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Usuário(a):Zac Salvatore/Testes/2

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 Nota: Se procura pela música homônima deste disco, veja O Canto da Cidade (canção); para o especial televisivo, veja O Canto da Cidade (especial). Se procura box CD/DVD, veja O Canto da Cidade - 15 Anos.
O Canto da Cidade
Zac Salvatore/Testes/2
Álbum de estúdio de Daniela Mercury
Lançamento 20 de setembro de 1992 (1992-09-20)
Gravação 1992
Gênero(s)
Duração 42:04
Formato(s) CD  · download digital  · vinil  · cassete  · streaming
Gravadora(s) Sony
Produção Liminha
Cronologia de Daniela Mercury
Daniela Mercury
(1991)
Música de Rua
(1994)
Singles de O Canto da Cidade
  1. "O Canto da Cidade"
    Lançamento: 1992
  2. "O Mais Belo dos Belos"
    Lançamento: 1992
  3. "Você Não Entende Nada/Cotidiano"
    Lançamento: 1993
  4. "Só pra Te Mostrar"
    Lançamento: 1993

O Canto da Cidade é o segundo álbum de estúdio da artista musical brasileira Daniela Mercury. Lançado pela Sony Music Brasil em 20 de setembro de 1992, com produção de Liminha. O disco possui uma sonoridade inspirada por gêneros como pop, dance-pop e teen pop, enquanto a sua instrumentação é composta por baixo, teclado, guitarra elétrica e guitarra acústica. Liricamente, as faixas refletem-se ao amor e à relacionamentos amorosos. As gravações do projeto ocorreram entre agosto de 1997 e junho de 1998 em estúdios nos Estados Unidos e na Suécia sob a produção de The All Seeing I, Jörgen Elofsson, David Kreuger, Kristian Lundin, Per Magnusson, Max Martin, Rami e Eric Foster White.

Em junho de 1997, enquanto Spears negociava com o empresário Lou Pearlman a sua entrada no grupo feminino Innosense, sua mãe pediu a opinião do advogado de entretenimento e amigo da família Larry Rudolph e enviou-lhe uma fita de Spears cantando uma canção de Whitney Houston em um karaokê. Rudolph decidiu entregá-la para gravadoras, e enviou-a juntamente a uma fita demo de uma faixa não usada de Toni Braxton. A Jive acabou interessando-se e indicou o produtor Eric Foster White para trabalhar com ela. Depois de ouvir o material gravado, a gravadora contratou Spears em um acordo de diversos álbuns. Ela viajou para a Suécia para trabalhar com outros produtores, como Max Martin, Denniz Pop e Rami Yacoub. O primeiro mostrou-lhe uma faixa chamada "Hit Me Baby One More Time", que havia sido originalmente escrita para a banda R&B TLC, a qual rejeitou-a. O trabalho foi concluído em junho de 1998.

...Baby One More Time recebeu análises geralmente mistas de críticos musicais, em que alguns prezaram a sua produção e sua natureza pop, enquanto outros consideraram-no "prematuro". Apesar das resenhas mistas, foi indicado em duas categorias nos Grammy Awards de 2000. Obteve um desempenho comercial bastante positivo, atingindo a primeira colocação das tabelas da Alemanha, da Áustria, do Canadá e dos Estados Unidos, enquanto classificou-se nas dez melhores posições em diversos países, como Austrália, Bélgica, França e Reino Unido. Consequentemente, obteve diversas certificações ao redor do mundo, incluindo uma de catorze platinas pela Recording Industry Association of America (RIAA), denotando vendas de 14 milhões de unidades em território estadunidense. Em âmbito global, comercializou cerca de 30 milhões de cópias, sendo o álbum mais vendido de Spears e um dos mais vendidos de todos os tempos.

