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Usuário(a):Thaismb/Testes/NoiteENeblina

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Noite e Neblina é uma encomenda[1] do Comitê de História da Segunda Guerra Mundial[2] para o décimo aniversário da liberação dos campos de concentração e de exterminação, um organismo governamental fundado em 1951, o qual tinha por objetivo reorganizar a documentação e prosseguir as pesquisas históricas sobre o período de ocupação da Franca entre 1940-1945, e do qual Henri Michel era o secretário geral. O historiador já tinha iniciado em 1953 o projeto de publicação de uma das primeiras antologias de depoimentos de refugiados, Tragédia da deportação 1940-1945, em colaboração com Olga Wormser, que tem junto com ele um papel de conselheira histórica na elaboração e documentação do filme.

O produtor Anatole Dauman consultou a realizadora Nicole Vedrès mas ela recusou em razão de uma insuficiência de meios de produção de de distribuição, e dessa forma ele colocou em mente um jovem realizador promissor, Alain Resnais. Este último também recusou, considerando sua falta de legitimidade para evocar tal assunto. Mas se engajou à fazer o filme depois de ter convencido o escritor Jean Cayrol, resistente francês pedortado no KZ Mauthausen em 1943, de escrever o texto do filme.

De duração de trinta e dois minutos, o filme é uma mistura de arquivos em preto e branco e de imagens gravadas em cores. O texto, escrito por Jean Cayrol, é dito por Michel Bouquet, com uma voz branda e sem afeto. O filme referencia no título o nome dado aos deportados aos campos de concentração pelos nazistas, os NN (Natch und Nebel, do nome do decreto homônimo de 7 de dezembro de 1941), que pareciam também querer deixar sua situação no esquecimento.

Realizado em 1955, dez anos depois do fim das hostilidade, o que garante um certo distanciamento, o filme foi o primeiro à colocar um impedimento contra um eventual avanço do negacionismo, bem como um aviso sobre os riscos que apresentariam uma banalização, e mesmo um retorno na Europa, do antisemitismo, do racismo ou ainda do totalitarismo. É difícil imaginar a força do filme no seu lançamento, em 1956, em plena guerra fria, já que ele não menciona o caráter racial das exterminações, que ele não as distingue de simples deportações.

Trabalho de documentação sereno, calmo e determinado, o filme mostra de vez em vez como os lugares dos campos de concentração assim como o trabalho de exterminação podiam ter um aspecto habitual, como o extermínio estava organizado de maneira racional e sem alma, "técnico" de certa forma, e como o estado no qual foram conservados os lugares está longe de indicar o que se passou ali há um tempo.

As imagens são acompanhadas da leitura de um texto do escritor francês Jean Cayrol. Seu monólogo poético lembra o mundo do dia-a-dia dos campos de concentração, a tortura, a humilhação, o terror, a exterminação. Na primeira versão alemã, a tradução de Paul Celan diferencia às vezes da original por razões poéticas: ela permaneceu por muito tempo o único texto impresso em alemão. A Tradução literal do texto original de Cayrol só foi impressa em alemão em 1997.

A musica do filme foi composta pelo compositor germano-austríaco engajado Hanns Eisler.

Em 31 de janeiro de 1956, o filme ganhou o prêmio Jean-Vigo, elogiado pelo júri pela sua qualidade estética mas querendo camuflar à censura do Estado. Saiu em uma única sala de cinema parisiense, ficou cinco meses em cartaz e fez mais de 8 milhões de receita.

O filme faz parte dos conteúdos pedagógicos exibidos aos alunos dos lycées na França e em lycées franceses para ilustrar a Segunda Guerra Mundial e a deportação dos judeus da Europa, pois se trata de um dos raros filmes que, por sua sobriedade, pela solidez histórica de suas referências e pela beleza plástica e formal de suas imagens, foram unânimes desde seu lançamento.

As gravações aconteceram de maio de 1955 à janeiro de 1965 na Polônia em dois lugares diferentes: no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau e no campo de Majdanek (oficialmente o KL Lublin), localizado ao sul da cidade polonesa de Lublin.

O filme é igualmente conhecido por ter tido que enfrentar a censura francesa que procurava disfarçar as responsabilidades do Estado francêsbem matéria de deportação. Em 1965, a comissão de censura exigiu de fato que fosse excluida do filme uma fotografia de arquivo na qual podia-se ver um policial francês vigiar o campo de Pithiviers, por outro lado autêntico. Os autores do filme se recusaram mas foram obrigados a esconder a presença francesa, cobrindo o cap do policial, signo do distintivo principal, por um reenquadramento da fotografia et uma viga falsa. Este artifício, propositalmente visível, foi posteriormente retirado e a imagem retornou à sua integralidade.

As autoridades alemâs também pediram a retirada da seleção oficial do festival de Cannes de 1957, acusando o realizador de querer perturbar a reconciliação franco-alemã. Essa forma de contestação do filme provocou em contrapartida numerosos protestos na Alemanha e na França. Os organizadores do festival ordenaram a supressão da imagem do policial e, à pedido da embaixada da Alemanha, o filme foi apresentado fora de competição. A Suiça proibiu a exibição do filme em nome de sua "neutralidade".

  1. L'Histoire.
  2. Jacques Mandelbaum, Nuit et Brouillard : le scandale, initialement publié dans Le Monde, 21 août 2006.