Carlos IV da Lorena

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Carlos IV
Duque de Lorena e Bar
Carlos IV da Lorena
O Duque Carlos IV de Lorena
Duque consorte de Lorena e Bar
Reinado 1624-1625
Antecessor(a) Cristina de Salm
Sucessor(a) Nicole de Lorena
Duque soberano de Lorena e Bar
Reinado 1625-1634
Predecessor(a) Francisco II da Lorena
Sucessor(a) Nicolau II da Lorena
Duque soberano de Lorena e Bar
Reinado 1661-1675
Predecessor(a) Nicolau II da Lorena
Sucessor(a) Carlos V da Lorena
 
Nascimento 5 de abril de 1604
  Nancy, Ducado da Lorena
Morte 18 de setembro de 1675 (71 anos)
  Bernkastel-Kues, Sacro-Império
Cônjuge Nicole de Lorena
Beatriz de Cusance
Maria Luísa de Aspremont
Descendência Francisco
Ana
Carlos Henrique
Casa Lorena
Pai Francisco II da Lorena
Mãe Cristina de Salm
Brasão

Carlos IV da Lorena (em francês: Charles IV de Lorraine, em alemão: Karl IV von Lothringen; Nancy, 5 de abril de 1604 - Bernkastel, 18 de setembro de 1675) foi um Duque da Lorena e de Bar, de jure de 1625 a 1675 (de facto de 1625 a 1634, em 1641 e de 1659 a 1670).

Como descendente de Gerardo da Lorena, ele deveria ter sido numerado como Carlos III da Lorena, mas os historiadores lorenos, que pretendiam a legitimidade dos duques da Lorena e de Guise, ligando-os diretamente aos Carolíngios, incluíam na lista de duques o Carolíngio Carlos, duque da Baixa-Lotaríngia, morto em 991.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Neto do duque Carlos III, o Grande, e sobrinho do duque Henrique II, era conhecido sob o nome de Carlos de Lorena, príncipe de Vaudémont, ou simplesmente Carlos de Vaudémont. Filho de Francisco, Conde de Vaudémont, e de Cristina de Salm.

Passa a sua infância na corte de França, sendo um companheiro de brincadeira do futuro Luís XIII, mais velho apenas 3 anos. O seu pai fora equacionado como um partido possível para Maria de Médici antes desta se tornar rainha de França. Regressado à Lorena, onde o seu tio paterno, o duque Henrique II não tinha descendência masculina, Carlos considerava-se como o herdeiro dos ducados, tendo em conta um pretenso testamento do duque Renato II que especificava que os ducados deviam ser transmitidos em linha masculina. Só que o duque, seu tio, respeitando a tradição lorena, entendia deixar o ducado à sua filha mais velha, Nicole, o que fez com que Carlos se afastasse da Lorena.

Combate pelo imperador Fernando II destacando-se na batalha da Montanha Branca, em 8 de novembro de 1620, demonstrando capacidades como chefe militar, quando tinha apenas 16 anos.

Após longas negociações, casa em 1621 com a sua prima Nicole; esta estava destinada a casar-se com o jovem Luís XIII, o que faria que a Lorena e o Barrois fossem integrados pacificamente na França, mas a morte de Henrique IV põe fim a este projeto e Luís XIII acaba por casar com uma infanta espanhola.

Após deixar disposições prevendo que a autoridade de Carlos de Vaudémont dependeria dos direitos da sua mulher, Henrique II da Lorena morre a 31 de julho de 1624.

Primeira abdicação e regresso ao poder[editar | editar código-fonte]

Carlos não se contentava com a posição de consorte. Com o apoio do seu pai, ele pretendia obter a totalidade do poder. En novembro de 1625, Francisco de Vaudémont (o pai de Carlos), apoiando-se nos termos do pretenso testamento do duque Renato II, reivindica a coroa ducal. Os Estados Gerais dos ducados avaliam a legitimidade do seu pedido e Nicole e Carlos IV abdicam conjuntamente em seu favor.

Francisco de Vaudémont torna-se duque a 21 de novembro de 1625 sob o nome de Francisco II da Lorena, mas abdica cinco dias mais tarde a favor do seu filho que, assim, se torna o Duque Soberano Carlos IV, mas sem ficar dependente dos direitos da sua mulher.

