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Usuário(a):Mateus Sales UFC TJor/Testes

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Valores-notícia são critérios que influenciam a seleção e o destaque de fatos como produto noticioso. Estes valores ajudam a explicar o que torna algo "digno de ser noticiado".[1] Segundo o pesquisador italiano Mauro Wolf, valor-notícia é um componente da noticiabilidade que define "quais os acontecimentos que são considerados suficientemente interessantes, significativos e relevantes para serem transformados em notícia".[2] Para o autor, estes valores funcionam, na prática, de forma complementar. Ou seja, na seleção dos acontecimentos, os critérios de relevância funcionam de maneira conjunta considerando as diferentes combinações que se estabelecem entre diferentes valores-notícia que recomendam a seleção de um fato.[2]

Os valores-notícia não são universais e podem variar entre diferentes culturas. Entre as muitas listas de valores que foram elaboradas por acadêmicos e jornalistas, algumas tentam descrever as práticas de notícias entre culturas, enquanto outras se tornaram notavelmente específicas para a imprensa de certas nações (muitas vezes ocidentais). Na prática ocidental, as decisões sobre a seleção e priorização de notícias são tomadas pelos editores com base em sua experiência e intuição, embora análises dos noruegueses Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge tenham mostrado que vários fatores são aplicados de forma consistente em uma série de organizações de notícias.[3]

Alcançar relevância, dar às pessoas as notícias que elas desejam e se interessam é uma meta cada vez mais importante para os meios de comunicação que buscam manter sua participação no mercado, que evolui rapidamente. Isso tornou as organizações de notícias mais abertas às contribuições e comentários do público e as forçou a adotar e aplicar valores-notícia que atraem e retêm o público. O crescimento da mídia interativa e do jornalismo cidadão está alterando rapidamente a distinção tradicional entre produtor de notícias e público passivo e pode, no futuro, levar a uma redefinição do que significa "notícia" e do papel da indústria de notícias.

Percepções do público sobre as notícias[editar | editar código-fonte]

Modelos convencionais de valores-notícia têm como foco o que o jornalista percebe como notícia. Mas o processo noticioso é uma via de mão dupla, envolvendo quem produz as notícias (o jornalista) e quem as recebe (a audiência), embora as barreiras que dividem os dois estejam se embaraçando com o crescimento do jornalismo cidadão e da mídia interativa. Poucos pesquisadores tentaram definir fatores comuns que determinam as percepções do público das notícias e que geram interesse em uma audiência de massa. Baseando seu julgamento em muitos anos como jornalista, Alastair Hetherington afirma que "…qualquer coisa que ameace a paz, a prosperidade e o bem-estar das pessoas é notícia e provavelmente chegará às manchetes".[4]

John Whyte-Venables sugere que o público pode interpretar as notícias como um "sinal de risco". Psicólogos e primatólogos concluíram que macacos e seres humanos monitoram constantemente o ambiente ao seu redor busca de informações que possam sinalizar a possibilidade de perigo físico ou ameaça à posição social do indivíduo. Essa receptividade aos sinais de risco é um mecanismo de sobrevivência poderoso e virtualmente universal. Um "sinal de risco" é caracterizado por dois fatores: um elemento de mudança (ou incerteza) e o quão importante essa mudança é para a segurança do indivíduo. As mesmas duas condições são observadas como características das notícias. O valor da notícia de uma história, se definido em termos do interesse que ela carrega para o público, é determinado pelo grau de mudança que contém e pela relevância que a mudança tem para o indivíduo ou grupo. A análise mostra que jornalistas e publicitários manipulam os fatores mudança e relevância para maximizar ou, em alguns casos, minimizar, a força de uma história.[5]

A preocupação com a segurança é proporcional à relevância da história para o indivíduo, sua família e grupo social, em ordem decrescente. Em algum ponto, há um limite de relevância, além do qual a mudança não é mais percebida como relevante ou digna de ser noticiada. Essa fronteira pode ser manipulada por jornalistas, elites de poder e comunicadores que buscam encorajar o público a excluir, ou abraçar, certos grupos. Por exemplo, para distanciar uma audiência local de um rival político durante uma guerra ou, inversamente, para destacar determinada situação de vulnerabilidade de um cultura distante e, assim, estimular o apoio a programas assistenciais.[6]

