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Usuário:AltCtrlDel/Espaco de estudos/Norbert Elias

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Elias, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsiders. Rio, Jorge Zahar Ed, 2000. (Pósfacio à edição Alemã. Pp 199-213 & CAP X)[editar | editar código-fonte]

Elias inicia o capítulo afirmando que em muitas sociedades do tipo “democrático” a desigualdade é menor do que em sociedades avançadas “não-democráticas”. Em seguida apresenta o modelo nazista e sua visão dos judeus dentro de uma mitologia nazi que relegaria aos segundos o papel de eternos outsiders. Todos os grupos humanos tendem a estabelecer uma atitude de desvaloração com relação a outros grupos em menor ou em maior grau.

Traz a questão da diferença em Marx como estando pautada na posse dos meios de produção, e na contraposição das classes, fato que considera um determinismo que pretende mostrar infundado através do exemplo literário de Maycomb.

Maycomb, uma cidade interiorana no início do século XX dividida entre brancos (os estabelecidos) e negros (os outsiders) era o palco de um julgamento no qual supostamente um negro teria estuprado uma branca. Um advogado branco assume a defesa do negro por estar convicto de sua inocência e passa a ser insultado pelos brancos. O negro é considerado culpado, mas seu advogado recorre em vão, já que durante uma tentativa de fuga, seu cliente é morto a tiros.

O racismo americano enquanto uma relação de estabelecidos e outsiders se diferencia pelo fato de a todo homem branco ser permitido exercer o poder estatal de coerção sobre todo homem negro. Todos os membros do estabelecido não possuíam medo de punição, possuíam armas de fogo. É através da comparação entre Maycomb e Winston Parva que Elias busca diferenciar modelos relacionais de contraposição.

Como é possível ser considerado fácil um homem matar outro homem a tiros para a população branca? A resposta: os negros não eram considerados homens, não eram vistos como humanos pelos estabelecidos como estes consideravam a si próprios.

No estado-escravocrata o monopólio da violência física e do gozo das mulheres brancas são dois ingredientes da auto-estima dos homens brancos, atributos irrevogáveis de seu orgulho. As relações entre estabelecidos e outsiders se pauta no fato de um grupo sempre buscar excluir o outro das chances de poder e status, conseguindo monopolizar essas chances. A exclusão pode variar de modo e grau, pode ser total ou parcial, mais forte ou mais fraca. Também pode ser recíproca.

Nos estados-partidários onde a condução do partido e do governo se concentram na mão de uma pessoa deputados do governo podem ser outsiders em relação aos membros do governo, assim como eleitores sem partido em relação aos membros de partidos.

Normalmente se dá pouca atenção ao saber como meio de poder. Entretanto as duas coisas são praticamente inseparáveis. Comunicação e transmissão de saber – de grupo para grupo ou de indivíduo para indivíduo – e consequentemente também a recusa de transmitir um saber, nunca dizem respeito apenas ao aspecto cognitivo das relações humanas, mas incluem sempre as relações de poder.

Através de uma pesquisa sobre a perda e o ganho de valor nas relações estabelecidos-outsiders nos aproximamos de fato da essência do problema. Uma forma de elevar o próprio grupo e diminuir outros grupos é tão difundida.

É possível ainda que este tipo de relação se estabeleça entre três ou mais partes. As pessoas do grupo A se consideram superiores as pessoas do grupo B que se consideram superiores as pessoas do grupo C.

Esta auto-estima pode ser vista como um narcisismo grupal nos termos freudianos. Freud dá a base para esse entendimento apesar de estudar apenas o narcisismo individual.

Na opinião de Elias existem graus distintos de tolerância e intolerância entre os grupos de estabelecidos e outsiders, geralmente os setores mais inseguros (com relação ao seu valor) do grupo estabelecido tendem à mais aguda hostilidade na estigmatização dos grupos outsiders. São estes que lutariam para garantir a estabilidade da fronteira entre os dois grupos.