Saltar para o conteúdo

Usuário(a):BoulangerNA/Testes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

BARÃO D’HOLBACH[editar | editar código-fonte]

Paul-Henri Thiry (08/12/1723 – 21/01/1789), mais conhecido como barão d’Holbach foi filósofo, tradutor e enciclopedista franco-alemão, foi também figura marcante do iluminismo francês, sendo considerado um dos mais radicais dentre os materialistas[1] e classificado como iluminista radica[2].

Apesar de sua vasta produção filosófica, traduções e colaborações para a Enciclopédia ele é mais conhecido pelo seu famoso salão da rua Royale Saint-Roch, onde recebia a coterie holbachique, nome dado aos frequentadores do salão.

Biografia[editar | editar código-fonte]

O barão d’Holbach nasce como Paul Heinrich Dietrich von Holbach em 8 de dezembro de 1723, na cidade de Edesheim, no Eleitorado do Palatinato (atualmente Alemanha). Filho de Jacob Dietrich (1672-1756), um vinicultor, e Catherine Jacobina Holbach (1684-1743). O filósofo vem de uma família rica e católica; seu avô materno, Johannes Jacobus Holbach era coletor de impostos, seu tio materno François-Adam d’Holbach (1675–1753) foi um especulador imobiliário em França, ele quem educou o barão, assim como o estimulou a estudar na Universidade de Leiden e, futuramente, o deixou com uma fortuna em herança após seu falecimento, além de alguns imóveis, incluso o salão que veio a ser um grande reduto intelectual das luzes.

  Com 12 anos vai à Paris com o tio, matricula-se em 1744 na Universidade de Leiden, com 21 anos, onde cursa direito e ciências naturais. Em 1748 retorna a Paris, se naturaliza como francês sob o nome de Paul-Henri Thiry e lá trabalha como advogado. Ainda em França, em 1750 se casa com sua primeira esposa, Basile Geneviève Suzanne d'Aine (1728-1754), que é sua prima de segundo grau, ela faleceu pouco tempo depois de ter um filho com o barão. Após dois do falecimento de sua primeira esposa o barão se casa com a irmã dela, Charlotte Suzanne d'Aine (1733-1814).

  A partir de 1751 que ele começa a redigir verbetes na enciclopédia, não há fontes se nesse período que Holbach e Diderot iniciaram sua amizade, possivelmente eles já se conheciam antes. A partir de 1760 o barão começa a escrever suas obras filosóficas. Faleceu em 1789, poucos meses antes da revolução francesa. Naigeon, amigo e editor de Holbach aguarda o falecimento de sua esposa em 1814 para reivindicar a produção do filósofo, pois até então, o autor das obras era desconhecido porque ele escrevia sob pseudônimos. Uma curiosidade é que suas assinaturas tinham um tom cômico, ele “ressuscitava” os mortos, pois era de hábito assinar sob o nome de pensadores falecidos, como Jean-Baptiste Mirabaud ou Nicolas Antoine Boulanger.

Filosofia do autor[editar | editar código-fonte]

Sem dúvidas o materialismo é o adjetivo que melhor qualifica a filosofia holbachiana. Sua obra extensa é marcada não só pelo anticlericalismo,  mas também por um ateísmo radical, e pelo papel de destaque dado à moral, assunto central nas três frases do autor, principalmente na terceira . O principal da produção é a construção do materialismo a partir do estudo da natureza.

  O materialismo do autor é monista, ou seja, admite somente a matéria como ser, para isso é necessário usar a experiência como guia, tão logo, os sentidos; o que classifica o autor como um grande empirista. Suas desavenças com as religiões são bem fundamentadas, o autor é um grande estudioso da natureza e a partir dela estruturou sua moral, que é natural, logo ateia; sua moral é universal e fundamentada na relação de causa e efeito entre as coisas, por isso ela é bem sólida, ao contrário da moral cristã, fundamentada num deus que varia de tempos em tempos (e às vezes a ideia de deus varia numa mesma pessoa), e por se fundamentar num ser que não confere à experiência é uma moral frouxa[3].

Outro fator de destaque na obra é a felicidade, que, segundo o autor, não pode dissociada da sociedade. Sua visão de felicidade é utilitarista, ou seja, é baseada na relação prazer-dor e deve sempre buscar a autoconservação tanto do indivíduo quanto da sociedade; na obra magna ele a estabelece uma relação de necessidade entre ela e a virtude, afirma inclusive que a virtude é o caminho mais seguro para a felicidade[4].

O Salão[editar | editar código-fonte]

Holbach recebia em seu salão grandes nomes do pensamento europeu, a maioria dos seus convidados moravam em França, mas recebia visitas variadas, David Hume e Benjamin Franklin, por exemplo, mesmo não sendo franceses compareciam ao salão. Os encontros ocorriam duas vezes por semana, nas quintas e domingos, e era frequentado apenas por homens. Um grande marco do salão era recepcionar os contribuidores da enciclopédia e a vasta biblioteca, a qual possuía cerca de 3000 volumes.

