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Perda auditiva condutiva
[editar | editar código-fonte]De acordo com o relatório mundial da saúde publicado pela OMS em 2021,[1]foi divulgado que até 2050, a proporção de pessoas com algum tipo de perda auditiva no mundo será de 1 a cada 4 pessoas.
As perdas auditivas são classificadas de acordo com: grau de severidade, tipo, configuração audiométrica e lateralidade.[2]
Quanto ao tipo de deficiência auditiva, esta se relaciona com a localização das estruturas afetadas no sistema auditivo. E, desta maneira, compara os limiares de via aérea (VA) e de via óssea (VO) de cada orelha, separadamente.[2]
CONCEITO
[editar | editar código-fonte]Na Perda auditiva condutiva, as ondas sonoras não alcançam a orelha interna de forma adequada, seja por problemas na orelha externa (pavilhão auditivo ou conduto auditivo) ou na orelha média (membrana do tímpano, cadeia ossicular, janelas redonda ou oval, ou mesmo a tuba auditiva), acarretando em uma redução da acuidade auditiva, e assim, caracterizando-se por um problema na condução do som.[2]
CARACTERÍSTICAS AUDIOLÓGICAS
[editar | editar código-fonte]A audiometria é o 1° exame responsável pela detecção do diagnóstico da perda auditiva, nela, são pesquisados os limiares tonais de cada orelha, isto é, a intensidade mínima que o indivíduo conseguirá escutar em cada uma de suas orelhas. Entretanto, o diagnóstico quanto ao tipo de perda auditiva só poderá ser obtido a partir da pesquisa da via aérea e da via óssea.
Os resultados serão anotados em um audiograma e a partir disso, serão analisados os limiares.
Para a perda auditiva ser do tipo condutiva, é necessário que os limiares de via aérea estejam rebaixados (maiores que 25dB), porém com a via óssea preservada (menores ou até 15dB), indicando que há algum componente condutivo impedindo a passagem total do som.
Além da perda auditiva condutiva, existem as perdas sensorioneural e mista. Na perda sensorioneural, os limiares de via óssea estarão abaixo de 15dB e a via aérea estará abaixo de 25dB, porém sem a existência de uma diferença entre as duas medidas (considera-se 10dB o máximo de diferença a ser tolerada), enquanto na perda mista, além dos dois resultados encontrarem-se alterados, haverá uma diferença a partir de 15dB entre a visa óssea e aérea.
LOGOAUDIOMETRIA
[editar | editar código-fonte]A logoaudiometria consiste em uma série de amostras de fala padronizadas, apresentadas a partir do audiômetro no transdutor. A logoaudiometria tem como principal objetivo verificar os resultados obtidos na audiometria tonal liminar.
Os resultados esperados na logoaudiometria de uma pessoa com perda auditiva condutiva, são compatíveis aos de uma pessoa normal, pois o som só estará sendo transmitido com menor intensidade, sem causar distorção, mas é necessário considerar o grau da perda, uma vez que, os limiares poderão se encontrar muito rebaixados.
O limiar de reconhecimento de fala (LRF), que será obtido com uma lista de palavras, abaixando-se a intensidade do aparelho até encontrar a menor intensidade audível, deverá expressar um valor igual ou até 10 dB maior que a média entre as frequências 500hZ, 1000Hz e 2000Hz obtidas na audiometria tonal liminar.
O índice percentual de reconhecimento de fala (IPRF), em que será apresentada uma lista de 25 dissílabos, os quais o indivíduo terá que repetir, deverá obter uma porcentagem de acertos entre 100% e 92% para confirmar o resultado da perda auditiva condutiva.
Já o limiar de detecção de voz (LDV) é o teste mais simples a se fazer, é mais utilizado para pessoas não oralizadas ou que possuam uma distorção muito grande dos sons, obtendo um resultado muito alterado nos testes anteriores; portanto, em situações de indivíduos oralizados, e que tenham apenas a perda auditiva condutiva, o essencial é não precisar realizar este teste.[2]
IMITANCIOMETRIA
[editar | editar código-fonte]A timpanometria irá indicar alterações na orelha média, uma vez que o exame é realizado com uma pressão extrema no conduto, inserida por uma sonda, enquanto o conduto estará ocluído por uma oliva para que não haja o escape da pressão, para aumentar a rigidez da orelha média e dessa forma, aumentar sua impedância a passagem do som. As medidas utilizadas para obter uma curva timpanométrica, serão a pressão e volume da orelha média. Esta curva irá variar de acordo com a alteração de orelha média apresentada.