A faixa-título foi lançada como o primeiro single do disco e obteve um desempenho comercial positivo, chegando à liderança das tabelas musicais de diversos países ao redor do mundo, como Alemanha, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia. "Sometimes" foi distribuída como a faixa de trabalho seguinte em abril de 1999, e conseguiu listar-se nas dez primeiras posições de várias tabelas. O terceiro single do álbum, "(You Drive Me) Crazy", atingiu as dez melhores colocações na maioria das tabelas musicais. Embora não tenha sido lançada em território estadunidense, "Born to Make You Happy" serviu como o quarto foco de promoção em diversos territórios europeus, e posicionou-se na liderança da UK Singles Chart. O último single, "From the Bottom of My Broken Heart", não conseguiu repetir o sucesso dos anteriores. Em divulgação ao produto, a artista apresentou-se em diversos programas televisivos e iniciou as turnês ...Baby One More Time Tour (1999) e Crazy 2K Tour (2000). ...Baby One More Time é fortemente creditado por iniciar a imagem de Spears como um ícone da cultura pop em âmbito internacional e iniciar sua carreira. A intérprete comentou que, com o projeto, ela não foi capaz de mostrar sua habilidade vocal.

Antecedentes e desenvolvimento

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"Nunca fiquei refém de gravadora, sempre decidi o que fazer, sempre tive autonomia. Foi muito bom não ter assinado antes. Tive minha independência e minha liberdade mantidas. E isso foi muito importante pra eu ter conseguido fazer o que eu fiz. Como colocar o Olodum cantando e tocando pela primeira vez em estúdio pra gravar "Swing da Cor". E conseguir fincar bandeira na música popular brasileira e determinar que existia um gênero a partir dali".

—Spears falando sobre a sua sensação ao ouvir a faixa-título.[1]

Nascida em Salvador, no estado da Bahia, Mercury começou a se interessar por arte aos oito anos de idade e, a partir daí, começou a tomar aulas de balé clássico. Mais tarde, ao vê um concerto de Elis Regina, ela resolveu voltar as suas atenções também ao canto. Com 15 anos, começou a cantar profissionalmente em bares, onde passou a atrair a atenção de empresários e pessoas envolvidas no segmento musical da cidade. Entre eles, Toni Duarte, irmão do cantor Gerônimo, que a convidou em 1981 a cantar em um trio elétrico; formato de apresentação idealizado por Moraes Moreira em 1975 e que estava começando a se tornar popular em Salvador. Ao aceitar a proposta, ela se tornou a primeira mulher a comandar um trio elétrico como vocalista principal. Após completar 18 anos, ingressou no curso de licenciatura em dança pela Universidade Federal da Bahia. Com 21 anos, ela já tinha dois filhos e conciliava sua rotina entre as apresentações musicais em bares e aulas particulares de dança que dava para completar a renda.[ Em 1986, a convite de um empresário, passa a realizar vocais de apoio para o então bloco carnavalesco Eva, posto que ocupou anualmente até 1988. Após desligar-se do grupo, ela foi convidada pelo empresário de Gilberto Gil a realizar vocais de apoio para o artista em suas apresentações, e também cantou no primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê, sendo a primeira pessoa branca a realizar esse feito.

Em 1990, com a constante ascensão do samba-reggae pela Bahia, a gravadora CBS foi a Salvador procurando encontrar novos artistas para lançar o gênero nacionalmente. Ao contatar Mercury, o selo a ofereceu um contrato de gravação. A artista disse-os que aceitaria a proposta, desde que o trabalho fosse lançado com o nome da banda que ela acabara de forma, Companhia Clic. A CBS recusou a ofertar, dizendo que seu interesse concentrava-se apenas nela, culminando em um não acordo entre as partes. Após um período procurando um selo disposto assinar com seu grupo, fechou acordo com a El Dourado Records; um selo independente que até então era destinado apenas a artistas de de jazz. Com a Companhia Clic, ela gravou dois álbuns de estúdio que ajudaram a ampliar sua popularidade em Salvador, o que a motivou a desligar-se do grupo e investir em sua carreira solo. Seu álbum de estreia, o homônimo Daniela Mercury, chegou às lojas em setembro do ano seguinte, e obteve mais de 300 mil cópias comercializadas em pouco tempo.[ Seu principal single, embora tenha se tornado bastante popular no Nordeste do Brasil, enfrentou dificuldades em receber rotação nas estações de rádio de outras regiões. Em uma entrevista, Mercury comentou: "Lembro que chegava nas rádios em São Paulo pedindo: 'Por favor, toque isso aqui' e eles diziam 'mas como é que eu vou botar essa batucada toda aqui? Que maluquice! Aqui só toca música estrangeira, balada, música sertaneja, Roberto Carlos… Não tem a menor condição tocar isso, ô menina'".

Após realizar uma apresentação que abalou as estruturas do Museu de Arte Moderna (MASP), Mercury fechou contrato com a Sony.

No entanto, ela decidiu concentrar seus esforços promocionais em São Paulo, vindo a ser convidada pela TV Cultura à tocar seu repertório no programa Bem Brasil, que era transmitido ao vivo do campus da Universidade de São Paulo; As apresentações costumavam atrair um público de mil pessoas, mas no dia do show de Mercury, 25 mil se aglomeraram no local para vê-la. Com isso, ela teve que ser levada ao palco e retirada dele numa ambulância, para passar pela multidão. Após ser informada de que Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado promovia concertos para artistas iniciantes no vão do Museu de Arte Moderna (MASP), ela os procurou pedindo uma oportunidade de participar. Realizado em 15 de julho de 1992, o evento parou completamente a Avenida Paulista nos dois sentidos e reuniu mais de 20 mil pessoas em torno do local; O movimento foi tanto, que o show teve que ser interrompido na metade, pois a estrutura do MASP estava sendo abalada e as obras de arte estavam em risco de se dissolverem. Tamanho sucesso, surpreendeu a artista que revelou "não entender o que que estava acontecendo, aquele povo no meio-dia. Eu pensei que o povo ia passar com o sanduíche na boca, me dar um tchauzinho. Mas nada, o povo dançando, se acabando, Foi o máximo!". No dia seguinte, ela foi notícia em vários veículos de comunicação do país, inclusive o jornal O Estado de S. Paulo que tratou da apresentação dizendo: "Naquela tarde de outono, a multidão dançou e pulou tanto que teria havido risco de se afetar a constituição física do museu". Com o sucesso, a Sony ofereceu um contrato a artista. O acordo estabeleceu a gravação de três álbuns e garantiu o que ela exigia, onde se encontraria com maior autoridade na elaboração de sua obra.

Estrutura musical

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Beyoncé usou a animadora Josephine Baker como uma inspiração em B'Day.

A primeira música de O Canto da Cidade é a faixa-título. É um samba-reggae iniciado sob os versos "a cor dessa cidade sou eu / o canto dessa cidade é meu". Suas linhas, especificamente as do refrão, representam um grito de afirmação da identidade do povo negro de Salvador, de ser esse povo a imagem e a voz dessa cidade. A faixa seguinte, "Batuque", é instrumentada pela percussão pesada do samba-reggae. Seu título e letras referem-se às batidas dos blocos-afros de Salvador. Para levar a sonoridade das ruas para o estúdio, a música contou com a percussão de Ramiro Mossuto, reforçada com os timbales de mestre Putuca e os repiques de Mestre Jackson. Na época de produção do álbum não era incomum artistas de axé music realizarem regravações de artistas consagrados da MPB. A própria Mercury já havia registrado a canção "Geleia Geral", co-escrita por Gilberto Gil, em seu disco anterior. Para o O Canto da Cidade, ela escolheu "Você Não Entende Nada / Cotidiano", uma das quais ela já vinha fazendo versões em seus shows. Segundo a própria relembra: "A gente começou a testar e adaptar canções de samba nas batidas do Ilê Aiyê e Oludum para vê se funcionavam e essa foi uma das que funcionaram". A canção foi composta por Caetano Veloso durante o período de exílio em Londres, Reino Unido, durante a ditadura militar vigente no Brasil, e registrada por Gal Costa em seu álbum Legal (1970). Foi somente em 1972, em seu regresso ao Brasil, que a obra ganhou a primeira versão de seu autor, sendo incluída no disco colaborativo Caetano e Chico Juntos e Ao Vivo. Na ocasião, eles juntaram a supracitada com "Cotidiano", de autoria de Chico Buarque, em uma faixa só. As duas composições tinham algo em comum, o forte teor contestador e de insatisfação com a realidade maçante vivida pela classe média da época. A regravação de Mercury, no entanto, inclui apenas a expressão "todo dia" da música de Buarque, que entrou no refrão.

A balada pop "Pensar em Você" é sobre os efeitos que pensar na pessoa amada traz. Sua instrumentação é composta por um piano e um violoncelo.

"Topo do Mundo" inicia-se com sons de violão em seu instrumental. Em suas letras, a protagonista questiona o preço do afeto de seu amante e expõe os esforços que faria para tê-lo.