  Dentre a coterie holbachique, nome dado aos assíduos frequentadores do salão, destacam-se os nomes: Diderot, Grimm, Condillac, Condorcet, D'Alembert, Marmontel, Turgot, Raynal, Helvétius, Galiani, Morellet, Naigeon. Rousseau também foi assíduo no salão, porém, é certo que ele parou de frequentar; especula-se que foi por uma discussão acerca de dinheiro doado pelo barão à esposa de Rousseau

  Alguns nomes dos convidados que não eram da coterieAdam Smith, David Hume, John Wilkes, Horace Walpole, Edward Gibbon, David Garrick, Laurence Sterne, Cesare Beccaria e Benjamin Franklin. Os encontros ocorreram entre 1750 e 1780.

Influências[editar | editar código-fonte]

Holbach no decorrer da sua obra magna elogia Cícero, Hobbes, Bayle e Bacon. Cícero assim como Holbach dá grande atenção à moral e ambos relacionam ela diretamente ao útil; Hobbes fica marcado na obra, pois, além das citações, o estado civil de ambos se parecem, porém, enquanto no Hobbes é destacado a violência, na obra magna do barão a passagem do estado natural para o estado civil é dado pela necessidade da felicidade e da autoconservação, que é mais fácil em sociedade (importante ressaltar que Holbach não usa os termos estado de natureza e estado civil, mas faz a passagem do homem selvagem para o homem civilizado). Bacon é influência tanto pela grande atenção que à natureza quanto pela moral baseada na natureza.

Além dessas influências que são apresentadas na obra magna sabe-se da importância que Lucrécio foi para o barão, tanto o Sistema da Natureza quanto o De rerum natura são obras que tratam da natureza e tem um forte caráter materialista. Especula-se que Jean-Meslier foi também grande influência para o autor, ambos são os nomes mais fortes do ateísmo na modernidade, há inclusive discussões que colocam o Meslier como o primeiro ateu (no sentido moderno da palavra). A obra Le Bon sens inclusive foi tida como uma obra do Meslier até que Naigeon a reivindica como uma obra do Holbach.

Produção[editar | editar código-fonte]

Barão d’Holbach traduziu os livros De Homine, de Hobbes e o De rerum natura, de Lucrécio, fora da filosofia ele traduzia principalmente livros e artigos sobre ciências da natureza.

  Na enciclopédia, colaborou com aproximadamente 400 verbetes sobre temas científicos como mineralogia, química, geologia, entre outros. Também escreveu sobre filosofia e religião.

  Na filosofia a sua produção é marcada pelo materialismo radical que o leva ao ateísmo, também é destaque em suas obras o fatalismo, determinismo e a natureza. Segundo Michel Onfray ele produziu cerca de 6.500 páginas (só de conteúdo em filosofia).

A obra magna[editar | editar código-fonte]

  Sua obra mais notável é o Système de la nature ou des loix du monde physique & du monde moral (Sistema da Natureza: ou das leis do mundo físico e do mundo moral), de 1770, obra onde, a partir da natureza, ele toma a matéria como um ente primordial e, a partir disso, estabelece causas e efeitos necessários. A partir dessas causas e efeitos necessários (estabelecidos nos 5 primeiros capítulos do Tomo I) o autor passa a refletir sobre o homem e consequentemente a sociedade, para então, refletir sobre a moral. O livro é dividido em dois tomos, cada um correspondente a um subtítulo da obra, ou seja, o primeiro tomo trata das leis do mundo físico e o segundo trata das leis do mundo moral.

  No decorrer da obra o autor atribui o qualidade de quimera à deus, chama quem nele crê de ignorante (na obra, ignorante é quem prefere a imaginação à experiência), defende incondicionalmente a virtude e a felicidade ligando-a necessariamente à moral, defende a educação como forma de mudança social, coloca a liberdade como ilusória, etc. No Tomo II o ateísmo é defendido por seus benefícios e associado à moral, para ele, o conhecimento da natureza, se bem apreendido, leva os homens necessariamente ao ateísmo e, o bom ateu (que tem como base do seu ateísmo o estudo, e não o uso do termo apenas para dar justificativa aos seus vícios) tem, necessariamente, princípios morais sólidos.

Fases das obras[editar | editar código-fonte]

Michel Onfray, filósofo influenciado por Holbach, separa a produção do filósofo franco-alemão em três fases: desconstrução da religião; elaboração do materialismo ateu;  política eudemonista e utilitarista[5].

  desconstrução da religião: Marcado pela forte crítica às religiões, em especial o cristianismo; tem como obras: Le Christianisme dévoilé; Theólogie portative, ou Dictionaire abrégé de la religion chrétienne; La Contagion sacrée, ou Histoire naturelle de supersticion; e Histoire critique de Jésus-Christ, ou Analyse raisonnée des Évangiles.

 elaboração do materialismo ateu: Aqui encontra-se a obra magna do filósofo, o Systéme de la nature, ou lois du monde physique et du monde moral, e Le Bon Sens, ou Idées naturelles opossées aux idées surnaturelles. Ambos os livros tratam das mesmas questões, porém a obra magna tem a característica escrita do Holbach, uma escrita muito clara, sem palavras rebuscadas, mas muito extensa. O segundo livro é tido como um resumo do primeiro, pois ele é bem sucinto, um dos motivos que levaram a suspeitar que o Holbach não foi o autor.

  política eudemonista e utilitarista: Este último período é de certo modo a continuação do segundo, pois a moral vem da natureza, assunto primordial da obra magna. As obras tratam basicamente da moral e consequentemente da política, pois o autor defende uma Etocracia, ou seja, um governo fundamentado na moral; as obras dessa fase são: Système social, ou Principes naturels de la morale et de la politique, avec un examen de l’influence du gouvernement sur le moeurs; Politique naturelle, ou Discours sur les vrais principes du governement; La Morale universelle, ou Les devoirs de l’homme fondés sur la nature; e L’Éthocratie, ou Le gouvernement fondé sur la morale.

