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Edson Kayapó, intelectual indígena e professor em História Indigena do IFBA

Edson Kayapó[editar | editar código-fonte]

Edson Kayapó (Edson Machado de Brito no currículo lattes), pertencente à etnia Mebêngôkre[1], é um historiador, escritor, ambientalista, doutor em educação, intelectual indígena e militante do movimento indígena. É um escritor premiado pela UNESCO em 2019 por seus livros “Projetos e presepadas de um curumim na Amazônia[2]” e “Nós - Uma Antologia de Literatura Indígena”[3] e premiado em 2010 pela Fundação Nacional de Literatura Infantil e Juvenil (FNLIJ) por “Projetos e presepadas”. É atualmente professor efetivo do Instituto Federal da Bahia, lecionando História Indígena. É, ainda, membro do Parlamento Indígena do Brasil[4].[editar | editar código-fonte]

Formação[editar | editar código-fonte]

Edson Kayapó se graduou em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1997[5]. Em 2000, especializou-se em História e Historiografia da Amazônia pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) [6].Se tornou mestre em História em 2008 pela PUC-SP e realizou doutorado em Educação: História, Política, Sociedade, também pela Pontífice Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)[7].

Ainda, Edson Kayapó se define como filho de Kayapó, e na sua obra, ressalta a importância de entender a autoria e pensamento indígena como fruto de conhecimento e desenvolvimento intelectual coletivo. No artigo "Por uma Escrita Indígena: Meu ser, minha voz, minha autoria"[8], Edson demonstra como o conhecimento indígena é transmitido e fruto de uma oralidade carregada na ancestralidade e pelos anciões, que a transliteração desse conhecimento na via escrita deve ser feita de forma a não perder a essência coletiva desse conhecimento.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Edson Kayapó nasceu no Estado do Amapá, no coração da floresta amazônica, onde passou parte de sua infância sua infância. Pertence a etnia indígena Mebêngôkre, se denominando no podcast "Leituras"[9] do centro cultural da UFMG como filho de Kayapó. Na floresta, à beira do Rio Amazonas, Edson conta que teve uma infância tranquila. Ali, aprendeu a nadar no Rio, se aventurava pela floresta, caminhando todos os dias, brincando com outras crianças e comendo frutos. A noite, reuniam-se grupos de pessoas para contar e ouvir histórias a beira de fogueiras.

Aos 11 anos, com consentimento dos pais convencidos de que seu filho "seria alguém", Edson foi levado por missionários para estudar em um internato em Altamira. Lá, eram regidos por sinos que regiam a vida cotidiana. O internato também proibia o banho de rio, coisa que era comum para Edson. Ainda, foi um estudante que tinha facilidade de aprender, com curiosidade e vontade de ler, mas conta que ali não teve contato com nenhuma literatura indígena. No internato, tornar-se-ia cristão, com pretensões de, ao concluir o ensino médio, estudar teologia, com pretensão interrompida pois teve que se tornar missionário, época que passou por dificuldades como a fome. Com um olhar retrospectivo, o historiador e educador enxerga o papel de tal escola, como as demais escolas de forma geral, como deseducadoras para os indígenas.

Após um período trabalhando como missioneiro em Juiz de Fora (MG), Poço de Caldas (MG) e circular no sul de Minas, Edson conseguiu juntar algum dinheiro para ir à Belo Horizonte (MG) na busca de melhorar sua vida. Em 1990 realizou vestibular e em 1991 entrou na UFMG para cursar História, onde teve acesso à literatura indígena. O acesso à esta literatura e as obras marxistas e anarquistas marcaram um ponto de virada na vida de Edson, tornando-se, à época, ateu e militante anarquista.

Terminando o curso de história, Edson Kayapó retorna até sua terra de origem e abandona o ateísmo, abraçando uma espiritualidade originária. Nessa época, percebeu que tinha perdido os rumos da aprendizagem via oralidade, forma tradicional de construção do conhecimento e aprendizagem indígena.

Ainda, o intelectual indígena iria retornar aos ambientes acadêmicos para se graduar Mestre em História e Doutor em Educação, desenvolvendo posteriormente seus trabalhos em relação à epistemologia indígena e educação indígena.

Educação e História indígena[editar | editar código-fonte]

Como Historiador, pedagogo e militante do movimento indígena, Edson Kayapó ira desenvolver uma série de trabalhos críticos à historiografia brasileira e sua relação com os povos indígenas, bem como com o ensino de História do Brasil e história dos povos indígenas nas escolas brasileiras.

Em seus trabalhos, o autor demonstra como o projeto colonial português nas américas buscou a assimilação do indígena, ou seja, retira-lhe todos os traços de sua identidade, ou extermina-lo[10]. Dessa lógica colonial da assimilação/destruição, surge inicialmente o estereótipo dos "Índios bravos", relacionando aqueles que resistiam às violências coloniais como vagabundos, poligâmicos, preguiçosos, etc[11]. Ainda na mesma lógica colonial, surgirá o estereótipo do indígena como ingênuo, forte, bondoso e dócil, aquele que facilmente pode ser assimilado à sociedade.[11] O autor também ira tecer duríssimas críticas a ideia de assimilação dos povos indígenas via miscigenação pacifica, ponto fundamental do pensamento que defende que existe uma democracia racial no Brasil[12].

