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Usuário:AltCtrlDel/Espaco de estudos/Fredrik Barth3

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Introdução Vans Vermeulen e Cora Govers

- Os principais pressupostos de Barth acerca da Etnicidade são: 1) a etnicidade é uma forma de organização social, o que implica que 2) o foco principal da investigação é a fronteira étnica que define o grupo e não o conteúdo cultural deste, 3) a característica distintiva dos grupos étnicos é a auto-ascrição, bem como a ascrição por parte de terceiros.

- Outros autores partem da definição de Barth para indicar outros rumos. Cohen e Roosens são exemplos. Cohen insere o estudo da etnicidade no âmbito do estudo mais geral da consciência coletiva e individual, enquanto Roosens defende a metáfora da fronteira – tomada de Barth -, complementada pela metáfora da família.

Etnicidade e cultura: - A etnicidade é validade enquanto conceito diferenciado apenas nos anos 60, relacionando-se a recente valorização do conceito com desenvolvimentos mais abrangentes, tais como os novos movimentos étnicos e as lutas anti-colonialistas, a crescente crítica ao funcionalismo estrutural. A noção de etnicidade relega os conceitos de assimilação e aculturação.

Contribuição de Barth: - Barth foi responsável pela substituição das abordagens estáticas por outras mais interacionistas. Essa mudança é conseqüência da diferenciação da noção de etnicidade da de cultura, pois Barth apresenta a identidade étnica como um aspecto da organização social e não da cultura.

O que distingue a identidade étnica das demais identidades sociais? - A concepção de Cohen é algo idiossincrático, cuja noção de grupos étnicos faz referência a grupos de interesses informais que partilham alguns padrões de comportamento normativo. Outro critério para definir um grupo étnico é a crença em uma cultura partilhada.

- A relação entre etnicidade e cultura pode ser vista como tripartida: a etnicidade refere-se à consciência da cultura (étnica), à utilização dessa cultura, sendo simultaneamente parte da mesma. Barth define etnicidade como um elemento da organização social, mas defende que esta pode ser encarada como um elemento da cultura. “As fronteiras podem ser vistas em termos interacionistas, mas de forma igualmente convincente, como ‘fronteiras da consciência’, para utilizarmos a expressão de Cohen. As identidades étnicas são produto da classificação, da ascrição e a da auto-ascrição, encontrando-se relacionadas com ideologias de ascendência, relacionando-se também o estudo da etnicidade com o da ideologia e os dos sistemas cognitivos. A etnicidade faz então parte da cultura e é também metacultural, no sentido em que constitui uma reflexão em torno da ‘nossa’ cultura, bem como da ‘deles’, e, terceiro lugar, relaciona-se com o ‘uso subjetivo, simbólico ou emblemático’, por parte de um grupo de pessoas[...] de qualquer aspecto da cultura, de forma a diferenciarem-se de outros grupos”. (p. 12-13)

- A concepção de etnicidade apresentada implica que a etnicidade enquanto elemento da organização social, requer interação regulada e, enquanto elemento da cultura, implica consciência da diferença.

- A abordagem de Barth não restringe a noção de etnicidade às condições modernas nem a períodos históricos específicos. Apontamentos sobre Ethnic Groups and Boundaries: - Implicação de uma visão pós-moderna de cultura, uma vez que rejeita a idéia de que as culturas são entidades claramente limitadas, separadas e homogêneas, dando atençãoàs disputas e aos desacordos internos, ao entender a cultura não tanto em termos de ‘partilha’ mas de ‘organização de diversidade’ e ao problematizar a relação entre o coletivo e o individual, o que implica repensar as noções de ‘sociedade’ e de identidade étnica.



