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Usuário(a):Luiza Ferraz/Testes

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Luiza Ferraz/Testes

Johann Georg Grimm (Immenstadt im Allgäu, 22 de abril de 1846Palermo, 24 de dezembro de 1887) foi um pintor, professor, desenhista e decorador alemão que viveu e trabalhou alguns anos no Brasil.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido e criado na cidade de Immenstadt, Johann Georg Grimm é filho do carpinteiro Johann Bernhard Grimm e de Maria Anna. Sua mãe, no entanto, faleceu quando tinha cinco anos de idade.[1] Desde jovem, seu pai o treinou para que seguisse os seus passos no comércio.[2] Ele realizara diversos trabalhos de carpintaria de madeira, como mesas, painéis, barcos e também altares para igrejas na cidade onde moravam.[3] No entanto, seu interesse logo mudou quando conheceu a biblioteca do castelo de Rahenzeli, onde realizaria um trabalho familiar e acabou vendo alguns livros com obras de arte. Esse foi o ponto de partida para a sua carreira nas artes plásticas.[4]

Georg Grimm compartilhava o talento e os interesses gráficos de seu irmão caçula, Johann Franz, dois anos mais novo. Eles frequentaram a escola de artes local, com foco em desenho arquitetônico, caligrafia e desenho de ornamento. As médias de Georg eram acima do comum, com “excelente” na maioria das matérias. Sua pior nota era classificada como “muito boa”.[5]

Estudos[editar | editar código-fonte]

O jovem alemão chegou à cidade de Munique em 1867, com o objetivo de estudar na Academia de Belas Artes. De origem humilde, o jovem enfrentou enormes dificuldades para economizar dinheiro suficiente e cursar na escola, onde se formou com sucesso dois anos depois.[6] Um de seus alunos favoritos, do Grupo Grimm, relatou sobre as memórias de miséria que o artista vivia enquanto ainda estudava. Uma delas é de quando ele usou pão para apagar as suas imagens, devido à escassez de materiais.[4]

Viagens[editar | editar código-fonte]

Em 1972 ele começou a sua vida de errante por diversos lugares do mundo, começando por Berlim, capital da Alemanha, onde participaria de uma Academia lá. No entanto, como não podia pagar por condução, foi a pé.[3] Uma benfeitora anônima, que alguns dizem ser Therese Ravoth, artista e esposa de um professor de cirurgia em Berlim, o ajudou durante os seus estudos na cidade, contribuindo com ele financeiramente para a sua carreira com viagens de estudo para o Mediterrâneo e para a Itália.[5]

Graças à ajuda de sua amiga, ao fim de 1972, mesmo ano em que chegou à capital, Grimm deixou a Alemanha para estudar as paisagens do Mediterrâneo por cinco anos, até 1877. Ele também explorou muito a Itália, país pelo qual se fascinou, visitando Roma, Nápoles e Capri.[7] Esse foi só o começo de uma longa jornada onde passou por diferentes países da Europa e da África, ficando conhecido por suas incansáveis viagens, que muito agregaram na sua carreira profissional. Entre estes anos, além da Itália, também visitou a Grécia, Palestina, Turquia, Espanha e Portugal[8], além da Tunísia e da Argélia.[7]

Primeira passagem pelo Brasil (1878 - 1880)[editar | editar código-fonte]

Em 1878, quando chegou ao Brasil, seu último destino e onde se fixou por uma década, já tinha uma grande bagagem de conhecimento e estudos adquiridos durante as suas aventuras. O artista desenvolveu um estilo comum entre os pintores errantes, fazendo o uso das cores e também da luminosidade. Além disso, ele realizou estudos em materiais como grafite e carvão, procurando evoluir e inovar cada vez mais sua técnica.[6]

Obra[editar | editar código-fonte]

Em seu primeiro ano em terras sul-americanas, trabalhou com o também alemão Friedrich Anton Steckel, e aprendeu à pintura de barcos e casas, vendendo até materiais para pintores.[7] Ele também participou de alguns projetos com seu outro conterrâneo Thomas Georg Drindl, onde fez ofícios de decoração de interiores.[8]

