italiana no Brasil
- Imigração italiana na Argentina
- Imigração italiana nos Estados Unidos da América
- Nobreza da Itália
Referências
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Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Frantz, Ricardo André Longhi. Crônica das famílias Paternoster e Frantz e sua parentela em Caxias do Sul, Brasil: Estórias e História, Volume III - O passado na Europa. Academia.edu, 2020, pp. 88-123. Contém a história da família Sartori de Vicenza. No Volume I, a história de um ramo que imigrou para o Brasil, fundado por Salvador Sartori.