Dessa forma, Edson Kayapó demonstra como o discurso colonizador que até hoje impera no Brasil quando se trata da história dos povos indígenas baseia-se no apagamento e silenciamento. Tanto suas expressões epistemológicas, culturais e sociais são constantemente apagadas do pensamento comum, embora por essas ocorreram e ocorrem diversas lutas. Está lógica de apagamento e silenciamento se repete nas escolas, ao tratar dos povos indígenas e sua existência como mera herança para o presente, como se estes já não existissem ou fizessem parte plenamente de um pretenso "povo brasileiro"[13].

Desse modo, o autor faz a defesa de um ensino de História e um ensino de História Indígena que abandone tal perspectiva e busque uma forma decolonial. Como também militante, Edson defende que o ensino de história dos povos indígenas não os devem considerar como meros objetos da história de homens brancos, mas sim abranger todas as lutas, resistências, vivencias e expressões que até os dias de hoje se fazer presentes no Brasil[13]

Obras[editar | editar código-fonte]

Edson Kayapó, como intelectual indígena e professor de nivel superior, possuí diversos artigos publicados e obras editadas e publicadas. Dentre elas, destaca-se “Projetos e presepadas de um curumim na Amazônia[2]” e “Nós - Uma Antologia de Literatura Indígena[3] ambas premiadas pela UNESCO, sendo "Projetos e presepadas" premiada pela Fundação Nacional de Literatura Infantil e Juvenil.

Em seu currículo na plataforma Lattes do CNPq[14] o autor também destaca:

1. BRITO, E. M.. Projetos e presepadas de um Curumim na Amazônia. 02. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2019. v. 01. 48p .

2. BRITO, E. M.; ALBUQUERQUE, G. ; PIZARRO, A. ; MATTOS, A. . Das margens. 01. ed. Rio Branco: Nepan, 2016. v. 1000. 302p .

3. CHAVES, D. ; PORTO, J. ; NORONHA, A. ; BRITO, E. M. . A fronteira setentrional brasileira: da História pós-colonial à formação de uma fronteira tardia. 01. ed. Macapá: Edunifap, 2015. v. 1000. 260p .

4. BRITO, E. M.. Memória da mãe terra. 1. ed. Ilhéus: Tidewa, 2014. v. 1. 34p .

5. BRITO, E. M.. Formação de professores: política, saberes e práticas. 01. ed. Feira de Santana: Shekinah, 2013. v. 1500.

6. YAMA, Y. ; GUAYNE, U. ; MACUXI, J. ; TABAJARA, A. ; BRITO, E. M. . A literatura e os jovens. 1. ed. Rio de Janeiro: Global, 2013. v. 1. 213p .

7. BRITO, E. M.. Do lado de cá: fragmentos de história do Amapá. 01. ed. Belém-PA: Açai, 2011. v. 2000. 511p .

8. BRITO, E. M.; MUNDURUKU, D ; KRENAK, A. . Antologia indígena. 1. ed. Cuiabá: Secretaria de Estado da Cultura do Mato Grosso, 2009. v. 10000. 64p .

Referências:[editar | editar código-fonte]
  1. Vieira, Ana (10 de setembro de 2021). «Escritor premiado pela Unesco e ativista no movimento indígena é o convidado do podcast Leituras». Centro Cultural UFMG. Consultado em 17 de fevereiro de 2023 
  2. a b Kayapó, Edson (2019). PROJETOS E PRESEPADAS DE UM CURUMIM NA AMAZÔNIA. [S.l.]: Editora Positivo. pp. 40 p. ISBN 9788538594406 
  3. a b Kayapó, Edson (2019). Nós: uma antologia de literatura indígena. [S.l.]: Companhia das Letras. pp. 128 p. ISBN 9788574068640 
  4. Podcast Leituras - Edson Kayapó, 9 de setembro de 2021, consultado em 17 de fevereiro de 2023 
  5. buscatextual.cnpq.br http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4239166E0. Consultado em 17 de fevereiro de 2023  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  6. buscatextual.cnpq.br http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4239166E0. Consultado em 17 de fevereiro de 2023  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  7. buscatextual.cnpq.br http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4239166E0. Consultado em 17 de fevereiro de 2023  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  8. Pesca, Adriana; Fernandes, Alexandre; Kayapó, Edson (24 de dezembro de 2020). «Por uma escrita Indígena: Meu ser, minha voz, minha autoria». IFBA. Revista Pindorama. V. 11 (N. 1): 15 
  9. Podcast Leituras - Edson Kayapó, 9 de setembro de 2021, consultado em 17 de fevereiro de 2023 
  10. Kayapó, Edson (2021). Ensino de História: reflexões e práticas decoloniais (PDF). O silencio que faz ecoar as vozes indígenas. Porto Alegre, RS: Editora letra 1. p. 44. ISBN 978-65-87422-17-6 
  11. a b Kayapó, Edson (2021). Ensino de História: reflexões e práticas decoloniais. (PDF). O silencio que faz ecoar as vozes indigenas. Porto Alegre, RS: Editora Letra 1. p. 40-45. ISBN 978-65-87422-17-6 
  12. Kayapó, Edson (2021). Ensino de História: reflexões e práticas decoloniais. (PDF). O silencio que faz ecoar as vozes indigenas. Porto Alegre, RS: Editora Letra 1. p. 46-48. ISBN 978-65-87422-17-6 
  13. a b Kayapó, Edson (2021). Ensino de História: reflexões e práticas decoloniais. (PDF). O silencio que faz ecoar as vozes indigenas. Porto Alegre, RS: Editora Letra 1. p. 39-52. ISBN 978-65-87422-17-6 
  14. buscatextual.cnpq.br http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4239166E0. Consultado em 17 de fevereiro de 2023  Em falta ou vazio |título= (ajuda)