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Usuário(a):Pedrohenserpa/Testes

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  • Uma coisa que a gente poderia pensar em fazer depois é mexer no resto do verbete de Geografia histórica

Geo-história[editar | editar código-fonte]


DEFINITIVO:

Um ramo da Geografia Histórica é a Geo-história, que consiste em um método de análise que alia as dimensões espacial e temporal para compreender a evolução econômica das civilizações, extrapolando as tradições científicas dos campos da Geografia e História e incorporando elementos sócio-biofísicos na composição da “história completa” do mundo.[1] O termo "Geo-história" foi cunhado num momento de virada epistemológica que promoveu a transição de uma história factual para uma história crítica, conhecida como História Nova, influenciada pela Escola dos Annales. Além disso, durante o século XX, a Geografia Histórica passa a buscar cada vez mais resgatar e valorizar a importância da ciência histórica para compreender os processos geográficos. É nesse contexto que o historiador francês Fernand Braudel, vinculado à Escola dos Annales e à História Nova, passa a ser considerado o pai da Geo-história, concebendo essa abordagem como uma forma de propor uma superação da crise epistêmica vigente na Geografia e na História. Braudel procura atualizar conceitos e métodos para estudar a história das sociedades e dos ambientes no mundo, conectando Geografia e História mediante as noções de ritmo e circulação.[2]

Na epistemologia braudeliana, a primeira barreira teórico-conceitual a ser transpassada é a do afastamento disciplinar entre a Geografia, que tradicionalmente trabalha com objetos materiais relacionados ao espaço, e a História, que trabalha com objetos imateriais que estão relacionados ao tempo. Portanto, a Geo-história utiliza a espacialidade como o elemento responsável por particularizar os fenômenos históricos, incorporando elementos espaciais — tais como natureza, posição, distância e território — na composição da história. Além de superar a visão clássica da Geografia, enquanto ciência que descreve as paisagens, e da História, enquanto ciência que narra os acontecimentos, a Geo-história permite o abandono do paradigma linear de uma suposta evolução do estágio de barbárie ao estágio de civilização no mundo, já que é necessário compreender a mudança histórica dos fenômenos geográficos.[3] Dessa forma, o “fazer geo-histórico” é baseado em preceitos como a participação essencial dos lugares na execução de fatos históricos; o destaque dos relacionamentos topológicos (entre lugares) e escalares (entre escalas) na história - ao mesmo tempo espacial e temporal; a realização dos estudos históricos com base também na sensibilidade geográfica; o papel do território e da territorialidade na gênese dos processos históricos; entre outros.[4]

A Geo-história se utiliza de algumas perspectivas e abordagens para embasar sua produção acadêmica. Por exemplo, o conceito de tempo geográfico, no qual a sequência passado-presente-futuro é substituída por uma articulação teórico-conceitual que mescla temporalidades distintas e cujas durações são diversas. Com isso, a “história total” do mundo, sempre situada nos seus devidos recortes espaciais, passa a ser dividida em temporalidades de curta, média e longa duração, associadas respectivamente aos tempos dos eventos, das conjunturas e das estruturas.[5][6] Outra abordagem apropriada pela Geo-história é a epistemologia territorial, que estuda a genealogia dos processos históricos e a capacidade de movimentação no espaço dos fatores de produção (pessoas, mercadorias, capitais, informação etc.) para compreender territorialidades e mobilidades espaciais e conceber o território como a causa explicativa das dinâmicas sociais.[7]

Para a Geo-história, é de grande importância incluir a componente espacial na equação histórica do capitalismo, de modo a compreender como as frentes de ocupação e exploração foram capazes de gerar ampliação e controle de novos mercados consumidores e produtores de matérias-primas. Assim, a dinâmica de predação de recursos foi responsável não somente pela exaustão dos ecossistemas, mas também pela fragmentação do cenário econômico mundial em circuitos comerciais mais restritos a determinados países ou continentes.[8] De modo a entender como se dão as relações sociais de produção no mundo, Braudel propõe o conceito de economia-mundo, que seria um sistema organizado em redes — políticas, econômicas, sociais e técnicas — que explicaria a evolução histórica do capitalismo. Nesse sentido, a economia-mundo se firma como a especificidade espacial da vida econômica das sociedades do mundo.[9][10]


[1] Lira 2018, p. 99-100.

[2] Ribeiro 2011, p. 71-72; 605-606.

[3] Ribeiro 2015, p. 608.

[4] Soares 2013, p. 52.

[5] Lira 2018, p. 104.

[6] Lima & Amora 2012, p. 60-65.

[7] Soares 2013, p. 41-42.

[8] Soares 2013, p. 43; 45.

[9] Ribeiro 2015, p. 625.

[10] Lima & Amora 2012, p. 65.


Lira, Larissa (17 de março de 2018). «Geo-história dos saberes». Boletim Paulista de Geografia (98). Consultado em 19 de outubro de 2022

Ribeiro, Guilherme (1 de março de 2011). «Fernand Braudel e a geo-história das civilizações». História, Ciências, Saúde – Manguinhos. 18 (1). Consultado em 25 de fevereiro de 2023

Soares, Weber (9 de junho de 2013). «As fronteiras epistemológicas entre Geografia e História e a travessia conciliadora na geo-história da expansão marítima portuguesa». GEOGRAFIA - Unesp. 38 (31). Consultado em 20 de março de 2023

Ribeiro, Guilherme (1 de abril de 2015). «A arte de conjugar tempo e espaço: Fernand Braudel, a geo-história e a longa duração». História, Ciências, Saúde – Manguinhos. 22 (2). Consultado em 25 de março de 2023

Lima, Átila; Amora, Zenilde (1 de julho de 2012). «Debates Acerca da Geografia Histórica e da Geo-História: Elementos para a Análise Espaço-Temporal». Espaço Aberto - Revista do PPGG/UFRJ. 2 (2). Consultado em 8 de novembro de 2023