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Usuário(a):ANDRÉ LUIZ BIANCHI ARANTES/Testes

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CECILIO JOSÉ CARNEIRO (03.12.1911 - 10.10.1970) Foi um escritor brasileiro nascido na cidade de Paracatu, estado de Minas Gerais, filho de Isaquina Jorge Carneiro e José Carneiro, imigrantes libaneses. Ao naturalizar-se brasileiro, José Ganan achou que traduzindo seu nome para o português, isso facilitaria sua adaptação e a vida comercial no país, mas o sobrenome GANAN, que na verdade em árabe, seria pastor, foi trasladado incorretamente para CARNEIRO. Cecilio José mudou-se para São Paulo em 1923, se tornando um interno do Colégio Oriental e, na Revolução de 1924, enfrentou verdadeiras aventuras para chegar a Paracatu, e estar junto aos pais e irmãos, entre os quais JORGE CARNEIRO, que anos depois seguiria os passos do irmão se tornando também escritor. Trouxe a família para São Paulo em 1925, de onde nunca mais saiu. Terminou o curso secundário no Ginásio Oswaldo Cruz e cursou medicina na Faculdade de Medicina de São Paulo, formando-se em 1934 e logo depois exerceu funções no Departamento Médico do Serviço Civil do estado.

Desde os 14 anos revelou tendências para a literatura, colaborando com jornais do interior de São Paulo e Rio de Janeiro. Seus onze romances, poderiam ser assinados por autores diferentes, tal a diversidade do estilo e dos temas apresentados em cada um deles.

. Seu primeiro livro foi CONTOS DE XERAZADE, uma compilação de contos orientais, em 1935. O romance de estreia, MEMÓRIAS DE CINCO, publicado em 1939, surgiu quando a efervescência dos novos valores literários, revelados desde 1930, atingia o seu apogeu. Nessa obra, o autor recorda seus dias de universitário e o drama dos médicos novos, em paralelo à vida política e social de São Paulo. Estimulado, mais pelas falhas apontadas que pelos elogios recebidos, prosseguiu com afinco na trilha do romance, que lhe pareceu a forma adequada para a expressão de suas ideias e sentimentos a respeito do mundo e dos homens.

Escreveu logo em seguida A FOGUEIRA, romance social lançado em 1942, que obteve menção honrosa no Concurso Interamericano de Literatura Continental promovido em Nova York pela Divisão de Cooperação Intelectual Pan Americana realizado nos Estados Unidos, a que concorreram 300 autores das três Américas, sendo John dos Passos um dos participantes do júri. Conta a história dos esforços de seu pai para trazer uma aldeia inteira do velho país para o Novo Mundo. Através de tenacidade feroz, Elias Erbe realiza seu sonho e vive o tempo suficiente para vê-lo derrubado pela inveja dos outros e sua própria insensibilidade. Os personagens do romance são desenhados vividamente com uma precisão que nos convida a entrar em seu mundo exótico.

A FOGUEIRA foi traduzido para o inglês (THE BONFIRE), lançado nos EUA e logo em seguida no Reino Unido. Esse romance, cuja versão em inglês até hoje é encontrada no catálogo em alguns sites americanos, proporcionou-lhe uma viagem ao Estados Unidos, onde realizou conferências sobre literatura brasileira, na Universidade de Columbia.

Em 1943, ao fazer uma viagem ao estado do Amazonas, ficou impressionado com a vastidão verde de uma região quase despovoada e selvagem. Ouviu lendas contadas pelos moradores, pesquisou sobre o período áureo da borracha, entrevistou pessoas e com a cabeça fervilhando de ideias voltou para São Paulo, escrevendo o seu romance mais conhecido e aplaudido: PECADO NOS TRÓPICOS. A história se passa no povoado fictício de VERDES, às margens do grande rio, uma vila de seringueiros dominada pelo tirano Manuel Cobra, proprietário da maioria dos seringais e uma espécie de manda chuva do lugar. Conta a história do amor puro, sagrado e o chamado amor profano, com todo sexo e volúpia. Nas páginas deste livro vivem lendas, mistérios e paixões da bárbara e selvagem região, que Euclides da Cunha considerou uma "Terra em formação, que ainda não atingiu o capítulo final da Genesis". O homem, moldado neste ambiente em que extremas doçuras correm ao lado de extremos horrores, só sabe agir impelido por paixões extremas. No meio dos seringais e das febres da selva, fere-se a luta gigantesca do homem contra o meio bárbaro e contra a estranha dualidade de sentimentos que lhe agitam o coração. No meio da asfixiante atmosfera de paixões e crimes, alguns personagens são como uma janela que se abre, trazendo a doce aragem da civilização, a verdadeira civilização, sem a qual nenhuma selva é digna de sair de seu primitivismo e dar um passo para o progresso. Numa época sem televisão, rádios apenas em casas de famílias abastadas, sem Internet para divulgação, um Brasil de quarenta milhões de habitantes e quase a metade, de pessoas que não sabiam ler e nem escrever, PECADO NOS TRÓPICOS vendeu milhares de exemplares, se transformando na época no que chamamos hoje de BEST SELLER, dando ao autor status de grande escritor brasileiro da nova geração.

