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Usuário(a):Heidiglinka/Testes

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Gustavo Romanoff Salvini. Chegou a Portugal em 1859 como tenor para cantar no Real Teatro de São João, integrado na Companhia Laneuville, da qual também fazia parte Elisa Hensler (futura esposa consorte do rei D. Fernando II). A 17 de Outubro de 1859 debutou neste teatro, na ópera “Beatrice di Tenda” de Bellini. Porém um incidente nana ópera seguinte -“Os Puritanos” de Bellini – levou-o a perder a voz, pondo termo à sua carreira lírica. Fixando-se na cidade do Porto, Salvini virou-se para uma carreira no ensino de Canto, Piano e Solfejo. Como professor de Canto, Salvini não entendia por que razão os portugueses não cantavam na sua Língua, preterida em favor do Italiano. Encantado pela sonoridade da Língua Portuguesa e pelos seus poetas, Salvini resolveu tomar a iniciativa de pôr em música os grandes poetas do Romantismo Nacional, de Camilo Castelo-Branco a Garrett, passando por Guerra Junqueiro, Alexandre Braga, João de Deus, entre outros. Começou por publicar em 1865 uma compilação de 40 canções , a que deu o nome de “Romanceiro Musical”. As canções são antecedidas de um prólogo, onde Salvini tece louvores à língua de Camões: «Se abrirmos um livro de Herculano, Garrett. F. Castilho, J. de Lemos, Palmeirim e d’outros muitos, - coraremos por ver tão enraizado entre os portuguezes o prejuízo de que a língua de Camões se não amolda às exigências da voz e está tão longe do idioma de Tasso, que o canto não pode della tirar partido! Grave preconceito, erro grosseiro que tanto areja as flores do Orpheo Lusitano, sem as deixar abrir e exalar os seus perfumes.»[Salvini, Prólogo 1ª edição, 1866, p. V]

Em 1884, voltaria a publicar esta compilação, rebatizando-a de "Cancioneiro Musical Português, 40 melodias na língua portuguesa com acompanhamento de piano, letras dos principais poetas portugueses". No entanto mais do que empreender um esforço para “conseguir que os portugueses cantem na sua língua”, Salvini queria fundar o “Kunst-lied” (canção de câmara erudita) português e queria uma reforma para a música em Portugal. Procurou apoio, sem sucesso, junto a escritores como Teófilo Braga e Ramalho Ortigão e até junto ao Rei de Portugal. Enjeitado pelos seus contemporâneos, Gustavo Romanoff Salvini acabaria por tornar-se num nome quase esquecido no tempo, enterrado debaixo de uma gruta (símbolo alquimista de morte e renascimento, lugar da busca da verdade num útero simbólico, e consequente conscientização na saída para a luz) .

Porém na década de 30 do séc. XX deu-se a primeira tentativa de reabilitação do nome de Gustavo Romanoff Salvini. Tal aconteceu pelas mãos de um neto – Anselmo de Moraes Sarmento Salvini – e de um ilustre homem de Letras e jornalista do Porto, de seu nome Bertino Daciano Guimarães. Foi reeditado o Cancioneiro Musical Português (1929), editada postumamente a 1ª parte de “As minhas lições de Canto” (tendo a 2ª parte sido apenas editada em jornal), escreveram-se artigos na imprensa sobre Salvini e até se organizou um concerto em sua homenagem em 1933 na Rádio Porto. Mas os frutos desta iniciativa só viriam a ser colhidos no séc. XXI, com a edição do livro “A Língua Portuguesa no Canto Lírico: contexto histórico e relações entre técnica e fonética" da autora e Cantora Tânia Valente, que tem Salvini com ponto de partida, fio condutor e conclusão de toda esta investigação. A mesma Tânia Valente gravou em disco o CD "Cancioneiro Musical Português" de Salvini, com o pianista Bernardo Marques e músicos convidados.