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Budismo |
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O budismo é a quarta maior religião mundial,[1][2] com mais de 520 milhões de adeptos, representando mais de 7% da população global, e os seguidores são conhecidos como budistas.[3][4]
O Budismo abrange uma variedade de tradições, crenças e práticas espirituais principalmente baseadas nos ensinamentos originais do Buda e suas interpretações filosóficas. A religião surgiu na antiga Índia como uma tradição sramana entre algum período dos séculos XVI e XIV a.C., espalhando-se através da Ásia. Existem duas escolas geralmente reconhecidas pelos estudiosos: a Teravada (páli: "Ensino dos Sábios" ou "Doutrina dos Anciãos") e a Mahayana (sânscrito:"Grande Veículo").
A maioria das tradições budistas compartilham o objetivo de superar o sofrimento e o ciclo de morte e renascimento, que pode ser obtido tanto através do Nirvana quanto pelo caminho do Bodisatva.[5][6][7]. Escolas do budismo variam sobre as interpretações do caminho da libertação, a relatividade da importância e canonicidade atribuída aos vários textos budistas e práticas e ensinamentos específicos.[8][9] Práticas comumente realizadas incluem buscar refúgio no Buda, no Darma e na Sanga, além de cumprir preceitos morais, empregar o monasticismo, praticar a meditação e cultivar as paramitas (perfeições, ou virtudes).
O budismo Teravada se espalhou através do Sri Lanka e no Sudoeste Asiático, em países como Camboja, Laos, Myanmar e Tailândia. A Mahayana, que inclui as tradições da Terra Pura, Zen, Budismo de Nitiren, Shingon e Tiantai (Tendai), espalhou-se através da Ásia Oriental. O Vajrayana, um conjunto de tradições atribuídas a fiéis indianos, pode ser visto como uma vertente do budismo Mahayana.[10] O budismo tibetano, o qual preserva os ensinamentos Vajrayana da Índia do século VIII d.C., é praticado em países da região do Himalaia, a Mongólia,[11] e a Calmúquia.[12]
A vida de Buda
[editar | editar código-fonte]De acordo com a narrativa convencional, o Buda nasceu em Lumbini (hoje, patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) por volta do ano 566 a.C. e cresceu em Capilvasto:[13] ambos, atuais localidades nepalesas.[14][15] Logo após o nascimento de Sidarta, um astrólogo visitou o pai do jovem príncipe, Suddhodana, e profetizou que Sidarta ou iria se tornar um grande rei, ou renunciaria ao mundo material para se tornar um homem santo se, porventura, visse a vida fora das paredes do palácio.
O rei Suddhodana estava determinado a ver o seu filho se tornar um rei e, assim, impediu que ele saísse do palácio. Mas, aos 29 anos, apesar dos esforços de seu pai, Sidarta se aventurou por além do palácio diversas vezes. Em uma série de encontros (em locais conhecidos pela cultura budista como "quatro pontos"),[16] ele soube do sofrimento das pessoas comuns, encontrando um homem velho, um outro doente, um cadáver e, finalmente, um asceta sadhu, representando a busca espiritual. Essas experiências levaram Gautama, eventualmente, a abandonar a vida material e ir em busca de uma vida espiritual.
Sidarta Gautama estudou sob diferentes mestres e desencantou-se com o resultado alcançado pelo que ensinavam. Chegou a praticar ascese rígida, como jejum prolongado, restrição da respiração, e outras formas de exposição a dor, muito comuns naquele tempo na Índia, e quase morreu ao longo do processo. Mas houve um episódio no qual uma jovem lhe ofereceu comida e ele aceitouː isso marcou sua renúncia a tais práticas. Concluiu que as práticas ascéticas extremas não traziam os resultados que buscava. Deduziu, então, que as práticas eram prejudiciais aos praticantes.[17] Ele abandonou o ascetismo, concentrando-se na meditação anapanasati, através da qual descobriu o que hoje os budistas chamam de "caminho do meio": um caminho que não passa pela luxúria e pelos prazeres sensuais, mas que também não passa pelas práticas de mortificação do corpo.[18] Em outras palavras, o caminho do meio não seria o caminho do apego a qualquer coisa, nem também o caminho da negação ou aversão a qualquer coisa, e sim uma terceira via.
