António Manuel de Melo e Castro de Mendonça

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António Manuel de Melo e Castro e Mendonça
14.º governador e capitão-general de São Paulo, 32.º governador de Moçambique
António Manuel de Melo e Castro de Mendonça
Palácio do Cunhal das Bolas em Lisboa, propriedade de António Manuel de Melo e Castro e Mendonça
Nascimento 1761
Morte 1812 (51 anos)
Pai Dinis Gregório de Melo e Castro e Mendonça, capitão-general da Ilha Terceira
Mãe D. Maria Rosa de Ataíde e Cunha, filha do senhor das honras de Barbosa e Ataíde
Ocupação Fidalgo, Estadista
Religião Católica

António Manuel de Melo e Castro de Mendonça (c. 1761 - 1812) foi um fidalgo e administrador colonial português, governador da capitania de São Paulo (1797 - 1802) e governador de Moçambique (1809 - 1812).

Biografia[editar | editar código-fonte]

Tomou posse do governo de São Paulo em 28 de junho de 1797,[1] tendo sido o décimo quarto capitão-general da capitania. O seu mandato estendeu-se até 28 de dezembro de 1802.[2]

Posteriormente, foi enviado pela Coroa, a partir da Corte no Rio de Janeiro, como 32.º capitão-general, ou Governador-geral de Moçambique, entre 14 de Agosto de 1809 e Agosto de 1812, tendo também sucedido a seu pai (interinamente?) no cargo de capitão-general dos Açores.

Antecedentes familiares[editar | editar código-fonte]

Pelo lado paterno, era oriundo da família Mello e Castro, alcaides-mores de Colares, comendadores de Fornelos na Ordem de Cristo, da qual saíram ao longo dos vários séculos da expansão portuguesa destacadas personalidades religiosas, militares, navegadores, vice-reis e governadores coloniais.

Sua mãe, D. Maria Rosa Xavier de Ataíde e Cunha[3] (nascida a 16 de abril de 1731[4]), era filha de D. António José de Ataíde Azevedo e Brito (23 de Setembro de 1688 - 1750[5]), comendador de S. Pedro de Folgosinho na Ordem de Cristo[6], senhor das Honras de Barbosa e de Ataíde e das vilas de Aguieira e Mourisca (senhorios que estavam na sua família "desde o princípio do Reino"[4]) e de sua mulher D. Ana Joaquina da Cunha e Meneses, (n. 30 de Novembro de 1710,[4] da casa dos Cunhas senhores de Tábua e irmã de D. António Álvares da Cunha, primeiro conde da Cunha e Vice-rei do Brasil de 1763 a 1767).[7]

Ele era conhecido como Pilatos, apelido já antes dado em Portugal, por brincadeira, a seu pai, Diniz Gregório de Melo e Castro de Mendonça, quando ele comprara o célebre Palácio do Cunhal das Bolas, em Lisboa, a um rico comerciante do Bairro Alto chamado localmente pelo povo de "o Pilatos". O avô materno de Diniz, bisavô de António Manuel, D. Rodrigo da Costa (filho do renomado embaixador a França, um dos Quarenta Conjurados, D. João da Costa, primeiro conde de Soure) 37º vice-rei da Índia, fora também o 31º Governador do Brasil entre 1702 e 1705.

Governo de São Paulo[editar | editar código-fonte]

Carta-patente assinada por António Manuel de Melo e Castro de Mendonça nomeando Francisco José de Sousa ao posto de capitão-mor de ordenança da Vila de Sorocaba. APESP

O historiador Afonso d'Escragnolle Taunay teceu elogios a Mello e Castro por muitos aspectos da forma como administrou a capitania de São Paulo. Escreveu sobre ele o historiador das monções e das bandeiras paulistas:

"Era homem de bastante cultura como demonstram as suas preocupações pela organização de estatísticas de todo o gênero para a orientação do seu governo; o enorme empenho em divulgar o emprego da vacina antivariólica...(n)o tocante à cidade de São Paulo tornou-se notada a sua preocupação pelo reforço e melhoria do abastecimento de água, o estabelecimento de feiras no bairro da Luz, as chamadas feiras de Pilatos, segundo a alcunha que lhe haviam posto."[8]

Economia e demografia[editar | editar código-fonte]

Antônio de Mello e Castro foi escolhido governador por influência do ministro e secretário de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinos, D. Rodrigo de Sousa Coutinho (primeiro conde de Linhares). Deu grande atenção à economia e também à demografia de São Paulo, tendo nomeadamente orientado a elaboração de 24 mapas com dados minuciosos sobre a população da capitania no ano de 1800. Os mapas demográficos referem-se a nascimentos, casamentos e óbitos. Os demais mapas tratam da exportação e importação da capitania, comparação de preços unitários dos gêneros exportados e importados, a navegação transatlântica a partir do porto de Santos, o movimento dos portos e dos registos. Tudo isso foi remetido a D. Rodrigo no dia 22 de Abril de 1802, junto com um ofício no qual o capitão general dava azo ao seu otimismo e antevia o futuro de São Paulo: “graças ao excesso da exportação sobre a importação, marchava a capitania para um estado de considerável opulência”.

