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Anti-Design
[editar | editar código-fonte]Antidesign, design radical e contradesign são termos usados para referir-se a diversas práticas "alternativas" do design e da arquitetura nos anos 1960 e 1970 e de alguns projetos posteriores. Estas práticas surgiram como uma reação ao "bom design", corrente modernista do design em meados dos anos 1900.[1]
O movimento Anti-Design
[editar | editar código-fonte]O movimento Anti-Design originou-se na Itália, em 1960, como uma reação ao "bom design". Muitos designers de vanguarda viam o "bom design" como uma linguagem empobrecida do Modernismo: a ênfase colocada sobre o estilo da boa forma, por muitos fabricantes e designers.[2] O novo design proposto por eles buscava o conceitual, a experimentação, a reflexão sobre o sentido do design.[3]
Os designers encontravam-se insatisfeitos com a diminuição da relevância social do design decorrente da ascensão da empresa capitalista, que passou a ser mais divulgada durante a década de 1950, particularmente no contexto da Trienal de Milão. Essa situação também se refletiu nos debates econômicos, políticos, sociais e culturais mais amplos que dominaram a Itália na década de 1960.[2]
Os anti designers rejeitavam a valorização da função estética do objeto em detrimento de seu papel social e cultural.[1] Eles protestavam contra os fetiches do consumo e dos objetos e contra os princípios estabelecidos do design na época[4], procurando aproveitar o potencial social e cultural do design em vez de adotar um estilo como meio de aumentar vendas.[2]
História
[editar | editar código-fonte]O Anti-Design caracterizou-se por meio de muitas rupturas com o modernismo. Era norteado pelo consumismo, pela linguagem da mídia de massa e pela efemeridade do Pop (exibido na Bienal de Veneza de 1964), rejeitou as noções de permanência do Modernismo.[2]
O movimento explorou as ornamentações e o potencial da cor, em vez de contentar-se com o uso de preto, branco e cinza. Ademais, no campo do design, já apresentava características que marcariam o pós-modernismo e o Projeto de Memphis como os elementos do kitsch, da ironia e da distorção de escala.[2]
O Anti-Design também se atentava a questões de armazenamento e espaço, logo muitas criações têm em seu design a possibilidade de serem dobráveis e empilháveis. A manobrabilidade e flexibilidade das peças eram importantes por serem compatíveis com o estilo de vida moderno.
Questionando as convenções do design e desafiando políticos e empresários, o movimento, de maneira visionária, centrava o design nas necessidades do indivíduo.[1] Sob o lema de "a forma segue a diversão" (form follows fun) e "menos é chato" (less is bore), defendia um design com maior função simbólica e maior carga de humor.[5]
O arquiteto Ettore Sottsass Jr. foi um expoente chave da visão do Anti-Design, assim como os grupos de Radical Design Archigram e Superstudio, todos expressando suas ideias na produção de protótipos de móveis, peças de exposição e publicação de manifestos.[2]
Flores, curvas, cores e saturação de formas eram comuns e o uso de materiais reciclados, assim como tipografias psicodélicas e objetos não funcionais, foram ganhando cada vez mais aceitação entre os jovens designers que faziam exatamente aquilo que era considerado errado no "Bom Design", o design funcionalista.[5]
Grupos que impulsionaram o movimento anti-design
[editar | editar código-fonte]Superstudio
[editar | editar código-fonte]Em 1966, o grupo arquitetônico vanguardista e, portanto, radical Superstudio foi criado. Seus fundadores, os italianos Adolfo Natalini e Cristiano Toraldo di Francia, contaram com a companhia de Alessandro e Roberto Magris e Pietro Frassinelli. A colagem, a foto-montagem e o filme, com inspiração em histórias de fantasia e ficção científica, foram algumas das técnicas das quais o grupo fez uso a fim de promover o Anti-Design, buscando uma renovação do que significava ser um arquiteto ou designer. [6][7]
"Se o design é apenas um incentivo ao consumo, então é preciso rejeitar o design; se a arquitetura é apenas um modo de codificar o modelo burguês de propriedade e a sociedade que ele engendra, então é preciso rejeitar a arquitetura; se a arquitetura e o planejamento urbano são apenas meras maneiras de formalizar as atuais divisões sociais injustas, então é preciso rejeitar o planejamento urbano e suas cidades... Isso até que todas as atividades projetivas tenham por finalidade atender às necessidades primárias. Até que isso aconteça, o design pode desaparecer. É possível viver sem arquitetura...” [8]
Os projetos do grupo visavam a chamar a atenção ao debate político em vez das formalidades dos projetos em si, criticando o capitalismo e o idealismo moderno. O Superstudio propunha locais em que o indivíduo parecesse deslocar-se da realidade e, especialmente,da mentalidade do consumo em massa imposta pela sociedade.[6]
Archigram
[editar | editar código-fonte]O grupo Archigram surgiu em 1961 e dominou a vanguarda arquitetônica até 1970, devido suas visões lúdicas no pop de um futuro tecnocrático. Os participantes eram jovens arquitetos londrinos; Warren Chalk, Peter Cook, Dennis Crompton, David Greene, Ron Herron e Michael Webb.[9] Tinha caráter anti-heróico, neo-futurista e pró-consumista e criava realidades por meio de projetos hipotéticos utilizando tecnologia[10], sendo muito influenciadas pelas obras de Antonio Sant'Elia, Buckminster Fuller e Yona Friedman.
O grupo Archigram se esforçou para evitar que o modernismo se tornasse um movimento estéril e ortodoxo. Ao contrário da “Efemerização” de Buckminster Fuller, que prega que o avanço tecnológico nos gera a capacidade de se fazer "mais e mais com cada vez menos e menos até que se possa eventualmente fazer tudo com nada", Archigram é dependente de um futuro que conta com recursos infinitos.
Os trabalhos de Archigram serviram de fonte de inspiração para trabalhos posteriores, como o High tech 'Pompidou centre' 1971 de Richard Rogers e Renzo Piano, os primeiros trabalhos de Norman Foster, Gianfranco Franchini e Future Systems.[11]
Archizoom
[editar | editar código-fonte]Assim como o Superstudio, o Studio Archizoom foi fundado em Florença, em 1966. Eles incorporavam às suas obras a Arte pop, o Kitsch e características da Art decó e da Art nouveau.[1]
O grupo produzia mobiliário cômico, que satirizava as regras estabelecidas e criavam planos para as cidades flexíveis do futuro, nas quais a tecnologia libertaria a população nômade dos constrangimentos do trabalho remunerado.[1]
Studio Alchimia
[editar | editar código-fonte]O Studio Alchimia foi fundado pelo arquiteto Alessandro Guerriero, no ano de 1976, em Milão.[1] O grupo buscava uma nova linguagem para o design, saindo do antigo processo de criação para refletir sobre o papel do designer como criador dos objetos. Além disso, ele questionava os problemas que os produtos causavam estruturalmente e socialmente, tirando o foco do objetivo do design tradicional de resolver problemas funcionais.[3]
Ettore Sottsass foi um dos primeiros contra as ideias de Alessandro Mendini, outro membro do grupo, que defendia as ideias filosóficas do movimento, mas se opunha a levar essas ideias ao público com o design de produto. Essa reação contra a ideologia irreal da Alchimia que Ettore e muitos outros designers do movimento tiveram colaborou para o fim do grupo e do movimento em seguida.[3]
Memphis
[editar | editar código-fonte]Na segunda metade da década de 1970, o movimento foi dissolvido com o grupo Alchimia desfeito. Dando continuidade às ideias do movimento antidesign, Ettore Sottsass reuniu em 1981 um grupo de jovens arquitetos e designers milaneses.[4]
O principal objetivo do grupo era transmitir uma mensagem por meio dos objetos e satisfazer as necessidades culturais e intelectuais da sociedade contemporânea. Eles não tinham um manifesto oficial e eram anti-ideológicos, sendo contra as inadequações do modernismo e da produção em série.[3]
O grupo seguia uma abordagem irônica em relação ao design, na qual as decorações de superfície eram essenciais e se inspirou na Art Deco, Pop Art e kitsch dos anos 50. Usavam cores marcantes, misturas de materiais, texturas, formas e colagens. [4]
Eles utilizavam métodos de experimentação, procurando possibilidades em vez de apenas soluções. Por meio dessas experimentações, o grupo Memphis buscavam promover a interação emocional, simbólica e didática, e levantar um questionamento sobre as limitações de uso e de consumo.[3]
Obras representativas do Anti-Design
[editar | editar código-fonte]A lâmpada flexível Boalum de Gianfranco Frattini e Livio Castiglioni constituía-se de lâmpadas dentro de um tubo plástico. Essa peça contrariava o fato de designers modernistas serem tratados como figuras heróicas, que detinham o poder da figura final do produto, pois era uma lâmpada de forma indeterminada que o proprietário poderia manipular como quisesse.[4]