Quando tinha 35 anos de idade, Sidarta sentou-se embaixo de uma figueira-dos-pagodes (Ficus religiosa)[19][20] hoje conhecida como árvore de Bodhi,[18] localizada em Bodh Gaya, na Índia, e prometeu não sair dali até conseguir atingir a iluminação espiritual.[21][22][23]
A lenda diz que Sidarta conheceu a dúvida sobre o sucesso de seus objetivos ao ser confrontado por um demônio chamado Mara, que simboliza o mundo das aparências, a tentação, comparado ao papel de Satanás no cristianismo, e muitas vezes representado por uma cobra naja. Mara teria oferecido todos os tipos de prazeres e tentações a Sidarta, que, implacavelmente, repeliu Mara. Vencido Mara, Sidarta acordou para a Verdade, a Verdade da origem, da cessação e do caminho que levava ao fim do sofrimento, e se iluminou. Assim, por volta dos quarenta anos, Sidarta se transformou no Buda, o Iluminado.
Logo, atraiu um grupo de seguidores e instituiu uma ordem monástica. A partir de então, passou seus dias ensinando o darma, viajando por toda a parte nordeste do subcontinente indiano. Ele sempre enfatizou que não era um deus e que a capacidade de se tornar um buda pertencia ao ser humano. Faleceu aos oitenta anos de idade, em 483 a.C., em Kushinagar, na Índia.
Os estudiosos se contradizem em relação às afirmações sobre a história e os fatos da vida de Buda. A maioria aceita que ele viveu, ensinou e fundou uma ordem monástica, mas não aceita de forma consistente os detalhes de sua biografia. Segundo o escritor Michael Carrithers, em seu livro O Buda, o esboço de uma vida tem que ser verdadeiro: o nascimento, a maturidade, a renúncia, a busca, o despertar e a libertação, o ensino e a morte.[24]
Ao escrever uma biografia sobre Buda, Karen Armstrong disse: "É obviamente difícil, portanto, escrever uma biografia de Buda, atendendo aos critérios modernos, porque temos muito pouca informação que pode ser considerada 'histórica'... mas podemos estar razoavelmente confiantes, pois Siddhartta Gautama realmente existiu e os seus discípulos preservam a sua memória, sua vida e seus ensinamentos".[25]
Cosmovisão
[editar | editar código-fonte]O termo "budismo" é um neologismo ocidental, comumente usado como uma tradução para o Darma do Buda, fójiào em chinês, bukkyō em japonês, nang pa sangs rgyas pa'i chos em tibetano, buddhadharma em sânscrito, buddhaśāsana em páli.
As Quatro Nobres Verdades –Dukkha e o seu fim
[editar | editar código-fonte]As Quatro Nobre Verdades expressam a orientação básica do budismo: nós desejamos e nos apegamos as coisas e aos estados impermanentes, que é denominado dukkha, "a incapacidade de satisfação" e o doloroso.[26][27] Isto nos mantêm presos no samsara, o ciclo sem fim do renascimento, dukkha e da morte. Contudo existe um caminho para a libertação desse ciclo sem fim,[28] o estado do nirvana, quando seguimos o Nobre Caminho Óctuplo.
A verdade de dukkha é o insight básico que a vida neste mundo mundano, com o desejo e apego as coisas e aos estados impermanentes,[26] é insatisfatória.[29][30] Dukkha pode ser traduzido como a "incapacidade de satisfação",[31] "a natureza insatisfatória e a insegurança geral de todos os fenômenos condicionados"; ou "doloroso". Dukkha é de maneira mais comum traduzido como "sofrimento", mas isto é impreciso, já que não se refere ao sofrimento episódico, mas a natureza intrínseca insatisfatória e transitória dos estados e coisas, incluindo prazeres, contudo estes últimos também são apenas experiências temporárias. Nós esperamos a felicidade das coisas e estados que são impermanentes, e que portanto não podem fornecer a verdadeira felicidade.
