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Whataboutism

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Whataboutism (também chamado de whataboutery)[nota 1][1][2] é um sofisma que visa a desviar uma crítica ou acusação, mediante uma contra-acusação ou introduzindo uma questão não relacionada com o objeto da discussão. O dictionary.com define o termo como "uma tática de conversação em que uma pessoa responde a um argumento ou ataque mudando o foco da conversa para a má conduta da outra pessoa, dando a entender que toda crítica é inválida porque ninguém é totalmente inocente".[3]

É uma variante da falácia formal tu quoque (também chamada 'falácia do apelo à hipocrisia').[4][5][6]

O termo foi cunhado por The Economist, na época da Guerra Fria, quando foi usado para descrever, ironicamente, as respostas da União Soviética às críticas ocidentais. Aos que criticavam seu histórico de direitos humanos, por exemplo, os soviéticos respondiam com algo do tipo "E os Estados Unidos, onde se lincham negros?!" ou "E a taxa de desemprego de vocês? As pessoas comuns nos EUA (ou no Reino Unido ou na Alemanha) não têm o direito básico de trabalhar e receber salário!" [7]

Mas o whataboutism também foi (e continua a ser) utilizado em diversos outros contextos,[8] tais como no conflito na Irlanda do Norte,[5][9] nos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia[10][11] ou nas falas de Donald Trump.[12][13][14]

A falácia consiste em rebater a crítica (a uma situação, prática etc.), com uma outra crítica, sobre algo não necessariamente relacionado, mediante o uso de estruturas do tipo: "E aquilo...", "E sobre o(a)..." ou "E o que dizer, então, sobre...".[1][15][16] Geralmente, essa falácia é usada para relativizar moralmente a gravidade de um evento ou situação, comparando-o a outro.[16]

Estrutura lógica

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  • Pessoa A critica a proposição X.
  • Pessoa B usa a proposição Y para atenuar ou desviar o foco da proposição X.

O uso dessa falácia foi originalmente associado à União Soviética.[12][15][17][18] Durante a Guerra fria, era utilizada pelos soviéticos quando respondiam a um criticismo do Ocidente aludindo a um outro fato ou aspecto negativo do mundo ocidental.[19][20] Na Nova Guerra Fria, a Rússia voltou a adotar essa tática, primeiramente para fazer face a críticas relacionadas com violações de direitos humanos ou com atitudes do governo russo, em geral.[19][21][22] e, mais recentemente, quando da anexação da Crimeia e da invasão da Ucrânia;[10][11] O whataboutism é usado, inclusive, pelo presidente russo, Vladimir Putin, e seu secretário de imprensa, Dmitry Peskov.[23][24][25]

Por exemplo, quando os EUA e a UE expressaram sua preocupação com o uso excessivo da força pela polícia de Moscou, ao dispersar uma manifestações da oposição, as autoridades russas lembraram que a polícia americana expulsou à força os manifestantes do acampamento Occupy Oakland!, na Califórnia.

The Guardian considera que o whataboutism, na Rússia, seja "praticamente uma ideologia nacional".[26] A jornalista Julia Ioffe cita o bordão "And you are lynching Negroes" ['E vocês lincham negros'], como um dos exemplos clássicos de uso dessa tática.[27] Escrevendo para a Bloomberg News, Leonid Bershidsky chamou o whataboutism de "tradição russa",[28] enquanto The New Yorker descreveu a técnica como "uma estratégia de falsa equivalência moral".[29] Jill Dougherty falou que whataboutism é o jeito russo de dizer "o sujo falando do mal lavado".[30] Também é, muitas vezes, uma forma de atacar a dupla moral do Ocidente e, especialmente, dos Estados Unidos.

Notas

  1. Não há uma tradução consolidada para whataboutism, mas o termo já foi traduzido como E-aquilismo (em um artigo do Shifter) e Entãosismo (em um artigo do Público).

