Yeshe Tsogyal
Yeshe Tsogyal (cerca de 757 ou 777–817), também chamada de “o vitorioso oceano do conhecimento”, “a imperatriz do lago do conhecimento” (tibetano: ཡེ་ཤེས་མཚོ་རྒྱལ, transliterado: ye shes mtsho rgyal), ou também com seu nome sânscrito de Jñānasāgara (“o oceano da sabedoria”), ou senhora Karchen pelo nome de seu clã de proveniência,[1] foi uma santa budista tibetana que alcançou a iluminação em sua vida e que é considerada como “a mãe do budismo tibetano”.
Há fontes que dizem que ela fosse uma das mulheres ou das concubinas oficiais do imperador do Tibete Tri Songdetsen[2] quando ela começou a estudar as filosofias budistas com o grande místico Padmasambhāva que tinha chegado recentemente na corte para adjudar os tibetanos a construir o monastério de Samye; ela tornar-se-ia uma das esposas tântricas principais dele na prática do karmamudrā. Padmasambhāva é considerado o fundador da ordem Nyingma do budismo tibetano — onde Yeshe Tsogyal ocupa a posição mais alta entre as outras santas — e é considerado também como um segundo buda da nossa era.[3] A senhora Karchen está famosa por ter revelado termas com Padmasambhāva, e também por ter sido a escriba principal dessas revelações divinas. Os termas são manuscritos de conhecimento sagrado revelados por Padmasambhāva em pessoa, e que Yeshe Tsogyal escondeu alguns deles para o benefício das novas gerações que chegariam.[4]
Nascida como uma princesa na região do Karchen, ela fugiu de casamentos arranjados até Tri Songdetsen capturou-a. Yeshe Tsogyal viveu por mais ou menos noventa e nove anos e tornou-se uma das figuras mais importantes da escola Nyingma, e também um modelo de virtude e disciplina para todos os devotos budistas. Embora ela seja frequentemente referida como a esposa principal de Padmasambhāva, Yeshe Tsogyal foi principalmente uma mestra espiritual por conta própria.
Por suas realizações espirituais, as ordens Nyingma e Karma Kagyu do budismo tibetano reconhecem Yeshe Tsogyal como uma mulher buda.[5]
Biografia
[editar | editar código-fonte]De acordo com a lenda, Yeshe Tsogyal nasceu na mesma maneira do Buda histórico: com um mantra que ressoava perto dela enquanto sua mãe dava-a à luz sem sofrimento. É considerada uma reencarnação da Maya, a mãe do Buda. Seu nome — “a rainha do lago da sabedoria” — deriva duma lenda que diz que seu nascimento tivesse causado um lago próximo de se aumentar tanto que as dimensões dele redobraram.[6]
Ela já tinha suas tendências espirituais na infância, visto que teria preferido dedicar-se ao estudo e à prática do dharma em vez de se casar. Ela estava tão convicta disso que uma vez escapou de casa e sua família teve de ir a pegá-la com a força. Aos dezesseis anos, foi obrigada a se casar com o imperador do Tibete daqueles dias, Tri Songdetsen, embora ela não quisesse.
Depois do matrimônio, Tri Songdetsen convidou à corte Padmasambhāva com um amigo dele, um abade e letrado budista, para espalhar os ensinamentos do Buda no Tibete. O imperador deu sucessivamente a mão de Yeshe Tsogyal a Padmasambhāva como um presente, e ele não somente aceitou, mas a libertou e tornou-a antes uma de seus estudantes mais importantes, e depois também uma de suas esposas.[6]
Vida espiritual e realizações
[editar | editar código-fonte]No corpo duma mulher
[editar | editar código-fonte]Pelo que pertence à presença das mulheres dentro do panorama monástico tibetano, Yeshe Tsogyal foi um modelo de comportamento, e ainda hoje ela é considerada como um exemplo a imitar. Quando ela perguntou a Padmasambhāva se, na prática espiritual dela, tivesse de levar em consideração algumas adaptações particulares por seu “corpo inferior de mulher” — uma expressão frequentemente usada nas biografias das santas tibetanas[7] — a reação de Padmasambhāva foi aquela de lhe responder que seu corpo feminino não era um obstáculo à iluminação, como as pessoas criam, mas algo mais: “o fundamento para a iluminação é um corpo humano. Homem ou mulher, não há diferença. Mas se a mulher for capaz de desenvolver o bodhicitta, a mente focalizada sobre o ganhamento da iluminação, ter um corpo de mulher poderia ser melhor.”[8]
Depois de tantos anos estudando seriamente e praticando a meditação, o nível de despertamento espiritual, de iluminação, da senhora Karchen tornou-se o mesmo do Padmasambhāva.
