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Usuário:Yleite/Conflito sexual

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Conflito sexual ocorre quando os diferentes sexos da mesma espécie possuem estratégias de optimização da aptidão diferentes em relação à reprodução, levando a uma corrida ao armamento evolutiva entre machos e fêmeas. Em princípio é difundida entre as espécies sexuais, e pode ocorrer entre os mesmos ou diferentes genes, que é quando existe uma diferença na aptidão para uma característica expressa. O conflito proporciona o que pode ser a primeira discussão de uma "batalha evolutiva dos sexos" .[1] Por muito tempo a reprodução era considerada como forma de harmonia entre machos e fêmeas, só que, após a realização de estudos como o conflito sexual, esse pensamento mudou para certos cientistas. Os conflitos podem ser divididos em dois tipos distintos, são eles: inter locus, quando há conflito sobre os resultados de interações macho-fêmea, de modo que o resultado ótimo é diferente para os dois sexos e intra locus, quando um gene tem beneficio especifico somente para um individuo e outro com efeitos prejudiciais.

Detecção de Conflito[editar | editar código-fonte]

Inicialmente foi pensado que o conflito sexual seria difícil de estudar devido a problemas de precisão e a medição dos custos e benefícios relativos entre machos e fêmeas e em identificar os genes subjacentes envolvidos [2] . Só que com o avanço de estudos, sobre os conflitos presentes entre machos e fêmeas e a utilização de organismos modelos como a Drosophila, possibilitou com que o conflito sexual se tornasse uma ferramenta importante para estudos na área de biologia evolutiva.

Intra locus e Inter locus[editar | editar código-fonte]

Como já discutido o conflito sexual pode ser classificado de duas maneiras intra locus e inter locus. O conflito intra locus e o mais comum entre os dois tipos, e é diferenciado do inter locus por apresentar aptidão ótima para uma característica podendo esta expressa em ambos os sexos, porém trazendo benefícios somente para um individuo e impedindo o valor adaptativo do outro, a poucos estudos resultando em uma quantidade menor de debates entre os pesquisadores evolucionistas [3]. Recentes estudos realizados com Drosophila melanogaster têm mostrado resultados impressionantes.

Drosophila melanogaster

Após testes realizados em laboratório foi constatado que durante a fase larval essas moscas tanto macho como fêmeas vivem em harmonia e apresentam pouca competitividade, já quando passam para a fase adulta esses organismos não apresentam mais uma harmonia, e começam a ter pontos de interesses diferentes. Por meio desses resultados obtidos pode-se verificar que existe uma diferença genética (entre genes), entre a fase larval e adulta durante esse processo, levando com que as variações possam trazer benefícios somente para machos e prejuízos para fêmeas ou vice-versa e alterando o valor de adaptativo do outro. No entanto, é possível que a maior parte da aptidão do adulto seja uma variação atribuível a mutações deletérias. Isso teria o efeito de influenciar na variação de fitness por alelos sexualmente antagônicos.

Por outro lado temos o conflito inter locus que ocorre quando há conflito sobre os resultados de interações macho-fêmea, de modo que o resultado ótimo é diferente para os dois sexos. Esse processo pode ocorrer quando há uma fertilização, cuidado parental ou durante o acasalamento. Sendo assim cada espécie que o processo interferir vai evoluir e se adaptar de forma sexualmente antagônica, podendo levar a uma coevolução antagônica. Parker foi o primeiro apontar para a importância geral co-evolutivas de tais processos. [4]Ele cita como exemplo a mosca de estrume Scathophaga stercoraria. No caso da mosca de estrume os machos estão sujeitos a uma seleção intra-sexual com uma capacidade competitiva. Esse processo traz um efeito colateral em fêmeas, gerando uma diminuição nos efeitos deletérios e adaptações durante a competição entre o espaço com os machos. Segundo Parker a nova característica masculina adquirida graças à seleção sexual, transmitiu um custo para a fêmea saindo sempre com prejuízo.

Conflito x Seleção[editar | editar código-fonte]

