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Cultura do Paraná |
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A cultura do Paraná é o conjunto de manifestações artístico-culturais desenvolvidas pelo povo paranaense. É possível observar a cultura local no artesanato, nos costumes, nos hábitos, na culinária, na religiosidade, no folclore, ou seja, nas diferentes maneiras de expressão dos paranaenses.[1][2][3][4][5][6]
No começo do período colonial, os hábitos e as lendas dos índios redimensionaram a cultura da Europa, principalmente de Portugal e da Espanha.[5] O povo paranaense recebeu, como legado dos indígenas, vários hábitos, como o costume de ingerir plantas herbáceas, milho, mandioca, mel e tabaco. Depois, os tropeiros colaboraram com o hábito de consumir o chimarrão, o café e o feijão-de-tropeiro. Os escravos africanos trouxeram como legado a feijoada, a cachaça, suas danças e ritos.[1][2][3][4][5][6]
Posteriormente, durante o período imperial, os imigrantes europeus, que se estabeleceram, especialmente no sul e leste do Paraná, deixaram manifestações próprias, que se mesclaram à pré-existente cultura popular estadual. Tradições estrangeiras como, por exemplo, polonesas, alemãs, ucranianas, libanesas e japonesas, adicionaram-se às manifestações originárias dos povos indígenas, da África, de Portugal e da Espanha, diversificando ainda mais a cultura do Paraná.[1][2][3][4][5][6]
Dessa forma, o Paraná constitui uma imensa formação cultural que recebeu influência de grupos que vieram de seus países ou Estados por diversos motivos. Toda essa miscigenação diz respeito à cultura paranaense, representada e manifestada na arquitetura, na literatura, na música e em demais artes cênicas e visuais.[1][2][3][4][5][6]
Composição étnica e paranaenses ilustres
[editar | editar código-fonte]Em sua composição étnica, a cultura do Paraná soma uma grande quantidade de etnias como portugueses, espanhóis, italianos, alemães, neerlandeses, eslavos, poloneses, ucranianos, árabes, coreanos, japoneses, indígenas e africanos, além dos próprios gaúchos, catarinenses, paulistas, mineiros e nordestinos, que colaboraram para o fortalecimento da identidade do povo paranaense.[6][4][5]
Entre os principais paranaenses ilustres podemos destacar: David Carneiro, um dos mais renomados historiadores brasileiros[7] e pai do historiador David Carneiro Júnior;[8] Moysés Paciornik, médico curitibano;[9] Michel Teló, medianeirense, ex-integrante do Grupo Tradição;[10] Tony Ramos, araponguense, ator da Rede Globo;[11] entre os escritores, Dalton Trevisan, Helena Kolody e Paulo Leminski;[12] os cientistas César Lattes, Metry Bacila, João José Bigarella e Newton Freire-Maia, este último mineiro radicado em Curitiba;[13] Sônia Braga, maringaense;[14] a dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, astorguense;[15] Jaime Lerner, político, arquiteto e urbanista curitibano;[16] Anízio Alves da Silva, inventor do supletivo (atualmente conhecido como Educação de Jovens e Adultos);[17] Deivid Willian da Silva, londrinense, jogador do Clube Atlético Paranaense;[18] Dirceu José Guimarães;[19] Fábio Campana, natural de Foz do Iguaçu, jornalista;[20] Aramis Millarch;[21] os ex-governadores Roberto Requião de Mello e Silva[22] e Moysés Lupion;[23] Laurentino Gomes, maringaense, escritor;[24] Grazi Massafera;[25] Maria Fernanda Cândido;[26] dentre vários outros.