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Em "Bandidos da América", a intérprete canta em cima de uma base instrumental que reveza axé, samba-duro e samba-reggae. Com referências aos 500 anos de descobrimento europeu do Brasil e ao clássico literário Cem Anos de Solidão, do escritor colombiano Gabriel García Márquez, a faixa é a mais evidentemente política do álbum. Em poucos versos, trata da colonização europeia e da exploração dos povos indígenas e, especificamente, dos povos africanos, ressaltando sua ligação com Salvador. "Geração Perdida" é mais uma canção com forte teor político no projeto. Nele, a intérprete presta uma homenagem à geração de seus idolos, vitimas de censura e de perseguições com o golpe militar nos anos 1960, conforme conta: "Eu a compus para falar da ditadura. Assistia a todos os filmes e lia todos os livros sobre a ditadura. Tinha acabado de ler 1968: o Ano Que não Terminou (1989), de Zuenir Ventura, e em seguida fiz a música". A letra faz diversas referências ao período e ao seus ídolos Veloso, Gil e Buarque, que, segundo ela, ao lado de Milton Nascimento, ensinaram-lhe o valor da democracia e da liberdade, especificamente no trecho: "Artistas moviam a terra / Com seu choro e partiam". Já em "Só Pra Te Mostrar", um dueto com Viana, Mercury flerta com o pop em uma balada de cunho sentimental e amoroso.

Se a música que abre o álbum é considerada a síntese de O Canto da Cidade, a sétima canção "O Mais Belo dos Belos" é descrita como a que melhor exemplifica o movimento que os blocos afro promoviam na música da Bahia. Com uma letra que trata do orgulho negro e com uma percussão pulsante, a faixa traz a ambiência das quadras e dos desfiles do Ilê Aiyê. A canção é, ainda, uma junção de duas composições diferentes feitas para o bloco "O Charme da Liberdade" e "A Verdade do Ilê". Em seu registro, Mercury canta apenas parte dessa última citada, a estrofe "Quem é que sobe a ladeira (do Curuzu?)/ E a coisa mais linda de se ver? (É o Ilê Ayê) / O mais belo dos belos (sou eu, sou eu) / Bata no peito mais forte e diga (eu sou Ilê)" que abre e fecha a gravação. O trecho de "O Charme da Liberdade" que diz "Não me pegue não, não, não / Me deixe à vontade, diz aí", segundo o compositor, se referia a uma música "Depois que o Ilê passar" (1984), do antigo bloco, que dizia "não me pegue não, não me toque, por favor não me provoque, eu só quero vê o Ilê passar" e acabou servindo de fonte de inspiração. A forte percussão, tocada por Mossuto, que remete aos blocos afro e se assimila a uma bateria completa. Com poucos elementos, conseguiu transportar para o estúdio e disco o samba-afro, baseado em surdo e repique, produzido nas quadras e nas ruas por dezenas de percussionistas. "Rosa Negra" é um samba-reggae, em que Mercury pede para que ouvinte ouça o Muzenza cantar. Com um tom mais romântico, a obra foge da temática do sofrimento racial que as demais, porém sem deixar de citar a cultura dos blocos afro.

"Vem Morar Comigo", outra canção de lirismo romântico, possui uma sonoridade que mescla o frevo ao rock. Já "Exótica das Artes" parece abranger temas de paixão, intimidade e rebeldia. A música enfatiza a natureza misteriosa e única do amor, descrevendo-o como "Exótica das artes". O amor do eu lírico é retratado como selvagem e vibrante, como uma performance que cativa o público e acende a paixão. Com instrumentação concretizada pelo trabalho de acordes de guitarra, que dialogava com a música que Armandinho Macedo sempre fez, é outra obra que explora a junção de elementos do frevo e rock. "Rimas Irmãs", a décima primeira canção, exibi uma miscelânea de ritmos afro-brasileiros em sua composição — ressaltados pela percussão de Théo Oliveira, Massuto e Beto Resende — com influências de word music ornados com a cadência do samba de roda. A questão da rítmica também está presente em sua letra, especialmente na forma como os sons das palavras são utilizados desde seu título até em versos como "pititinga barbeia a barba dos ingratos". Uma combinação de fonemas e expressões de diversas origens da língua portuguesa, que iam de elementos da cultura popular rural e urbana, como expressões e gírias. A última faixa do disco, "Monumento Vivo" comtempla a conexão com Carnaval de Salvador. É um frevo elétrico contagiante que fala de festa, do povo e de um de seus principais espaços, a Praça Castro Alves.

Crítica profissional

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Críticas profissionais
Avaliações da crítica
Fonte Avaliação
AllMusic 3 de 5 estrelas.
Jornal do Brasil 1 de 4 estrelas.[2]
O Globo Mista[3]
Wilson & Alroy's Record Reviews 3 de 4 estrelas.[3]

As avaliações dos críticos especializados em música para O Canto Da Cidade foi em sua maioria mista. O website Wilson & Alroy's Record Reviews deu-lhe três estrelas de cinco totais, analisando que embora a sua instrumentação fosse semelhante, havia aqui elementos musicais mais heterogêneos que em seu antecessor, Daniela Mercury, como hip hop e reggae. Tarik de Sousa, periodista do Jornal do Brasil, emitiu uma de quatro estrelas totais, notou influências de Gal Costa e Margareth Menezes nos vocais de Mercury e expressou que o disco tinha a empunha missão de abrir caminho no eixo Rio-São Paulo para a axé music", algo que, em sua visão, "o fricoteiro Luiz Caldas não conseguiu". Sobre o repertório, considerou que ele aderna "entre mísseis de longa data como "Você Não Entende Nada / Cotidiano" e tiros de fôlego curto como "Vem Morar Comigo" e "Geração Perdida", enquanto na instrumentação notou um uso excessivo de teclado que poderia ter sido melhor equilibrado com maior presença de naipes e sopros. O autor expressou, ainda, que a intérprete soava como se quisesse "ser uma Paula Abdul do baticum baiano" e "uma Fernanda Abreu da Bahia", porém "a portaria afro-urbana deste roteiro nem sempre dá no alvo, mas Mercury não é do tipo que dorme na mira".

Concedendo três estrelas de cinco, Chris Nickson, editor do banco de dados AllMusic, também avaliou a composição de O Canto Da Cidade, escrevendo que era difícil se empolgar com suas faixas tão aceleradas "que pareciam serem sobras de Naked Eyes" e sintetizadores e baterias que resultam em arranjos "datados", sendo a "percussão saliente" de "O Mais Belo Dos Belos" um destaque. Os vocais da artista e sua interpretação em "So Pra Te Mostrar" também foram vistos como alguns dos poucos pontos favoráveis a ela num disco cujo o todo lhe é "pouco favorável" e em que "suas chances de brilhar são raras e distantes entre si". Lauro Lisboa Gárcia, jornalista do Estado de S. Paulo, de igual modo, não apreciou os arranjos da obra, considerando desnecessário tamanho apoio de teclado, porém positivou a nova roupagem dada à "Você Não Entende Nada / Cotidiano" (Música Incidental). Complementa, destacando a intenção dela em ornar letras alegres com outras em tom de protesto e a sua capacidade em tornar uma musicalidade altamente percussiva e regional em algo contundente e palatável à outros públicos. Editores da revista Manchete, por sua vez, não apreciaram a obra, argumentando que ela não refletia a adrenalina que a artista emanava em suas apresentações e, ao invés disso, a mostrava "como uma Marisa Monte apimentada". Mauro Ferreira, d'O Globo, ecoou pensamentos semelhantes, expressando que o suingue de Mercury estava oculto na produção de O Canto Da Cidade, a qual descreveu como um "mediano disco de música baiana". O autor, ainda, desdenhou de seu potencial de alcance, dizendo que, apesar do marketing e do "banho de loja", continuaria mantendo sua intérprete forte apenas na Bahia.

Lançamento e promoção

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O Canto da Cidade foi lançado em CD, vinil e cassete pela Sony Music em 20 de setembro de 1992. Nos demais países da América Latina sua liberação aconteceu a partir de 23 de março de 1993, enquanto seu envio às lojas dos Estados Unidos foi ocorrer apenas em 4 de março de 1998.[ Na imagem que ilustra a capa do álbum, fotografada por Marcelo Faustini, Mercury aparece utilizando luvas, uma de cor vemelha e outra de cor azul, simbolizando as cores presentes na Bandeira da Bahia. Originalmente, cores amarelo e ouro estavam projetadas para caracterizar o fundo da imagem. Porém, a ideia não agradou Mercury que preferia uma tonalidade mais suave. Para convencer os executivos da gravadora a aceitarem sua vontade, ela inventou que uma mãe de santo havia lhe dito que as cores de seu Orixá eram mais claras e utilizar amarelo e ouro poderia trazer azar ao projeto. A história foi aceita e um fundo branco foi projetado no lugar; com isso, as 50 mil cópias que já haviam sido impressas, foram descatadas.

De modo a promover o disco, Mercury realizou aparições em diversos programas televisivos antes e após o seu lançamento. No primeiro semestre de 1992, esteve no Jô Soares Onze e Meia e Clube do Bolinha, exibidos pelo SBT e Rede Bandeirantes, respectivamente, para divulgar sua imagem perante a mídia nacional.[25] Em 29 de agosto, foi uma das convidadas musicais do Paradão da Xuxa, da Rede Globo, onde apresentou-se com a faixa título do álbum. Ela também cantou a composição em outro programa da apresentadora Xuxa Menegel, o Xou da Xuxa, no especial de dia das crianças em 12 de outubro.[25] O dominical Fantástico interessou-se pelo trabalho da artista. Com isso, no dia 18 foi exibida uma reportagem buscando conhecer melhor sua vida e carreira.[42] O concerto realizado por ela no dia 8 de dezembro, na Praça da Apoteose, na cidade do Rio de Janeiro, para 40 mil pessoas, foi transmitido pela Rede Globo em 15 seguinte, como parte de suas comemorações de final de ano; a atração foi líder absoluta em audiência, marcando 40 pontos. Em 2008, para celebrar os 15 anos do lançamento de O Canto da Cidade, o especial foi comercializado em CD e DVD pela Sony. Ainda em dezembro de 1992, ela interpretou "O Canto da Cidade" no programa Sinal de Vida, da Rede Record.[40] Em maio do ano seguinte, foi entrevistada por Clodovil Hernandes em seu programa, Clodovil em Noite de Gala, na Rede CNT. Na ocasião, ela também executou "O Canto da Cidade".[ A mesma canção foi interpretada ao lado de "Batuque" no especial filantrópico Criança Esperança, realizado em 21 de agosto no Ginásio do Ibirapuera. Mercury retornou ao palco do Jô Soares Onze e Meia em 18 de dezembro, onde foi entrevistada e tocou composições do álbum. Dias depois, esteve no último Domingão do Faustão daquele ano, ao lado de vários outros artistas, no qual cantou e interagiu com o apresentador.

A promoção de O Canto da Cidade deu-se também através de uma turnê mundial, iniciada em 28 de outubro de 1992, na cidade de São Paulo, que passou por outras cidades brasileiras e, na sessão internacional de shows, por países como Alemanha, Argentina, Estados Unidos, México e Portugal.[15] O repertório da digressão baseou-se tanto em peças do álbum, quanto de seu trabalho anterior, além de representações de obras de outros artistas como "Há Tempos", de Legião Urbana, "Brasil", de Cazuza, e "Maluco Beleza", de Raul Seixas.[18] Devido ao sucesso, Mercury passou a realizar cerca de 15 shows mensais e receber um cachê de 20 mil cruzeiros, um dos mais altos da época.[19] As apresentações destacavam-se das realizadas pelos demais artistas brasileiros na época, uma vez que contava com coreografias, um corpo de baile e constantes trocas de figurinos. Críticos a avaliaram de forma positiva, com Tarik de Lima, do Jornal do Brasil, elogiando a sua "boa produção" e os "vocais potentes" da artista, bem como o repertório que, a seu ver, seriam capazes "de reinserir a MPB na memorabilia dos jovens", enquanto o periódico estadunidense The New York Times, ao assistir o concerto realizado em Nova Iorque em 1993, avaliou que ela "estava promovendo uma fusão entre a música regional e o pop, sem qualquer foclorização".

Impacto e legado

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Artistas como Ivete Sangalo (à esquerda) e Joelma (à direita) afirmaram que O Canto da Cidade foi uma fonte de inspiração para suas carreiras.

O impacto e o legado de O Canto da Cidade foi notado por críticos, biógrafos e jornalistas musicais. O álbum foi creditado por liderar a popularização da música brasileira produzida na Bahia, especificamente o samba-reggae e o axé music, e os tornarem comercializáveis a um público de outras regiões pela primeira vez. Com isso, Mercury ganhou a alcunha de "Rainha do Axé" e a artista que "ajudou a disseminar o gênero nacionalmente".[244 Em Discos da Música Brasileira, Lauro Lisboa Garcia expressa que "O Canto da Cidade se tornou um dos discos mais importantes da axé music, da produção artística baiana mais recente e também da música brasileira produzida dos anos 1990 para cá. Um marco que mudou expectativas e comportamentos da indústria fonográfica brasileira diante dos novos sons ecoados da Bahia para o mundo". O autor notou que a obra "abriu um espaço definitivo para o samba-reggae, tornando-o um ritmo conhecido nacionalmente, internacionalmente e inaugurando um novo gênero: o axé music". Opinião ecoada por Luciano Matos, em seu livro O canto da cidade: da matriz afro-baiana à axé music de Daniela Mercury (2021), que o atribuiu por mudar a forma "regional e até primitiva" como tais estilos até então era tratados e que "se os elementos percussivos originários dos blocos afro eram considerados meros batuques e sons do gueto, se os novos artistas que surgiam vindos da Bahia eram vistos como cafonas, Daniela virava a página e iniciava um novo capítulo naquela história".

"O Canto da Cidade" é lembrada, por vários, por ser a canção mais tocada nas rádios durante o processo de impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello e da crise político-econômica que assolava o país.[4] Na opinião de alguns, isso seria um sinal da despreocupação do brasileiro com "a turbulência e imprevisibilidade do momento".[4] No entanto, o produtor musical Nelson Motta defende que a canção foi "responsável por resgatar um pouco da alegria e autoestima do Brasil na época da crise". Essa também é a opinião do repórter John Lannert, da revista norte-americana Billboard, segundo o qual Mercury estava "se conectando com um público brasileiro politicamente e economicamente abatido" que precisava desesperadamente se divertir.[5] A interpretação que a cantora faz da canção ser a mais ouvida naquele momento é a de que aquele "era um momento de celebrar a democracia e, ao mesmo tempo, protestar contra a corrupção e aquele primeiro presidente eleito por voto direto que já estava sendo tirado do poder".[6] Para Rodrigo Faour, as pessoas talvez precisassem de "uma coisa que as levassem para cima, visando um novo momento político". Foi observado que meados da década de 1990, o samba estava ausente da programação de rádios brasileiras, com o sucesso do álbum gênero voltou a ter popularidade ao ser repaginado de "samba-reggae".[ Ela cita como exemplo disso algo que ocorreu nos bastidores de um show que realizou no Canecão, quando Beth Carvalho teria lhe dito que ela "devolveu o samba aos pés do Brasil".

Acredita-se que O Canto da Cidade foi pioneiro em quebrar estigmas preconceituosos de outras regiões do Brasil que classificavam artistas da Bahia como "exóticos, sensuais, meio primitivos e regionais demais", anteriormente ao seu lançamento. Mauro Ferreira, escrevendo para o G1, observou que a partir do álbum o gênero tornou-se "mais rentável e palatável para um público branco que consumiu avidamente músicas e discos que investiam nas levadas contagiantes do axé" e "sem o compromisso com as questões políticas e sociais negras que norteavam a produção dos repertórios matriciais dos blocos afros". O sucesso de O Canto da Cidade motivou outras grandes gravadoras a começarem a contratar artistas de música baiana para seus catálogos visando capitalizar com a popularidade do segmento, entre eles Ara Ketu, Banda Eva, Terra Samba e É o Tchan!, o que culminou em expressivas vendagens de discos que salvaram o orçamento dessas empresas.[ Além disso, notou-se que álbum não apenas abriu espaço para que mais mulheres se destacassem no segmento axé music, como mudou o perfil da maioria das intérpretes a partir de então, que passou de mulheres negras e ligadas aos blocos afro, para jovens, brancas e de classe média, fazendo com que selos como a BMG, Universal e Continental investissem em intérpretes com essa aparência para competir com Mercury, catapultando nomes como Gilmelândia, Cátia Guimma, Ivete Sangalo e Claudia Leitte, com o produtor musical Marcos Maynard comentando que "era como se as gravadoras da Bahia tentassem contratar mais cinco Danielas Mercurys".

