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Literatura Indígena

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Entende-se por Literatura Indígena a produção literária realizada pelos próprios indígenas a partir das crenças, mitos e costumes vivenciados em comunidade, mantendo relação constante com a cultura. A literatura indígena é escrita tanto em prosa, quanto na poesia e em diferentes gêneros textuais. Assim, o escritor indígena transpõe da oralidade para a escrita toda uma carga de identidade, memória e ancestralidade herdada há séculos.

Inicialmente, a literatura indígena fora produzida e partilhada por meio da oralidade. Anteriormente a chegada dos colonizadores ao que chamamos hoje de Brasil, os diferentes povos indígenas já cultivavam a literatura através da oralidade. Corezomaé (2017) afirma que antes mesmo da chegada dos portugueses às terras brasileiras, a população indígena cultivava as suas formas poéticas por meio oralidade. Portanto, o conhecimento oral era transmitido de geração para geração por meio da memória ancestral, mantida viva em meio aos impasses da colonização.

A oralidade indígena se estruturou como um meio pelo qual costumes, crenças e mitos eram preservados. Através de todo um conhecimento do que era partilhado entre os povos, a literatura oral indígena era concretizada e partilhada de geração para geração.

Em cada comunidade a figura dos mais velhos era essencial para solidificação do conhecimento ancestral. Assim, a transmissão do conhecimento literário era realizada por meio dos avós, dos pajés e caciques, detentores de um conhecimento ancestral, fazendo com que essas informações não se perdessem no tempo.

Em relação ao papel dos mais velhos para a transmissão do conhecimento oral literário indígena de geração para geração, Daniel Munduruku, escritor indígena brasileiro, diz:

[...] Detentores que são de um conhecimento ancestral aprendido pelos sons das palavras dos avôs e avós antigos estes povos sempre priorizaram a fala, a palavra, a oralidade como instrumento de transmissão da tradição obrigando as novas gerações a exercitarem a memória, guardiã das histórias vividas e criadas (MUNDURUKU, 2008)[1].

Em relação com a escrita, surge na década de 90 do século XX, uma literatura indígena na modalidade escrita. Agora, a partir da oralidade, do conhecimento memorial e ancestral, o contador indígena torna-se escritor e produz a literatura indígena escrita. Uma literatura carregada de traços próprios, com marcas da oralidade, como ação que busca problematizar estereótipo produzidos pela literatura indianista e apresentar uma nova indígena dos sujeitos indígenas na literatura brasileira.

Oralidade - Escrita - Imagem

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Para Thiél e Quirino (2011), a literatura indígena apresenta um caráter híbrido, pois é composta pela tríade oralidade-escrita-imagem Desse hibridismo resulta esta literatura que está ligada à tradição oral, proveniente das partilhas e dos conhecimentos apreendidos em comunidade, bem como à escrita, que emergindo no final do século XX faz com que a literatura indígena apresente uma multimodalidade diversa, por meio da voz, da palavra e da imagem, ou melhor, dos grafismos. Para Thiél (2012) os grafismos indígenas são “elementos multimodais que compõem a estética literária do texto indígena e devem, portanto, ser considerados no processo de editoração”[2].

Com o processo colonizatório que impôs diversas regras aos indígenas, a literatura dos povos indígenas manteve-se viva e resistente, embora que, muito foi perdido. A oralidade, por sua vez, foi o mecanismo responsável por preservar o conhecimento herdado de geração em geração.

Nos anos 90 do século XX, a literatura indígena passou por um processo de complementação: da oralidade emerge a escrita. Thiél (2012, p. 31) nos diz que "nos séculos XX e XXI, os índios narradores de histórias passam a apresentar suas próprias versões das identidades indígenas. Por meio da escritura eles discutem e desfazem as distorções construídas por séculos de colonização. Assim, a escrita e a literatura tornam-se instrumentos de poder e de revisão de identidades individuais e coletivas".

O texto literário indígena escrito vem acompanhado de imagens que auxiliam na compreensão do que está sendo narrado, algumas imagens são chamadas de grafismos, e muitas são produzidas pelos próprios escritores ou por outros indígenas em comunidade.

Literatura Indígena e Cânone Literário

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A literatura indígena escrita está situada no campo dos estudos literários contemporâneos. Nessa perspectiva, o escritor indígena escreve embasado na memória e ancestralidade do seu povo em relação à contemporaneidade, sem anular o conhecimento ancestral. Em relação a isso, a literatura indígena contemporânea não está situada nas perspectivas do cânone literário brasileiro, que define quais obras e autores podem ser considerados referência na literatura.

A literatura indígena contemporânea é considerada uma literatura de minoria, bem como a literatura escatológica, erótica, homo afetiva, negra etc. No entanto, as produções literárias indígenas são de grande importância para os estudos literários, tanto na prosa, quanto na poesia a voz ancestral e memorial indígena ecoam.

Literatura Indígena e Literatura Indianista

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Costumeiramente, tende-se a confundir literatura indianista com literatura indígena. A literatura indianista ganhou destaque no panorama literário brasileiro principalmente no Romantismo, mais especificamente na primeira geração romântica que ficou conhecida como a geração nacionalista e/ou indianista. Nesta fase, o índio aparece na literatura como elemento importante para a formação da identidade nacional.

O índio no romantismo mantem relações próximas com o colonizador. O principal escritor que apresentou o índio na literatura foi o cearense José de Alencar, através da trilogia indianista de José de Alencar, composta por O Guarani, Iracema e Ubirajara Alencar propôs a imagem de um indígena submisso e fiel ao colonizador.

Por outro lado, a literatura indígena é aquela produzida pelo próprio escritor indígena, a partir da sua relação e vivencia em comunidade. A literatura indígena produzida pelo próprio indígena demarca um lugar de fala, pois não se trata de um não indígena falando do indígena. Nesse caso, não se corre o risco de provocar estereótipos para com os indígenas por meio da literatura, assim como ocorreu na literatura indianista.

Caráter pedagógico da literatura indígena

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A literatura indígena é destinada tanto ao público indígena quanto ao não indígena. Porém, esta literatura serve, principalmente, para o primeiro desses públicos. O caráter pedagógico da literatura indígena acontece quando os escritores indígenas propõem nas narrativas questões diretas aos não indígenas, para que, ao lerem, possam repensar conceitos e imagens acerca dos povos indígenas brasileiros. Neste caso, a literatura serve também para que propostas anteriores sejam questionadas e repensadas. Para Peres (2018) a literatura indígena propõe ao leitor o conhecimento a diferentes mundos, culturas, saberes, epistemologias, pensamentos e expressões, porém, não pelas vozes de outras pessoas, mas pela voz do próprio escritor indígena.

Escritores Indígenas

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Daniel Munduruku

Olívio Jekupé

Eliane Potiguara

Graça Graúna

Cristino Wapichana

Ailton Krenak

Oralidade

Escrita

Memória

  1. Munduruku, Daniel (30 de novembro de 2008). «Literatura Indígena». Overmundo. Consultado em 19 de agosto de 2019 
  2. THIÉL, Janice (2012). Pele silenciosa, pele sonora: a literatura indígena em destaque. Belo Horizonte: Autêntica Editora. pp. 25–68