Culinária
[editar | editar código-fonte]A culinária do Paraná envolve saberes e técnicas de preparo de alimentos regionais. Tem como tradição a carne de charque, o churrasco, o barreado, o pinhão e as influências de hábitos culinários de gaúchos, paulistas e mineiros, e influências da imigração no Brasil.[27][28] A alimentação diária é feita basicamente em três refeições, envolve o consumo de café com leite, pão, frutas, bolos e doces no café da manhã, feijão com arroz no almoço - refeição básica do brasileiro, aos quais são somados, por vezes, massas (como o macarrão), proteína animal (carnes) e salada (legumes e verduras) - e, no jantar, também as várias comidas locais. O prato mais conhecido é o barreado da região litorânea do Paraná.[29] As bebidas mais típicas do Paraná são o café e o chimarrão. As destiladas foram trazidas pelos portugueses ou, como a cachaça, fabricadas na região. O vinho é também muito consumido, por vezes somado à água e açúcar. Já a cerveja é hoje uma das bebidas alcoólicas mais comuns em todo o estado.[30]
Em diversas regiões do estado é possível encontrar peculiaridades, destacando-se a culinária de muitos dos 399 municípios.[27] Na capital paranaense, Curitiba, há três pratos principais: o barreado, o pinhão e a carne de onça.[31] No litoral observa-se a culinária caiçara e portuguesa.[28] Na região sul e nos campos gerais pode ser observado a comida tropeira, que é uma comida campeira e mais rústica, a exemplo do entrevero de pinhão e a quirera com carne de porco, como na Lapa, em Castro, Tibagi, Telêmaco Borba e Jaguariaíva.[29][32] Na região metropolitana de Curitiba é facilmente encontrada a culinária italiana, assim como ao sul e norte do estado. A culinária germânica deixou uma herança em diversas cidades, como em Rio Negro, Palmeira, Marechal Cândido Rondon, Rolândia, Cambé e Guarapuava. Em Carambeí está presente a culinária holandesa com as tradicionais tortas.[33][34] Na região centro-sul é comum encontrar a cozinha eslava, como em Pitanga, Prudentópolis, Ivaí, Irati, Mallet, São Mateus do Sul e União da Vitória.[27] No norte pioneiro, há a presença da cozinha espanhola e mineira. A comida paraguaia também pode ser encontrada nas cidades de fronteira, como na região de Guaíra. A comida árabe é muito comum em Foz do Iguaçu, e em redutos de outras cidades, como Curitiba e Maringá. A comida japonesa pode ser encontrada em Curitiba e no norte do Paraná, como em Londrina, Assaí, Apucarana e Maringá.[27][28][32][35]
Trajes
[editar | editar código-fonte]Os trajes refere-se aos usos, hábitos e costumes do vestuário. Os trajes são abordados como um fenômeno sociocultural que expressa os valores da sociedade, que acompanha o vestuário e o tempo, que integra o simples uso das roupas no dia a dia a um contexto maior, político, econômico e sociológico.[36][37][38] No Paraná não há um traje típico oficial para representar o estado. Os trajes mais marcantes que podem ser encontrados são o do caiçara do litoral, do tropeiro dos Campos Gerais e do gaúcho da região oeste.[39][40][41][42]
Historicamente, muitos grupos desenvolveram suas atividades na confecção de roupas e trajes na região, deixando uma rica herança cultural e econômica.[36] Com características marcantes, a diversidade étnica e a miscigenação no estado contribuíram com cores, traços, cortes e texturas, recebendo influências desde da cultura indígena, portuguesa e africana, até de outras nações europeias, árabes e asiáticas, sendo observado, sobretudo, a forte tradição de influência eurocêntrica.[2]
Na cultura paranaense, estão identificados peças de vestuários bem específicas, remetendo aos trajes típicos,[3] como de grupos étnicos,[28] folclóricos, como de gaúchos, tropeiros e caipiras,[39] com influência ibérica, e com adaptações de origens indígenas, como o uso de bombachas, botas, chiripás, guaiacas, palas, pilchas, ponchos, vestidos de prendas, além de fitas, bordados, lenços (adorno), cintos, fivelas, chapéus e boinas.[39] Pode-se notar ainda, por exemplo, traços indígenas em aldeais,[43] traços lusitanos no litoral, africanos na Lapa,[44][45][46] italianos em Curitiba,[47] eslavos em Ponta Grossa,[48][49] germânicos em Guarapuava,[50] asiáticos no norte[51] e árabes no oeste.[52][53][54][55]
Arquitetura
[editar | editar código-fonte]A arquitetura é uma parte expressiva da história e da cultura de um povo, de modo que hábitos, tendências e técnicas de cada época são refletidas pelas edificações. As primeiras construções paranaenses foram fortemente influenciadas pela arquitetura europeia, mesclando estilos, a partir do eclético, neoclássico, colonial, oriental e bizantino até a arquitetônica moderna e minimalista.[56]
Muitas das edificações representativas da arquitetura do Paraná localizam-se em Curitiba, em que pode ser encontrada a construção clássica do Castelo do Batel, que recebeu influência dos castelos do Vale do Loire, e do Paço Municipal, com arquitetônica eclética de elementos “art-nouveau”, patrimônio histórico tombado.[56]
Uma das fortes influências mostradas nas construções existentes no estado constitui a arquitetura ucraniana que se encontra especialmente nas igrejas, que constituem o mais importante símbolo da cultura destes imigrantes. Outro “item” que existe na arquitetura do Paraná, legado de imigrantes, é o lambrequim, um recorte de madeira ou tecido, utilizado como adorno nas telhas das edificações.[56] Ademais das expressões arquitetônicas tradicionais, há edificações inovadoras como o Museu Oscar Niemeyer em Curitiba.[57][58]
O mais extenso conjunto arquitetônico do estado localiza-se no município da Lapa, a qual mantém edificações religiosas, teatros, museus e residências, que ainda trazem um pouco do passado de cada século. Há ainda os centros históricos das cidades litorâneas de Paranaguá e Antonina, que incluem famosos exemplares da arquitetura do Brasil Colônia.[56]
Dessa forma, foi por meio da influência que os imigrantes e a colaboração dos vários arquitetos paranaenses e brasileiros trouxeram, que se estabeleceram as marcas da arquitetura paranaense, que dispõe de especialistas renomados como Jaime Lerner, Romeu Paulo da Costa, Vilanova Artigas, Ayrton Lolô Cornelsen, Eligson Ribeiro Gomes, Rubens Meister, Frederico Kirchgässner, etc.[56]
Literatura
[editar | editar código-fonte]A literatura do Paraná é tida como uma parte da cultura a qual ainda precisa se identificar mais com o estado. Várias obras escritas por autores paranaenses têm assuntos que não possuem ligação com o povo, o território ou a cultura paranaense, o que causa várias críticas por parte de demais literários.[1]
De acordo com os críticos, a literatura paranaense tem várias fontes as quais podem ser usadas em suas publicações como as araucárias e os Campos Gerais, os mitos e as histórias contadas pelo povo, fatos históricos e personagens como o tropeiro, que fundou muitos municípios no estado. Mesmo com uma pequena quantidade de obras as quais podem ser tidas como regionalistas, são encontrados no Paraná certos expoentes de movimentos artísticos de importância nacional, dentre eles o Modernismo, Simbolismo e Parnasianismo, mas sem grande significado na história do Brasil.[1] Um dos setores que contribuíram significativamente para a literatura paranaense foi o da comunicação, por meio da imprensa jornalística. O jornalismo impresso paranaense foi por muito tempo o principal meio que promoveu o espaço literário e cultural do estado, indo além da publicação de notícias.[59] Existem diversos jornais paranaenses no estado, como, por exemplo, Folha de Londrina, Tribuna do Paraná, Tribuna do Norte, Diário Popular, Gazeta do Iguaçu, Diário dos Campos, Jornal do Oeste, Gazeta do Povo, Rascunho, que é especializado em literatura,[60] entre outros.[61][62] O Paraná também concentra um grande número de editoras que produzem algumas das principais publicações do estado. Entre elas se destaca a Imprensa da Universidade Federal do Paraná, editora de livros didáticos, técnicos e científicos, teses, revistas e periódicos, e encadernadora de brochuras e confeccionadora de impressos de qualquer natureza, de interesse aos setores, cursos, departamentos e unidades aos membros do corpo docente da UFPR.[63]
Entre as instituições literárias podem ser citadas: Academia Paranaense de Letras,[64] Centro de Letras do Paraná,[65] Academia de Letras dos Campos Gerais,[66] Centro Paranaense Feminino de Cultura,[67] entre outros. Entre os mais importantes autores paranaenses, destacam-se os curitibanos Dalton Trevisan, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Emiliano Perneta, Emílio de Meneses, Andrade Muricy e Tasso da Silveira. Há também os que vieram do litoral, Nestor Vítor e Silveira Neto; dos Campos Gerais, Helena Kolody e Noel Nascimento; e da região norte, o londrinense Domingos Pellegrini.[1] Embora duramente criticadas, as novas obras produzidas da literatura paranaense vem sendo desenvolvidas com iniciativas como os concursos literários e, para sua realização, os vários festivais existentes.[1] Uma das mais importantes premiações do gênero no estado é o Prêmio Paraná de Literatura criado pelo governo estadual, que busca reconhecer obras inéditas de autores não só da região, como de todo o Brasil.[68]
Artes plásticas e artesanato
[editar | editar código-fonte]A mais antiga imagem iconográfica da cidade de Curitiba é uma pintura de autoria do francês Jean-Baptiste Debret, criada em 1827. Várias obras cujo assunto são as paisagens do Paraná em uma viagem feita ao Brasil com a Missão Artística Francesa, de 1816 até 1831, foram produzidas pelo pintor francês. Foi somente em meados do século XIX que a sociedade paranaense foi organizada e as artes começaram a ser desenvolvidas no estado. Naquele tempo, nasceu em Paranaguá a primeira pintora paranaense, Iria Correa, que se destacou com a exibição de seus trabalhos em 1866. Em Curitiba, as mais antigas escolas artísticas paranaenses foram introduzidas pelo português Mariano de Lima e pelo norueguês Alfredo Andersen, tido como o “pai” da pintura paranaense. Naquele momento, surgiram os primeiros registros da história e da cultura do Estado por meio das artes plásticas.[1]
No Museu Paranaense, o terceiro mais antigo do Brasil, que teve sua inauguração ocorrida em 1876, pode ser acompanhada a história do estado através de pinturas e objetos históricos, sem falar do trabalho de pintores nascidos no Paraná.[1] Obras de artistas marcantes na história da pintura no Paraná como Guido Viaro, Miguel Bakun e Alfredo Andersen podem ser observadas no Museu Oscar Niemeyer, um dos mais extensos da América Latina. O acervo do MON dispõe também de obras produzidas por pintores de mundialmente renomados como Tarsila do Amaral e Cândido Portinari.[1][69]
O Paraná tem ainda vários demais espaços reservados à exibição das artes visuais. Podem ser mencionadas a Casa Andrade Muricy e o Solar do Rosário. O Memorial de Curitiba, a Escola de Música e Belas Artes do Paraná e a Secretaria de Cultura do Paraná também são espaços destinados para a exibição das obras.[1]
O artesanato é caracterizado pela influência trazida pela imigração italiana, alemã e polonesa à região, além do legado português e indígena. Dentre os mais importantes produtos podem ser destacados os trançados, as redes e as cestas, os objetos de madeira, usando técnicas italianas. Nestes artigos feitos de madeira são reproduzidas as histórias da colonização, a paisagem tranquila do local, possuindo na araucária, e na erva-mate, um dos mais importantes objetos inspiradores.[1] Em relação a herança artística indígena no Paraná, o artesanato dos índios paranaenses reúne uma diversidade de técnicas que ainda podem ser encontradas no interior do estado. São diversas peças com artefatos caracterizados por cerâmicas, cestarias, instrumentos musicais, adornos, máscaras ritualísticas, arte plumária e outros objetos utilitários.[70][71][72][73]
Entre os principais artistas nascidos dentro e/ou fora do Paraná incluem Theodoro De Bona, Frederico Lange de Morretes, Arthur Nísio, João Ghelfi, Nilo Previdi, Poty Lazzarotto, Oswald Lopes, Paul Garfunkel, Alice Yamamura e Antonio Petrek.[74][75][1]
Dança e música
[editar | editar código-fonte]Diversas danças folclóricas ainda existem em povoados do sertão: o curitibano, a dança de roda aos pares, o pau-de-fita, a valsada, quebra-mana e o nhô-chico, no litoral.[76][77] As diversas comunidades originárias da Europa mantêm danças, cantos e trajes de seus países. As danças e as músicas podem destacar-se na cultura paranaense começando através das brincadeiras infantis (como as canções de roda e os brinquedos cantados) até a famosa viola sertaneja, onde a paixão e a angústia do intérprete musical lírico são embaladas pelas modas.[6][76] Muitas danças envolvem sapateados, dança de roda, canto, palmas e muita música.[76]
Nas manifestações culturais da região, são observadas as marcas do legado europeu. As danças e a musicalidade podem ser encontradas no fandango, no boi-de-mamão, nas congadas, na romaria de São Gonçalo, nas folias do divino, na folia de reis e nas cavalhadas.[5][78][79][80]
