TempleOS
TempleOS | |
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TempleOS 5.03 | |
Produção | Terry A. Davis |
Linguagem | HolyC |
Lançamento | 2013 (10–11 anos) |
Versão estável | 20 de novembro de 2017 (6 anos) |
Interface | Texto |
Licença | Domínio público |
Página oficial | http://www.templeos.org/ |
O TempleOS (anteriormente conhecido como J Operating System, SparrowOS e LoseThos) é um sistema operacional leve, de temática bíblica, projetado com o intuito de servir como o Terceiro Templo profetizado na Bíblia. Foi criado pelo programador americano Terry A. Davis, que o desenvolveu por conta própria no espaço de uma década após uma série de episódios posteriormente descritos por ele como uma "revelação de Deus".
Caracterizado como um Commodore 64 x86-64 moderno, o sistema utiliza uma interface semelhante a uma combinação do DOS e do Turbo C. Davis alegou que as características do sistema, como sua resolução 640x480, display de 16 cores e áudio de única voz, lhe foram explicitamente instruídas por Deus.[1] Foi programado com uma variação original da C (denominada HolyC) em lugar da BASIC, e inclui um simulador de voo, compilador e núcleo originais.
O TempleOS foi lançado em 2013 e atualizado pela última vez em 2017. Recebeu críticas majoritariamente favoráveis por parte de círculos de informática, rendendo a Davis um pequeno séquito online. Um fã o descreveu como uma "lenda da programação", enquanto outro, um engenheiro de computadores, comparou o desenvolvimento do TempleOS a um "arranha-céu construído por um homem só".[2] Davis morreu em 11 de agosto de 2018, aos 48 anos.[2]
Histórico[editar | editar código-fonte]
Terry A. Davis (1969–2018) começou a experienciar surtos psicóticos regularmente a partir de 1996, o que o levou a ser internado várias vezes em hospitais psiquiátricos. Inicialmente diagnosticado com transtorno bipolar, foi mais tarde declarado esquizofrênico e permaneceu desempregado pelo resto de sua vida.[1] Ele sofria de delírios sobre extraterrestres e agentes do governo, que o deixaram brevemente hospitalizado por problemas mentais.[1][3] Após vivenciar uma suposta "revelação", alegou estar em comunicação direta com Deus, e que Deus lhe mandara construir seu Terceiro Templo na forma de um sistema operacional.[1]
Davis começou a desenvolver o TempleOS em meados de 2003.[4] Ele inicialmente o batizara "J Operating System", mais tarde mudando o nome para "LoseThos", numa referência a uma cena do filme de 1986 Platoon.[1] Outro nome utilizado por ele foi "SparrowOS" antes de finalmente decidir-se por "TempleOS".[5] Em 11 de agosto de 2018, Davis morreu aos 48 anos de idade, após ser atropelado por um comboio.[2]
Características do sistema[editar | editar código-fonte]
O TempleOS é um sistema operacional para programação recreacional, de 64 bits, multitarefa não-preemptivo,[6] multinúcleo, em domínio público, de código aberto, camada 0, de espaço de endereçamento único, e não-conectado à rede.[7] O SO executa ASCII de 8 bits em código-fonte e possui uma biblioteca de gráficos 2D e 3D, executados a 640x480 VGA com 16 cores.[5] Tal como a maioria dos sistemas operacionais modernos, possui suporte a teclado e mouse. Suporta sistemas de arquivo ISO 9660, FAT32 e RedSea (este último criado por Davis) com suporte por compressão de arquivos.[8] De acordo com Davis, muitas destas especificações – tais como a resolução 640x480, display de 16 cores e áudio de única voz – lhe foram instruídas por Deus. Ele explicou que o intuito da resolução limitada era facilitar para que crianças pudessem fazer desenhos para Deus.[1]
O sistema também inclui um simulador de voo, compilador e núcleo originais.[4] Um dos programas embutidos, "After Egypt", é um jogo no qual o jogador viaja buscando por uma sarça ardente com o intuito de utilizar um "cronômetro de alta velocidade". O cronômetro deve ser interpretado como um oráculo que gera texto pseudo-aleatório, algo que Davis comparou a um tabuleiro ouija ou a glossolalia.[5] Um exemplo do texto gerado segue como:
among consigned penally result perverseness checked stated held sensation reasonings skies adversity Dakota lip Suffer approached enact displacing feast Canst pearl doing alms comprehendeth nought[5]
O TempleOS foi escrito numa linguagem de programação desenvolvida por Davis em C e C++ chamada "HolyC".[5] A HolyC é uma variação da C, desenvolvida por Davis como a linguagem de programação do TempleOS. É utilizada para interagir com o shell e executar aplicativos inteiros a partir dele. O IDE embutido no TempleOS suporta várias características, como embutir imagens em código. Utiliza um formato de texto não-padrão (conhecido como DolDoc) que possui suporte a links em hipertexto, imagens e malhas em 3D inclusas no que são, à primeira vista, arquivos ASCII comuns. Um arquivo pode, por exemplo, conter um modelo giratório em 3D de um tanque de guerra como um comentário em código-fonte. O código pode ser compilado em JIT.[9] Mais de 100.000 linhas de código foram escritas para o SO.[4]
Recepção crítica[editar | editar código-fonte]
O TempleOS recebeu críticas majoritariamente favoráveis. O jornalista David Cassel opinou que isto se deve em parte ao fato de "sites de programação terem tentado encontrar a paciência e compreensão necessárias para acomodarem-se a Davis".[4] O TechRepublic e o OSNews publicaram análises positivas ao trabalho de Davis, apesar dele ter sido banido deste último por comentários hostis dirigidos a seus leitores e funcionários.[4] Após a morte de Davis, um de seus fãs o descreveu como uma "lenda da programação", e outro, um engenheiro de computadores, comparou o desenvolvimento do TempleOS a um "arranha-céu construído por um homem só".[2]
Em sua análise para o TechRepublic, James Sanders concluiu que "o TempleOS é um testamento à dedicação e à paixão de um homem demonstrando seus conhecimentos tecnológicos. Não precisa ser nada mais que isso".[5] O editor do OSNews, Kroc Kamen, escreveu que o SO "prova que computação ainda pode ser um hobby; por que todo mundo anda tão sério esses dias? Se eu quiser codificar um SO que usa dança moderna como método de entrada, eu posso fazê-lo, danem-se companhias como a Apple".[4] Em 2017 o SO foi mostrado numa exibição sobre arte bruta em Bourogne, França.[10]
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ a b c d e f Hicks, Jesse (25 de novembro de 2014). «God's Lonely Programmer». VICE Motherboard (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2015
- ↑ a b c d Cecil, Neita (7 de setembro de 2018). «Man killed by train had tech following». The Dalles Chronicle (em inglês)
- ↑ Bruet-Ferréol, Quentin (13 de maio de 2014). «Temple OS, un système d'exploitation pour parler à Dieu codé par un fou génial». Slate.fr (em francês). Consultado em 21 de abril de 2015
- ↑ a b c d e f Cassel, David (23 de setembro de 2018). «The Troubled Legacy of Terry Davis, 'God's Lonely Programmer'». The New Stack (em inglês)
- ↑ a b c d e f Sanders, James (21 de janeiro de 2014). «TempleOS: an educational tool for programming experiments». TechRepublic (em inglês). Consultado em 21 de abril de 2015
- ↑ Davis, Terry A. (s.d.). «Scheduler». The TempleOS Source Code. Consultado em 16 de junho de 2018. Cópia arquivada em 1 de junho de 2016
- ↑ Mathieu, Bruno (28 de novembro de 2014). «TempleOS : le système d'exploitation qui parle à Dieu» [TempleOS: O sistema operacional que fala com Deus]. Tom's Guide (em francês). Consultado em 21 de abril de 2015
- ↑ Davis, Terry A. (s.d.). «The Temple Operating System». www.templeos.org. Consultado em 30 de março de 2017. Arquivado do original em 31 de março de 2017
- ↑ Mitton, Richard (8 de junho de 2015). «A Constructive Look At TempleOS». www.codersnotes.com (em inglês). Consultado em 30 de março de 2017
- ↑ Godin, Philippe (13 de janeiro de 2017). «la Diagonale de l'art - ART BRUT 2.0». Libération (em francês). Consultado em 7 de setembro de 2018