Na época, o país vivia um período em que o escravismo e as fazendas de café no estado de Minas Gerais e do Rio de Janeiro estavam em alta. Desta maneira, o artista ficou conhecido por suas pinturas de paisagens das grandes plantações, tornando-se um dos representantes e pioneiros neste tipo de pintura no Brasil. Alguns de seus lugares favoritos eram as fazendas do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro. Estima-se que, entre os anos de 1870 e 1880, ele tenha pintado diversas telas do local, que foram feitas sob a encomenda de senhores de escravos da época. Outro importante pintor que seguiu o mesmo estilo de pintura livre é o italiano Nicolau Fachinetti, que chegou à América do Sul antes de Grimm.[9]

“O Retrato no Brasil do século XX teve a mesma função que em outros povos: tornar presente e reconhecido o grupo dirigente. Entre nós, grandes proprietários de terras, comerciantes enriquecidos ou industriais recém-surgidos. A pintura paisagista teve para, este grupo, o significado simbólico de reconhecimento de um solo que lhes pertencia. ”[8]

Mas suas habilidades artísticas não passaram apenas pelo Vale do Paraíba. Denominado naturalista, o alemão também retratou paisagens importantes, como a Fazenda do Calçado e Águas Claras, em São José do Rio Preto; Boa Vista, no Bananal, e Oriente, em Valença. No entanto, pouco conhecido pelos historiadores e também pelos "leigos", muitas de suas pinturas não contam com data de criação e nem foram localizadas.[9]

Fases Distintas[editar | editar código-fonte]

As suas pinturas relacionadas à fazendas ainda passaram por diferentes estilos, indicando as duas etapas pelas quais passou: após a sua chegada ao Rio de Janeiro, entre 1878 a 1881, e no seu período final antes de partir, nos anos de 1885 e 1886.[6]

Primeira fase[editar | editar código-fonte]

A primeira etapa é classificada como o seu período mais obscuro, quando retratava por encomenda as fazendas de café do estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nessa época, em que vendia a sua obra para os donos da fazendo e senhores de engenho, o Grimm realizou algumas das suas mais célebres pinturas e começou a sua carreira como um dos mais famosos paisagistas do Brasil. Até então, ele só tinha feito obras no estilo de europeu.[6]

No entanto, as suas obras em terras brasileiras mostram todo o aprendizado que absorveu em suas viagens ao redor do mundo e também na Academia de Belas Artes de Munique. Ele fazia uso da aquarela, de muita luminosidade e também exibia as suas técnicas de desenho e profundo conhecimento na história da arte. Isso ficou claro quando, em 1879, foi contratado para pintar dois painéis para a igreja de Nossa Senhora do Carmo, em São João del-Rei. A encomenda foi entregue em apenas 22 dias. Mesmo possuindo marcas de um trabalho visivelmente apressado, a pintura transmite o conhecimento do estudioso artista, já que poucos pintores conseguiriam fazer painéis como aquele em tão pouco tempo.[6]

 Em meados deste mesmo o ano, o pintor passou a trabalhar para os fazendeiros da região de São José do Rio Preto – foi lá que pintou duas de suas telas mais famosas, a Fazenda Calçado e a Fazenda Águas Claras. Esses são apenas alguns de seus quadros que contam com datas marcadas. Acostumado com as paisagens inertes das pitorescas ruínas greco-romanas e as paisagens inertes do Mediterrâneo, o artista precisou adaptar o seu estilo à intensa movimentação humana e animal que as paisagens brasileiras ofereciam. Mesmo assim, este foi um grande obstáculo para Grimm, que até então estava acostumado ao livre-arbítrio de pintar o que desejava e agora precisava fazer tudo sob encomenda, não sendo mais o que desejava.[6]

De volta ao exterior (1880-1881)

