Usuário(a):Luiz F. Fritz/Testes/2
Revolução e governo do partido comunista (1959-presente)[editar | editar código-fonte]
Na década de 1950, várias organizações, incluindo algumas que defendiam o levante armado, competiram pelo apoio público para promover mudanças políticas. Em 1956, Fidel Castro e cerca de 80 apoiadores desembarcaram do iate Granma, na tentativa de iniciar uma rebelião contra o governo Batista. Em 1958, o Movimento 26 de Julho, de Castro, emergiu como o principal grupo revolucionário. Os Estados Unidos apoiaram Castro sob a imposição de um embargo de armas em 1958 contra o governo de Batista. Batista tentou evitar o embargo norte-americano adquirindo armas da República Dominicana.[1]
Em fins de 1958, os revolucionários haviam escapado de Serra Maestra e lançaram uma insurreição popular geral. Depois que os combatentes de Castro tomaram Santa Clara, Batista fugiu com a família para a República Dominicana, em janeiro de 1959. Posteriormente, veio a exilar-se na ilha portuguesa da Madeira, estabelecendo-se finalmente no Estoril, perto de Lisboa. As forças de Fidel Castro entraram na capital em 8 de janeiro de 1959. O liberal Manuel Urrutia Lleó tornou-se o presidente provisório.[2][3]
Inicialmente, o governo dos Estados Unidos reagiu favoravelmente à revolução cubana.[4] Castro legalizou o Partido Comunista, promulgou a Lei de Reforma Agrária e expropriou milhares de hectares de terras agrícolas, incluindo aquelas de grandes proprietários de terras dos Estados Unidos. A partir de então, as relações entre o novo governo revolucionário e os norte-americanos começaram a se deteriorar. Em resposta, os Estados Unidos impuseram uma série de sanções entre 1960 e 1964, incluindo a proibição total do comércio entre os países e o congelamento de todos os ativos de propriedade de cubanos nos Estados Unidos.[5] Castro assinou um acordo comercial com o vice-primeiro-ministro soviético Anastas Mikoyan.[4]
Em março de 1960, o presidente estadunidense Dwight D. Eisenhower deu sua aprovação a um plano da Central Intelligence Agency (CIA) para armar e treinar um grupo de refugiados cubanos, visando derrubar o governo de Fidel Castro.[6] A invasão da Baía dos Porcos, como ficou conhecida, foi levada a cabo em 14 de abril de 1961, durante o mandato do presidente John F. Kennedy, quando cerca de 1.400 exilados cubanos desembarcaram na Baía dos Porcos. Tropas cubanas e milícias locais derrotaram a invasão, matando mais de 100 invasores e fazendo o restante prisioneiro.[7] Em janeiro de 1962, Cuba foi suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA) e, no mesmo ano, a OEA começou a impor sanções contra Cuba, de natureza semelhante às sanções americanas.[8] A crise dos mísseis cubanos (outubro de 1962), em plena Guerra Fria, quase desencadeou a Terceira Guerra Mundial.[9][10] Em 1963, Cuba estava se movendo em direção a um sistema comunista de pleno direito modelado na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).[11]
A partir de então, Cuba passou a apoiar outras nações e movimentos com ideais socialistas e comunistas. Durante a Guerra das Areias, travada entre a Argélia e o Marrocos, o país apoiou militarmente os argelinos.[12] Em 1964, uma reunião de comunistas latino-americanos foi organizada em Havana, desencadeando uma guerra civil em Santo Domingo, capital dominicana, o que levou os Estados Unidos a invadir a República Dominicana em 1965. Por outro lado, Che Guevara - que havia se engajado em atividades de guerrilha na África - foi morto em 1967 enquanto tentava iniciar uma revolução na Bolívia. Durante a década de 1970, Fidel Castro enviou milhares de soldados à Africa em apoio às guerras apoiadas pelos soviéticos no continente, apoiando especialmente o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).[13] Em 1975, Cuba efetivou uma das mais rápidas mobilizações militares da história, ao enviar cerca de 65.000 soldados e 400 tanques de fabricação soviética à Angola, em apoio ao MPLA. Seu apoio ao MPLA perdurou até 1988 quando, na batalha de Cuito Cuanavale, o MPLA derrotou a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e as forças sul-africanas do apartheid.[14] A atuação cubana na África também se caracterizou por seu apoio à República Democrática Popular da Etiópia, sob liderança de Mengistu Haile Mariam, tendo sido proeminente em 1978, quando o país ajudou a derrotar uma invasão somali em território etíope.[15][16]