- Tipo A: mobilidade normal do sistema tímpano-ossicular.
- Tipo As/Ar: amplitude reduzida, indicando baixa mobilidade do sistema tímpano-ossicular. Curva presente em condições de aumento de rigidez do sistema, pode ser encontrada em casos de otosclerose.
- Tipo Ad: amplitude aumentada, indica hipermobilidade do sistema tímpano-ossicular. Segundo vários autores, é compatível com disjunção de cadeia ossicular.
- Tipo C: curva caracterizada por pico de máxima admitância deslocado para pressão negativa, compatível com disfunção tubária.
- Tipo B: curva plana caracterizada por ausência de pico de máxima admitância, indicando ausência de mobilidade do sistema tímpano-ossicular; encontrada em casos de presença de líquido no espaço da orelha média, como otites, ou em perfurações da membrana timpânica.
- Tipo D: curva com duplo pico de máxima admitância[2].
Reflexos acústicos ausentes: Em perdas unilaterais, o reflexo ipsilateral da orelha afetada estará ausente e o reflexo contralateral da orelha não afetada também, ambas por problema de eferência. Já em perdas bilaterais, todos os reflexos estarão ausentes, pelo mesmo problema.
Emissões Otoacústicas Evocadas - EOE
[editar | editar código-fonte]Por estímulo transiente: Estará ausente pois para que haja registro de emissão otoacústica, a onda sonora deve alcançar as células ciliadas externas e retornar parcialmente, sendo, portanto, necessariamente obrigatória a passagem pela orelha externa e média. Entretanto, caso estas se encontrem com problemas, as emissões passarão com dificuldade e chegarão à cóclea com pouca energia para serem interpretadas pelas CCE, do mesmo modo que o retorno até a orelha externa para ser captado pela sonda encontrará impedimentos e por isso, há ausência de resposta.
Por Produto de Distorção: dois tons puros são apresentados simultaneamente, ocorrendo a distorção da resposta da cóclea, pois o órgão não consegue processar tão bem quando chegam dois tons puros se comparado a quando chega apenas um, devido à inabilidade da membrana basilar de responder excitações simultâneas e isto, se relaciona com a organização tonotópica da cóclea. Em perdas condutivas, poderá está ausente ou com respostas aumentadas, já que o caminho percorrido pelo som encontrará obstáculos a nível de orelha média, dificultando sua condução até a cóclea e, consequentemente, seu retorno.
Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico - PEATE
[editar | editar código-fonte]Encontra-se latências absolutas das ondas I, III e V aumentadas devido à dificuldade a nível de OE e/ou OM para que a onda sonora seja amplificada, causando um atraso simétrico nas três principais ondas registradas neste exame; as latências dos intervalos interpicos I-III, III-V, I-V apresentam valores normais visto que nas estações da via auditiva central em que estas ondas são registradas não há alterações e sim na parte periférica do sistema auditivo; o limiar eletrofisiológico pode estar moderadamente elevado já que o local aonde há amplificação da onda sonora não está completamente funcionante.
CAUSAS
[editar | editar código-fonte]As causas comuns de perda auditiva condutiva incluem:
Otosclerose: Crescimento anormal de tecido ósseo perto do estribo;
Malformações de orelha externa e média: Ocorre por alteração do desenvolvimento embrionário do 1º sulco branquial;
Otites: Comum especialmente em crianças, onde há o acúmulo de secreção na orelha média;
Disfunção tubária: Refere-se à impermeabilidade temporária ou persistente da tuba auditiva, podendo colabar e apresentar sintomas como plenitude auricular, sensação de ouvido tampado, autofonia, dor;
Rolha de cerúmen: Excesso de cerúmen acumulado na orelha, fornecendo uma impedância a passagem do som para a orelha média e eventual transmissão à orelha interna.
Perfuração da membrana timpânica: Causa uma comunicação anormal entre orelha média e orelha interna, com limiares alterados e desconforto auditivo para o indivíduo.
Corpos estranhos: A presença de corpos estranhos no conduto irão, assim como a rolha de cera, fornecer impedância para a entrada do som.
Disjunção de cadeia ossicular: Perda da continuidade na cadeia ossicular, afetando a transmissão aérea sonora.[3]
SINTOMAS
[editar | editar código-fonte]Os principais sintomas de perda auditiva a serem percebidas pelo indivíduo são:
- Sensação da intensidade de voz mais fraca, abafada;
- Sensação de "ouvido tampado";
- Zumbido;
Os sintomas irão variar de acordo com o motivo associado a perda auditiva, sendo que, em todos os casos, a sensação de estar escutando pior permanecerá, enquanto outros sintomas associados como dores, vertigem irão diferir para cada caso.
TRATAMENTO
[editar | editar código-fonte]Pode ser tratada de diferentes formas, dependendo da causa da perda, tipo e grau.
Quando há ausência ou deformação de estruturas do ouvido, como em casos de malformações, o tratamento adequado para recuperar a perda auditiva, é o uso de próteses ósteo-ancoradas, estimulando diretamente a cóclea.
Quando há a presença de um corpo estranho no conduto, rolhas de cera ou excesso de cerúmen, o indivíduo deverá ser encaminhado ao médico otorrinolaringologista, que irá fazer a remoção e/ou limpeza adequada.
Em casos de infecção, como otites, os antibióticos ou medicamentos antifúngicos são uma opção.
A cirurgia de reconstrução da membrana timpânica também entrará como tratamento caso seja esse o motivo da perda auditiva e a regeneração não estiver ocorrendo da forma adequada.
Outros tipos de cirurgia a serem considerados são as de colocação de tubo de ventilação para otites secretoras, ou até mesmo a reconstrução do tímpano e ossículos (exemplo: estapedectomia para substituir o estribo, quando paralisado pela otosclerose).
A perda auditiva condutiva pode demonstrar uma condição reversível, que com o tratamento correto a partir da descoberta da origem do problema, tende a desaparecer, porém em casos cujos limiares encontram-se muito rebaixados, ou o tratamento não se demonstra eficiente o suficiente, pode ser necessário o uso de aparelhos de amplificação sonora temporariamente, ou permanentemente para propiciar maior conforto ao indivíduo e não atrapalhar em sua comunicação e atividades do dia a dia.[4]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ author., World Health Organization,. World report on hearing. [S.l.: s.n.] OCLC 1295473345
- ↑ a b c d e Edilene., Marchini Boéchat, (2015). Tratado de audiologia (2a. ed.). [S.l.]: Grupo Gen - Livraria Santos Editora. OCLC 939264789
- ↑ FILHO, Otacílio Lopes (2013). Novo tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Editora Manoele Ltda. ISBN 978-8520436035
- ↑ JON E. ISAACSON, M.D., AND NEIL M. VORA, M.D., Milton S. (15 de setembro de 2003). «Differential Diagnosis and Treatment of Hearing Loss». American family physician. Pennsylvania. Consultado em 04 de outubro de 2022. Verifique data em:
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(ajuda)
AUDIOLOGIA EDUCACIONAL E RE(HABILITAÇÃO) AUDITIVA - GRUPO BEATRIZ MARCHI, LAURA CASIMIRO PIRES E ORÁVIO BATISTA RODRIGUES (INTRODUÇÃO)
[editar | editar código-fonte]Habilitação e reabilitação auditiva
[editar | editar código-fonte]A Habilitação e reabilitação auditiva é um dos campos de atuação da Fonoaudiologia que compreende desde a seleção e adaptação do Aparelho de amplificação sonora individual (AASI) ou do Implante coclear, até a reabilitação audiológica, por meio da terapia fonoaudiológica. [1]
O diagnóstico da perda auditiva deve ser o mais precoce possível, para que possa propiciar um desenvolvimento normativo da linguagem, cujo principal requisito, é a integridade do sistema auditivo; ao realizar um diagnóstico precoce, a intervenção será definida, em conjunto com a família, e a partir da adesão, poderá ser observado seu desenvolvimento no processo de reabilitação auditiva.[2]