No ano seguinte, em 1880, o pintor retornou à Europa em companhia de sua amiga de longa-data Therese Ravoth, a qual tinha contribuído financeiramente para sua carreira como pintor e agora estava viúva. Visitaram cidades italianas pelas quais ele ainda não tinha passado, como Amalfi, Batipaglia e Caserta, e em seguida foram para a Grécia, onde conheceram Micenas, Atenas, Corinto, Eleusus e Kolossus. Como sempre, o alemão era completamente fascinado pelas paisagens do Mediterrâneo.[6]

Essas viagens foram registradas em um pequeno bloco de desenho que levava consigo.[7] Na Turquia, desenhou o estuário do Chifre de Ouro e as mesquitas de Hagia Sophia. Ele também conheceu o litoral da Síria e também Damasco e o Monte Líbano.[6] Existem controversas, mas algumas fontes apontam que o artista passou nove meses dessa viagem para voltar a sua terra natal, onde seu pai estava doente e mais tarde viria a falecer.[7]

Antes de retornar ao Brasil, em 1881, Grimm viajou até a França e passou a sua estadia em Paris. Ele também visitou o Museu do Louvre, e neste período realizou uma incrível cópia do quadro O Alvo do Amor, feito por François Boucher, famoso pintor do Rococó pelo qual teve um súbito interesse. Como o seu estilo era pintura livre e paisagista, a sua obsessão com os painéis do artista francês é muito contestada. No entanto, alguns estudiosos especulam que este pode ter sido um desafio feito pelo próprio pintor, que tentava desenhar de uma forma mais suave e delicada. Ele ainda pintou dois retratos femininos apontados como um tributo à Fraulein Gertrud, filha de Therese Ravoth.[6]

Segunda passagem pelo Brasil (1881 - 1888)[editar | editar código-fonte]

Após a sua extensa viagem pela Ásia e Europa, o pintor retornou ao Brasil com algumas despesas que precisavam ser pagas. Dessa maneira, voltou a pintar sob encomendas, assinando, assim, a Fazenda Retiro, em 1881. Com os contatos que já havia feito em sua primeira passagem, Grimm continuou a pintar obras para os fazendeiros, conseguindo manter uma vida confortável na América do Sul. Este foi o início do fim de sua primeira etapa artística.[6]

A segunda fase começou quando o pintor foi convidado para expor, em 1882, em uma mostra coletiva na Sociedade Propagadora das Belas Artes, no Liceu Artes e Ofícios.[8] A instituição havia sido criada e dirigida por Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, humanista e educador que procurava rivalizar com a Academia Imperial de Belas Artes.[6] Naquela exposição, também estava artistas como Victor Meirelles, Souza Lobo, Leopoldo Jardim de Faria, Angelo Agostini, Augusto Rodrigues Duarte, entre outros.[8] Alguns até apontam que o festival contou com a presença de Dom Pedro II. Este foi um ponto de partida para a fama e reconhecimento do pintor, que contava com um terço de suas obras dentre as 418 expostas. Após a mostra, seu nome havia tomado a boca dos críticos, que elogiavam as fortes cores características de suas obras, transmitindo muita personalidade. Desta maneira, iniciou a sua melhor fase no país, onde não precisava mais vender os seus talentos aos outros e teria a liberdade de pintar o que bem quisesse.[6]

Professor na Academia Imperial de Belas Artes[editar | editar código-fonte]

O seu grande sucesso na exposição lhe rendeu uma vaga de professor na Academia Imperial de Belas Artes, na cadeira de Paisagens, Flores e Animais do instituto. Como era estrangeiro, assumiu interinamente o cargo.[8] Segundo escritores, fora uma recomendação do próprio imperador Dom Pedro II que lhe deu a vaga. Na escola, lecionou para alunos que viriam a tornar-se uma grande geração de pintores que contribuíram veemente para a arte brasileira, como Antonio Parreiras, um de seus favoritos, Hipolito Boaventura Carón, Giovanni Battista Castagneto, Domingo Garcia y Vazquez, entre outros.[8][6]