A atuação e o poderio militar cubano também foi registrado em outras partes do mundo. No Oriente Médio, o país forneceu apoio bélico ao Iémen do Sul, que travava conflitos com o Iêmen do Norte, envolvendo-se também na Guerra do Yom Kippur entre Israel e uma coalizão de estados árabes, como Egito e Iraque. Na América Latina, Fidel Castro apoiou insurgências marxistas em Guatemala, El Salvador e Nicarágua. No Sudeste Asiático, o país apoiou deliberadamente o Vietnã do Norte contra o Vietnã do Sul, em um conflito que reuniu forças e colocou em lados opostos o Estados Unidos e a União Soviética, durante a Guerra do Vietnã.[17]
O regime socialista cubano adotou como política de Estado tratativas de combate à desigualdade social, o que permitiu, hodiernamente, a eliminação do analfabetismo através da Campanha Nacional de Alfabetização em Cuba, a implementação de um sistema de saúde pública universal e a diminuição significativa das taxas de mortalidade infantil.[18][19] Ao longo dos anos da revolução, críticos do regime de Cuba passaram a sustentar afirmações envolvendo a possível violação de direitos humanos no país, como a existência das Unidades Militares de Ajuda à Produção que, a partir de 1965, guiava a campos de trabalhos forçados pessoas consideradas alheias à moral revolucionária. O historiador Abel Serra Madero estima que até 30.000 cubanos foram enviados a estes campos, onde predominavam deliquentes comuns, dissidentes políticos, religiosos e homossexuais.[20] Outro estudo, conduzido pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), enfoca que, a partir de 1971, pessoas homossexuais passaram a sofrer exonerações de cargos públicos ligados à área cultural, sob a justificativa de que não reuniam os parâmetros políticos e morais conscritos à revolução, especialmente após a realização do I Congresso de Educação e Cultura.[21]
A OEA veio a suspender suas sanções contra Cuba em 1975, com a aprovação de 16 Estados membros. Os Estados Unidos, entretanto, mantiveram suas próprias sanções.[22] Em 1979, os norte-americanos se opuseram à presença de tropas de combate soviéticas em Cuba. Em 23 de outubro de 1983, as forças dos Estados Unidos invadiram a ilha caribenha de Granada, sob a justificativa de que a ilha estaria muito próxima politicamente de Cuba e da União Soviética após o golpe de Estado de Bernard Coard, além de relatos de ameaças ao território dos Estados Unidos.[17] Neste intervalo, os estadunidenses mataram quase duas dezenas de trabalhadores da construção civil de origem cubana, expulsando de Granada o restante da força de ajuda enviada por Cuba.[16][23]
As tropas soviéticas começaram a se retirar de Cuba em setembro de 1991.[16] Com a dissolução da União Soviética, o governo revolucionário foi severamente testado e o país enfrentou uma crise econômica severa, em parte devido à retirada dos subsídios soviéticos. A crise econômica resultou em efeitos como a escassez de alimentos e combustível, ao passo que uma manifestação popular notável ocorreu em Havana em agosto de 1994.[24] Outro efeito da crise, que perdurou até 1995, foi a queda significativa do Produto interno bruto (PIB) cubano, cujo valor chegou a encolher 35%. Mais de cinco anos foram necessários para que o PIB do país atingisse os níveis anteriores à crise.[25][26]