Os traços evolutivos que não seguiram a risca as regras impostas pela seleção natural, levou ao desenvolvimento a teoria da seleção sexual que começou por Darwin. A seleção resolveu uma boa parte dos problemas, mas não todos, por exemplo, não explica o que aumenta a aptidão em machos enquanto decresce a feminina. Muitos pensam que conflito e seleção sexual é a mesma coisa, mas não é, como já foi falado o conflito envolve as interações entre alelos no genoma dos sexos diferenciando em conflito inter locus e intra locus, sendo que o inter locus esta sendo mais estudado atualmente, pois e uma associação com a coevolução antagônica. Ao contrario do que diz a seleção sexual em que genes que conferem uma vantagem reprodutiva somente para um individuo tendem a se fixar em uma população, o conflito vem para tentar quebrar esse paradigma. Em nível intra-específico, incluindo os genes sexualmente antagonistas o conflito, é um mecanismo potencial para manter a variação genética. Alelos antagonistas beneficiam somente um individuo e pode apresentar efeitos diferentes em ambos os sexos, isso vai variar devido à capacidade e sobrevivência de cada espécie. A descoberta desses genes questiona os bons genes da seleção natural. Esses genes podem ser especifico de cada sexo, por exemplo uma fêmea pode escolher vários machos para melhorar e diferenciar a aptidão de sua prole. O conflito pode influenciar a seleção sexual atuando em uma série de traços femininos. Porém alguns cientistas acreditam que as interações de seleção natural com a seleção sexual com as consequências co-evolutivas macho-fêmea pode aumentar a aptidão de uma população e não beneficiar somente um individuo como diz o conflito sexual.

Aceitação do Conflito[editar | editar código-fonte]

O conflito sexual possui uma grande possibilidade de mudanças evolutivas. Distingue-se da teoria de seleção sexual de Darwin por conta das questões antagônicas envolvidas. A aceitação dos cientistas do conflito como uma força evolutiva, pode ser mudança boa para a biologia evolutiva. O que ainda falta é estudos e bases teóricas para o desenvolvimento de pesquisas empíricas, abordando características e mostrando as mudanças evolutivas dentro do processo. Pode-se dizer também que o conflito sexual ocorre geralmente em espécies poligâmicas. [5]

Acasalamento e Características Antagônicas[editar | editar código-fonte]

Um requisito básico para o conflito sexual sobre interações de acasalamento é que os resultados ideais são diferentes para machos e fêmeas, uma constatação documentada em diversos estudos recentes. [6]. Essas diferenças entre os dois sexos é fundamental para que ocorra uma corrida armamentista entre fêmeas e machos. Uma análise com quinze espécies de insetos mostrou que as mudanças evolutivas no equilíbrio de armamentos entre machos e fêmeas não se encontram no nível máximo de escalada armamentista, resultando assim em uma alteração sexualmente antagônica com um acasalamento de interações [7]. Um exemplo é da espécie de abelhas Bombus terrestres, onde as fêmeas apresentam benefícios de acasalamento múltiplos. Só que isso acaba sendo impedido por machos dessa mesma espécies, pois com a eliminação do liquido seminal junto com um tampão que é produzido por glândulas acessórias presente no corpo do macho reduz a probabilidade de acoplamento subsequente da rainha com outros machos. [8]

Consequência do conflito[editar | editar código-fonte]

O conflito sexual pode ter grandes consequências em populações de animais, os custos e benefícios de um conflito podem trazer danos à fecundidade, mortalidade e sobrevivência dos envolvidos. Machos podem interferir na aptidão feminina levando à morte de fêmeas em uma população, não ocorrendo reprodução. Só que o conflito não acontece porque um indivíduo quer, mas sim devido aos processos evolutivos evolvidos, como a coevolução antagônica. A coevolução específica é um processo evolutivo que pode evitar com que isso ocorra.

O Lado Feminino[editar | editar código-fonte]

Os custos do conflito geralmente atingem as fêmeas [9]. Fica claro que o dano inferido as fêmeas por seus companheiros pode acontecer de várias maneiras. Podemos dividi-los em: desvantagem do fitness e danos que reduz a aptidão. O primeiro caso ocorre quando um indivíduo passa do seu valor ideal para um valor onde o conflito poderá atingi-lo, sendo “traço comum” ou "traço conflito”, [10] [11] no primeiro caso pode-se citar como exemplo as fêmeas que adquirem um aumento em seu custo de energia durante a reprodução. Já o segundo caso é subdividido em dois, a má adaptação e os danos colaterais. A má adaptação é quando a fêmea muda as característica que serão passadas para a prole, e os danos colaterais ocorrerá quando um indivíduo tentar passar sua adaptação pela seleção direcional, se adaptação passada não for boa o correto é ser eliminado, porém em alguns casos os benefícios são maiores que os malefícios, fazendo com que se torne algo vital para espécie que possui esta característica. Para explicar porque o macho durante o acasalamento traz um custo para a fêmea e as vezes esse custo não e tão prejudicial, utilizar-se que para o lado feminino se torna uma vantagem adaptativa, o que levará a uma maior aptidão para o macho. Porém essa vantagem adaptativa só acontece quando a fêmea reproduz várias vezes e todas gerando filhotes saudáveis, o que é algo bom, visto evolutivamente. Além disso, existem casos no qual o macho escolhe qual dano causará na fêmea, e ela por questão adaptativa pode definir sua taxa de oviposição. Alguns cientistas acreditam que certo dano não e prejudicial, mas sim uma boa estratégia evolutiva.