Os primeiros colonizadores açorianos trouxeram o fandango ao litoral do Paraná, em 1750.[6] Os açorianos, os escravos e os indígenas começaram a praticar o fandango durante o entrudo, evento antecessor do carnaval. Durante os quatro dias de festas, o povo recorria com exclusividade para tocar o fandango e degustar o mais importante prato típico regional, que é o barreado. No Paraná, os bailarinos são chamados de folgadores ou folgadeiras, até porque dançavam na folga do sábado para o domingo.[77] Eles interpretam diversas coreografias as quais ganham nomes específicos como Andorinha, Xarazinho, Tonta, etc. O fandango é acompanhado com duas violas (as quais de maneira geral tem cinco cordas), uma rabeca e o adulto, ou maxixe.[6]
Para obter um batido ritmado e forte, os homens usam botas ou tamancos. Possui uma coreografia espontânea, podendo ser valsada, com participantes que dançam com os pés rastejados no chão, ou podendo ser sapateadas, tendo acompanhamento de palmadas. O fandango paranaense mais famoso é o da região de Morretes. Sua singularidade pode ser observada na escala que eles utilizam, semelhante aos cânticos litúrgicos e populares da Idade Média.[6] O fandango caiçara típico do litoral é considerado uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva reconhecida como bem imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).[81][82][83][84]
O boi-de-mamão é um drama originário da Europa e formado por personagens e animais.[6] O auto de morte e de ressurreição do boi veio ao Brasil através dos portugueses e é famoso em todas as unidades federativas brasileiras. Na região Nordeste do Brasil chama-se Bumba-meu-Boi,[76] no Norte do país é chamado de Boi-Bumbá. O mais importante ponto do auto é o falecimento de Mateus que foi violentamente chifrado pelo Boi e que depois foi atendido por um médico. Dentre os personagens do Boi-de-mamão podem ser encontrados: Mateus, Vaqueiro, Doutor, Benzedeiras, Maricota, Cavalinho, Barão e a Bernunça (personagem mais famosa que mata menores de idade para comer).[6]
A Dança de São Gonçalo é uma tradicional manifestação cultural e religiosa que ocorre no Paraná e em demais regiões do Brasil. Foi trazida pelos portugueses e é praticada tanto no litoral do estado como no interior. A cerimônia envolve reza e procissão, acompanhada de música de viola. A dança é dividida em partes, chamadas de "voltas" que recebem nomes específicos no Paraná como: marcapasso; parafuso; despotam; confissão; e casamento.[76][85][86][87][88] Entre as comunidades quilombolas do Paraná, a dança ou romaria é uma forma de pagamento de promessa por uma graça recebida.[89] Também de origem de descendentes de escravos africanos, foi mantida a prática de roda de capoeira, misturando dança e música, sendo que Paranauê é uma das canções mais conhecidas e cantadas nas rodas que homenageia o rio Paraná. Embora a prática possa ter surgido antes no estado, oficialmente chegou ao Paraná em 1970, em Curitiba.[90]
Teatro
[editar | editar código-fonte]O teatro paranaense surgiu primeiramente na vila de Paranaguá nos primeiros anos do século XIX. A cultura começou a ser desenvolvida na cidade porque informações de pessoas de outros lugares do Brasil e do mundo circulavam através do porto de Paranaguá.[91][92] As mais antigas exibições teatrais da cidade aconteceram em ambiente geográfico fora dos teatros, com espectáculos de peças de Molière.[91][92]
A posterior inauguração do Teatro Paranaguense ocorreu em 1840. O espaço caracterizou a história do teatro no Paraná com uma representação teatral em homenagem à coroação de Pedro II do Brasil, promovida em 1841, e também acolheu companhias europeias e cariocas, vivenciando seu ponto culminante na arte até 1860.[91][92]
A inauguração do mais antigo teatro construído em Curitiba, o São Theodoro, ocorreu em 1884, uma década antes de sua desativação na época da Revolução Federalista. A reinauguração do teatro São Theodoro como Guayrá se deu em 1900 e, posteriormente, após sua demolição, em 1935, teve suas portas reabertas em 1974 com o nome Guaíra, um dos mais extensos da América Latina. Seu mais extenso auditório, o Bento Munhoz da Rocha Netto, comporta 2 173 pessoas.[93] Curitiba possui demais palcos como a Ópera de Arame,[94] o Teatro Paiol[95] e o Positivo.[96]