A década de 1990 também propiciou uma aproximação relevante entre Cuba e China, fator experimentado especialmente após a desintegração da União Soviética, que comprava 60% do açúcar e fornecia petróleo e manufaturas.[18] Nos anos subsequentes, o país também aproximou-se da Venezuela e Bolívia, sob o governo de Hugo Chávez e Evo Morales, respectivamente, além de flexibilizar a economia, permitindo, dentro da estrutura socialista, a abertura para atividades capitalistas, como o turismo.[18] Na década seguinte, em 2003, registrou-se a Primavera Negra, onde um grande número de dissidentes cubanos foram presos em nome do governo sob a acusação de que agiam como agentes do Estados Unidos. Posteriormente, os dissidentes foram liberados, com alguns passando a viver no exílio na Espanha.[27][28]
Fidel Castro renunciou ao cargo de Presidente do Conselho de Estado em fevereiro de 2008, alegando motivos de saúde. Raúl Castro, de quem Fidel era irmão, foi declarado o novo presidente. Em 3 de junho de 2009, durante sua 39ª Assembleia Geral, a OEA adotou uma resolução objetivando retirar a suspensão de Cuba da organização.[29] Cuba, cuja suspensão se dava desde 1962, motivada pela adesão cubana ao marxismo-leninismo e alinhamento com o bloco comunista, pôde reintegrar-se á organização e de todas as instituições subordinadas à OEA, como a Comissão de Direitos Humanos.[30][31] Até o momento, Cuba não solicitou sua reincorporação, sendo considerada pela OEA um membro inativo.[32]
Em janeiro de 2013, Cuba encerrou a exigência estabelecida em 1961, de que qualquer cidadão que desejasse viajar para o exterior fosse obrigado a obter uma licença governamental e uma carta-convite.[33] Em 1961, o governo cubano impôs amplas restrições às viagens para evitar a emigração em massa de pessoas após a revolução de 1959; aprovando vistos de saída apenas em raras ocasiões.[34] A partir de 2013, os requisitos foram simplificados, necessitando-se apenas de passaporte e documento oficial. No primeiro ano desta nova política, cerca de 180.000 naturais de Cuba deixaram o país e retornaram.[35] Em 2016, os Estados Unidos, sob o Governo Barack Obama, iniciou uma política de reaproximação com Cuba, com o restabelecimento da diplomacia entre as duas nações, a retirada de restrições a cidadãos americanos que desejam visitar o país e a flexibilizção do embargo econômico, para permitir a importação, exportação e certo comércio limitado.[36] Entretanto, as negociações não prosperaram.
Atualmente, Cuba é único país socialista do Ocidente e um dos poucos do mundo, ao lado da China, da Coreia do Norte, do Vietnã e do Laos.[18] A nação aprovou uma nova constituição em 2019, por meio de um plebiscito nacional. A nova constituição mantém o Partido Comunista como o único partido político legítimo, alça o acesso à saúde e educação como direitos fundamentais, impõe limites aos mandatos presidenciais, consagra o direito à representação legal na prisão, reconhece a propriedade privada e fortalece os direitos das multinacionais que investem com o estado.[37]
Referências
- ↑ Aviva Chomsky (23 de novembro de 2010). A History of the Cuban Revolution. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 37–38. ISBN 978-1-4443-2956-8. Consultado em 19 de julho de 2013
- ↑ «Trujillo Reported to Crush Invasion Backed by Cuba» (em inglês). The New York Times. 24 de junho de 1959
- ↑ Falk, Pamela S. (1988). Washing and Havana. [S.l.]: The Wilson Quarterly. p. 64–74
- ↑ a b Stephen G. Rabe (1988). Eisenhower and Latin America: The Foreign Policy of Anticommunism. [S.l.]: UNC Press Books. p. 123–125. ISBN 978-0-8078-4204-1
- ↑ The Economic Impact of U.S. Sanctions with Respect to Cuba. p. Section 2–3. [S.l.]: U.S. International Trade Commission. 1960. p. 2. ISBN 978-1-4578-2290-2
- ↑ «O primeiro-ministro soviético Khrushchev e o presidente Eisenhower ameaçam o comércio de Cuba» (em inglês). History. Consultado em 18 de agosto de 2021
- ↑ Richard A. Crooker (2005). Cuba. [S.l.]: Infobase Publishing. p. 43–44. ISBN 978-1-4381-0497-3
- ↑ Gary Clyde Hufbauer; Jeffrey J. Schot; Kimberly Ann Elliot; Milica Cosic (2011). «US v. Cuba (1960– : Castro)» (PDF) (em inglês). Peterson Institute for International Economics
- ↑ Polmar, Norman; Gresham, John D. (17 de janeiro de 2006). DEFCON-2: Standing on the Brink of Nuclear War During the Cuban Missile Crisis. [S.l.]: Wiley. p. 223. ISBN 978-0-471-67022-3
- ↑ Duncan, Terri Kaye; Stein, R. Conrad. Thirteen Days of Tension: The Cuban Missile Crisis. Movements and moments that changed America. New York: Rosen Publishing Group. p. 8-49, 94. ISBN 978-1-72534-219-4
- ↑ Faria, Miguel A. (2002). Cuba in Revolution – Escape From a Lost Paradise. Macon: Hacienda Publishing. p. 163–228
- ↑ «Cuba and Algerian revolutions: an intertwined history» (em inglês). The Militant. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Domínguez, Jorge I (1989). Para tornar um mundo seguro para a revolução: a política externa de Cuba. Cambridge: Harvard University Press. ISBN 978-0-674-89325-2
- ↑ «To so many Africans, Fidel Castro is a hero. Here's why» (em inglês). The Guardian. 30 de novembro de 2016. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Valenta, Jiri (1981). A Aliança Soviética-Cubana na África e no Caribe. [S.l.: s.n.] p. 45
- ↑ a b c «Cuba» (em inglês). Britannica. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ a b Luís Fernando Ayerbe (2004). A Revolução Cubana. São Paulo: UNESP. p. 55-56. ISBN 85-7139-549-7
- ↑ a b c d Erro de citação: Etiqueta
<ref>
inválida; não foi fornecido texto para as refs de nomeCot
- ↑ «CEN - Consejo Electoral Nacional». www.eleccionesencuba.cu. Consultado em 14 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 23 de maio de 2012
- ↑ «Cuba reforma Constituição para reverter décadas de homofobia». El País. 24 de julho de 2018. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Ualisso Pereira Freitas (outubro de 2020). «A traição do sexo: testemunhos da perseguição aos homossexuais em Cuba na obra de Reinaldo Arenas (1959-1990)» (PDF). Instituto de Ciências Humanas do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ «US v. Cuba (1960 – : Castro)» (PDF) (em inglês). Peterson Institute for International Economics. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ Bethell, Leslie (1998). A História de Cambridge da América Latina. [S.l.: s.n.] ISBN 978-0-521-62327-8
- ↑ «Can You Chip In?» (em inglês). Mercatrade. Consultado em 19 de agosto de 2021. Cópia arquivada em 14 de março de 2016
- ↑ Gershman & Gutierrez 2009, p. 20
- ↑ «Health consequences of Cuba's Special Period» (em inglês). Canadian Medical Association Journal. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ «Cuba's Long Black Spring» (em inglês). Comitê para a Proteção de Jornalistas. Consultado em 19 de agosto de 2021
- ↑ «Can You Chip In?» (PDF) (em inglês). Repórteres Sem Fronteiras. Consultado em 19 de agosto de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 6 de dezembro de 2008
- ↑ «OEA revoga suspensão a Cuba depois de 47 anos». BBC News Brasil
- ↑ «O que significa o fim da suspensão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA)?». Nova Escola.org. 1 de maio de 2009. Consultado em 13 de agosto de 2021
- ↑ «EUA conseguem tirar Cuba da OEA - Medida, com o apoio de 14 países, sela o isolamento da ilha revolucionária». Memorial da Democracia. Consultado em 13 de agosto de 2021
- ↑ «OEA adia reunião para discutir situação em Cuba». Em Tempo. 27 de julho de 2021. Consultado em 13 de agosto de 2021
- ↑ «Cuba facilita restrição de viagens para cidadãos» (em inglês). CNN. Cópia arquivada em 4 de março de 2016
- ↑ «Cuba abre viagens ao exterior para a maioria dos cidadãos, eliminando a exigência de visto de saída» (em inglês). PBS. Cópia arquivada em 28 de novembro de 2016
- ↑ «O primeiro ano da reforma da imigração em Cuba: 180 mil pessoas saem do país ... e voltam» (em inglês). Ib Times. Cópia arquivada em 9 de agosto de 2016
- ↑ «Visita histórica: O que Barack Obama quer em Cuba?». BBC News Brasil. 20 de março de 2016
- ↑ «Cuba overwhelmingly approves new constitution affirming 'irrevocable' socialism» (em inglês). The Guardian. 25 de fevereiro de 2019. Consultado em 13 de agosto de 2021