Ecologia populacional[editar | editar código-fonte]

O conflito sexual atuará em populações de animais diversificando, gerando novas adaptações e modificando suas características de habitas, devido mudanças causadas nesse processo. Já há evidências de vários táxons que os parâmetros ecológicos, tais como tamanho da colônia, afeta adaptação do sexo masculino, para a competição do esperma com consequências inevitáveis para os conflitos de interesses sobre a taxa de acasalamento. [12] Há uma clara necessidade de mais trabalho examinando a interação entre ecologia e evolução de conflitos, com a consciência do caráter bidirecional desta interação.

Extinção[editar | editar código-fonte]

O custo do conflito pode afetar o acasalamento e interferir na aptidão dos indivíduos. Os machos geralmente causam danos a suas parceiras diminuindo sua aptidão. Além desse fato a competição entre os machos pode reduzir a quantidade de fêmeas, podendo ocorre uma extinção. Para evitar que isso ocorra a coevolução tem um papel fundamental. [13]

Humanos[editar | editar código-fonte]

O ser humano diferente dos outros animais se reproduzem por prazer e não por necessidade, são indivíduos monogâmicos e com características exclusivas. Apresenta-se múltiplos indivíduos com interesses distintos, isso faz com que o conflito atue na frequência de acasalamento, no tempo, na idade (por exemplo, menopausa em mulheres), no cuidado da prole e ate mesmo a quantidade de filhos. Quando o conflito atua, ele acaba ajudando no acoplamento das espécies. Em caso de humanos não e correto estudar separadamente a atuação das características de conflito, mais sim analisar todas em conjunto. Sendo assim para cada domínio podemos identificar possíveis traços de conflitos e desenvolver hipóteses para desvendar a extensão e causas do conflito [14]. Um fato que é importante ressaltar em conflitos em humanos, e a explicação para a menopausa em mulheres. Segundo o estudo publicado na folha de são Paulo, geralmente fêmeas de outras espécies de animais morrem quando param de reproduzir, o mesmo fato não ocorre em mulheres, segundo cientistas a menopausa atua para que o organismo feminino ajude a sua prole a sobreviver e cuidar dos seus filhotes, aumentando assim o nível de aptidão da espécie.

Adaptações co-evolutivas e não co-evolutiva[editar | editar código-fonte]

Durante o conflito pode-se separar adaptações co-evolutivas e adaptações que tentam diminuir o efeito negativo causado. Por exemplo, uma substancia química que trás uma substancia tóxica com uma diminuição no liquido seminal de machos, fazendo com que a fêmea crie adaptações co-evolutivas para essa característica ou que a fêmea crie uma imunidade contra o efeito tóxico do liquido seminal. Saber a diferenciação entre esses dois tipo é importante, pois as adaptações co-evolutivas tem o potencial para levar a mudanças evolutivas perpétuas, enquanto a imunidade não. Ainda são poucos os dados sobre os tipos de adaptações que ocorrem dentro do conflito. Além disso, é possível que trajetória da evolução do conflito seja orientada pela disponibilidade de novas mutações.


Especiação[editar | editar código-fonte]

As alterações co-evolutivas antagônicas causada pelo conflito sexual pode gerar uma especiação alopátrica. O conflito pode levar a uma divergência entre as fêmeas, pois ao mesmo tempo em que o macho esta desenvolvendo característica para se manter “único” a fêmea esta se desenvolvendo para vencer essas característica impostas pelos machos, levando a uma corrida armamentista. Para a especiação dentro do conflito sexual podemos utilizar a teoria da Rainha Vermelha de Van Valen.

Rainha Vermelha

Cuidado Parental[editar | editar código-fonte]

O conflito se torna central para evolução do cuidado parental e atua como uma forma de cooperação, onde um cuida dos filhotes e o outro busca alimento. Podem-se verificar várias formas de cuidado que participam em conjunto com o conflito, onde um sexo deve trabalhar mais (no caso de quem cuida da prole) apresentando um maior gasto energético, aumentando assim o valor de aptidão do parceiro. O cuidado parental pelo conflito sexual é gerado por uma coevolução antagônica e seu efeito é diferente entre os sexos.

Exemplos na Natureza[editar | editar código-fonte]

Na natureza podemos observar várias formas de conflito sexual envolvendo populações de animais, como por exemplo, em aranhas, patos e insetos. Nem sempre o dano acomete somente fêmeas, ocorrendo também prejuízo para o macho. Através de estudos e testes empíricos cada vez mais aumenta o conhecimento sobre o conflito entre os sexos.