PECADO NOS TRÓPICOS foi escolhido para uma produção cinematográfica em 1955 e o nome do filme seria RIO NEGRO. Sobre isso pouco ou quase nada se sabe, nem se realmente chegou a ser realizado e lançado.

Neste mesmo ano, simpatizante do espiritismo da linha Kardecista, lança o romance espiritualista MEMÓRIAS DE UM REDIVIVO, onde narra as diversas vidas passadas do personagem principal. A maioria dos livros espíritas são mediúnicos, ou seja, ditados por um espírito ao autor. No entanto, em MEMÓRIAS DE UM REDIVIVO Cecílio não revela se foi este o seu caminho ou se todas as histórias contadas na obra foram de sua própria criação.

O ano de 1955 foi de intensa atividade literária para Cecílio Carneiro, que como sempre mudando radicalmente de temas, lança dois romances: LÚCIFER e BRÁS. Este, uma novela policial sobre um assassinato acontecido no tradicional bairro paulistano, seus habitantes, características e contrastes. Na história, recheada de mistério, suspense e humor, uma abelhuda moradora do bairro chamada Carândira, resolve investigar por conta própria um crime acontecido no bairro. O personagem fez tanto sucesso que muita gente acreditou que Carândira apareceria em outros livros no futuro, no estilo de uma Miss Marple tupiniquim, o que na realidade não aconteceu. A justificativa, talvez fosse o própria obsessão de Cecílio, em procurar nunca ser repetitivo e diversificar sempre os temas de seus livros.

Em 1967 lança uma obra menor: A FILHA DAS ÁGUAS, conhecido também como A SANTA DAS ÁGUAS, e anexo a ele, nas páginas finais, o conto SEBASTIANA NÃO DORME ou OS TRÊS DIAS DE SEBASTIANA. A FILHA DAS ÁGUAS se passa na cidade de Anhanguera, Estado de Goiás, que o autor mudou o nome para ARUPEMA. Lá uma bebê é encontrada num barco descendo o Rio Paranaíba e tal como Moisés, é tratada e reverenciada como santa, mudando a rotina da pequena cidade e seus moradores. Já SEBASTIANA NÃO DORME é um conto de suspense psicológico. Fica difícil reconhecer neste livro a criatividade de BRÁS ou PECADO NOS TRÓPICOS o que leva a crer que o escritor passava por um período de pouca inspiração.

Em 1969 lançou o último romance: O REI ADOLESCENTE, onde conta a história de Julinho, um rapaz filho único de dona Madalena, que ama guitarras e ao se apresentar com sucesso em um programa de televisão, ganha o nome artístico de JUJUBITO, se transformando em um ídolo da juventude do final dos anos 60. O personagem é claramente inspirado em Roberto Carlos e sua Jovem Guarda. Deixou três romances inéditos e ainda não publicados: O ANJO DA ENSEADA, JOÃO CRISTO e O ARQUÉTIPO. Além deles, dois contos: O ANJO DE CUSCADA e O REI DO PUI-BU-LÚ.

As obras de CECÍLIO CARNEIRO há quarenta anos não são relançadas e por razões desconhecidas, apesar do sucesso nas vendas, apenas MEMÓRIAS DE UM REDIVIVO está em catálogo, mesmo assim graças aos espíritas kardecistas e espiritualistas em geral, que se interessam pelo seu conteúdo.

Infelizmente os livros de CECÍLIO J CARNEIRO só podem ser encontrados em sebos e lojas de livros raros, permanecendo quase desconhecidos pela nova geração.

FONTES DE INFORMAÇÃO:

Prefácio dos livros - PECADO NOS TRÓPICOS E A FILHA DAS ÁGUAS - Edições do CLUBE DO LIVRO

Livro - MEMÓRIA CULTURAL - Oliveira Neto