Autor de "Memórias" sobre os problemas do governo[editar | editar código-fonte]

Melo e Castro foi também autor de 5 memórias, publicadas sob o título de "Memórias do Governador António Manuel de Melo e Castro e Mendonça" (São Paulo, 1799). Igualmente endereçadas a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, as Memórias tratam das dificuldades encontradas no exercício da administração colonial, especialmente na relação com as elites locais, sintetizando a complexidade da governança portuguesa no ultramar em fins do século XVIII; os textos originais das Memórias estão no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa.[9]

No ano seguinte, o governador submeteu à apreciação de Sousa Coutinho uma "Memória Econômico Política da Capitania de São Paulo", trabalho que ele apresentava como sendo "o mais interessante serviço que ainda se fez até o presente sobre um variado objeto nesta capitania". Nesse texto, o autor traçava um panorama completo do estado econômico da capitania nos 3 anos decorridos do seu governo e ainda expunha as razões que o tinham levado a alterar a política do seu antecessor de centralizar o comércio da capitania no porto de Santos.[10]

Liberdade de comércio para todos os portos paulistas[editar | editar código-fonte]

Essa mudança de orientação política empreendida pelo governador beneficiou algumas regiões de São Paulo, nomeadamente as vilas localizadas no Vale do Paraíba, onde se revelou vantajosa a política de Antônio de Melo e Castro de restabelecer a liberdade de comércio marítimo para todos os portos paulistas. A agricultura do litoral, como também a de toda a área ao longo do caminho para o Rio de Janeiro passou assim a poder aproveitar-se dos portos da costa norte e de Parati para exportar os seus produtos.[11]

Não admira assim que as câmaras das vilas do Vale do Paraíba tenham transmitido á coroa portuguesa o desejo de prorrogação do governo de Melo e Castro, nomeadamente em carta dos oficiais da câmara da vila de São Sebastião dirigida ao príncipe regente D. João em 18 de abril de 1801[12]. É que a localização geográfica desta região fazia com que fosse mais fácil aos seus comerciantes vender produtos através dos portos de Ubatuba e de São Sebastião, do que através do porto de Santos.

Apesar destes pedidos, não seria normal que a coroa prorrogasse por muito mais tempo o mandato de Melo e Castro e o governador acabou por ser substituído em 28 de dezembro de 1802. Deixou entretanto para o seu sucessor uma Memória[13] em que realçava a importância da liberdade de comércio para o desenvolvimento da capitania e lembrava que a restrição a esse princípio durante o governo do seu predecessor tinha resultado "na decadência das mencionadas vilas de São Sebastião e Ubatuba".

Sucessão na sua casa e bens[editar | editar código-fonte]

Não deixou geração, passando a herança e a representação da sua casa para seu irmão mais novo, Francisco Manuel Bernardo de Melo e Castro e Mendonça, que casou em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel, em 16.07.1805, com sua prima Leonor de Ataíde e Azevedo Pontes, filha de Joaquim António de Pontes e de Maria da Piedade Xavier de Ataíde (neta por via materna de D. António José de Ataíde, senhor das honras de Barbosa e Ataíde, acima referido).

Deste casamento nasceu uma filha, Maria Rosa Xavier de Melo e Castro Ataíde Costa Mendonça e Sousa (Rio de Janeiro, 31.01.1811 - Lisboa, 28.01.1884) que casou em Lisboa, em 03.02.1830, com D. Pedro José de Mello da Cunha de Mendonça e Menezes (Lisboa, 18.03.1810 - Alverca, 28.05.1866), filho segundogênito do 2.º marquês de Olhão, com a seguinte descendência:

  • D. Maria Leonor de Melo e Castro da Cunha Costa Mendonça e Sousa (28.06.1833 - 15.06.1855), casou em Lisboa em 20.01.1851 com Francisco Correia da Silva de Sampaio; com geração.
  • D. Maria da Piedade da Cunha de Mendonça e Meneses (17.08.1834 - 23.01.1905), casou Lisboa, em 14.06.1863, com Artur António dos Santos Monteiro; com geração.
  • D. Maria Rosa da Cunha de Mendonça e Meneses (17.08.1837 - 05.05.1885), casou em Lisboa em 05.07.1865 com Macário de Sousa Pinto Cardoso; com geração.