Morfologia Genital em Patos[editar | editar código-fonte]

O conflito sexual tem moldado o aparelho genital de patos machos, esses animais apresentam um órgão genital maior que o normal e em forma de espiral. Isso acontece porque as fêmeas apresentam um estranho ducto genital (oviduto) em forma de “saca rolha”. Então o macho que conseguir copular com essas fêmeas terá uma maior taxa de fecundação gerando mais indivíduos para a prole. Porém o sistema reprodutor feminino trás dificuldades para a cópula, fazendo com que machos desenvolvam característica para vencer esse obstáculo, muita das vezes esses patos por não conseguir realizar a cópula acabam forçando a reprodução e machucando as fêmeas. Além disso, as fêmeas são capazes de isolarem o líquido seminal do macho em uma bolsa internamente. Provavelmente elas desenvolveram esse tipo de aparelho genital para adquirir benefícios genéticos indiretos como escolhendo se quer ou não reproduzir. Por isso os machos desenvolveram um aparelho genital grande e em forma de espiral para conseguir copular com a fêmea.[15].

Aranha Canibal[editar | editar código-fonte]

A visão que o canibalismo sexual apresenta uma forma de conflito entre sexos, faz com que o macho desenvolva característica para fugir da armadilha imposta pela fêmea. A espécie do tipo Agelenopsis aperta

Agelenopsis aperta

a fêmea come o macho após a reprodução. Para evitar que isso ocorra o macho se próxima com cuidado da fêmea e libera um líquido tóxico no corpo da parceira deixando-a inconsciente por alguns minutos, após aproxima-se dela e injeta o seu liquido seminal, conseguindo assim reproduzir sem perde sua vida, graças ao conflito sexual[16].

Insetos[editar | editar código-fonte]

Algumas espécies de insetos oferecem presentes comestíveis para o parceiro, mesmo trazendo pouco ou nenhum beneficio, geralmente acontece de macho para fêmea. Acreditavam que o alimento trago pelo macho traria benefícios invés de malefícios, pois pensava-se que traria uma maior nutrição à parceira já que ao colocarem ovos necessitam de um grande gasto energético. Porém estudos recentes mostram que esse “presente” pode diminuir o valor de aptidão da fêmea com interferência da coevolução antagônica. [17]

Referências

  1. Williams G.C(1966)Adaptação e seleção natural.Em Princeton University Press Princeton
  2. Parker, G.A.(1979)Sexual selection and sexual conflict. Sexual Selection and Reproductive Competition in Insects. Academic Press.
  3. Rice, W. Chippindale, A.,(2001) Intersexual ontogenetic conflict. Journal of Evolutionary Biology.
  4. Parker, G.. Partridge, L.(1998) Sexual conflict and speciation. Philosophical transactions, royal society of London, série B. pp261–274.
  5. Tregenza, T., Wedell, N. Chapman T. (2006) Introduction. Sexual conflict: a new paradigm? Philosophical transactions, royal society of London.
  6. Blanckenhorn,L., Hosken, D., Reim,C., Teuschl, Y., Ward P.,(2002) The costs of copulating in the dung fly Sepsis cynipsea. Behavioral Ecology.
  7. Arnqvist, G. and Rowe, L. (2002) Antagonistic coevolution between the sexes in a group of insects. Nature, pp 787–789.
  8. Baer, B., Schmid-Hempel, P. (2001) Unexpected consequences of polyandry for parasitism and fitness in the bumblebee Bombus terrestris. Evolution . pp 1639–1643
  9. Johnstone R.A ,Keller L., (2000) Como os homens podem ganhar por prejudicar seus companheiros: conflito sexual, toxinas seminais, e o custo de acasalamento. The American Naturalist. doi: 10.1086/303392.
  10. Rowe L., Day T.,(2006) Detecting sexual conflict and sexually antagonistic coevolution. Philosophical Transactions B. doi: 10.1098/rstb.2005.1788.
  11. Kate C,. Lessells M,.(2006) O resultado da evolução de um conflito sexual. Philosophical Transactions B. doi: 10.1098/rstb.2005.1795
  12. Pitcher, T., Dunn P., Whittingham L.,(2005)Sperm competition and the evolution of testes size in birds.Journal of Evolutionary Biology. doi: 10.1111/j.1420-9101.2004.00874.x
  13. Rankin, D., Dieckmann U., Kokko, H.,(2011). The american naturalist.pp780-91. Doi: 10.1086/659947
  14. Mulder, M.,Rauch, K., (2009). Sexual Conflict in Humans: Variations and Solutions. Evolutionary Anthropology. pp 201–214
  15. Brennan,P. Clark1,C. Prum, R.(2009) Explosive eversion and functional morphology of the duck penis supports sexual conflict in waterfowl genitalia. Philosophical Transactions B.
  16. Fromhage L., Schneider J., (2005) Safer sex with feeding females: sexual conflict in a cannibalistic spider. Behavioral Ecology . pp 377-382
  17. Gwynne, D., (2008) Sexual conflict over nuptial gifts in insects. Revisão anual de entomologia. pp 83-111

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