Outras obras muito importantes, que também tinham essa qualidade flexível pensada para os espaços, foram as cadeiras Selene, de Vico Magistratti, as primeiras cadeiras de plástico empilhável, e o vaso reversível, que poderia ser utilizado de cabeça para baixo, de Enzo Mari.[4]
Entre as peças famosas por terem o caráter anti-funcionalista extrapolado está a cadeira I Sassi, que tem seu design baseado na forma e estética de uma pedra, ficando com a funcionalidade aparente ilegível.[4] A Cadeira de Mies (1969) e as cadeiras de Stephan Wewerka também são peças que desafiam essa questão da função.[3]
Cadeiras icônicas de designers modernistas, como a cadeira Wassily de Marcel Breuer ou a cadeira Zig Zag de Gerrit Rietveld, foram adaptadas por Mendini, que acrescentava decorações sem alterar ou melhorar suas funções. Tal prática assemelha-se ao conceito de readymade introduzido pela primeira vez por Marcel Duchamp.[4]
Exposições
[editar | editar código-fonte]A exposição Itália: A Nova Paisagem Doméstica foi sediada pelo MOMA, em Nova Iorque, em 1972. Era uma exposição concentrada no movimento Anti Design e contou com obras de vários artistas que permaneceram fortemente envolvimentos no movimento até 1980. Alguns dos artistas em destaque participantes da exposição foram Vico Magistretti, Gianfranco Frattini e Livio Castiglioni, Enzo Mari, Piero Gilardi, Ettore Sottsass e Paolo Lomazzi e Alessandro Mendini.[4]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ a b c d e f Dempsey, Amy (2010). Estilos, escolas e movimentos: guia enclopédico da arte moderna. São Paulo: Cosac Naify. pp. 254–255. ISBN 978-85-7503-784-3
- ↑ a b c d e f M. Woodham, Jonathan (2004). A Dictionary of Modern Design. [S.l.]: Oxford University Press. p. 520. ISBN 9780191726767
- ↑ a b c d e f «O ANTI-DESIGN ITALIANO E OS QUESTIONAMENTOS SOBRE O DESIGN». Faz Design. 16 de fevereiro de 2012. Consultado em 23 de julho de 2022
- ↑ a b c d e f g h «Anti-Design Movement - Aestheticism of the Modern Era». Widewalls (em inglês). Consultado em 24 de agosto de 2022
- ↑ a b «Historia do Design». www.estagiodeartista.pro.br. Consultado em 24 de agosto de 2022
- ↑ a b «O retorno do Superstudio e da ideologia anti-arquitetura». ArchDaily Brasil. 30 de novembro de 2020. Consultado em 2 de setembro de 2022
- ↑ «Superstudio». Wikipédia, a enciclopédia livre. 19 de maio de 2022. Consultado em 2 de setembro de 2022
- ↑ «ANTIDESIGN». Aegis Education. 7 de março de 2017. Consultado em 2 de setembro de 2022
- ↑ «Archigram, Warren Chalk, Capsule Homes, 1964 – Atlas of Interiors». www.atlasofinteriors.polimi.it. Consultado em 2 de setembro de 2022
- ↑ «Archigram». Google Arts & Culture (em inglês). Consultado em 2 de setembro de 2022
- ↑ «arquitextos 196.01 história: Utopia e produção arquitetônica | vitruvius». vitruvius.com.br. Consultado em 14 de setembro de 2022
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]Fiell, Charlotte; Fiell, Peter (2015). Design do Século XX. Brasil: Taschen.
Garner, Philippe. Sixties design. [S.I].: Taschen. ISBN 978-3836504751
De Fusco, Renato (2014). Made in Italy. Storia del design italiano. Florença: Altralinea. ISBN 978-8898743179
Pansera, Anty (1995). Dizionario del design italiano. Milan: Cantini Scolastica. ISBN 978-88-7737-183-6