Temáticas permanentes e emergentes na análise da etnicidade Fredrik Barth

O texto ethnic groups... é apoiado nas teorias de grupo corporativo e interacionistas. As etapas metodológicas para desvendar os processos envolvidos na reprodução de grupos étnicos continuam sendo: 1) identidade étnica como característica da organização social; 2) Atenção à fronteira e aos processos de recrutamento, e não a matéria cultural que a fronteira comporta. As características dos grupos étnicos são situacionais e não primordiais; 3) A pertença do grupo étnico deve depender da ascrição e da auto-ascrição; 4) As diferenças culturais de significação fundamental são aquelas que as pessoas utilizam para marcar a distinção, a fronteira. 5) Papel empresarial nas políticas étnicas e a forma como a mobilização de grupos étnicos na ação coletiva é levada a cabo por líderes que prosseguem um empreendimento político, não sendo, portanto, uma expressão direta da ideologia cultural do grupo ou da vontade popular.

Barth diz que seu texto libertou-nos da idéia de história apenas como fonte objetiva e causa da etnicidade, vendo-a como retórica sincrônica – uma luta para se apropriar do passado.

Cultura: o conceito de cultura apresenta propriedades empíricas que serão relevantes para uma compreensão da etnicidade. A cultura se encontra num fluxo, sendo contraditória e incoerente e se encontra distribuída de forma diferente por várias pessoas posicionadas de diversas formas. O sentimento de identidade não é inventado, mas desenvolvido ao agir no mundo e interagir com os outros. Para conhecer a identidade étnica, o antropólogo deve levar em conta as experiências através das quais é formada.

Qual será a diferença que a etnicidade organiza? As etapas para esta investigação são: 1) observação da variação da cultura em toda a população plural e 2) a identificação dos processos que geram e tornam visíveis as grandes descontinuidades no seu interior.

Uma comunidade imaginada é promovida ao tornarem-se alguns sinais diacríticos altamente visíveis e simbólicos, ou seja, através da construção ativa de uma fronteira, trabalho sempre coletivo.

Nicho: de que forma os cortes e as descontinuidades podem surgir na variação contínua da cultura? O paradigma ecológico oferece respostas. O conceito de nicho pode abranger não somente as características do ambiente natural, mas também do setor humano do ambiente. Esta perspectiva fornece uma componente necessária ao estudo de situações plurais e foi desenvolvida como um gênero sofisticado de análises de relações étnicas competitivas nas sociedades ocidentais, explicando as trajetórias variáveis da diferenciação ou assimilação étnicas em diferentes circunstâncias históricas.

Estado: necessitamos ver o Estado como um ator e não apenas como um símbolo ou idéia. Metodologicamente devemos analisar as políticas de cada Estado relacionando-as com as características do regime, isto é, com o núcleo produtor da política estatal. Através disso é possível apresentar o poder representado pelo Estado como um terceiro agente que pode ser nomeado no processo da construção de fronteiras entre grupos. (...) A gestão da identidade, a formação da comunidade étnica, as leis e as políticas públicas, as medidas e os interesses dos regimes, bem como os processos globais, fundem-se e formam um complexo campo de políticas e processos culturais.

Três níveis de força: micro, médio, macro: Micro: modela os processos que produzem a experiência e a formação de identidades, debruçando-se este sobre as pessoas e interações interpessoais; Médio: processos que criam coletividades e mobilizam grupos para diversos propósitos através de vários meios. É o campo do empreendimento, da liderança e da retórica, onde os estereótipos são estabelecidos e as coletividades postas em movimento. Os processos intervêm para forçar e constranger a expressão e a atividade das pessoas no nível micro; Macro: nível das políticas estatais, as criações legais de burocracias que distribuem direitos e proibições de acordo com critérios formais, mas também o uso arbitrário da força e a compulsão que suportam inúmeros regimes.


Finalizando, Barth reitera sua posição quanto ao entendimento de cultura: é concebida como um fluxo, num campo de variação contínua e distribuída; daí que possamos analisar, de forma mais clara, os processos de dicotomização social que afetam essa distribuição e fluxo de forma marginal, forjando identidades e destinos humanos.

O estudo desses três níveis possibilitará compreender satisfatoriamente o fenômeno das identidades étnicas.