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Usuário(a) Discussão:Cíntia Maciel/Testes

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Último comentário: 23 de maio de 2023 de Cíntia Maciel no tópico Infância roubada

Infância roubada[editar código-fonte]

Artigo

Infância Roubada

Cíntia Regina Maciel

Graduação em Letras

Universidade Luterana do Brasil

Especialização em Neuropsicopedagogia

Faculdade de Educação São Luís

cintiareginamaciel@gmail.com

Resumo

O presente estudo pretende esclarecer a importância dos vínculos afetivos e de que forma a retirada brusca do convívio familiar interfere no desenvolvimento cognitivo e psicológico da criança e do adolescente, enquanto sujeitos e autores de suas próprias histórias. O conceito de família vem mudando com o passar do tempo e as relações sociais e afetivas são, na maioria das vezes, reflexos dessas vivências. Em consequência disso, muitos perdem o direito de conviver com a família biológica e são encaminhados às casas de acolhimento e abrigos. Consequentemente, atitudes e comportamentos também variam: rebeldia, isolamento e carência sinalizam para um quadro triste; porém, real. Este panorama exige, do educador, um olhar atento às posturas comportamentais desses sujeitos, para que, de forma eficaz, a aprendizagem aconteça e não fiquem sequelas psicológicas. O fortalecimento dos vínculos se dá por meio de um ponto de apoio, de uma base sólida e uma situação real. Assim, este estudo busca analisar como ocorre a relação afetiva aluno-escola-família e a relevância desse processo para a formação das crianças e adolescentes que têm o seu direito ao convívio familiar violado. Vale destacar que, dentro de um mesmo ambiente de aprendizagem há diferentes interesses e diferentes olhares sobre as coisas.

Palavras-chave: Infância – Vínculos – Desenvolvimento – Criança – Adolescente

1. Introdução

O interesse por este tema surgiu a partir da observação e leituras referentes a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Comportamentos agressivos, isolados e com dificuldade de socialização, tornam o processo de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico comprometidos. Como afirma Maldonado (1988, p. 19), é preciso desmistificar a ideia de “que quando se ama alguém não se pode sentir raiva ou irritação.” Há de se ter consciência do quão importante é o estreitamento dos laços afetivos em todas as circunstâncias. Mostrar às crianças que os sentimentos podem ser externados e que há diferenças nessas sensações. O caminho a perseguir pode ter duas vias: prazerosa ou tortuosa e tudo depende de como as situações serão conduzidas.

Como são formados os vínculos? A criança busca referência no ambiente onde está inserida? Só existe uma configuração familiar? Como prospectar para adultos bem-sucedidos?

O objetivo deste trabalho é discutir essas dúvidas com base em autores e obras referentes a essa temática e destacar o papel do educador, uma vez que é ele quem pode assegurar às crianças e aos adolescentes, uma visão positiva e esperançosa de futuro.

2. Identidade e aprendizagem em construção

“Construímos nossa identidade pela relação com os outros.”

Lev Vygotski (1896-1934)

De acordo com o art. 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 13.257 de 2016): “É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.” (BRASIL, 2016).

Mas, quando esse direito é violado, como evitar danos psicológicos e cognitivos?

Maldonado (1988, p. 42) diz que a empatia é fundamental: “Para que possamos de fato entender alguém, temos de ser capazes de sair da nossa própria maneira de ver e nos colocarmos na perspectiva da outra pessoa, o que infelizmente nem sempre é fácil.” Contudo, saber comunicar-se também é outro fator imprescindível na aquisição de confiança e na solidificação desses vínculos. Não bastando apenas ver, mas enxergar o outro de fato e como ele realmente é. As feridas nem sempre serão visíveis aos olhos. Por isso, a sensibilidade do educador fará diferença.

Nessa caminhada, vão se construindo as relações e essas precisam ser consistentes para a formação das personalidades de cada um. Isso deve compreender a máxima atenção do educador, porque tudo é observado e absorvido nos mínimos detalhes. Conforme Lacan: “a linguagem do inconsciente não é a do ‘eu’, mas a do ‘outro’.” (Lacan, 2012, p. 122). Os adultos tornam-se espelhos para esses sujeitos que, ávidos por aceitação, repetem atitudes, reproduzem falas e absorvem para si, mesmo que inconscientemente, a identidade do outro.

Além disso, temos as novas configurações familiares: mãe, padrasto, filhos e filhas; pai, madrasta, filhos e filhas. Avós com a responsabilidade de criarem seus netos. Enfim, retrato de uma realidade para tantas crianças e adolescentes que necessitam de referência. Por conta disso, o jogo de empurra vai ganhando espaço e os vínculos familiares (mesmo que sanguíneos) vão se perdendo.

Estar num ambiente saudável e de convivência harmoniosa, gera nos sujeitos, a segurança de que precisam para projetar seus sonhos. Ter uma perspectiva de vida os torna confiantes e "audaciosos" para continuarem buscando por algo sempre melhor. Quem somos? Por que somos? Às vezes, o pouco é o necessário para preencher vazios.

“As limitações e frustrações da realidade ficam bem mais suportáveis quando nossas necessidades e desejos são reconhecidos e compreendidos. Infelizmente, muitas vezes criticamos o desejo. Além da frustração, gera ressentimento e mágoa.” (MALDONADO, 1988, p. 84)

Todas essas vivências vão estabelecendo vínculos para a criança e para o adolescente que, na condição de alunos, tornam-se seguros para tomarem decisões, fazerem escolhas e buscarem o aprendizado. Para Alves (2002, p. 68), “são as crianças que estabelecem as regras de convivência: a necessidade do silêncio, do trabalho não perturbado [...]. São as crianças que estabelecem os mecanismos para lidar com aqueles que se recusam a obedecer as regras.”

Diante de todos esses fatores: vivências, carga emocional, mudanças de comportamento e de configuração familiar fazem com que esses sujeitos amadureçam e se coloquem como figuras principais em suas próprias histórias.

3. Conclusão

A criança e o adolescente não precisam estar ligadas às suas famílias biológicas para se desenvolverem (psíquica e cognitivamente). Em dados momentos, pode até haver uma instabilidade emocional. Porém, se o ambiente for acolhedor, seguro, aconchegante e as pessoas com as quais eles se relacionam, souberem como agir diante dessas situações, os resultados serão positivos: aprendizado conquistado e vínculos fortalecidos. É fato que as memórias sócio afetivas não são apagadas facilmente, mas elas contribuirão para a formação do adulto que se tornarão.

Referências

- ALVES, Rubem. A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. Papirus Editora, p. 68. São Paulo, 2002.

- Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 13.257 de 2016): art. 19. Brasil, 2016.

- LACAN, Jacques. O livro da Psicologia. Globo Livros, p. 122. São Paulo, 2012.

- MALDONADO, Maria Tereza. Comunicação entre pais e filhos: A linguagem do sentir.  Vozes, p.19-84. Petrópolis, 1988. Cíntia Maciel (discussão) 09h20min de 23 de maio de 2023 (UTC)Responder