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Usuário:AltCtrlDel/Espaco de estudos/Sahlins

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Sahlins, Marshall. Dos o tres cosas que sé acerca del concepto de cultura. In: Revista Colombiana de Antropología. Vol 37, 2001.[editar | editar código-fonte]

O tema central da conferência é sobre a permanência do significado de cultura como conceito antropológico e de sua permanência entre os povos estudados pelos antropólogos. Questionando ainda o rechaço que o funcionalismo superficial faz da afirmação da diferença cultural dos povos – a chamada invenção da tradição – e a vigência de tais distinções. Sustenta ainda que precursores como Boas e Linton longe de serem responsáveis pelas críticas contemporâneas sobre seus trabalhos apontaram idéias acerca da cultura que ainda são pertinentes para a compreensão das formas e processos culturais atuais. A diferença é que eles tiveram uma vantagem sobre a maioria de nós: não tiveram o temor paralisante da discussão pós estruturalista. Mal entendidos transatlânticos sobre o conceito de cultura. A antropologia cultural americana e a antropologia social britânica têm dois objetos científicos: os primeiros estudaram a cultura, os segundos, os sistemas sociais. Não aceita a posição de que em todas as suas dimensões, incluindo a social e a material, a existência humana esteja simbolicamente constituída, isto é, culturalmente ordenada.

A Conferência[editar | editar código-fonte]

“Se não tivéssemos kastom (costumes)”, nós de Nova Guiné – dizem aos antropólogos – seríamos como homens brancos. “Teoria da desesperança” Muitos antropólogos sustentam que as chamadas tradições que os povos ostentam não são mais que charlataria útil. São “tradições inventadas”, fabricadas com um olhar político sobre a situação presente. Signos de uma suposta indigeneidade e antiguidade, essas história devem sua substância, tanto como sua existência, às culturas capitalistas ocidentais que buscam desafiar. Ao tempo em que a retórica das identidades dos povos é considerada demasiadamente estabilizadora, é inversamente negociável e manipulável. A chamada cultura ou tradição é estrategicamente adaptável a situação pragmática, em especial aos interesses de classe das elites aculturadas, enquanto deixa livres os indivíduos para mudar sua identidade quando lhes parece. Esta é, quem sabe, a principal crítica da discussão cultural contemporânea: é instrumental, uma cortina ideológica sobre interesses mais fundamentais, principalmente poder e cobiça, funções práticas que possuem as virtudes persuasivas adicionais de serem universais, auto explicativas e moralmente censuráveis. O grande avanço teórico de décadas recentes tem sido o melhoramento no caráter moral da academia. Sem dúvida, o efeito correlacionado de esquecer a cultura, como denomina Brightman, deve-se as influencias hegemônicas dos estudos “pós” sobre a antropologia – pós-modernismo, pós-estruturalismo, pós-colonialismo e assim sucessivamente. A diferença é que conhecemos cada coisa de maneira funcional, como mecanismo de poder, mas não substancial ou estruturalmente. Os expoentes da velha época da antropologia americana dificilmente acreditavam que as culturas fossem estáticas e rigidamente delimitadas, ao contrário, na primeira metade do século XX muitos acusaram seus predecessores dos mesmos prejuízos. Eles podiam inclusive falar da “falácia da separação cultural”: a idéia equivocada de que devido às culturas serem distintivas, são fechadas e inferiores; uma presunção dizem Locke e Stern (1946:9), com base na Europa industrial e na expansão colonial. Existem boas razoes para atual curso teórico, mas também existem boas razoes para supor que o conhecimento de outros povos não se realiza completamente tomando atitudes apropriadas sobre o colonialismo, o racismo. Estes povos não têm organizado sua existência em resposta ao que estamos questionando ultimamente, tampouco vivem para nós e como nós. E a principal desvantagem antropológica de fazer deles tais objetos moralmente, é justamente, o que faz desaparecer suas próprias lógicas culturais, suas estruturas. Todavia não penso que exista uma oposição necessária entre moralidade e estrutura. A mutilação da ordem cultural requer um terceiro termo interpretativo; este passa por um certo funcionalismo. O entendimento antropológico “pos” do culturalismo moderno, incluindo suas “tradições inventadas” e distinções diacríticas, tem a mesma qualidade de explicar por via de eliminação. Estamos misturando fenômenos que pertencem a duas ordens diferentes, costumes históricos com disposições humanas, formas com desejos, estruturas com subjetividades com a vã esperança de reduzir uma à outra. Tudo isto é para dizer que se tal funcionalismo fosse levado a conclusões lógicas, terminaríamos em etnocentrismo ou natureza humana, ou melhor, em ambos, portanto aqui eles significam a mesma coisa. A saída é compreender que o funcional, no sentido de instrumental, deve ser estrutural. Os desejos dependem do contexto histórico dos valores, das relações culturais potenciais ou existentes, não somente para seu conteúdo, mas também para suas possíveis realizações. O que conheço acerca da cultura, as tradições são inventadas nos termos específicos dos povos que as constroem. São atemporais, sendo para os povos condições de sua forma de vida, constituída e considerada contemporânea com esta. Não quero negar a ação da história. Não afirmo que eventos novos ou formas emergentes estejam culturalmente prescritas. Somente porque o fato é culturalmente lógico, não significa que a lógica o determinou. Mas aprendi de mestres a desconfiar do determinismo cultural vulgar. As idéias de Kroeber e especialmente as de White, fizeram a cultura parecer como algo liberal, como sendo o antídoto contemporâneo ao racismo. Cita Strathern: “uma crescente homogeneização de formas sociais e culturais parece estar acompanhada por uma proliferação de afirmações sobre identidades e autenticidades específicas”. Appdurai e Hannerz, assim como muitos outros acadêmicos da globalização assinalam o vinculo desses processos aparentemente opostos, notando que a marca da diferença cultural é uma resposta a ameaça hegemônica do mundo capitalista. A resposta breve a esse paradoxo é a resistência. A presunção de que a autenticidade significa automodelação e que esta se perde pela dependência dos outros, parece somente um legado da autoconsciência burguesa. Na verdade esta determinação autocentrada de autenticidade é contrária a condição social humana. A maior parte dos povos encontra os meios críticos de sua própria reprodução em seres e poderes presentes mais além de suas fronteiras normais e seus controles habituais. Sobre fronteiras. É irônico que os antropólogos estejam tentando ultimamente negando a existência de fronteiras culturais, justamente quando muitos povos estão sendo chamados a marcá-las. O estabelecimento de fronteiras, conscientemente ou de modo conspícuo, está incrementando-se ao redor do mundo em relação inversa as noções antropológicas que dão sua significação.