Saltar para o conteúdo

Usuário(a):Loise da Costa Santos/Testes

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ciclo da Violência[editar | editar código-fonte]

Em um relacionamento abusivo diversos padrões se repetem, a estes padrões dá-se o nome de Ciclo da Violência. O termo foi desenvolvido pela psicóloga estadunidense Lenore Walker, publicado pela primeira vez em 1979 na obra “The Battered Woman” (“A mulher agredida” - em tradução livre).[1]

A imagem se refere a um circulo com três fatias. A primeira se refere a Fase 1, que está na cor verde (Aumento da tensão), a Fase 2, que está na cor azul (Ato de violência) e a Fase 3, na cor laranja (Lua de mel).
Ciclo da violência doméstica

De forma introdutória, o ciclo se resume a 3 (três) fases principais que são continuamente repetidas pela pessoa agressora: “Aumento da tensão”, “Ato da Violência” e “Lua de Mel” . A vítima, estando presa nesta sequência de etapas tão diferentes e emocionalmente envolvida, tem muita dificuldade em sair da situação. Assim, o conceito é entendido como ciclo, pois são várias etapas que se repetem incessantemente, até que o ciclo seja rompido pela vítima ou leve ao feminicídio.[2]

Mesmo que o conceito tenha sido criado em 1979 se mantém bastante atual. Sendo uma ferramenta importante que permite identificar uma situação de violência. Muitas vezes a própria vítima pode compreender a situação em que está e romper o ciclo.

FASE 1- Aumento da tensão[editar | editar código-fonte]

O sinais de agressão são sutis na primeira fase, o agressor se mostra irritadiço, faz ameaças e tem acessos de violência verbal contra a vítima. Também nesta fase, percebe-se uma tensão no relacionamento que vai aumentando aos poucos. Muitas vezes o agressor sabe como provocar dor emocional na vítima e utiliza isso a seu favor.[3]

De forma mais específica, esta fase parte da violência verbal, psicológica e econômica. A vítima pode ter sentimentos de incerteza, justamente pela forma como é tratada pela agressor, sendo constantemente ameaçada de forma direta e indireta teme pelo término do relacionamento, além de não saber o que vai acontecer, até onde a violência pode ir.[4]

Junto da incerteza que a vítima sente sobre seu relacionamento, vêm as desculpas e argumentações do parceiro(a) que tentam justificar a violência, com o intuito inclusive de culpabilizar a própria vítima pela violência que está sofrendo. Nesta situação, o agressor utiliza qualquer ato, palavra ou comportamento da vítima para justificar seu comportamento agressivo. [5]

FASE 2- Ato da violência[editar | editar código-fonte]

Na segunda fase há uma falta de controle do agressor (Explosão) na qual leva ao ato de violência, gerada pelo acúmulo de tensão da Fase 1 do ciclo  podendo essa ser, de qualquer natureza ( Física, sexual, psicológica, moral ou patrimonial). Em que as violências que já existiam na Fase 1 são ampliadas e essa mulher se sente ainda mais vulnerável e fragilizada.[6]

Segundo, Cuervo,M. M., e Martínez,J. F.(2013) na fase da explosão (Atos de violência) pode estar presente além da violência por parte do agressor, a autoproteção ou defesa por parte da vítima. Pois ela, mesmo muitas das vezes tendo consciência do que está acontecendo e do risco em que se encontra, essa mulher se encontra em um estado de paralisia e impossibilidade de reação devido ao ambiente estressor em que está inserida.[7]

Durante essa etapa ela sofre uma grande tensão psicológica e permanece em estado de alerta a todo momento, podendo ter sintomas de insônia, perda de peso, fadiga constante, ansiedade, além de ter uma confusão de sentimentos como medo, ódio, solidão, pena de si mesma, vergonha, e dor. Normalmente é durante essa fase que ocorre o feminicídio, pois ao longo do tempo as violências vão escalonando,  com uma duração menor do ciclo e maior intensidade.[8]

Porém “nesse momento, ela também pode tomar algumas decisões− as mais comuns são: buscar ajuda, denunciar, esconder-se na casa de amigos e parentes, pedir a separação e até mesmo suicidar-se. Geralmente, há um distanciamento do agressor.” (IMP) [9]

De acordo com o IMP (Instituto Maria da Penha)[10] e a Lei 11.340 essas são as classificações e exemplificações de cada tipo de violência:[11]

Tipos de violência[12][editar | editar código-fonte]

Violência Física[editar | editar código-fonte]

Qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da mulher.

  • Espancamento, atirar objetos, sacudir e apertar os braços, estrangulamento ou sufocamento, lesões com objetos cortantes ou perfurantes, ferimentos causados por queimaduras, ferimentos causados por armas de fogo e tortura.[13]

Violência Psicológica[editar | editar código-fonte]

Conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher; ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões.

  • Ameaças, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento (proibir de estudar e viajar ou de falar com amigos e parentes), vigilância constante, perseguição contumaz, insultos, chantagem, exploração, limitação do direito de ir e vir, ridicularização, tirar a liberdade de crença e gaslighting (distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre a sua memória e sanidade).[14]

Violência Sexual[editar | editar código-fonte]

Qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força

  • Estupro, obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa, impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar, forçar matrimônio ou gravidez, prostituição por meio de coação, chantagem, suborno ou manipulação e limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.[15]

Violência Moral[editar | editar código-fonte]

Qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

  • Acusar a mulher de traição, emitir juízos morais sobre a conduta, fazer críticas mentirosas, expor a vida íntima, rebaixar a mulher por meio de xingamentos que incidem sobre a sua índole e desvalorizar a vítima pelo seu modo de se vestir.[16]

Violência Patrimonial[editar | editar código-fonte]

Conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.

  • Controlar o dinheiro, deixar de pagar pensão alimentícia, destruição de documentos pessoais, furto, extorsão ou dano, estelionato, privar de bens, valores ou recursos econômicos e causar danos propositais a objetos da mulher ou dos quais ela goste.[17]

FASE 3 - Lua de Mel[editar | editar código-fonte]

Esta fase também pode ser traduzida como fase de reconciliação. Recebe esse nome por ser o momento em que o agressor pede desculpas à vítima e tudo parece ter sido resolvido. Sempre depois da violência vem o arrependimento e um comportamento carinhoso, como se nada houvesse acontecido.[18]

Neste momento, o agressor faz promessas de que não repetirá o comportamento agressivo. Portanto, muitas mulheres buscam entender a situação como algo cotidiano, que faz parte de sua dinâmica familiar, aceitando a violência. Também, pode existir um sentimento de culpa da vítima, acreditando que na realidade toda a situação foi ocasionada por sua responsabilidade, assumindo, portanto, que aprendeu uma lição e se não agir de tal maneira novamente a violência realmente não vai se repetir.[19]

Diante da sociedade, muitas mulheres se sentem pressionadas a manter o relacionamento, pensando até mesmo nos filhos e como serão vistas por outras pessoas, buscando acreditar nas promessas do agressor. Dessa forma, em algum momento chega-se ao final da fase da Lua de Mel, levando novamente a Fase 1 - Aumento da Tensão e reiniciando o ciclo novamente.[20]

Conceito de Espiral da violência[editar | editar código-fonte]

A imagem representa com uma espiral que vai afunilando ao longo do tempo, em que os ciclos da violência vai acontecendo de modo cada vez mais rápido e com maior intensidade. Nessa espiral há uma bolinha verde que representa a Fase 3 (Lua de mel), uma laranja em que representa a Fase 1 (Tensão) e uma verde que representa a fase 3 (Agressão). O espaço entre essas bolinhas vão diminuindo até chegar no topo da espiral no qual há uma cruz, para representar o feminicídio.
Espiral da violência doméstica

A espiral da violência é um termo que começou a ser utilizado mais recentemente, pois segundo Leonor Walker as mulheres que estão em relacionamentos abusivos não percebem a sua nocividade pois estão em um ciclo que vai se repetindo. Desse modo a cada vez que o ciclo da violência (Tensão, Ato da violência e Lua de Mel) se repete, ele ocorre de forma mais intensa e com mais frequência, seu encurtamento vai formando uma espiral e afunilando ao longo do tempo, podendo ter seu fim em um feminicídio[21]

Como o ciclo da violência afeta a saúde mental e física dessas mulheres?[editar | editar código-fonte]

A violência doméstica atinge repercussões em vários aspectos da vida da mulher, no trabalho, nas relações sociais e na saúde física e emocional. O aspecto cíclico dessa violência a afeta de maneira frequente, visto que a mulher em situação de violência se sente amedrontada e envergonhada, gerando sentimentos de impotência, passividade, vergonha, decepção, culpa e sofrimento.

Desde a década de 80 que a OMS (Organização Mundial de Saúde) considera a violência assunto de saúde pública pela sua dimensão e pela gravidade das sequelas físicas e emocionais que produz. Afetando a saúde e o bem-estar dessa mulher.  [22]

Pesquisas correlacionam à violência a:[editar | editar código-fonte]

  • Distúrbios gastrointestinais,
  • Lesões,
  • Infecções Sexualmente Transmissíveis,
  • Gravidez não desejada,
  • Sentimento de culpa,
  • Baixa autoestima,
  • Depressão,
  • Ansiedade,
  • Suicídio,
  • Transtornos alimentares,
  • Alcoolismo e abuso de drogas,
  • Estresse pós-traumático,
  • Fobias e pânico,
  • Entre outros fatores...

Esse sofrimento psíquico tem um efeito cumulativo, que a longo prazo podem desenvolver doenças psicossomáticas variadas interferindo no bem-estar e no desenvolvimento da saúde psicológica dessa mulher.[23]

Segundo o Banco Mundial, 1 em cada 5 dias de falta ao trabalho é causado pela violência doméstica e a cada 5 anos que está mulher sofre violência, ela perde um 1 de vida saudável (Ribeiro & Coutinho, 2011)[24]

Desse modo percebe-se que a violência além de destruir a liberdade e a qualidade de vida das mulheres, afetando suas esferas pessoal, familiar e social, causa tanto danos físicos, quanto sequelas psicológicas significativas.

Referências

  1. WALKER, LENORE E.A. (novembro de 2006). «Battered Woman Syndrome». Annals of the New York Academy of Sciences (1): 142–157. ISSN 0077-8923. doi:10.1196/annals.1385.023. Consultado em 25 de junho de 2024 
  2. «Ciclo da violencia - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 19 de junho de 2024 
  3. Batista, Maria Naira de Lima; Brilhante, Ana Paula Cavalcante Ramalho; Martins, Thayana Alcântara; Parente, Neivila Almeida (7 de novembro de 2021). «Saúde mental das mulheres em situação de violência física: revisão integrativa». Research, Society and Development (14): e315101421795–e315101421795. ISSN 2525-3409. doi:10.33448/rsd-v10i14.21795. Consultado em 25 de junho de 2024 
  4. Silva, Luciane Lemos da; Coelho, Elza Berger Salema; Caponi, Sandra Noemi Cucurullo de (abril de 2007). «Violência silenciosa: violência psicológica como condição da violência física doméstica». Interface - Comunicação, Saúde, Educação: 93–103. ISSN 1414-3283. doi:10.1590/S1414-32832007000100009. Consultado em 25 de junho de 2024 
  5. Walker, Lenore E. (1977). «Who Are the Battered Women?». Frontiers: A Journal of Women Studies (1): 52–57. ISSN 0160-9009. doi:10.2307/3346107. Consultado em 25 de junho de 2024 
  6. Lucena, Kerle Dayana Tavares de; Deininger, Layza de Souza Chaves; Coelho, Hemílio Fernandes Campos; Monteiro, Alisson Cleiton Cunha; Vianna, Rodrigo Pinheiro de Toledo; Nascimento, João Agnaldo do (29 de agosto de 2016). «Analysis of the cycle of domestic violence against women». Journal of Human Growth and Development (2): 139–146. ISSN 2175-3598. doi:10.7322/jhgd.119238. Consultado em 19 de junho de 2024 
  7. Pérez, Mónica Marcela Cuervo; Calvera, John Freddy Martínez (2013). «Descripción y caracterización del Ciclo de Violencia que surge en la relación de pareja». Tesis Psicológica (1): 80–88. ISSN 1909-8391. Consultado em 19 de junho de 2024 
  8. «Ciclo da violencia - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  9. «Instituto Maria da Penha - IMP». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  10. «Resumo da Lei Maria da Penha - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  11. «Lei nº 11.340». www.planalto.gov.br. Consultado em 19 de junho de 2024 
  12. «Tipos de violência - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 19 de junho de 2024 
  13. «Tipos de violência - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  14. «Tipos de violência - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  15. «Tipos de violência - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  16. «Tipos de violência - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  17. «Tipos de violência - Instituto Maria da Penha». www.institutomariadapenha.org.br. Consultado em 25 de junho de 2024 
  18. «Battered woman syndrome». Wikipedia (em inglês). 23 de junho de 2024. Consultado em 25 de junho de 2024 
  19. «Battered woman syndrome». Wikipedia (em inglês). 23 de junho de 2024. Consultado em 25 de junho de 2024 
  20. «Battered woman syndrome». Wikipedia (em inglês). 23 de junho de 2024. Consultado em 25 de junho de 2024 
  21. «Battered woman syndrome». Wikipedia (em inglês). 18 de junho de 2024. Consultado em 19 de junho de 2024 
  22. Fonseca, Denire Holanda da; Ribeiro, Cristiane Galvão; Leal, Noêmia Soares Barbosa (agosto de 2012). «Violência doméstica contra a mulher: realidades e representações sociais». Psicologia & Sociedade: 307–314. ISSN 1807-0310. doi:10.1590/S0102-71822012000200008. Consultado em 19 de junho de 2024 
  23. Batista, Maria Naira de Lima; Brilhante, Ana Paula Cavalcante Ramalho; Martins, Thayana Alcântara; Parente, Neivila Almeida (7 de novembro de 2021). «Saúde mental das mulheres em situação de violência física: revisão integrativa». Research, Society and Development (14): e315101421795–e315101421795. ISSN 2525-3409. doi:10.33448/rsd-v10i14.21795. Consultado em 19 de junho de 2024 
  24. Ribeiro, Cristiane Galvão; Coutinho, Maria da Penha de Lima (2011). «Representações Sociais de Mulheres Vítimas de Violência Doméstica na Cidade de João Pessoa-PB». Revista Psicologia e Saúde. ISSN 2177-093X. Consultado em 19 de junho de 2024