Ele também deixou o seu legado através do ensino de paisagismo e pintura livre, se dedicando à natureza e somente a ela. Historiadores e especialistas definem o seu tipo de pintura como "pessoal e poética".[8] Ele ensinou os seus aprendizes a sentirem a natureza, o que ela os oferecia e também as suas representações visuais. Essa foi uma experiência positiva para o professor, que recordava suas peregrinações pela Itália e agora tinha a liberdade para criar, se emancipado dos limites antes impostos por seus compradores. Além disso, o relacionamento com seus alunos era ótimo, todos viviam em harmonia dividindo essa paixão em comum.[6]

Em 1884, Grimm fez a sua segunda mostra, desta vez na XXVI Exposição Geral da Academia Imperial das Belas Artes, a mais importante até então, onde ganhou medalha de ouro. Esse foi o apogeu para a sua estadia no Brasil.[8][6]

Grupo Grimm[editar | editar código-fonte]

Mesmo com os poucos registros sobre a sua história, Georg Grimm é considerado um dos pintores alemães mais influentes a passarem pelo Brasil no século XIX. O profissional não só deixou um legado considerável na pintura livre e de paisagens, como também lecionou e foi rodeado por um grande número de artistas talentosos.[8]

Anos mais tarde, por conflitos internos e divergências de ensino, acabou deixando a Academia Imperial de Belas Artes e formou o seu próprio grupo de artistas, recrutando os alunos para quem lecionava na escola. Eles pintavam paisagens aplicando as técnicas de pintura livre, o que agregou muito para o futuro dessa categoria de arte no país. Esse foi o maior legado do artista para o Brasil, ficando conhecido como Grupo Grimm.[8]

“George Grimm foi talvez o pintor de maior sucesso entre os pintores alemães e a sua influência na pintura brasileira é considerável. Era uma grande personalidade artística que tinha um Pintura Brasileira do século XIX Pintura Brasileira do século XIX 57 grande círculo de alunos talentosos. O artista bávaro iniciou o estudo rebelando-se contra as convenções e tradições antigas e transferiu as suas aulas da sala para o ar livre. Nas florestas e montanhas dos arredores do Rio ensinou os seus alunos a contemplarem a natureza para bem a saberem representar“.[10]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Matrikeldatenbank - Akademie der Bildenden Künste München». matrikel.adbk.de (em inglês). Consultado em 17 de novembro de 2017 
  2. PEIXOTO, Maria Elizabete Santos (1989). Pintores Alemães no Brasil Durante o Século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke. pp. p. 111 
  3. a b Le Maire, W. Gunther (2006). Johann Georg Grimm (1846–1887): Künstlerkarriere zwischen Allgäu und Brasilien. Immenstadt: [s.n.] 
  4. a b Parreiras, Antônio (1999). História De Um Pintor - Contada Por Ele Mesmo. Rio de Janeiro: Niterói Livros 
  5. a b «Ein Gesamtwerk wird neu bewertet | all-in.de - das Allgäu online!». 14 de julho de 2011. Consultado em 17 de novembro de 2017 
  6. a b c d e f g h i j k l m n o Levy, Carlos Roberto Maciel. «Johann Georg Grimm e as fazendas de café» (PDF). Consultado em 15 de novembro de 2017 
  7. a b c d e Levy, Carlos Roberto Maciel (Dezembro de 1996). «Recordando Grimm e um enigma». Jornal da Crítica 
  8. a b c d e f g h i j k Do Vale, Vanda Arantes (2002). «Pintura Brasileira do Século XIX Museu Mariano Procópio» (PDF). Clio Edições Eltrônicas 
  9. a b De Bivar Marquese, Rafael (Fevereiro de 2007). «A paisagem da cafeicultura na crise da escravidão: as pinturas de Nicolau Facchinetti e Georg Grimm» (PDF). Revista do Instituto de Estudos Brasileiros 
  10. PEIXOTO, Apud (1989). «Karl Oberacker». Revista Intercâmbio 


Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • LEVY, Carlos Roberto Maciel. O Grupo Grimm; paisagismo brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1980.
  • GULLAR, Fereira et allii. 150 anos de pintura brasileira. Rio de Janeiro: Colorama, 1989.
  • LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro; Artlivre, 1988.

Categoria:Pintores do Rio de Janeiro Grimm, Georg Categoria:Professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro