Cartas Fluminenses

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Cartas Fluminenses foram duas crônicas, em forma de cartas para entidades alegóricas, a Opinião Pública e a Hetaira, que o escritor Machado de Assis, sob o pseudônimo de Job (criado em 1865 para assinar contos destinados ao Jornal das Famílias) publicou no jornal Diário do Rio de Janeiro de 5 e 12 de março de 1867. Em 1861-2 já havia colaborado para esse jornal com os Comentários da Semana e em 1864-5 com a seção de crônicas Ao Acaso. Machado acompanhava a moda da ocasião, iniciada por José de Alencar com as Cartas de Erasmo. [1]

O termo "fluminense", também usado no livro "Contos Fluminenses", designava na época o natural ou habitante da cidade do Rio de Janeiro, hoje chamado de "carioca".

Conteúdo das crônicas[editar | editar código-fonte]

Machado começa a primeira carta apresentando "seu autorretrato, desenhado em traços largos e jocosos":[2]

Se a velhice quer dizer cabelos brancos, se a mocidade quer dizer ilusões fracas, não sou moço nem velho. Realizo literalmente a expressão francesa: Un homme entre deux âges. Estou tão longe da infância como da decrepitude; não anseio pelo futuro, mas também não choro pelo passado. Nisto sou exceção dos outros homens que, de ordinário, diz um romancista, passam a primeira metade da vida a desejar a segunda, e a segunda a ter saudades da primeira.

Depois de declarar suas convicções monarquistas ("[...] gosto do imperador. Tem as duas qualidades essenciais ao chefe de uma nação: é esclarecido e honesto. Ama o seu país e acha que ele merece todos os sacrifícios.") e aversão ao Republicanismo ("[...] peço aos deuses [...] que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais iluminou.)", exprime o desejo de que o povo (a "opinião pública" a que se dirige) faça boas escolhas nas eleições legislativas do dia seguinte:

Eu creio que há em todo o império uma soma de políticos capaz de formar cinco ou seis câmaras. É que não há outra classe mais numerosa no Brasil. Divide-se essa classe em diversas secções: políticos por vocação, políticos por interesse, políticos por desfastio, políticos por não terem nada que fazer. Imagino daqui o imenso trabalho que há de ter V. Excia. [o autor se dirige à opinião pública] em escolher os bons e úteis dentre tantos. E esse é o meu desejo, essa é a necessidade do país. Mande-nos V. Excia. uma câmara inteligente, generosa, honesta, sinceramente dedicada aos interesses públicos, uma câmara que ponha de parte as subtilezas e os sofismas, e entre de frente nas magnas questões do dia, que são as grandes necessidades do futuro, de que depende a grandeza, ia quase dizer a existência do corpo social.

Segundo o deputado Marcelo Almeida, "Essa crônica foi escrita há mais de 140 anos e seu conteúdo permanece tão atual! A análise do caráter do homem público feita por Machado parece ter saído das páginas dos jornais da atualidade."[3]

"A crônica 'À opinião pública' é um chamamento aos seus leitores do século XIX e aos da atualidade a refletirem sobre quem é a opinião pública, o que é dito em nome dela, quem a apresenta e a constrói para a população.[4]

A segunda carta dirige-se às mulheres que convidam "os passantes para a mercancia do amor", ou seja, as prostitutas, rainhas "por graça do diabo e unânime aclamação da vaidade humana". Designa-as de Hetairas, termo grego para as prostitutas refinadas da Grécia Antiga. Com essa carta, despediu-se do Diário do Rio de Janeiro.

Referências

  1. Ubiratan Machado, Dicionário de Machado de Assis, Imprensa Oficial do Governo do Estado de São Paulo, 2a edição, 2021, verbete "Cartas fluminenses" e R. Magalhães Júnior, Vida e Obra de Machado de Assis, volume 2, Ascensão, p.4.
  2. R. Magalhães Júnior, Idem.
  3. "O realismo político de Machado de Assis", discurso do deputado federal Marcelo Almeida (PMDB-PR), presidente da Frente Parlamentar da Leitura, na sessão solene da Câmara dos Deputados em homenagem ao centenário da morte de Machado de Assis. Disponível na Internet.
  4. Iasmim Santos Ferreira e Alexandre de Melo Andrade. «À Opinião Pública: Uma Chamada Machadiana à Reflexão» (PDF). Consultado em 5 de maio de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]