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Ana Carolina
Nascimento 27 de setembro de 1943 (80 anos)
São Paulo
Nacionalidade brasileira
Ocupação
Atividade 1968–presente

Ana Carolina Teixeira Soares, ou simplesmente Ana Carolina (São Paulo, 1945)[1], é uma cineasta brasileira. Seus trabalhos mais famosos são da trilogia sobre a condição feminina, Mar de Rosas (1977), Das Tripas Coração (1982) e Sonho de Valsa (1987), que retratam o universo feminino em três fases: infância, adolescência e maturidade. [2].

Seus filmes caracterizam-se pela presença de análises da vida familiar, privada e social através do humor e do exagero, situações incomuns, não convencionais e pelo desenvolvimento psicológico dos personagens e abordagem de temas como relações de poder e a condição da mulher na sociedade. [3]

Em 1978, Ana Carolina foi membro do júri do 28º Festival Internacional de Cinema de Berlim.[4] Em 1982, seu filme Das Tripas Coração foi exibido no Festival de Cannes.[5] Ela foi listada no ranking de 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine[6] com Mar de Rosas.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Ana Carolina nasceu em 24 de setembro de 1943 em São Paulo, filha de imigrantes espanhóis e estudou em rígido colégio alemão, onde teve uma vasta educação cultural europeia. Ainda no colégio, assistiu muitos filmes de grandes diretores como Fritz Lang e Serguei Eisenstein.

Formou-se em medicina pela Universidade de São Paulo e participava da escolha de filmes que eram exibidos nas tardes de sábado no centro acadêmico. Estudou paralisia cerebral e entre 1966 e 1968, tocou percussão no grupo de música renascentista Musikantiga. Escreveu pequenos textos sobre filmes, música e assuntos diversos para a Folha de S.Paulo. Iniciou na faculdade de ciências sociais da PUC em 1967 e na Escola Superior de Cinema da Faculdade São Luis. Nesse momento, foi continuísta do filme As Amorosas e preparadora de filmagens de curta-metragens. [1]

Em 1969, dirigiu seu primeiro filme, o curta Indústria. Passou então a dirigir uma série de curtas documentais. No início da carreira, seus filmes tiveram apoio da Embrafilme, relação que Ana Carolina comenta em entrevistas. A cineasta já fez diversas declarações sobre políticas de apoio e proteção cinematográfica[7] e sobre dificuldades em fazer filmes no Brasil.[8]

Em 1974, lançou Getúlio Vargas, seu primeiro longa-metragem documental feito com arquivos do Departamento de Imprensa e Propaganda e Cinemateca Brasileira em razão dos 20 anos de morte do ex-presidente, filme que a diretora afirma que fez como homenagem ao próprio pai. Getúlio Vargas é o único filme que ela assina com seu nome inteiro. Após o documentário, Ana Carolina estreou, em 1978, Mar de Rosas, seu primeiro longa-metragem de ficção e primeiro filme da trilogia que durou dez anos para ser finalizada.

Mar de Rosas (1977)[editar | editar código-fonte]

A diretora declarou que o filme nasceu de uma necessidade de conhecer melhor a si mesma e suas origens.

Inicialmente a personagem principal, Betinha, era portadora da Síndrome de Down, mas depois de várias revisões de roteiro, Ana Carolina reescreveu a personagem sem Down e com uma série de atitudes e falas a mais. Ana Carolina diz que o desenvolvimento da personagem tem base nas crianças que atendia no ambulatório de medicina da USP e em experiências próprias de sua relação com a família. Trechos de cartas que a mãe de Ana Carolina mandou para o pai foram incorporados nos diálogos e a irmã da diretora assinou o figurino do filme.

O momento da divulgação do filme foi muito complicado para Ana Carolina, especialmente quando foi exibi-lo no Festival de Cinema de Paris. A diretora ficou tão nervosa que parou de comer, de dormir e adoeceu. Apesar disso, o filme teve uma recepção muito positiva. Em 1978, o filme foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Berlim, quando Ana Carolina foi membro do júri.

Das Tripas Coração (1982)[editar | editar código-fonte]

O segundo filme também tem forte ligação com experiências da própria Ana Carolina, que revelou que Das Tripas coração era um filme para ela, enquanto Mar de Rosas era um filme para sua mãe e Sonho de Valsa, para seu pai. Ela também coloca nos diálogos frases que sua avó espanhola dizia e nas falas do personagem de Antônio Fagundes, trechos de cartas que recebeu de namorados.

No filme, Ana Carolina expõe a visão masculina sobre as meninas

Sonho de Valsa (1987)[editar | editar código-fonte]

O último filme da trilogia também relaciona-se com o anterior, agora trazendo a imagem da mulher madura, adulta, mas é o mais alegórico dos três. No filme, a personagem vivencia literalmente expressões como "carregar a própria cruz" e "engolir sapos". Ana Carolina escreveu o roteiro dois anos antes das gravações do filme e busca concluir nele a síntese das questões femininas. A finalização e divulgação de Sonho de Valsa foi especialmente difícil para a cineasta porque foi o momento em que sua mãe adoeceu e logo em seguida faleceu, em 1988.

Apesar do tema constante sobre diferentes realidades da mulher, Ana Carolina declarou que não se considera parte de um cinema feminino, mas que traz em seu trabalho uma outra perspectiva e procura analisar em seus filmes diferentes tipos de relações de poder no âmbito social e privado. [9] Após Sonho de Valsa, a diretora passou um longo período sem lançar filme, voltando apenas em 2000 com o filme Amélia.



Além do cinema, Ana Carolina também trabalhou com publicidade para Sonima S.A. em 1968 e para DPZ em 1971. Fez reportagens especiais para TVE do Rio de Janeiro; dirigiu duas óperas: Ariadne em Naxos (1988) e Salomé (2003) para as temporadas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e escreveu duas peças de teatro: As Fraldas da Providência e A Primeira Missa no Brasil, que em 2014 tornou-se longa-metragem. [1]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Curta-metragem[editar | editar código-fonte]

Ano Filme
1967 A Feira
Silvio Santos
1968 Lavrador
Indústria
1969 Guerra do Paraguai
1969 Monteiro Lobato
1971 Pantanal
1972 Três Desenhos
A Fiandeira


Longa-metragem[editar | editar código-fonte]

Ano Filme
1974 Getúlio Vargas
1977 Mar de Rosas
1982 Das Tripas Coração
1987 Sonho de Valsa
2000 Amélia
2002 Gregório Mattos (O Boca do Inferno)
2014 A Primeira Missa

Também participou da trilha musical do filme A Mulher de Todos e trabalhou com a edição e seleção musical de documentários, dentre eles a série Salada Paulista (1973), que contém o episódio O Sonho não acabou de sua autoria. Dirigiu também Nelson Pereira dos Santos Saúda o Povo e Pede Passagem (1978) e Anatomia do Espectador (1979).

Em 2019 começou a produzir seu novo filme Paixões recorrentes ou a morte das ideologias.[9]

Prêmios e Indicações[editar | editar código-fonte]

Associação Paulista de Críticos de Arte (1979)

  • Vencedora na categoria Melhor Filme Nacional por Mar de Rosas
  • Vencedora na categoria Melhor Diretor por Mar de Rosas
  • Vencedora na categoria Melhor Argumento por Mar de Rosas

Festival de Gramado (1983)

  • Vencedora na categoria Melhor Diretor por Das Tripas Coração
  • Indicada na categoria Melhor Filme por Das Tripas Coração

Fantasporto (1984)

  • Indicada na categoria Melhor Filme por Das Tripas Coração

Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (2001)

  • Indicada na categoria Melhor Roteiro por Amélia[10]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Cultural, Instituto Itaú. «Ana Carolina | Enciclopédia Itaú Cultural». Enciclopédia Itaú Cultural 
  2. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil/FGV (ed.). «Projeto Memória do Cinema Documentário - Ana Carolina». Consultado em 20 de outubro de 2020 
  3. Thiago B. Mendonça (ed.). «O cinema autoral de Ana Carolina». Epoca/Globo. Consultado em 20 de outubro de 2020 
  4. «Berlinale/Archive/JURIES 1978». Site Principal. Consultado em 21 de outubro de 2020 
  5. «Das Tripas Coracao - Festival de Cannes». Site Principal. Consultado em 21 de outubro de 2020 
  6. «Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros». Abraccine - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. 27 de novembro de 2015 
  7. Roda Viva (ed.). «Ana Carolina sobre dificuldades de financiamento do cinema brasileiro». Youtube 
  8. André Miranda (ed.). «Cineasta Ana Carolina lança novo filme e ganha retrospectiva no IMS». O Globo. Consultado em 20 de outubro de 2020 
  9. a b «Oitavo longa da cineasta Ana Carolina discute as paixões». Estado de Minas. Consultado em 20 de outubro de 2020 
  10. «Saiba quais filmes disputam o Grande Prêmio Cinema Brasil». Folha Online. Consultado em 20 de outubro de 2020