No budismo, dukkha é uma das três marcas da existência, juntamente com a impermanência e anatta ("não self").[32] O budismo, como as outras grandes religiões indianas, afirma que tudo é impermanente (anicca), mas ao contrário das outras, afirma que não existe um self ou alma permanente nos seres vivos (anatta).[33][34] A ignorância ou interpretação errada (Avidya) de que tudo é permanente ou que existe um self nos seres é considerado um falso entendimento, é a principal fonte de apego e dukkha.[35][36][37]
O dukkha surge quando nós desejamos (páli:Trishna) e nos apegamos aos fenômenos da mudança. Esse apego e desejo produz carma, que nos mantem no samsara, a roda da morte e renascimento.[38] Apego inclui kama-tanha, o apego pelos prazeres dos sentidos; bhava-tanha, o apego pela continuidade do ciclo de vida e morte; e vibhava-tanha, o apego de não querer vivenciar as sensações dolorosas e do mundo.[38][39][40]
O dukkha pode acabar, ou ser limitado,[41] quando o desejo e o apego acabam ou são limitados. Isto significa que nenhum carma adicional é produzido, e o renascimento chega ao seu fim. Este estado é o nirvana.[42][43]
Ao seguir o caminho budista para o moksha, libertação,[44] o indivíduo começa a se libertar do apego e desejo das coisas e estados impermanentes. O termo "caminho" normalmente se refere ao Nobre Caminho Óctuplo, mas outras versões do "caminho" também pode ser encontradas nos Nikayas.[45] A tradição Teravada aponta o insight das Quatro Nobre Verdades como a própria libertação.[46]
O ciclo do renascimento
[editar | editar código-fonte]Samsara
[editar | editar código-fonte]Samsara significa "errante" ou "mundo", com a conotação de cíclica, mudança tortuosa.[47][48] Refere-se a teoria do renascimento e "a característica cíclica de toda a vida, matéria e existência", uma suposição fundamental no budismo, assim como em todas as principais religiões da Índia.[48] Samsara no budismo é considero o dukkha, o insatisfatório e o doloroso,[49] perpetuado pelo desejo e o avidya (ignorância), resultando no carma.[48][50][51]
A teoria do renascimento, e nos reinos em que esses renascimentos podem ocorrer, é exaustivamente desenvolvido no budismo, em particular no budismo tibetano com a doutrina da roda da existência (Bhavacakra).[49] A libertação desse ciclo de existência, o nirvana, tem sido a fundamentação e a justificação histórica mais importante do budismo.[52]
Textos budistas posteriores mostram que o renascimento pode ocorrer em seis reinos de existência, chamados de os três reinos bons (celestial, semideus, humano) e os três reinos malignos (animal, fantasmas famintos, infernal).[53] O Samsara termina se a pessoa atinge o nirvana, o fim dos desejos e a obtenção do verdadeiro insight sobre a impermanência e a realidade do não-self.[54][55]
Renascimento
[editar | editar código-fonte]Renascimento se refere ao processo através do qual seres passam por meio de uma sucessão de vidas diante de várias formas de vida senciente, todos começando pela vida até a morte.[56] No pensamento budista, o renascimento não envolve qualquer alma, por causa da doutrina do Anatta (sânscrito: anātman, doutrina do não self), o qual rejeita o conceito de um self permanente ou uma alma eterna e imutável, como é visto no hinduísmo e cristianismo.[57] De acordo com o budismo não existe de maneira alguma algo como o self em qualquer ser ou essência de algum tipo.[32]
A tradição budista tradicionalmente discorda o que há em uma pessoa que renasce, e o quão rápido o renascimento ocorre a cada pós-morte.[58][59] Algumas escolas budistas afirmam que a doutrina do "não self" significa que não existe self permanente, mas há o avacya, o self (inexpressível) o qual migra de uma vida para outra.[58] A maioria das escolas budistas, em contraste, afirmam que o vijnana (a consciência da pessoa) embora tenha uma evolução, existe como um continuo e seu mecanismo é a base sobre o qual ocorre o renascimento e o morrer novamente.[29][58] O renascimento depende do mérito ou demérito do carma da pessoa, bem como o que é acumulado em nome da família.
