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Socotorá Portuguesa

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Socotorá Portuguesa
1507 – 1511
Flag Brasão
Bandeira Brasão
Localização de Socotorá
Localização de Socotorá
Desenho português de Socotorá
Continente Ásia
Capital Suq
Língua oficial Português
Religião Catolicismo
Islão Sunita
Nestorianismo
Governo Colónia
Capitães
 • 1507-1509 Afonso de Noronha
 • 1509-1510 Pedro Ferreira
 • 1510-1511 Pedro Correia
Período histórico Idade Moderna
 • Abril de 1507 Conquista
 • 1511 Evacuação

Entende-se por Socotorá Portuguesa o período em que a ilha de Socotorá, no Mar Arábico, esteve sob administração portuguesa e fez parte do império português. Conquistada à dinastia Mahra, de Qishn, no Iémen, em 1507 por Tristão da Cunha e Afonso de Albuquerque, foi abandonada em 1511 e a ilha reverteu para o domínio da dinastia Mahra.

História[editar | editar código-fonte]

Em princípios do séc. XVI Portugal encontrava-se envolvido em guerra contra o Samorim de Calecute, o Sultanato Mameluco do Cairo e a República de Veneza pelo controlo do comércio no Oceano Índico.[1] O rei D. Manuel mandou conquistar Socotorá, fundar na ilha uma fortaleza e estabelecer lá uma frota na crença de que de lá poderiam interceptar e cortar toda a navegação entre a Índia e o Médio Oriente através do Mar Vermelho.[1] Em Socotorá viviam também cristãos nestorianos, que os portugueses pretendiam libertar do jugo muçulmano.[2]

No mês de Abril de 1506 partiu de Lisboa uma frota de 14 navios, com Tristão da Cunha por capitão-mor. Cinco destes navios encontravam-se sob o comando de Afonso de Albuquerque, indigitado para o cargo de "capitão-mor-do-mar-da-Arábia" assim que chegassem e conquistassem a ilha. A caminho de Socotorá a expedição dispersou-se, reuniu-se na costa oriental de África e, enquanto esperavam a estação correcta para prosseguir, mapearam a ilha de Madagáscar, então conhecida como "Ilha de São Lourenço".

A armada portuguesa alcançou a vila de Suq em Abril de 1507 e deparou-se com um bom forte muçulmano construído ali pela dinastia Mahra de Qishn, no Iémen, cuja guarnição recolhia tributo dos habitantes em redor.[2][3] O comandante do forte era o xeque coja Ibrahim e tinha consigo 130 guerreiros; foi-lhe oferecida a oportunidade para capitular mas o xeque recusou-se.[2] A fortaleza foi, portanto, tomada por assalto na manhã seguinte pelos dois esquadrões de Tristão da Cunha e de Afonso de Albuquerque, morrendo o xeque na contenda.

Socotorá Portuguesa 1507-1511[editar | editar código-fonte]

O forte foi consagrado em nome de São Miguel[2] Dispunha de um pátio-de-armas, torre de menagem e reservatórios com canos para drenar a água.[2] Constatou-se não ter espaço para albergar a projectada guarnição de 200 soldados, portanto foi refeito e parte da guarnição alojada em casas construídas não muito longe.[2] A mesquita no seu interior foi reconsagrada como uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Piedade ou Nossa Senhora da Vitória.[2] Ficou como capitão D. Afonso de Noronha, Jácome de Tomar como alcaide-mor e Pero Vaz da Orta como feitor régio, encarregue do comércio.[2]

Os socotorinos nestorianos apreciaram serem libertados do domínio muçulmano.[4] Frei Francisco do Loureiro e outros franciscanos baptizaram considerável número de naturais da ilha entre grandes celebrações, construíram uma igreja dedicada ao apóstolo São Tomé e, na vila, um mosteiro, o primeiro construído pelos portugueses a leste do Cabo da Boa Esperança. A mesquita e as plantações de palmeiras que pertenciam aos muçulmanos foram então redistribuídas entre os cristãos.[5] A 10 de Agosto de 1507 Tristão da Cunha partiu para a Índia com os seus navios.[1] Dez dias mais tarde, Afonso de Albuquerque partiu à conquista do Reino de Ormuz, no Golfo Pérsico.[2]

Afonso de Albuquerque.

As condições em Socotorá revelaram-se bem menos vantajosas do que antes antecipado. A ilha era remota, o clima agreste, escasseavam as provisões, ao passo que os socotorinos e os árabes do Iémen entravam muitas vezes em confronto com a guarnição portuguesa.[2]

Promovido a governador da Índia em Dezembro de 1509, Afonso de Albuquerque decidiu evacuar a fortaleza de Socotorá e enviou três navios para a ilha, quando já não restavam mais que 120 portugueses.[2]

Depois de 1511[editar | editar código-fonte]

Partidos os portugueses, o clã Banu Afrar de Qishn tomou posse de Socotorá e manter-se-ia sob o seu controlo até ao séc. XIX.[3] Os sultões de Qishn vieram a ser parceiros próximos dos portugueses, para manter à distância o Império Otomano, que conquistou o Egipto em 1517 e Adém em 1538.[2] Durante os sécs. XVI e XVII a ilha de Socotorá manteve-se um porto de escala regular para navios mercantes ou de guerra portugueses à procura de informação relativa aos movimentos do inimigo quando se encontravam na região.[2] Em 1541 uma armada comandada por D. Estevão da Gama ancorou em Socotorá a caminho do Mar Vermelho, para atacar possessões Otomanas.[2] D. João de Castro produziu alguns esboços e vistas da ilha para fins de navegação. Em 1548 os portugueses expulsaram os Otomanos de Qish e devolveram a localidade aos seus governantes nativos. Camões passou por Socotorá e o clima agreste da ilha inspirou-o a escrever o poema Junto a Um Seco, Estéril e Fero Monte.[2]

A ilha foi muitas vezes visitada por missionários cristãos, enviados como embaixadores do governador português em Goa ou por meios próprios.[2] Em 1542 o Jesuíta São Francisco Xavier escalou na ilha a caminho da Índia e escreveu acerca da terra e das tradições dos seus habitantes.[2]

No séc. XIX, um grande número de Socotorinos na região montanhosa reclamava ascendência portuguesa.[6]

A posição geográfica de Socotorá relativa ao continente Africano e à península da Arábia.

Lista de capitães[editar | editar código-fonte]

  • Dom Afonso de Noronha (Abril 1507 – Novembro 1509)
  • Pedro Ferreira (Novembro 1509 – morto em Agosto de 1510)
  • Pedro Correia (Agosto 1510 – 1511)

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c The Cambridge History of the British Empire, Volume IV, British India, H. H. Dodwell, Cambridge University Press, pp. 8-9.
  2. a b c d e f g h i j k l m n o p q José Pereira da Costa: "Socotorá e o Domínio Português no Oriente" in Revista da Universidade de Coimbra volume XXIII, Coimbra, 1973, pp. 6-21
  3. a b Julian Jansen van Rensburg: The Maritime Traditions of the Fishermen of Socotra, Yemen, p. 29.
  4. Danvers, 1894, pp. 155-157.
  5. Frederick Charles Danvers: The Portuguese in India, volume I, W. H. Allen & Co. Limited, London, 1894, pp. 155-157.
  6. Isaac Bayley Balfour: Transactions of the Royal Society of Edinburgh: Botany of Socotra, Robert Grant & Son, Edinburgh, 1888, XXV.