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Tratamento restaurador atraumático

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O Tratamento Restaurador Atraumático (TRA), também conhecido por sua sigla em inglês (ART) é uma técnica que restaura dentes atingidos pela cárie dental utilizando somente instrumentos manuais, sem uso de brocas ou turbinas ("motorzinho").

Este procedimento também não causa nenhuma dor porque a remoção de cárie é realizada de forma seletiva ou parcial, isto é, não se remove nenhum tecido dental vivo ou organizado, o que não causa dor e diminui o risco de exposição da polpa, reduzindo, assim, a necessidade de tratamento de canal. Logo, normalmente, não necessita de anestesia. Utiliza-se um material (cimento de ionômero de vidro) que é adesivo ao tecido dental e liberador de flúor, o que dificulta a recorrência da cárie naquele dente. O TRA está muito indicado em restaurações em crianças (odontopediatria) tanto em dentes decíduos ("dentes de leite") como em dentes permanentes, odontogeriatria, atendimento de crianças e adultos em locais sem equipamento odontológico, como escolas e centros comunitários, gestantes e demais pacientes que necessitem de atendimento especial.

O Projeto TRA da Faculdade de Odontologia da UERJ (Coordenado pelo Professor Antônio Monnerat) atuando em campo em uma Escola Municipal do Rio de Janeiro.

Técnica desenvolvida por J. Frencken, dentista holandês nas décadas de 80 e 90, sendo sugerida para restauração de dentes em saúde pública pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e adotada por importantes Serviços de Saúde do Brasil. [1]

Um dos seus maiores problemas é que, por ser simples, rápida, barata e indolor, causa estranheza à população, acostumada com a vinculação da Odontologia com tecnologia, complexidade, dor, anestesia, barulho de motor e medo.[2]

O Tratamento restaurador Atraumático foi desenvolvido dentro de um programa de atenção à saúde pública na década de 80 na Tanzânia, com objetivo de se encontrar um método de preservação de dentes cariados em pessoas de todas as idades, promovendo saúde em países em desenvolvimento principalmente levando a odontologia às suas comunidades mais carentes, onde, devido aos poucos recursos disponíveis, a ausência de uma intervenção aumentaria o número de extrações dentárias (exodontias).[3]

Um de seus principais desenvolvedores, o professor J. Frencken, realizou um estudo-piloto, durante 9 meses, numa zona rural da Tailândia, utilizando somente instrumentos manuais para remover cáries. A cavidade dentária era restaurada com um material adesivo e liberador de flúor, o cimento de ionômero de vidro (CIV). [4] A partir disso, o TRA foi descrito como uma técnica inovadora, indolor e de mínima intervenção para o tratamento das lesões de cárie, devendo ser recomendado, particularmente, em países onde as técnicas

Equipe de TRA da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) atuando nas crianças do Haiti

operacionais são desfavoráveis. [5] [6]

Em 1994, devido ao baixo custo, alta eficácia e ausência de utilização de equipamentos odontológicos sofisticados, o TRA foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que, posteriormente, editou um manual, traduzido em dez idiomas, catalogando a técnica do TRA, com o objetivo de erradicar a doença cárie em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. [7] Já em 1998, o TRA foi aprovado pela Federação Dentária Internacional (FDI). [8]

Contudo, cabe salientar que o TRA não está somente indicado para populações sem assistência odontológica convencional, uma vez que se trata de uma abordagem de alta qualidade, o TRA pode ser amplamente realizado não apenas em países emergentes e em populações marcadas pelas desigualdades sociais, mas também em países do primeiro mundo, que adotam programas eficientes de baixo custo, inseridos no pensamento moderno de atenção em saúde e controle da doença cárie através da máxima prevenção, mínima intervenção e mínimo preparo. [9] [10]

Referências

  1. Frencken JO, Holmgren CJ. Conclusions from the symposium. Two decades of ART: success through research. J App Oral Sci. 2009; 17(sp. issue):134-136
  2. Van’t Hof MA, Frencken JO, Van Palenstein Helderman WH, Holmgren CJ. The atraumatic restorative treatment (ART) approach for managing dental caries: a meta-analysis. International Dental Journal. 2006; 56:345-351.
  3. Frencken JO, Holmgren CJ. Tratamento restaurador atraumático para a cárie dentária. Editora Santos, 2001.
  4. Nunes OBC, Abreu PH, Nunes NA, Reis LPKFM, Reis RTM, Júnior AR. Avaliação clínica do tratamento restaurador atraumático (ART) em crianças assentadas do Movimento Sem-terra. Rev. Fac. Odontol. Lins, Piracicaba. 2003; 15:23-31.
  5. Silva MAM, Mendes CAJ. O tratamento restaurador atraumático em saúde pública e o custo dos materiais preconizados. Revs. APS. 2009; 3:350-356.
  6. Busato IMS, Gabardo MCL, França BHS, Moysés SJ, Moysés ST. Avaliação da percepção das equipes de saúde bucal da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba (PR) sobre o tratamento restaurador atraumático (ART). Ciência & Saúde Coletiva. 2011; 16(Supl.1):1017-1022.
  7. Imparato JCP e cols. Tratamento restaurador atraumático. Técnicas de mínima intervenção para o tratamento da doença cárie dentária. Editora Maio, 2005.
  8. Farang A, Van der Sanden WJM, Abdelwahab H, Frencken JE. Survival of ART restorations assessed using selected FDI and modified ART restoration criteria. Clin Oral Invest. 2011; 15:409-415.
  9. Raggio DP, Bonifácio CC, Imparato JCP. Tratamento restaurador atraumático realidades e perspectivas. Editora Santos, 2011.
  10. Lima DC, Saliba NA, Moimaz SAS. Tratamento restaurador atraumático e sua utilização em saude pública. RGO Porto Alegre. 2008; 56:75-79.