Cada renascimento acaba parando em um dos cinco reinos de acordo com a escola teravada, ou seis de acordo com as outras escolas – divino, semideuses, humano, animal, dos fantasmas famintos e infernal.[60][61]
Na Ásia Oriental e no budismo tibetano, renascimento não é instantâneo, e existe um estado intermediário (do tibetano bardo).[62][63] A posição ortodoxa teravada rejeita a espera, e afirma que o renascimento de um ser é imediato.[62] Entretanto, existem passagens em Samyutta Nikaya no Cânone Páli que podem dar suporte a ideia que Buda ensinou sobre um estágio intermediário entre uma vida e a próxima.[64][65]
Carma
[editar | editar código-fonte]No budismo, carma (do sânscrito: "ação, trabalho") movimenta o samsara – o ciclo sem fim de sofrimento e renascimento de cada ser. Atos bons e úteis (Páli: kusala) e atos ruins e inúteis (Páli: akusala) produz "sementes" no receptáculo inconsciente (alaya) que amadurece tanto o renascimento dessa vida ou de vidas subsequentes.[66] A existência do carma é um sistema que está no âmago no budismo, como em todas as grandes religiões indianas, e não implica em fatalismo ou que tudo que acontece em uma pessoa é por causa do carma.[67]
Um aspecto central do teoria budista do carma é que intenção (cetanā) importa e é essencial em trazer a consequência ou phala ("frutos") ou vipaka ("resultado").[68] Entretanto, carma bom ou ruim é acumulado mesmo sem ação física, e apenas ter uma doença ou bons pensamentos que cria-se sementes de carma; logo, ações do corpo, fala ou da mente levam também para sementes cármicas.[67] Nas tradições budistas, aspectos da vida afetados pelo carma em nascimentos passados e atuais de um ser incluem a forma de renascimento, reino de renascimento, classe social, características e outras circunstâncias de grande aspecto de uma vida.[67] Opera-se como as leis físicas, sem qualquer intervenção externa, em qualquer dos seis reinos de existência, incluindo dos seres humanos e deuses.[67][69]
Um aspecto notável da teoria do carma no budismo é transferência do mérito.[70][71] Uma pessoa não acumula mérito apenas através de intenções e vida ética, mas também ganhando méritos dos outros ao trocar bens e serviços, como através do dana (caridade de monges e monjas).[72] Além disso, uma pessoa pode transferir seu próprio carma bom para membros vivos da família ou ancestrais.[71]
Libertação
[editar | editar código-fonte]O fim do klehsa e a libertação pelo nirvana (nibbāna), que é o fim do ciclo de renascimento, tem sido a base e o objetivo da soteriologia budista através do caminho da vida monástica desde os tempos do Buda.[44][73][74] O termo "caminho" é usualmente usado no significado do Nobre Caminho Óctuplo, mas outras versões de " o caminho" podem ser achados nos Nikayas. Em algumas passagens do Cânone Páli, a distinção entre um ser composto de conhecimento correto ou insight (sammā-ñāṇa), e libertação correta (sammā-vimutti), é a maneira de obter o fim do ciclo e a libertação.
O nirvana significada literalmente "extinção, se extinguindo".[75][76] Nos primeiros textos budistas, é um estado de restrição e autocontrole que leva a "extinção" e o fim dos ciclos de sofrimento associados aos renascimentos e ao morrer novamente.[77][78] Muitos textos budistas posteriores descrevem o nirvana como algo idêntico ao anatta, isto é, com o completo "vazio, o nada".[79][80][81] Em alguns textos, o estado é descrito em grande detalhe, como passar diante do portão do vazio (sunyata) – percebendo-se que não há alma ou self em qualquer ser vivo, que passar pelo portão que não apresenta qualquer sinal (animitta) – notando-se que o nirvana não pode ser percebido, e finalmente passando pelo portão que apresenta a falta de desejo (apranihita) - realizando-se que o nirvana é um estado em que nem sequer se é desejado no próprio nirvana.[73][82][83]
O estado do nirvana tem sido descrito nos textos budistas parcialmente de maneira similar a outras religiões da Índia, um estado de completa libertação, iluminação, o grau mais elevado de felicidade, benção, destemor, liberdade, permanência, não ter dependência de qualquer origem, insondável e indescritível. Também tem sido descrito diferentemente, como um estado espiritual liberado pela marca do "vazio" e realização do não self.
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