O Teatro São João localizado na Lapa foi inaugurado em 1876 e é um dos mais antigos do Paraná ainda em atividade.[93] No interior do Estado, os mais extensos espaços são os Teatro Municipal de Cascavel e o Teatro Municipal de Toledo, ambos na região oeste do Paraná.[97][98] Outros municípios mais populosos possuem espetáculos em seus teatros como o Cine Ouro Verde de Londrina,[99] o Cine-Teatro Ópera de Ponta Grossa[100] e o Teatro Calil-Haddad, localizado em Maringá.[101]
A partir de 1992, a cada ano a capital do Paraná sedia o Festival de Teatro de Curitiba, o qual transformou a cidade numa referência teatral no Brasil. O evento apresenta oficinas e cursos a respeito de teatro e também exibições de peças dos mais diversificados tipos. Os palcos do Festival não são restritos aos teatros e espaços culturais, porque invadem ruas, praças e bares curitibanos.[102]
Cinema
[editar | editar código-fonte]No Paraná as primeiras exibições cinematográficas pré-Lumière aconteceram em Curitiba em 1897, no antigo Teatro Hauer.[103] As companhias começaram a dedicar-se somente à exibição do cinematógrafo a partir do ano de 1900. Já as primeiras filmagens realizadas no Paraná eram produzidas por cineastas estrangeiros, que abordavam o cotidiano da sociedade, como paradas militares e comemorações cívicas, a natureza exuberante, como as Cataratas do Iguaçu e até a Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, na Serra do Mar.[103] Annibal Requião foi o pioneiro do cinema paranaense, considerado o patrono do cinema no Paraná. O cineasta registrou em 1907 o desfile comemorativo ao aniversário da República no dia 15 de novembro. Outros pioneiros foram João Groff, José Cleto, Arthur Rogge e Hikoma Udihara.[103][104]
A partir da década de 1930 o Paraná sofre forte influência da atuação do Departamento de Imprensa e Propaganda do Paraná (DIP), predominando produções para o Governo do Estado, como os cinejornais estatais e cenas de registros de eventos oficiais.[105] Já na década de 1940 Eugênio Felix, proprietário da produtora chamada Companhia Cinematográfica Paranaense, implantou o primeiro laboratório com som no Paraná e, como muitos cinegrafistas da época, também trabalhou para o DIP, e foi um dos principais realizadores dos cinejornais locais.[105] Na década de 1950 o destaque foi Wladimir Kosak e na década de 1960, Sylvio Back.[105] A partir da década de 1970 teve um aumento significativo de cineastas e de produções cinematográficas.[106] Em abril de 1975 foi realizado em Curitiba o I Festival Brasileiro do Filme Super-8.[106] Outro festival que permitiu o intercâmbio de informações e consolidação do movimento paranaense foi a Mostra Nacional de Filme em Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná, com apoio da Cinemateca de Curitiba.[106] Já em 1976 é fundada, em Londrina, a Associação Londrinense de Cineastas Amadores - ALCA.[106] Nos anos de 1980, é sentida a modernização do setor e o cinema documentário paranaense passa a não se ater apenas ao descritivo, mas também se voltando ao posicionamento político, à denúncia e ao questionamento.[106]
Na década de 1990 o Paraná começa a produzir filmes com a criação de leis de incentivo.[107] Além dos incentivos fiscais, a mão de obra também começou a se profissionalizar com a criação de cursos livres de cinema, como a Academia de Artes Cinematográficas - Artcine (1998), O Núcleo de Cinema da PUC (1993), o Curso Especialização de Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná (1996) e as oficinas de cinema do Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba (1996).[107] Também no interior do Estado, como em Londrina, Maringá, Umuarama e Cascavel.[107] Alguns eventos ajudaram a difundir o cinema no estado e acabaram consolidando-se, como o Festival de Cinema da Bienal Internacional de Curitiba, o Festival de Cinema da Lapa,[108][109] o Festival de Cinema de Maringá e a Mostra Londrina de Cinema. Em 2019 um levantamento mostrou que apenas 30 cidades paranaenses possuíam salas de cinemas, sendo 55 complexos cinematográficos e 200 salas de exibição.[110] A maioria dos cinemas estão concentrados em Curitiba, que tinha cerca de 81 salas. O setor tem crescido nos últimos anos no Paraná, já que em 2011, por exemplo, havia 152 salas de cinema em 25 municípios.[110]
Patrimônio cultural, instituições e bibliotecas