Alinhamento de faixas

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O Canto da Cidade
N.º TítuloCompositor(es) Duração
1. "O Canto da Cidade"  Daniela Mercury  · Tote Gira 3:22
2. "Batuque"  Genivaldo Evangelista  · Rey Zulu 3:21
3. "Você Não Entende Nada / Cotidiano" (Música Incidental)Caetano Veloso  · Chico Buarque 3:05
4. "Bandidos da América"  Jorge Portugal 3:25
5. "Geração Perdida"  Mercury  · Ramon Cruz  · Toni Augusto 4:11
6. "Só pra Te Mostrar" (com participação de Herbert Vianna)Herbert Vianna 3:57
7. "O Mais Belo dos Belos" (A Verdade do Ilê / O Charme da Liberdade)Adailton Poesia  · Guiguio  · Valter Farias 3:31
8. "Rosa Negra"  Jorge Xaréu 3:21
9. "Vem Morar Comigo"  Mercury  · Durval Lelys 3:35
10. "Exótica das Artes"  Armandinho Macedo  · Edmundo Caroso 3:29
11. "Rimas Irmãs"  Carlinhos Brown 3:42
12. "Monumento Vivo"  Davi Moraes  · Moraes Moreira 3:06
Duração total:
37:51

Desempenho comercial

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No âmbito comercial, O Canto da Cidade tornou-se o maior sucesso da carreira de Mercury. No Brasil, antes mesmo de chegar às lojas, mais de 70 mil cópias suas já haviam sido comercializadas através de pré-venda. Em apenas um mês esse valor dobrou para 140 mil unidades e, como reconhecimento, foi certificado de ouro pela Pro-Música Brasil (PMB). Na semana de 5 de novembro iniciou seu percusso na parada de vendas de discos de vinil divulgada pelo Jornal do Brasil — com base em dados fornecidos pelo instituto Nelson Oliveira Pesquisa e Estudo de Mercado (NOPEM) —, ocupando a sétima posição; paralelamente, estreou em décimo lugar na lista similar que monitorava a comercialização de CDs publicada pelo mesmo periódico. Uma edição depois, ascendeu para o número 4 da primeira tabela citada, enquanto não entrou na segunda. Contudo, na atualização do dia 19 reapareceu ocupando o sétimo lugar e manteve-se na mesma posição na lista de vinis; Nesta, durante a semana seguinte, do dia 26, saltou para o segundo lugar, ficando atrás apenas do registro homônimo do grupo Raça Negra. Finalizou 1992 como o quinquagésimo álbum mais adquirido no país, com 500 mil réplicas faturadas.[

Em 28 de janeiro de 1993, O Canto da Cidade finalmente alçou-se para o topo, tanto da parada de vendas de vinil quanto de CDs, posição a qual oscilou por diversas vezes ao longo daquele ano. Além disso, alcançou 900 mil cópias comercializadas até março — um período no qual o Brasil passava por uma forte recessão econômica —, conseguindo um feito que o Jornal do Brasil classificou como "driblar a crise". Foi o disco mais comprado naquele ano e, mais tarde, a PMB atualizou a certificação para diamante, denotando vendas de um milhão de exemplares em território brasileiro.[ Na Argentina o sucesso se repetiu, com mais de 40 mil réplicas sendo consumidas por lá e um certificado de ouro sendo emitido pela Cámara Argentina de Productores de Fonogramas y Videogramas. No México, foram registradas 900 compras do produto até maio de 1993. Por fim, estima-se que O Canto da Cidade tenha vendido 3 milhões de réplicas em sua totalidade.


Referências

  1. Taylor, Chuck (23 de outubro de 1998). «Jive's Britney Spears Sets Top 40 Abuzz With Rhythm-Leaning 'Baby One More Time'». Billboard. 110 (43). 80 páginas. ISSN 0006-2510. Consultado em 27 de dezembro de 2014 
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  3. a b Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome will
  4. a b "Músicas mais tocadas durante o impeachment de Collor da presidência". Moss Mídia. 2 de outubro de 2017. Página acessada em 2 de fevereiro de 2018.
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