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Usuário:AltCtrlDel/Espaco de estudos/Michael Banton

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Banton, Michael. “Etnogênese”. In: A Idéia de Raça. São Paulo. Edições 70. Martins Fontes. 1977. (cap 8 -pp.153-173).[editar | editar código-fonte]

  • No presente capítulo Banton pretende analisar a oposição dos conceitos de etnicidade e raça, sabendo que o primeiro reflete as tendências positivas de identificação enquanto a segunda apresenta as tendências negativas de dissociação e exclusão. Também se apresenta aqui algumas discussões sobre minorias durante as décadas de 30/40 e a mobilização das mesmas durante a década de 60.
  • A partir das mobilizações de movimentos negros na década de 60 a terminologia de raça, que tinha sido usada de forma depreciativa principalmente pelos brancos para designar os outros, transforma-se num slogan capaz de persuadir adeptos e elevar a “cultura negra”. Ainda nesse período supunha-se que a eliminação da discriminação não reduziria as desigualdades raciais.
  • Conceito sociológico de nacionalismo (década de 60): “a crença de um grupo que possui, ou deve possuir, um país; de que participa, ou deverá participar, numa herança comum de língua, cultura e religião; e que a sua herança, modo de vida, e identidade étnica são diferentes das de outros grupos. Os nacionalistas pensam que devem governar-se a si mesmos e definir o seu próprio destino, e que, portanto, devem controlar as suas instituições sociais, econômicas e políticas” (Esseien-Udom 1962 – pg 158). Já Kedourie (1960) afirma que o nacionalismo é uma doutrina inventada pelos filósofos europeus no começo do séc XIX, inventaram nações onde elas não existiam. E quando se indaga porque procederam assim, o autor acredita que o fizeram para que indivíduos e grupos agitassem para os seus próprios fins (nação???).
  • No caso dos negros americanos a identificação étnica não impedia o reconhecimento com a identidade nacional. Nesse sentido alguns autores afirmaram a possibilidade de se criar outras identidades dentro do seio da nação. “A comparação de si mesmos com as nações africanas e os discursos da nacionalidade não transformavam os negros americanos numa nação, mas capacitavam-nos para encontrar um novo tipo de pertença que talvez possa ser melhor expresso dizendo que passaram a sentir-se, então, muito mais conscientes de sua diferença como um povo vivendo no quadro dos EUA. Esse processo de criação de um povo foi descrito por Lester Singer (1962) como etnogênese” (Pg 158)
  • Alguns autores contemporâneos a Banton viram os conceitos de raça e nacionalidade como agrupamentos políticos resultante de um alinhamento em encontro de grupos. “as pessoas podem cooperar umas com as outras numa situação comunitária sem estar conscientes daquilo que há de característico no seu grupo. Quando encontram estranhos, tornam-se conscientes de aspectos a seu respeito que até tinham tomado como seguros, e a espécie de consciencialização que adquirem da sua identidade pode ser influenciada por um desejo de se diferenciarem dos que são os vizinhos mais próximos.” (Pg161) será que tem a ver com as fronteiras de Barth? “A medida que se formam os novos grupos, os seus membros adquirem uma nova consciência de si mesmos como membros destes grupos, compartilhando interesses comuns com os outros membros e reconhecendo que estão em oposição a grupos cuja existência não conheciam anteriormente” (Pg162) será que não tem a ver com os Nuer?
  • A análise das questões de consciência étnica pede a observação de diversos aspectos, principalmente nas situações de modificação onde interatuam uma variedade de forças e circunstâncias. Banton se posiciona contrariamente a Louis Wirth quando este acredita ser melhor abordar as questões das minorias com um conceito eclético. Utilizando um conceito popular americano e europeu de minoria, Wirth analisa a questão sob o ponto de vista interno a grupo – “para Wirth, um grupo só é uma minoria se se destaca pelo tratamento diferente que originam as suas características físicas e culturais e se os seus membros se consideram, portanto, objetos de discriminação coletiva e tendem a desenvolver atitudes diferentes que os afastam ainda mais da sociedade global” (pg 164)
  • Já para Banton as situações inter-grupais necessita que as minorias são definidas de dois modos diferentes: por si mesmas e pela maioria. Desta forma, podem-se destacar duas fronteiras, uma de inclusão que reflete o reconhecimento que os membros da minoria têm uns com os outros como pertencentes a uma unidade, e uma exclusão que reflete o modo como a secção mais poderosa define a secção menos poderosa como um grupo que deve ser posto de lado. A definição de minorias étnicas e raciais através das fronteiras capacita a análise e a definição das forças sociais de ambos os lados, além de distinguir os valores das práticas sociais “dado que uma crença sobre a natureza da raça pode ser vista como um elemento definidor da fronteira e a própria fronteira como uma força de manutenção da crença. Do mesmo modo, as mudanças na natureza de uma fronteira podem ser relacionadas com mudanças nos grupos a que dizem respeito.” (Pg165) Fronteiras ↔ definição dos grupos
  • “Um movimento nacionalista é um movimento que pressiona no sentido de obter o reconhecimento de um novo estado-nação. Uma minoria étnica é uma minoria que cultiva uma diferença baseada na descendência comum e quer ver este facto reconhecido no Estado em que vivem os seus membros” (Pg 165)
  • O autor defende que as idéias da origem e identidade étnica derivam de um modo de pensar a linha de ascendência, que podem ser comparados as secções de um telescópio, pois podem ser congregadas ou moldadas umas sobre as outras. “Em certas circunstâncias, as pessoas identificam-se com determinados grupos de ascendência ou clã... noutras é precisamente um pequeno grupo de pessoas estreitamente relacionadas por laços familiares que se juntam, mas, às vezes, é um desafio externo que estimula a constituição de uma série de grupos” (pg 168). A identidade também depende da interlocução.
  • A questão da consciência étnica tem diferentes variáveis, inclusive a influência na ação dos indivíduos que procuram mobilizar o sentimento étnico para obtenção de seus objetivos – que normalmente são de caráter material. “A organização da minoria fornece serviços aos seus membros.” A questão da consciência de identidade também é política, econômica e material .
  • Breve resumo do meu entendimento dos últimos conceitos: identidade étnica pode ter sua origem na ascendência, contudo essa não é a única motivação, diversos são os fatores para sua criação e manutenção; seu surgimento está também carregado de questões políticas, ideológicas e materiais; as fronteiras étnicas são definidas pela manutenção da crença de pertença ao mesmo tempo que as fronteiras também a definem; e por fim, o surgimento de uma minoria étnica dentro de uma nação não tem como reivindicação a formação de uma nova nação e sim de o de reconhecimento de suas peculiaridades dentro do Estado.