[editar | editar código-fonte]A Universidade Federal do Paraná foi criada em 1912,[111] e a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em 1959.[112] As demais universidades públicas também contribuem significativamente com a cultura paranaense, são elas: Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Universidade Federal da Fronteira Sul, Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Universidade Estadual do Centro-Oeste, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Estadual de Maringá, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Universidade Estadual do Norte do Paraná, Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Universidade Estadual do Paraná.[113][114][115][116]
Dos museus que existem no estado, o principal é o Museu Paranaense, em Curitiba, criado em 1876 pelo historiador Agostinho Ermelino de Leão, com coleções históricas, etnográficas e arqueológicas, além de sua biblioteca especializada.[117] Outra instituição de importância é o Museu Coronel Davi Antônio da Silva Carneiro, também na capital.[118] O Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tombou suas coleções, como as do Paranaense.[119] Seu acervo tem peças arqueológicas, etnográficas e numismáticas.[118] Outros museus de relevância para o patrimônio cultural do Paraná são o Museu do Tropeiro, em Castro, o Museu Campos Gerais, em Ponta Grossa, o Museu Histórico de Londrina, o Museu Visconde de Guarapuava, a Casa da Memória do Parque Histórico de Carambeí, a Casa Fazenda Cancela, na Colônia Witmarsum, a Casa Lacerda, na Lapa.[4] Em Paranaguá, dois museus constituem um atrativo aos visitantes: o Museu de Arqueologia e Artes Populares, vinculado à Universidade Federal do Paraná e que opera no antigo Colégio dos Jesuítas, e o do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá.[120]
O Patrimônio Histórico também catalogou, no estado, vários monumentos arquitetônica e historicamente valiosos, como a igreja matriz de São Luís, em Guaratuba, a casa na qual faleceu o general Carneiro, em Lapa, a histórica residência dos jesuítas, e a fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na ilha do Mel, em Paranaguá.[121]
As maiores bibliotecas encontram-se em Curitiba: a Biblioteca Pública do Paraná,[122] a do Museu Paranaense,[123] as da UFPR[124] e a da PUCPR em Curitiba.[125] Há também bibliotecas especializadas, como a Gibiteca de Curitiba no Centro Cultural Solar do Barão, a do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural, que possui um grande acervo relacionado com tecnologias agrícolas,[126] e a do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, especializada em assuntos relacionados com o cooperativismo.[127]
Festivais, eventos, feriados e símbolos estaduais
[editar | editar código-fonte]A quantidade de eventos artístico-culturais paranaenses é riquíssima e variada.[128] Tanto na capital como no interior há diversas festas e celebrações que formam as diferentes manifestações culturais do estado. Há eventos folclóricos, étnicos, gastronômicos, religiosos, carnavalescos, esportivos, além de eventos mais específicos como festivais, cavalgadas, festas juninas e natalinas.[3] Inúmeras tradições populares, porém, estão em vias de desaparecer ou desapareceram no Paraná, como as festas de São Gonçalo, o Boi de Mamão, o Pau-de-Fita. As Folias de Reis são um bom exemplo desse fenômeno, são hoje pequenas rememorações praticadas pelos mais velhos em alguns municípios, com o desinteresse das gerações mais novas.[2]
Os eventos que mais se destacam a nível estadual são: o Festival de Teatro de Curitiba;[129] o Festival Folclórico e de Etnias do Paraná;[130] o Festival Internacional de Londrina; o Festival Internacional de Música de Londrina;[131] o Festival de Dança de Cascavel;[132] o Festival de inverno de Antonina;[133] a Festa Nacional do Charque;[134][135][136] as cavalhadas de Guarapuava;[137] o Matsuri, realizado em várias cidades;[138][139][140][141][142][143][144][145][146] a Festa Nacional do Chope Escuro, conhecida como Münchenfest;[147][148][149] a Oktoberfest de Marechal Cândido Rondon;[150][151] a Oktoberfest de Rolândia;[152][153] e o Carnaval de Tibagi.[154][155] Atraem ainda considerável interesse as feiras agropecuárias de grande porte, em especial a Expovel[156] e a Expo Londrina.[157]