O objetivo da reabilitação auditiva é desenvolver ou devolver a capacidade de percepção auditiva ao indivíduo com deficiência auditiva, com o auxílio de dispositivos que possam amplificar o som.[3] O desenvolvimento das habilidades auditivas e de linguagem, durante o processo de reabilitação auditiva, depende de alguns fatores determinantes como: tempo de privação auditiva, etiologia da perda, engajamento do paciente e da família, entre outros.[3][2]
No processo terapêutico, é essencial que haja a participação do paciente e da família, para que ambos possam entender sobre a perda auditiva e para que possam ser adotadas estratégias de comunicação e posteriormente, de empoderamento quanto a sua condição, facilitando o processo de reabilitação e saindo do estágio de luto que uma deficiência auditiva pode provocar.[2]
Além disso, é necessário que o ambiente educacional da pessoa com deficiência auditiva esteja preparado para receber este indivíduo e proporcionar sua inclusão no ambiente escolar, assim como auxiliar em seu processo de aprendizagem, implementando o uso de tecnologias assistivas, como o sistema de frequência modulada (FM).[2]
Para adultos, é nítido observar na rotina clínica que, dependendo de aspectos que variam desde o grau e tipo de perda auditiva até a aceitação da deficiência, existem pacientes que se adaptam muito bem com a prótese auditiva e que, apenas com o próprio processo de seleção e adaptação, obtêm benefício e satisfação com a amplificação. Isto já não ocorre para inúmeros outros, para os quais somente a adaptação da prótese auditiva não é suficiente, resultando, assim, no seu abandono. [2]
No que diz respeito à reabilitação em casos pós-cirúrgicos de crianças e adultos usuários de implante coclear, faz-se necessário orientações quanto à programação do processador de fala, cuidados e manutenção do processador de fala e avaliar a evolução do paciente em conjunto com a família. Alcançar a programação ideal é imprescindível em crianças, uma vez que, na maioria das vezes, elas não são capazes de avaliar e oferecer informações quanto à qualidade do sinal obtido.[2]
É destinada ao paciente, a reabilitação através da abordagem aurioral, utilizada na intervenção fonoaudiológica com a proposta de utilizar a audição residual para auxiliar o dispositivo utilizado e seu desenvolvimento. Desta forma, é favorecida a aquisição e desenvolvimento da linguagem da criança que receberá mais informação acústica dos sons da língua. [4][5]
Cumpre salientar que a estimulação do processamento auditivo é de extrema importância na reabilitação da criança com perda auditiva, fazendo com que melhore o desenvolvimento lexical e diminua as dificuldades de aprendizagem e metalinguagem apresentadas pelo paciente. Sendo assim, se faz necessária a avaliação frequente de habilidades de linguagem oral, escrita e auditiva da criança para reavaliar o processo de intervenção fonoaudiológica e elaborar o planejamento terapêutico de acordo com as evoluções.[6]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ Cecília., Bevilacqua, Maria (2003). Audiologia educacional : uma opção terapêutica para a criança deficiente auditiva. [S.l.]: Pró-Fono. OCLC 71308475
- ↑ a b c d e f Marchini Boéchat, Edilene (2015). Tratado de audiologia (2a. ed.). Pedro de Lemos Menezes, Christiane Marques do Couto. Sao Paolo: Grupo Gen - Livraria Santos Editora. OCLC 939264789
- ↑ a b Scaranello, Carla Alessandra (30 de dezembro de 2005). «REABILITAÇÃO AUDITIVA PÓS IMPLANTE COCLEAR». Medicina (Ribeirão Preto) (3/4): 273–278. ISSN 2176-7262. doi:10.11606/issn.2176-7262.v38i3/4p273-278. Consultado em 1 de novembro de 2022
- ↑ Doreen., Pollack, (1985). Educational audiology for the limited hearing infant. [S.l.]: Thomas. OCLC 631374468
- ↑ Introduction to aural rehabilitation. Raymond H. Hull Second edition ed. San Diego, CA: [s.n.] 2014. OCLC 995048108
- ↑ Oliveira, Patrícia Santos; Penna, Letícia Macedo; Lemos, Stela Maris Aguiar (dezembro de 2015). «Desenvolvimento da linguagem e deficiência auditiva: revisão de literatura». Revista CEFAC (6): 2044–2055. ISSN 1516-1846. doi:10.1590/1982-0216201517611214. Consultado em 1 de novembro de 2022