Em 2018, Hal Pashler e Gail Heriot publicaram um estudo mostrando que as percepções de valor jornalístico tendem a ser contaminadas por um viés de utilidade política. Em outras palavras, os indivíduos tendem a ver como mais interessantes notícias que favorecem suas visões políticas, creditando suas próprias percepções e opiniões.[7]

Perspectivas evolucionistas[editar | editar código-fonte]

Uma explicação da psicologia evolucionista do motivo das notícias negativas terem valor-notícia maior do que notícias positivas começa com a observação empírica de que o sistema perceptivo humano e as funções cerebrais de nível inferior têm dificuldade em distinguir entre estímulos da mídia e estímulos reais. Estes mecanismos cerebrais de nível inferior, que funcionam em um nível subconsciente, fazem avaliações básicas de estímulos perceptivos, concentram a atenção em estímulos importantes e iniciam reações emocionais básicas. Os pesquisadores Maria Elizabeth Grabe e S. Craig Roberts descobriram que o cérebro diferencia estímulos negativos e positivos e reage de forma mais rápida e automática aos estímulos negativos, que também são mais lembrados. Isso provavelmente tem explicações evolutivas, sendo frequentemente importante focar rapidamente a atenção, avaliar e responder logo às ameaças. Enquanto a reação a um forte estímulo negativo é evitar, um estímulo moderadamente negativo causa curiosidade e um exame mais aprofundado. Argumenta-se que notícias negativas da mídia se enquadram na última categoria, o que explica sua popularidade. Argumenta-se que a mídia audiovisual realista tem efeitos particularmente fortes em comparação com a leitura.[8]

Homens e mulheres diferem, em média, em como gostam, avaliam, lembram, compreendem e se identificam com as personagens das notícias, dependendo se as notícias têm uma construção negativa ou positiva. As mulheres, em média, tendem a evitar com mais força os estímulos moderadamente negativos. Isso foi explicado como sendo papel dos homens, na história evolutiva, a investigação e potencial resposta agressiva a ameaças, enquanto as mulheres e crianças se retiram. Ainda, pesquisas alegam que notícias negativas são construídas de acordo com as preferências masculinas pelos jornalistas que cobrem tais notícias, e que notícias mais positivas podem atrair um público feminino maior.[8] No entanto, outros estudiosos pedem cautela com relação às afirmações da psicologia evolucionista sobre as diferenças de gênero.[9]

Referências

  1. BOYD, Andrew (1997). Broadcast journalism: techniques of radio and TV news 4.ª ed. Universidade de Michigan: Focal Press. OCLC 36430693 
  2. a b WOLF, Mauro (1999). Teorias da comunicação 5.ª ed. Lisboa: Presença. OCLC 46755079 
  3. GALTUNG, Johan; RUGE, Mari Holmboe (1 de julho de 2017). «The Structure of Foreign News: The Presentation of the Congo, Cuba and Cyprus Crises in Four Norwegian Newspapers». Journal of Peace Research (em inglês). doi:10.1177/002234336500200104. Consultado em 23 de setembro de 2020 
  4. HETHERINGTON, Alastair (1985). News, newspapers and television. London: Macmillan. OCLC 12519602 
  5. WHYTE-VENABLES, John (2012). What is News? (em inglês). [S.l.]: Willow Publishing. 114 páginas 
  6. LANDAU, Joel. Source Journalism and News Values. Milano: [s.n.] OCLC 972735296 
  7. PASLER, Hal; HERIOT, Gail L. "Perceptions of Newsworthiness are Contaminated by a Political Usefulness Bias" (PDF) (em inglês). Royal Society Open Science. Acessado em 23 de setembro de 2020.
  8. a b GRABE, Maria Elizabeth (2011) [2011]. «News as reality-inducing, survival-relevant, and gender-specific stimuli». In: ROBERTS, S. Craig. Applied evolutionary psychology 1 ed. Oxford: Oxford University Press. OCLC 748290857 
  9. CAMERON, Deborah (1 de maio de 2010). «Sex/Gender, Language and the New Biologism». Applied Linguistics (em inglês) (2): 173–192. ISSN 0142-6001. doi:10.1093/applin/amp022. Consultado em 23 de setembro de 2020