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Tipografia vernacular

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A tipografia vernacular é uma forma de expressão gráfica que consiste na produção de letras e caracteres, em geral para peças de comunicação como cartazes, muros e fachadas e que tem como características principais os aspectos culturais e a informalidade técnica na confecção das letras.

Marcus Dohmann define que "paralelamente a uma tipografia denominada canônica, com suas regras e implicações, há aquela produzida por indivíduos que se encontram à margem do sistema.". Entre essas, pode se destacar a tipografia vernacular. Ela surge da necessidade de se transmitir algo e da falta de conhecimento acadêmico. Essa tipografia é criada, então, à partir da bagagem cultural dos indivíduos que a produzem e é um dos tipos de expressão do design vernacular.[1]

Placa na entrada da Rua Vila Autódromo. Abaixo da placa, faixa com tipografia vernacular apresenta a mensagem "Museu das Remoções: Memória não se remove".
Placa na entrada da Vila Autódromo, na cidade do Rio de Janeiro. Abaixo da placa, faixa com tipografia vernacular apresenta a mensagem "Museu das Remoções: Memória não se remove".
Imagem de fundo amarela com os caracteres "A B C 0 1 2 3" em vermelhos e detalhes em preto.
Caracteres mostrando exemplo de tipografia vernacular.

As peças de tipografia vernacular estão presentes nas cidades, dos grandes centros aos interiores, sua origem está na cultura urbana[2] e na necessidade de imediata comunicação visual e de acesso rápido. A tipografia vernacular é fortemente caracterizada pela incorporação de elementos culturais em sua produção.

É possível encontrar exemplos da tipografia vernacular nos comércios em geral, como forma de anúncio ou fachada dos estabelecimentos; bem como em manifestações artísticas e espontâneas em geral.

A tipografia vernacular segue 3 diretrizes que a caracterizam como tal:

  • Primeiramente, por se tratar de uma forma de comunicação produzida e consumida pelas camadas sociais menos favorecidas, o tempo e material utilizados na sua confecção se ajustam a demanda desses consumidores. Sendo assim, tipógrafos usam da sua criatividade para diminuir os custos de produção. Isso muitas vezes se traduz em uso de superfícies improvisadas para a produção.
    Cartaz amarelo com detalhes em vermelho. Utilizando tipografia vernacular com os dizeres "Design Informal".
    Cartaz simulando técnicas vernaculares.
  • Os pintores que praticam essa arte normalmente não têm treinamento formal. As técnicas envolvidas nesse trabalho são passadas oralmente em uma relação de mestre-aprendiz e o ensinamento é feito por meio da repetição das técnicas na prática.
  • Os tipógrafos não seguem regras formais para trabalhar. Cada pintor cria seu próprio estilo ao longo de sua vida profissional.[3]

Referências vernaculares no design formal

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Uma das pilastras ilustradas pelo profeta Gentileza, Rio de Janeiro. A arte apresenta tipografia vernacular.

É possível identificar produções no design tipográfico digital que se valem de releituras das expressões gráficas de pintores de letras. A pesquisadora Fátima Finizola identifica, em sua publicação Tipografia Vernacular Urbana, fontes inspiradas diretamente na tipografia vernacular das cidades brasileiras[4], citando exemplos como as fontes "Seu Juca", de Priscila Farias inspirada nas placas pintadas por João Juvêncio Filho, letrista pernambucano; "Ghentileza Original", de Luciano Cardinali inspirada nos muros pintados pelo poeta Profeta Gentileza na cidade do Rio de Janeiro e "Brasilêro", de Crystian Cruz.

A capa do álbum Brasil Afora da banda Paralamas do Sucesso, projetada pelos designers André Lima e Rafael Alves é também um exemplo de pesquisa e aplicação tipográfica inspiradas em produções de caracteres vernaculares na cultura brasileira, neste caso, precisamente das letras encontradas pelas estradas do país. [5]

Há, no Brasil, diversos projetos que buscam resgatar, valorizar e preservar o ofícios de pintores de letras no país, entre eles: Letras Q flutuam (PA)[6], Abridores de letras (PE)[7] e Pintores de Letras (SC)[8].

Referências

  1. DOHMANN, M.V. (2007). Pintores de letras brasileiros. Cadernos de Tipografia, n.3. Lisboa. Disponível em: <http:www.tipografos.net/cadernos>, acesso em 14/062008.
  2. Almeida, William Rabello de Carvalho (2019). «Temos letras: uma pesquisa sobre o design vernacular no Rio de Janeiro». Consultado em 4 de abril de 2022 
  3. «Temos letras: Uma pesquisa sobre o design vernacular no Rio de Janeiro» (PDF) 
  4. «(PDF) Tipografia Vernacular Urbana | Uma análise dos letreiramentos populares». ResearchGate (em inglês). Consultado em 5 de abril de 2022 
  5. «O que é design Vernacular e sua influência no Brasil». Aliens Design. 18 de maio de 2021. Consultado em 5 de abril de 2022 
  6. «Design | Brasil | Letras Q Flutuam». letrasqueflutuam. Consultado em 5 de abril de 2022 
  7. «Abridores de Letras» (em inglês). Consultado em 5 de abril de 2022 
  8. «Registros dos Letreiramentos Vernaculares do Sul de Santa Catarina.». Pintores de Letras. Consultado em 5 de abril de 2022