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Usuário(a):Davilene Souza Santos/Testes

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Escola Tropicalista Baiana

A Escola Tropicalista Baiana refere-se ao conjunto de médicos que atuaram na medicina experimental na província da Bahia no Século XIX, originando a medicina tropical experimental em contradição à prática médica exercida naquele período, baseada na interpretação das doenças tropicais de modo livresco e enciclopédico, tendo como referência a medicina desenvolvida especialmente na França.

De acordo com a literatura cientifica, essa denominação foi atribuída a alguns médicos que trabalhavam na Santa Casa da Misericórdia da Bahia, e que buscavam nas pesquisas experimentais a resposta para algumas enfermidades que assolavam a população local, em especial os pobres, negros, escravos e ex-escravos. A expressão Escola Tropicalista Bahiana, inicialmente escrito com o "Bahiana" com "h", observa-se nos textos científicos que o termo "Escola Tropicalista Bahiana" foi cunhado primeiramente por Antônio Caldas Coni (1952), contudo Ronaldo Ribeiro Jacobina, em seu livro sobre Juliano Moreira, publicado em 2019, adverte que o próprio Juliano Moreira no início do século XX já teria se referido àquele grupos de médicos como "Tropicalistas", ou mais especificamente, ao se referir ao Silva Lima. Além disso, Jacobina (2019) ainda acrescenta que Pedro Navas (1948) também já teria se referido a esse grupo de médicos como "Escola Parasitológica e Tropicalistas da Bahia. A reunião desses médicos a partir da década de 1850 culminou na criação de um periódico médico científico, registrado como Gazeta Médica da Bahia(GMB). O primeiro número publicado ocorreu em 1866, com o objetivo de realizar a comunicação científica das pesquisas originais desse grupo de médicos de forma ampla.

Existiram controvérsias científicas em torno desse grupo de médicos, que inicialmente reuniram mais de uma dezena de participantes e influenciaram uma legião de outros médicos a exercerem pesquisas experimentais. A Academia Imperial de Medicina (AIM), localizada na Corte Imperial, na Província do Rio de Janeiro, adotavam outra perspectiva acerca das doenças evidenciadas no Brasil. Médicos da Corte, Associados a AIM, baseavam os seus estudos a fatores climatológicos para justificação das enfermidades tropicais, muitas delas relacionadas a questões de raça, diferentemente e alguns médicos da Província da Bahia, que atribuíam a muitas dessas doenças os fatores parasitológicos.

Um dos expoentes dessa medicina experimental evidenciada na Província da Bahia foi o Drº Otto Edward Henry Wucherer, que fez descobertas significativas por meio das suas observações, tendo sido considerado o fundado da helmintologia brasileira. Juntamente com o médico Alemão Otto Wucherer que exercia a profissão na província da Bahia, outros médicos foram responsáveis por pesquisas alinhadas a concepção parasitológicas e pela disseminação desses estudos originais, e sobretudo na criação da Gazeta Médica da Bahia (GMB), dentre estes estão os médicos escocês John Ligertwood Paterson e o português José Francisco da Silva Lima, todos funcionários da Santa Casa da Misericórdia daquela província. Alguns médicos e alunos da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) também participaram dessas iniciativas. Contudo, a princípio, a união desses médicos e a criação do periódico científico, GMB, não possui um caráter institucional, já que não estavam diretamente associadas oficialmente à única instituição de ensino superior existente naquela época, a FMB.

Outros médicos, como Raimundo Nina Rodrigues e Juliano Moreira, são considerados integrantes da Escola Tropicalista Baiana, em uma segunda fase da medicina experimental na Bahia, diante das pesquisas realizadas após a morte precoce do principal representante desse movimento reconhecido internacionalmente, o Drº Otto Wucherer em 1873. Credita-se, em partes, à saída de Nina Rodrigues do movimento, a decadência da Escola Tropicalista Baiana pouco antes da década de 1870, o que teria enfraquecido a comunicação da medicina tropical, e o periódico Gazeta Médica da Bahia voltava-se para outras temáticas médicas.

A Expressão "Escola Tropicalista Baiana", que vem sendo utilizada, considerada e reconhecida por diversos pesquisadores nacionais e estrangeiros, tem gerado algumas controvérsias, posto que, o professor e pesquisador Drº Flávio Edler, da Casa de Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, considera inapropriado, e inclusive abusivo, a utilização desse termo para designar o referido grupo de médicos da Bahia no século XIX. Esse confronto de ideias é percebido ao passo que Flávio Edler confronta o entendimento da pesquisadora Norte-americana Julyan Peard, em sua tese de doutorado, sob o título "The Tropicalista School of Medicine of Bahia, Brazil, 1860-89", defendida na Columbia University em 1990, em que reconhece o referido grupo de médicos como uma "Escola Tropicalista Baiana", diante dos resultados obtidos e reconhecido no cenário médico nacional e internacional. Em um dos seus artigos científicos intitulado "A Escola Tropicalista Baiana: um mito de origem da medicina tropical no Brasil" (Edler, 2002), e posteriormente no livro intitulado "A Medicina no Brasil Imperial: clima, parasitas e patologia tropical" (Edler, 2011) o autor discorda veementemente com esse entendimento da Julyan Peard, reconhecida pelo autor como uma das pesquisadoras mais influentes e conceituadas no que compete a medicina tropical no século XIX.

Davilene Souza Santos (discussão) 15h08min de 27 de abril de 2021 (UTC)