António de Andrade

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António de Andrade
António de Andrade
Conhecido(a) por Primeiro europeu a visitar o Tibete
Nascimento 1580
Oleiros
Morte 19 de março de 1634 (54 anos)
Goa
Nacionalidade português
Ocupação padre, explorador
Magnum opus Novo Descobrimento do Gram Catayo, ou Reinos de Tibet (1626)

António de Andrade (Oleiros, 1580Goa, 19 de março de 1634) foi um padre e explorador português que, juntamente com o seu companheiro de viagem, o irmão Manuel Marques, foi o primeiro europeu a visitar o Tibete, em 1624.

Viagens[editar | editar código-fonte]

Ainda noviço, Andrade partiu para a Índia, a 22 de abril de 1600, acompanhado de dezoito padres e irmãos da Companhia de Jesus, no mesmo navio onde viajou o vice-rei Aires de Saldanha e que chegou a Cochim a 22 de outubro do mesmo ano.

Após ter completado os estudos dos padres no Colégio de São Paulo em Goa, recebeu as ordens sagradas e foi enviado depois para a missão do Mogol em Agra, onde se julga que aprendeu a língua persa com os muçulmanos caxemires como era, aliás, costume.

A 30 de Março de 1624, já como Superior da Missão do Mogol, deixa Agra acompanhado por Jahangir, o imperador mogol que viajava para Lahore. Quando chegou a Deli, encontrou um grande número de peregrinos hindus que rumavam para um fabuloso templo, dado pelo nome de Badré (Badrinath) e situado a quarenta dias de viagem da Deli, na região montanhosa do norte da Índia, no estado atual de Uttarakhand. Esperando atingir o Tibete após alcançar este templo, António de Andrade, conjuntamente com o irmão Manuel Marques, começaram a sua via, conduzidos pelos "gentios".

A viagem que empreendeu levá-lo-ia de Agra a Chaparangue, no Tibete Ocidental, passando por Deli, Srinagar, Badrinath, Mana e o passo de Mana. Para segurança levara um astrolábio e um compasso de sol que lhe permitiu mais tarde vir a referir que Chaparangue se situava a 31º29' norte.

Durante esta viagem — que durou cerca de três meses — encontrou, contudo, muitíssimas dificuldades; permaneceu depois perto de um mês no Tibete, mais precisamente 23 dias, e regressou tendo gasto sete meses até chegar, de novo, a Agra.

Ruínas de Chaparangue

As dificuldades que teve para ultrapassar nesta expedição deveram-se não somente às passagens estreitas, mas também à agressividade do clima (a neve e as baixas temperaturas), à falta de alimentos e às dificuldades impostas pelo rajá de Srinagar, por não serem mercadores. Quando alcançou Chaparangue, a principal cidade de Coqué (Guge), um dos reinos do Tibete, ele contactou directamente com o seu rei, Tri Tashi Dakpa (Khri bKra shis Grags pa lde), o último rei de Gugue.

A recepção preparada pelo rei foi descrita como bastante boa, uma vez que ele teria pensado tratar-se de mercadores. Porém, quando compreendeu que eles não traziam quaisquer mercadorias, recebeu-os, de início, com alguma indiferença. Contudo, depois, prestou-lhes mais atenção e arranjou um tradutor, um muçulmano de Caxemira que, aliás, causou alguns problemas a António de Andrade. O rei parece ter mostrado mesmo interesse para com a religião cristã e acabou por autorizar não somente o retorno dos padres, como lhes prometeu permitir o estabelecimento de uma missão em Chaparangue, no ano seguinte.

A missão teve algum sucesso; foi construída uma pequena igreja e produziram-se algumas conversões. No entanto, a política do rei favorecendo a religião estrangeira era muito impopular e ele foi derrubado por um exército do reino inimigo de Ladakh em 1630. A missão foi destruída e os cristãos expulsos do país. Andrade deixou o Tibete em 1629 e foi nomeado o Provincial de Goa em 1630; atou até 1633 e em seguida retomou o seu antigo cargo de Reitor do Colégio de S. Paulo em Goa. Ele trabalhou também como Deputado da Inquisição de Goa. Em 3 de março de 1634 o padre Andrade foi envenenado na reitoria do colégio e morreu em 19 de março. Uma investigação (Devassa) realizada pouco tempo depois pela Inquisição revelou que os assassinos eram companheiros jesuítas insatisfeitos com sua rigorosa aplicação das regras da Companhia. Os relatos de Andrade do Tibete eram muito populares em toda a Europa e influenciaram fortemente as conceçōes ocidentais do país.

Referências

  • Didier, Hugues. 1999. Os Portugueses no Tibete. Os primeiros relatos dos jesuítas (1624-1635). Lisboa: Comissão Nacional para as comemorações dos descobrimentos portugueses.
  • Esteves-Pereira, Francisco. 1924. O descobrimento do Tibete pelo P. António de Andrade. Coimbra: Impresa da Universidade.
  • Sweet, Michael J. "Murder in the Refectory: The Death of Fr. António de Andrade, S.J." Catholic Historical Review, vol. 102, no.2, Winter 2016, pp. 26-45.
  • Sweet, Michael J. & Leonard Zwilling. 2017. "More than the Promised Land", Letters and Relations from Tibet by the Jesuit Missionary António de Andrade (1580-1634). Boston: Institute of Jesuit Sources/Boston College.
  • Tavares, Célia Cristina da Silva. 2006. Jesuítas e Inquisidores em Goa. A Cristianidade Insular, 1560-1640. Lisboa.
  • Toscano, Giuseppe. 1977. Alla Scoperta del Tibet: Relazioni dei Missionari del Sec. XVII. Bologna: Editrice Missionaria Italiana.
  • Wessels, Cornelis S.J. Early Jesuit Travellers in Central Asia 1603-1721.pp. 43-93. The Hague: Martinus Nijhoff.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]