Uma das principais festas populares no Paraná é a Congada da Lapa, originária da África e que homenageia São Benedito, na cidade de Lapa.[158] Já as principais festas religiosas do estado são a de Nossa Senhora da Luz, em Curitiba,[159] a do Rocio, em Paranaguá, seguido de grande procissão,[160] a Festa de Nossa Senhora das Brotas, realizada desde 1880, com procissões e celebrações religiosas em Piraí do Sul,[161][162], a Festa de Nossa Senhora de Czestochowa,[163][164][165][166] as procissões de Corpus Christi[167] e as festividades pascais.[168][169] O Paraná não possui data magna nem feriados estaduais. Em 2014 foi apresentado e aprovado na Assembleia Legislativa do Paraná uma lei que instituía a dissolução do polêmico feriado da emancipação política do estado, passando a ser ponto facultativo. O feriado não era cumprido pelas empresas públicas e particulares.[170]
Os símbolos do estado do Paraná são: a bandeira, o brasão e o hino.[171]
Carnaval
[editar | editar código-fonte]O carnaval, embora atualmente pouco representativo no estado, é uma das mais tradicionais festas em várias cidades. Litoral do Paraná, região de Curitiba e Campos Gerais é onde concentram os maiores eventos carnavalescos.[172] Os eventos carnavalescos, do final do século 19 até a segunda década do século 20, se caracterizavam principalmente pelas brincadeiras de rua, onde pessoas pintavam-se e vestiam-se de cores alegres e saiam às ruas jogando água perfumada uns nos outros.[173]
Na região dos Campos Gerais do Paraná é realizado um dos mais antigos carnavais do Sul do Brasil. Em Tibagi registros históricos datados em 1910 mostram que no início carros eram puxados por cavalos, enfeitados ainda sem muitas cores e alegorias, percorrendo as ruas no entorno da praça da igreja matriz. Já na década de 1950 popularizou-se os carnavais realizados em clubes, disseminando cores e as típicas marchinhas. A população se organizava em dois clubes: o Clube Tibagiano e o Clube Estrela da Manhã.[174][175]
Na década de 1970 brancos e negros encontraram na terça-feira de carnaval a oportunidade de integração da festa, que quebrou com a distinção de públicos nos clubes. Na década de 1980 o carnaval voltou às ruas através dos desfiles. A partir do ano 2000, o carnaval de Tibagi passou a ser organizado na praça Edmundo Mercer, com tenda para shows e a profissionalização do desfile das escolas de samba e carros alegóricos.[176][177] Flor de Lis, Unidos do Nequinho, Unidos da Vila São José e 18 de Março são as escolas de samba da cidade.[178] Um evento de pré-carnaval reúne o encontro das baterias na praça, com alas, passistas, rodas de samba e alegorias.[179][180][181][182]
No carnaval de Ponta Grossa há desfiles de escolas de samba e de blocos. Escola de Samba Ases da Vila, Escola de Samba Baixada Princesina, Escola de Samba Gaviões da Beira da Linha, Escola de Samba Globo de Cristal, Clube Escola de Samba Portal das Águas, Grêmio Recreativo e Cultural Escola de Samba Nova Princesa, e, Sociedade Recreativa Escola de Samba Águia de Ouro, são as escolas de samba da cidade.[183][184] No litoral paranaense, em 1920, em Antonina foi fundado o primeiro Bloco do Boi que se chamava Boi Barroso, hoje denominado Boi do Norte. Foram fundados também diferentes blocos carnavalescos e escolas de samba: Batuqueiros do Samba, Brinca pra não Chorar, Escola de Samba do Batel, Grêmio Recreativo Cultural Filhos da Capela, Grêmio Recreativo Escola de Samba Leões de Ouro da Caixa d'água, são as agremiações que participam do carnaval de Antonina.[185][186]
Em Paranaguá há os tradicionais desfiles das agremiações e concurso que elege a escola de samba campeã. Escola de Samba União da Ilha dos Valadares, Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Filhos da Gaviões, Grêmio Recreativo Escola de Samba Leão da Estradinha, Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Unida do Jardim Santa Rosa, GRES Acadêmicos do Litoral Paranaense, GRDC São Vicente e Unidos da Ponta do Caju são as escolas de samba da cidade.[187][188] Ainda no litoral há os carnavais de Guaratuba, Matinhos e Pontal do Paraná.[189][190][191][192] No carnaval de Curitiba há também desfile das escolas de samba e de blocos carnavalescos, tradicionalmente na rua Marechal Deodoro.[193][194] O bloco pré-carnavalesco Garibadis e Sacis, referência na comemoração do carnaval de rua em Curitiba, sai nos domingos antes do carnaval.[195] No centro, a Zombie Walk atrai grande público e ocorre também durante o carnaval curitibano, como uma alternativa às festividades momescas, tendo pessoas fantasiadas de mortos-vivos ou zumbis.[196][197][198]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
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Ligações externas
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