Lista das obras[editar | editar código-fonte]

  • Lettre à une dame d’un certain âge sur l’état présent de l’opéra, Paris 1752
  • Le christianisme dévoilé, ou Examen des principes & des effets de la religion chrétienne 1766
  • L'Antiquité dévoilée par ses usages, ou Examen critique des principales opinions, cérémonies et institutions religieuses et politiques des différens peuples de la terre 1766
  • La Contagion sacrée, ou Histoire naturelle de la superstition 1768
  • Lettres à Eugénie, ou Préservatif contre les préjugés 1768
  • Théologie portative, ou Dictionnaire abrégé de la religion chrétienne 1768
  • Essai sur les préjugés, ou De l’influence des opinions sur les mœurs & le bonheur des hommes 1770
  • Histoire critique de Jésus-Christ, ou Analyse raisonnée des évangiles 1770
  • Tableau des Saints, ou Examen de l’esprit, de la conduite, des maximes & du mérite des personnages que le christianisme révère & propose pour modèles 1770
  • Système de la nature ou des loix du monde physique & du monde moral, 1770
  • Politique naturelle, ou Discours sur les vrais principes du Gouvernement 1773
  • Système Social, ou Principes naturels de la morale et de la Politique, avec un examen de l’influence du gouvernement sur les mœurs 1773 Le Bon Sens, ou Idées naturelles opposées aux idées surnaturelles 1772
  • Éthocratie, ou Le gouvernement fondé sur la morale 1776
  • La Morale Universelle, ou Les devoirs de l’homme fondés sur la Nature 1776
  • Éléments de la morale universelle, ou Catéchisme de la Nature 1790

Obras em português do Brasil[editar | editar código-fonte]

Sistema da Natureza: ou das leis do mundo físico e do mundo moral (2010), Teologia portátil: ou dicionário abreviado da religião cristã (2012) e A moral universal: ou os deveres do homem fundamentados na sua natureza (2014), todos pela editora Martins Fontes Selo Martins.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

GUEORGUI, P. Ensaios sobre a História do Materialismo; tradução Ana de Paiva, Lisboa: Estampa, 1973 – (Coleção Teoria)HOLBACH, barão de. Sistema da Natureza ou Das Leis do Mundo Físico e do Mundo Moral (Système de La Nature ou Des Lois Du Monde Physique et Du Monde Moral); tradução Regina Schöpke, Mauro Baladi, 1ª Ed. – São Paulo : Martins Fontes, 2010 – (Coleção Tópicos).

_____. Teologia Portátil ou Dicionário abreviado da religião cristã (Théologie portative ou Dictionnaire abrégé de la religion chrétienne); tradução Regina Schöpke, Mauro Baladi, 1ª Ed. – São Paulo : Martins Martins Fontes, 2012 – (Coleção Tópicos).

ISRAEL, . A Revolução das Luzes: O iluminismo radical e as origens da democracia moderna (A Revolution of the mind : Radical enlightenment and the intelectual origins of modern democracy); tradução Daniel Moreira Miranda, São Paulo : Edipro, 2013.

MINOIS, G. A Afirmação do Materialismo Ateu. In: História do Ateísmo: os descrentes no mundo ocidental, das origens aos nossos dias (Histoire de l'athéisme. : Les incroyants dans le monde occidental des origines à nos jours); tradução Flávia Nascimento Falleiros, 1º Ed. - São Paulo: Editora Unesp, 2014.

ONFRAY, M. Os Ultra das Luzes (Les ultras des lumieres); tradução de Claudia Berlinier, São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012 – (Série Contra-História da Filosofia; v. 4)

  1. Onfray, Michel (2012). Os Ultra das Luzes. São Paulo: Martins Fontes. 216 páginas 
  2. Israel, Jonathan (31 de dezembro de 2009). A Revolution of the Mind. Princeton: Princeton University Press. ISBN 9781400831609 
  3. HOLBACH, Barão d' (2010). Sistema da Natureza ou Das Leis do Mundo Físico e do Mundo Moral. São Paulo: Martins Fontes. 772 páginas 
  4. HOLBACH, barão d' (2010). Sistema da Natureza ou Das Leis do Mundo Físico e do Mundo Moral. São Paulo: Martins Fontes. 742 páginas 
  5. ONFRAY, Michel (2012). Os Ultra das Luzes. São Paulo: Maritns Fontes. pp. 222–223