Dificuldades com a França[editar | editar código-fonte]

As relações entre a França e a Lorena degradam-se, uma vez que Luís XIII recusa-se a reconhecer os princípios do direito que havia levado Carlos ao poder, já que a França tinha todo o interesse em que os ducados pudessem ser transmitidos por via feminina, na eventualidade de uma herdeira vir a casar com um príncipe francês.

Por outro lado, o fim das guerras e das ambições francesas na Itália tinham deslocado as frentes de conflito para norte. A política de Luís XIII de França e do seu poderoso ministro, o Cardeal Richelieu era deslocar a fronteira do reino até às margens do Reno.[1]

Sem o apoio dos seu tios (o eleitor Maximiliano I da Baviera e o imperador Fernando II), o duque Carlos IV procura outras alianças e rompe com a política ultra-católica dos seu antecessores, aliando-se com os huguenotes franceses, com os Ingleses e com o Duque de Saboia.

Ligações perigosas[editar | editar código-fonte]

Com uma diplomacia ativa mas confusa, Carlos apoiou discretamente os inimigos do Cardeal de Richelieu, acolhendo os conspiradores que, assim, escapavam à justiça real francesa entre os quais se encontrava Gastão de França, Duque de Orleães, irmão do rei e herdeiro do trono de França.[2]

Em setembro de 1629, Gastão de França refugiou-se na Lorena e, sem o consentimento do seu irmão, o rei, casa em 1632 com aquela que ele chamaria toda a sua vida o Anjo, a princesa Margarida de Lorena, irmã do duque Carlos.

Na Primavera de 1631, Gustavo Adolfo, rei da Suécia, desembarca na Pomerânia dando início à Guerra dos Trinta Anos que assolou a Europa. Carlos envia o seu exército para apoiar o Imperador. No Outono desse ano, as tropas francesas invadem a Lorena e o duque considera mais prudente um compromisso assinando o tratado de Vic (6 de janeiro de 1632.

Segunda abdicação e regresso ao poder[editar | editar código-fonte]

Em junho de 1632, Luís XIII invade uma segunda vez a Lorena e Bar, ocupando os ducados. Carlos vê-se constrangido a assinar o Tratado de Liverdum (26 de junho de 1632) que, na verdade, ele pensava em não respeitar. Em setembro de 1633, as tropas francesas invadem por uma terceira vez a Lorena e Carlos julga ser mais favorável abdicar em 19 de janeiro de 1634 a favor do seu irmão Nicolau Francisco que vem a reinar como Nicolau II da Lorena. Carlos vai comandar as tropas imperiais na guerra contra os suecos e, mais tarde, contra os franceses, obtendo diversos sucessos.

Em 1635, é derrotado quando tentava reconquistar os ducados - os suecos saqueiam os ducados e causam tanta devastação que o ano de 1635 fica na memória como "o ano dos suecos".

Melhor estratéga que político, Carlos IV alcança diversas vitórias entre 1638 e 1640, nomeadamente no Franco-Condado cuja defesa lhe havia sido confiada pelo rei de Espanha. Inicia então novas negociações com a França e, pelo tratado de Saint-Germain-en-Laye (2 de abril de 1641), recupera os seus estados, mas tem que aceitar o protetorado francês, comprometendo-se a não concluir alianças com a Casa de Habsburgo.

Não obstante, algumas semanas mais tarde, ele apoia a revolta conde de Soissons. Richelieu, gravemente doente e após ter contido os culpados, decide prender Carlos IV que consegue pôr-se em fuga nos finais de julho de 1641 e retoma os combates contra a França.

Os tratados de Westfália de 24 de outubro de 1648 que marcam oficialmente e "de jure " a integração dos Três Bispados na França, deixam a sorte dos ducados em suspenso. Excluídos desses tratados, e falhadas as negociações com o Cardeal Mazarino, que entretanto sucedera a Richelieu, Carlos IV retoma a guerra a ponto de ameaçar Paris em 1652.