Práticas espirituais
[editar | editar código-fonte]Yeshe Tsogyal está famosa por ter passado anos sozinha, em isolamento por retiros de meditação. Ela conseguiu terminar vários ciclos de práticas tântricas espirituais que aprendera de Padmasambhāva e doutras criaturas sábias com as quais ela entrara em contacto, como por exemplo as práticas de Vajrakīlaya, o tummo, o zhitro e o karmamudrā.
Todas essas práticas conduziram a senhora Karchen à iluminação. Entre os leigos tibetanos, ela é considerada uma buda completamente iluminada que assume a forma duma mulher ordinária para ser mais acessível às pessoas ordinárias, “que, no momento, ainda não conseguem ver sua forma de Vajravārāhī como uma deidade completamente liberada.”[6]
Estudantes
[editar | editar código-fonte]Quando ela morreu, diz-se que Yeshe Tsogyal tivesse onze estudantes principais, que eram igualmente homens e mulheres. Estes estudantes que pertencem à linhagem da senhora Karchen são:[9][10]
- Karchen Zhonnu Dronma;
- Monmo Tashi Khyidren, ou as crianças Tashi (do Butão);
- Shelkar Dorje Tsomo, ou Dorje Tsomo (do Shelkar);
- Be Yeshe Nyingpo;
- Ma Rinchen Chok;
- Odren Zhonu Pel, ou Odren Pelgyi Zhonnu;
- Langlab Gyelwa Jangchub Dorje;
- Lasum Gyelwa Jangjub, ou Atsara Sale;
- Darcha Dorje Pawo;
- Ukyi Nyima, ou Surya Tepa (do Tibete central);
- A rainha Li-za Jangchub Dronma, ou Jangchub Drolma (do Cotã), uma das rainhas de Tri Songdetsen.
Todos os últimos ensinamentos de Yeshe Tsogyal foram partilhados por ela porque estes onze estudantes pediram-lhos.
Junto com os estudantes principais dela, havia também mais ou menos setenta e nove outros estudantes menores que estavam presentes ali naquele momento escutando os ensinamentos dela.
Emanações
[editar | editar código-fonte]Yeshe Tsogyal é considerada uma emanação da bodhisattva Tara e também uma emanação das ḍākinīs Samantabhadrī e Vajrayoginī e do prajñāpāramitā, o conhecimento transcendental.[11]
Vozes correladas
[editar | editar código-fonte]Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ «Biographies: Yeshe Tsogyal, Princess Of Karchen». Gyalwa Karmapa. Consultado em 5 de outubro de 2015
- ↑ Gardner, Alexander (January 2018). "Yeshe Tsogyel". The Treasury of Lives. ISSN 2332-077X. Retrieved 2021-11-24.
- ↑ Khenchen Palden Sherab (2010). The Buddhist Path: A Practical Guide from the Nyingma Tradition of Tibetan Buddhism. [S.l.]: Snow Lion Publications. p. 85. ISBN 9781559397988
- ↑ «Dharma Fellowship: Yeshe Tsogyal, Princess of Karchen». www.dharmafellowship.org. Consultado em 2 de setembro de 2019
- ↑ Changchub, Gyalwa; Nyingpo, Namkhai (2002). Lady of the Lotus-born: The Life and Enlightenment of Yeshe Tsogyal. Translated by the Padmakara Translation Group. Boston & London: Shambhala Publications. ISBN 1-57062-544-1.
- ↑ a b c Klein, Anne Carolyn (1995). Meeting the Great Bliss Queen: Buddhists, Feminists, and the Art of the Self. Boston: Beacon Press. ISBN 0-8070-7306-7.
- ↑ Jacoby, Sarah H. (2015). Love and Liberation: Autobiographical Writings of the Tibetan Buddhist Visionary Sera Khandro. Columbia University Press.
- ↑ Stevens, John (1990). Lust for Enlightenment: Buddhism and Sex. United States: Shambhala. ISBN 978-0834829343.
- ↑ Vajrayana Tri Ratna, Dharma Heirs of Yeshe Tsogyal,http://vajrayana.triratna.info/Nyingma-B1-Yeshe-Tsogyal-lineage.html
- ↑ Dowman, Keith (1984). Sky Dancer: The Secret Life and Songs of the Lady Yeshe Tsogyel. Boston, MA: Routledge & Kegan Paul.
- ↑ «Jnanasukha About — Jnanasukha». Arquivado do original em 14 de fevereiro de 2015