Antonico (navio)

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Antonico
 Brasil
Proprietário Manoel Leonidas de Albuquerque
Construção Chantiers de Penhoët, Saint-Nazaire, França.
Lançamento junho de 1919
Porto de registro Belém, Pará
Estado Afundado em 28 de setembro de 1942, pelo U-516.
(Gerhard Wiebe)
Características gerais
Classe cargueiro
Tonelagem 1.223 ton.
Largura 10,4 m
Maquinário motor Compound
Comprimento 66 m
Calado 4,02 m
Propulsão vapor
Velocidade 7 nós[1]
Carga 40 pessoas

O vapor Antonico foi um navio mercante brasileiro afundado em 28 de setembro de 1942, pelo submarino alemão U-516, no litoral da Guiana Francesa.

Era de propriedade de um pequeno armador de Belém no Pará, e consistiu no vigésimo-quarto ataque a uma embarcação brasileira na Segunda Guerra e o terceiro cometido em menos de 24 horas, no qual, dezesseis tripulantes foram mortos por tiros de metralhadora quando já se encontravam a bordo das baleeiras.

Em decorrência desse ato, no final da guerra, o Brasil tentou, sem sucesso, a extradição de alguns oficiais do "u-boot" para serem julgados no país por crimes de guerra.

O navio e sua história[editar | editar código-fonte]

Construído em 1919, no estaleiro francês Chantiers de Penhoët em Saint-Nazaire, foi completado em junho daquele ano, e serviu ao governo francês sob o nome Tourneur. Em 1923, foi vendido a proprietários britânicos e rebatizado de Ashbay. Em 1935, foi adquirido por Manoel Leonidas de Albuquerque, um pequeno armador de Belém do Pará, e renomeado de Antonico.

Possuía 66 metros de comprimento, 10,4 metros de largura e 4,02 metros decalado. Feito com casco de aço, tinha um deslocamento de 1.223 toneladas de arqueação bruta, propelidas por um motor do tipo Compound, com uma potência nominal de 81 HP,[2] a vapor, acoplado a uma uma hélice, fazendo-o alcançar a velocidade de 7 nós.[1]

O Carregamento em Belém e o início da viagem[editar | editar código-fonte]

O navio, comandado pelo Capitão-de-Longo-Curso Américo de Moura Neves e com 40 tripulantes a bordo, sendo Flaviano Alberto Rodrigues o 1º piloto, Arnaldo Lima o 2º piloto, Rento o imediato, João o comissário, Aristóteles o foguista e Felipe o maquinista.

A embarcação partira do cais do porto de Belém no Pará, em frente ao galpão 11, na tarde do dia 17 de setembro de 1942, rumo a Paramaribo, no Suriname,levando asfalto para construção de campo de aviação naquela cidade e algumas caixas contendo bicicletas.[3] Terminado o carregamento, a tripulação zarpou e ficou fundeada em frente à ilha de Mosqueiro, situada a cerca de 18 ilhas de Belém, à espera do prático que conduziria "Antonico" e sua tripulação até a barra norte. O prático os levou pelos estreitos de Breves (canais formados pelas ilhas do Arquipélago do Marajó, intermediários entre i Rio Amazonas e seu afluente, o Rio Tocantins) com a finalidade de abastecer a embarcação de combustível(carvão, porém como em Belém não havia depósito desse material, o sistema do navio fora adaptado para queimar lenha). O abastecimento se dera em diversos portos, tais como: São Sebastião da Boa Vista, Urucuzal, Santo Antônio de Pracuúba, Porto Camarão e outros, e durou aproximadamente 10 dias. Após seu abastecimento, a viagem seguira para Macapá, onde o prático desembarcou.

Já sob as ordens do Comandante Américo Neves, a viagem seguiu pelo Rio Oiapoque, onde o navio fora abastecido com mais lenha. Durante este transcurso o comandante ordenava que a tripulação realizasse exercícios de salvatagem. Em uma cidade chamada Clevelândia, o comandante, os dois pilotos e o maquinista decidiram conhecê-la. Ao voltar do passeio, um dos tripulantes alertou-os de que havia um submarino nas redondezas.

O afundamento[editar | editar código-fonte]

No sábado, dia 27 de setembro, por volta de 21 horas, a tripulação passou através da Ilha da Salvação (conhecida como Ilha do Diabo), na costa da Guiana Francesa. Na madrugada do dia seguinte, por volta de 4:15 (9:15 pelo Horário da Europa Central), um pouco antes da foz do Rio Maroni, que separa a Guiana Francesa do Suriname, a tripulação do navio "Antonico" foi atacada por tiros de canhão, disparados pelo U-516, comandado pelo Capitão-tenente Gerhard Wiebe. Oportuno salientar que a embarcação em tela não possuía armamento, devido a sua atividade mercantil, e tampouco telégrafo. Arnaldo chamou Flaviano Rodrigues, o 1º piloto, que, ao olhar pela vigia, viu um fogo roxo na parte superior da embarcação.Um dos marinheiros tentou alertar aos demais gritando: "Companheiros, acordem que o o bicho chegou. Levantem que o bicho chegou, o bicho chegou!"

Por ser uma embarcação de baixa tonelagem, submergiu muito rápido, obrigando a tripulação a baixar apressadamente as baleeiras. Até então, não tinha havido qualquer fatalidade e parecia que o evento, apesar de dramático para os tripulantes, terminaria ali.

Porém, já dentro das baleeiras, imaginando-se a salvos, os homens foram surpreendidos quando a artilharia do submarino, dirigida pelo tenente Markle, foi apontada para eles. Ato contínuo, o comandante Wiebe deu a ordem para atirar. Indefesos, os tripulantes acabaram metralhados e dezesseis, dos 40 homens, morreram, inclusive o comandante Américo Neves.

Essa ação foi, provavelmente, fruto de uma decisão tomada por Hitler depois do Incidente Lacônia, evento em que submarinos alemães foram atacados por aviões norte-americanos quando tentavam resgatar náufragos italianos, que estavam sendo levados como prisioneiros a bordo daquele navio britânico. A partir de então, a ordem era para que os submarinos metralhassem as baleeiras e não tentar salvá-las.

Os náufragos, a maioria deles feridos, temendo um tratamento hostil dos franceses fiéis ao governo de Vichy, evitaram a Ilha do Diabo, a mais próxima do local do afundamento, indo aterrar numa praia deserta na povoação de Hattlers. Lá foram medicados e transferidos clandestinamente para o Suriname, onde os feridos mais graves ficaram hospitalizados.

Consequências[editar | editar código-fonte]

O episódio do Antonico ficou tão marcante na história dos afundamentos dos navios mercantes nacionais que, depois da Guerra, baseando-se em uma condenação pelo Tribunal de Nuremberg contra o comandante Heinz Eck e de outros dois tripulantes do U-852, que no Oceano Índico metralhou e lançou granadas nas baleeiras em que se encontravam os náufragos de um cargueiro grego, o Brasil pediu a punição de Gerhard Wiebe e do tenente Markle. O caso chegou a tramitar pelas repartições brasileiras e internacionais até que a Marinha, após um parecer desfavorável da Consultoria Geral da República (atualmente Advocacia-Geral da União), resolveu desistir da solicitação de extradição dos culpados para serem julgados no Brasil.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Naufrágios do Brasil. «Navios brasileiros afundados em outros países». Consultado em 11 de março de 2011 
  2. Wrecksite. «SS Antonico». Consultado em 12 de março de 2011 
  3. Uboat.net. «Antonico». Consultado em 12 de março de 2011 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • SANDER. Roberto. O Brasil na mira de Hitler: a história do afundamento de navios brasileiros pelos nazistas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.