Referências

  1. a b João Ribeiro (31 de julho de 2018). «Whataboutism: a técnica que desconheces mas provavelmente dominas». Shifter. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  2. Rui Tavares (31 de agosto de 2018). «O entãosismo». Público. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  3. «Whataboutism». dictionary.com (em inglês) 
  4. «whataboutism». Oxford Living Dictionaries (em inglês). Oxford University Press. 2017. Consultado em 20 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 9 de março de 2017. Origin - 1990s: from the way in which counter-accusations may take the form of questions introduced by 'What about —?'. ... Also called whataboutery  Cópia arquivada em 26 de março de 2018
  5. a b Zimmer, Ben (9 de junho de 2017). «The Roots of the 'What About?' Ploy». The Wall Street Journal (em inglês). Consultado em 20 de outubro de 2018. "Whataboutism" is another name for the logical fallacy of "tu quoque" (Latin for "you also"), in which an accusation is met with a counter-accusation, pivoting away from the original criticism. The strategy has been a hallmark of Soviet and post-Soviet propaganda, and some commentators have accused President Donald Trump of mimicking Mr. Putin's use of the technique. 
  6. «whataboutism». Cambridge Dictionary (em inglês). Consultado em 20 de outubro de 2018 
  7. Konstantin von Eggert (25 de julho de 2012). «Due West: 'Whataboutism' Is Back – and Thriving» (em inglês). Sputnik. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  8. «What About 'Whataboutism'?» (em inglês). Merriam Webster. 25 de julho de 2012. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  9. «Whataboutery and whataboutism – what's it all about?». OxfordWords (em inglês). Oxford University Press. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  10. a b Joshua Keating (21 de março de 2014). «The Long History of Russian Whataboutism» (em inglês). Slate. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  11. a b Daniel W. Drezner (20 de agosto de 2017). «Ferguson, whataboutism and American soft power» (em inglês). The Washington Post. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  12. a b Danielle Kurtzleben (17 de março de 2017). «Trump Embraces One Of Russia's Favorite Propaganda Tactics — Whataboutism» (em inglês). National Public Radio. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  13. Michael Weiss (4 de novembro de 2016). «When Donald Trump Was More Anti-NATO Than Vladimir Putin» (em inglês). The Daily Beast. Consultado em 20 de outubro de 2018. In stark contrast with his predecessors for high office, he also regularly traffics in 'whataboutism', a Soviet-honed method of changing the conversation. Whenever human rights abuses or the trampling of freedoms abroad is raised, he shifts to the real or perceived shortcomings of the United States. 
  14. Feldmann, Linda; Kiefer, Francine (18 de maio de 2017). «How Mueller appointment may calm a roiled Washington» (em inglês). The Christian Science Monitor. Consultado em 20 de outubro de 2018. Trump also engaged in 'what-aboutism': 'With all of the illegal acts that took place in the Clinton campaign & Obama Administration, there was never a special counsel appointed!' he tweeted twice in three hours. 
  15. a b Mário Armão Ferreira (6 de janeiro de 2018). «O "whataboutism" nos comentários da PCManias». PCManias. Consultado em 20 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 14 de março de 2018 
  16. a b Marcelo Gruman (21 de setembro de 2018). «Civilização ou barbárie». Brasil 247. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  17. Sakwa, Richard (2015). Frontline Ukraine: Crisis in the Borderlands. [S.l.]: I.B.Tauris. p. 216. ISBN 978-1784530648 
  18. Maxim Trudolyubov (15 de janeiro de 2017). «How Putin Succeeded in Undermining Our institutions» (em inglês). Newsweek. Consultado em 20 de outubro de 2018. The way the Kremlin has always reacted to reports about corruption or arbitrary police rule, or the state of Russia's penal institutions, is by generating similar reports about the West. Whatever the other party says the answer is always the same: 'Look who's talking.' This age-old technique, dubbed 'whataboutism', is in essence an appeal to hypocrisy; its only purpose is to discredit the opponent, not to refute the original argument. 
  19. a b «Whataboutism - Come again, Comrade?» (em inglês). The Economist. 31 de janeiro de 2008. Consultado em 20 de outubro de 2018. Soviet propagandists during the cold war were trained in a tactic that their western interlocutors nicknamed 'whataboutism'. 
  20. «The West is in danger of losing its moral authority» (em inglês). POLITICO. 10 de dezembro de 2008. Consultado em 20 de outubro de 2018. 'Whataboutism' was a favourite tactic of Soviet propagandists during the old Cold War. Any criticism of the Soviet Union's internal aggression or external repression was met with a 'what about?' some crime of the West, from slavery to the Monroe doctrine. 
  21. Julia Ioffe (1 de junho de 2012). «Russia's Syrian Excuse» (em inglês). The New Yorker. Consultado em 20 de outubro de 2018. This posture is a defense tactic, the Kremlin's way of adapting to a new post-Cold War geopolitical reality. 'Whataboutism' was a popular tactic even back in Soviet days, for example, but objectivity wasn't. 
  22. Max Seddon (25 de novembro de 2014). «Russia Is Trolling The U.S. Over Ferguson Yet Again» (em inglês). BuzzFeedNews. Consultado em 20 de outubro de 2018. Since the Cold War, Moscow has engaged in a political points-scoring exercise known as 'whataboutism' used to shut down criticism of Russia's own rights record by pointing out abuses elsewhere. All criticism of Russia is invalid, the idea goes, because problems exist in other countries too. 
  23. Joshua Keating (21 de março de 2014). «The Long History of Russian Whataboutism» (em inglês). Slate. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  24. Miriam Elder (26 de abril de 2012). «Want a response from Putin's office? Russia's dry-cleaning is just the ticket» (em inglês). The Guardian. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  25. Neil Buckley (11 de junho de 2012). «The return of whataboutism» (em inglês). The Financial Times. Consultado em 20 de outubro de 2018. Cópia arquivada em 11 de junho de 2012 
  26. Luke Harding (25 de novembro de 2014). «Edward Snowden asylum case is a gift for Vladimir Putin» (em inglês). The Guardian. Consultado em 20 de outubro de 2018. Russia's president is already a master of 'whataboutism' – indeed, it is practically a national ideology. 
  27. Julia Ioffe (2 de março de 2012). «Kremlin TV Loves Anti-War Protests—Unless Russia Is the One Waging War» (em inglês). The New Republic. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  28. Leonid Bershidsky (13 de setembro de 2016). «Hack of Anti-Doping Agency Poses New Ethical Questions» (em inglês). Bloomberg News. Consultado em 20 de outubro de 2018. Russian officials protested that other nations were no better, but these objections – which were in line with a Russian tradition of whataboutism – were swept aside. 
  29. Evan Osnos; David Remnick; Joshua Yaffa (6 de março de 2017). «Trump, Putin, and the New Cold War» (em inglês). The New Yorker. Consultado em 20 de outubro de 2018 
  30. «Olympic doping ban unleashes fury in Moscow». CNN. 24 de julho de 2016. Consultado em 20 de outubro de 2018. There's another attitude toward doping allegations that many Russians seem to share, what used to be called in the Soviet Union 'whataboutism,' in other words, 'who are you to call the kettle black?' 
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