Mas ele perde a sua vantagem e a sua credibilidade ao procurar negociar, alternadamente, com Mazarino e com os príncipes da Fronda. A Espanha acusa-o de ser a causa do fracasso, sendo detido em Bruxelas a 25 de janeiro de 1654 e transferido para o Alcazar de Toledo, onde passa cinco anos detido. A intervenção e os esforços do seu irmão, Nicolau II da Lorena, permite que seja libertado a 15 de outubro de 1659. Com o Tratado dos Pirenéus, assinado a 7 de novembro, perde Barrois. Mas entretanto, consegue convencer o Cardeal Mazarino a lho restituir pelo Tratado de Vincennes, celebrado a 28 de fevereiro de 1661.

Últimos tempos[editar | editar código-fonte]

Homenagem de Carlos IV ao rei Luís XIV como soberano do Barrois mouvant, em 1661 (Louvre).

Mas Carlos IV não renuncia às suas atividades militares e continua a combater em benefício dos seus vizinhos. Inicia trabalhos para reabilitar as estradas da Lorena e de Barrois, sobrecarregando de impostos os seus súditos já arruinados pela Guerra dos Trinta Anos.

Em 1669 recusa destroçar os seus exércitos tal como exigido por Luís XIV e as tropas francesas invadem, de novo, os ducados no verão de 1670. Carlos IV põe-se em fuga e, sem alternativa, dissolve o seu exército.

Após ter vencido os franceses em 11 de agosto de 1675 na batalha de Ponte de Konz (Konzer Brücke), fica doente vindo a falecer no mês seguinte com 71 anos.

A Lorena e Barrois foram ocupados pelas tropas francesas até ao Tratado de Ryswick que devolve a Leopoldo da Lorena, sobrinho neto de Carlos IV, os seus estados (1697).

Casamento e descendência[editar | editar código-fonte]

A vida conjugal do duque foi tão confusa como a sua ação política.

Em primeiras núpcias, Carlos casou, a 23 de maio de 1621, com a sua prima direita Nicole de Lorena (1608-657), filha do seu tio paterno, o duque Henrique II da Lorena, e de Margarida Gonzaga. Deste casamento não houve descendência.

Após ter excluído a mulher do poder,[3] Carlos tenta anular o seu casamento fazendo condenar, em 1631, por feitiçaria, o padre Melchior de la Vallée, que batizara Nicole. Carlos separa-se da mulher em 1635, com o pretexto que não fora livre de escolher a noiva. Mas o Papa não aceita anular o casamento e Nicole acaba por ir viver para Paris, de acordo com instruções do rei Luís XIII que, entretanto, invadira a Lorena.

Apesar de tudo, o duque casa em segundas núpcias, a 9 de abril de 1637, com a sua amante, Beatriz de Cusance (1614-1663), viúva de Leopoldo Eugénio de Oiselay,[4] de quem herdara o baronato de Belvoir e principado de Cantecroix.

Excomungado por bigamia em 23 de abril de 1642, Carlos separa-se fisicamente de Beatriz durante algum tempo. A duquesa Nicole morre em 1657, mas Carlos e Beatriz só formalizam a sua união em 1663 mas por procuração, com o fim de legitimar os filhos entretanto nascidos mas que foram considerados como não dinásticos:

Doente, Beatriz de Cusance acaba por falecer 15 dias após a formalização do casamento, deixando o duque de novo viúvo.

Embora sexagenário, ele casa em terceiras núpcias, em 1665, com uma jovem de 14 anos, Maria Luísa de Aspremont (1651-1692). Carlos IV morre 12 anos mais tarde e deste casamento não houve geração.

Ascendência[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Alexandre Martin Le Pays Barrois Géographie et Histoire, Les Éditions du Bastion, 1984
  • G. Poull, La Maison ducale de Lorraine, 1991
  • J.-C. Fulaine, Le Duc Charles IV de Lorraine et son armée, 1997
  • Charles-J.A. Leestmans, Charles IV, duc de Lorraine (1604-1675) Une errance baroque, 2003

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. o que implicaria a anexação dos ducados da Lorena e de Bar (estados soberanos), do Franco Condado (possessão espanhola) e da Alsácia (possessão do Sacro-Império)
  2. na altura Luís XIII ainda não tinha descendência
  3. Nicole era a duquesa soberana
  4. falecido de peste em janeiro de 1637, herdeiro da família de Granvelle e neto do imperador Rodolfo II, pela sua filha natural Carolina de Áustria
  5. Henrique IV era avô de ambos


Títulos de nobreza
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