Árvore Genealógica[editar | editar código-fonte]

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16. António de Melo e Castro, 29.º vice-rei da Índia
 
 
 
 
 
 
 
8. Dinis de Melo e Castro, capitão das naus da Índia
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17. Ana de Castro, filha do 2.º copeiro-mór do reino
 
 
 
 
 
 
 
4. António Caetano de Melo e Castro, alcaide-mór de Colares
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18. Pedro Cabral de Lacerda
 
 
 
 
 
 
 
9. Violante Francisca Casimira de Mendonça
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19. Joana Henriques de Mendonça
 
 
 
 
 
 
 
2. Dinis Gregório de Melo e Castro e Mendonça, capitão-general da Ilha Terceira
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20. D. João da Costa, 1.º Conde de Soure
 
 
 
 
 
 
 
10. D. Rodrigo da Costa, 37.º vice-rei da Índia e 31.º Governador do Brasil
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21. D. Francisca de Noronha, 1.ª Marquesa de Soure
 
 
 
 
 
 
 
5. D. Maria Francisca Bonifácia de Noronha
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22. Manuel de Melo, porteiro-mór, grão-prior do Crato
 
 
 
 
 
 
 
11. Leonor Josefa de Vilhena
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23. Francisca de Vilhena, filha do morgado do Alcube
 
 
 
 
 
 
 
1. António Manuel de Melo e Castro e Mendonça
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24. D. Francisco de Azevedo e Ataíde, senhor de Barbosa e Ataíde
 
 
 
 
 
 
 
12. D. António de Azevedo e Ataíde
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25. D. Maria de Brito e Alcáçova, herdeira do morgadio de Valbom
 
 
 
 
 
 
 
6. D. António José de Ataíde Azevedo e Brito, senhor das honras de Barbosa e Ataíde
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26. Agostinho da Silva, cavaleiro da Ordem de Santiago
 
 
 
 
 
 
 
13. Teresa da Silva
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
27. Mariana da Conceição
 
 
 
 
 
 
 
3. D. Maria Rosa Xavier de Ataíde
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28. D. António Álvares da Cunha, 17.º senhor de Tábua, guarda-mór da Torre do Tombo
 
 
 
 
 
 
 
14. D. Pedro Álvares da Cunha, 18.º senhor de Tábua
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29. D. Maria Manoel de Vilhena (irmã do 1.º Conde de Vila Flor)
 
 
 
 
 
 
 
7. D. Ana Joaquina da Cunha e Meneses
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30. D. António de Meneses, alcaide-mór de Sintra
 
 
 
 
 
 
 
15. D. Maria Teresa de Vilhena
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31. Maria Vicência de Vilhena, filha do 1.º Visconde de Fonte Arcada
 
 
 
 
 
 

Referências

  1. Mattos, Renato de (2009). Política, Administração e Negócios: a capitania de São Paulo e sua inserção nas relações mercantis do Império Português (1788-1808) (PDF). São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 123 
  2. Mattos, Renato de (2009). op.cit. São Paulo: Universidade de São Paulo. p. 146 
  3. «Requerimento de D. Maria Rosa de Ataíde e Cunha, filha de D. António José de Ataíde Azevedo e Brito. - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 12 de dezembro de 2021 
  4. a b c Sousa, D. Antonio Caetano de (1745). História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Tomo XI. Lisboa: Régia oficina Sylviana. pp. 838 – 839 
  5. Cardoso, Augusto-Pedro Lopes (2005). A Honra de Barbosa - Subsídios para a sua História Institucional. Porto: Livraria Esquina. p. 27 
  6. «(D.) António José de Ataíde - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 28 de dezembro de 2019 
  7. Ataíde, José Guilherme Queiroz de. «Análise da correspondência do governador de São Paulo, António Manuel de Melo e Castro, para a Secretaria de Estado da Marinha e Ultramar (1797 - 1802)». Consultado em 11 de dezembro de 2021 
  8. Taunay, Afonso d’Escragnolle (1953). História da Cidade de São Paulo. [S.l.]: Edições do Senado Federal. Consultado em 9 de dezembro de 2018 
  9. Serrath, Pablo Oller Mont (2017). Memórias do governador Antônio de Melo e Castro e Mendonça (São Paulo, 1799). Rio de Janeiro: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. pp. 349–392. Consultado em 8 de dezembro de 2018 
  10. Mendonça, Antonio Manuel de Mello e Castro e (1933). Memória Econômica Politica da Capitania de São Paulo em 1800. São Paulo: Anais do Museu Paulista. pp. 81 – 248 
  11. Petrone, Maria Thereza Schorer (1968). A lavoura canavieira em São Paulo - Expansão e Declínio (1765-1851). São Paulo: Difusão Européia do Livro. p. 145 
  12. Carta dos oficiais da Câmara da vila de São Sebastião ao príncipe regente (D. João) de 18 de abril de 1801 solicitando a permanência de Antonio Manuel de Mello e Castro e Mendonça no cargo de governador e capitão general da capitania de São Paulo. São Paulo: Projeto de resgate de documentação histórica. 1801 
  13. Memória apresentada ao governador de S. Paulo Antonio José da Franca e Horta pelo seu antecessor Antonio Manuel de Mello e Castro e Mendonça, a 28 de dezembro de 1802. São Paulo: Documentos interessantes para a História e costumes de São Paulo, Tipografia Cardozo Filho. 1915. pp. Vol.44, 129–147 

Precedido por
Bernardo José de Lorena
Governador de São Paulo
1797 — 1802
Sucedido por
António José da Franca e Horta
Precedido por
Junta administrativa provisória
Governador de Moçambique
1809 — 1812
Sucedido por
Marcos Caetano de Abreu e Meneses