Cinema do Paraná

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O cinema do Paraná retrata o quadro de produção e exibição cinematográficas no estado brasileiro do Paraná.[1][2] Na produção o estado viveu momentos importantes, como o Movimento Super-8.[1][2] O cinema é uma das manifestações artísticas no estado e faz parte da cultura do Paraná.[3]

Entende-se por cinema do Paraná (ou cinema paranaense) aquele realizado no estado, com, pelo menos, parte dos recursos de produção locais e com diretor paranaense ou radicado no Paraná.[2] Como audiovisual paranaense considera-se a produção nas mesmas condições, produzida em película ou em outro suporte de imagem em movimento.[2]

História[editar | editar código-fonte]

No final do século XIX, enquanto a Europa via cinema, o Paraná encerrava sua participação na Revolução Federalista.[2] Este momento político, mais a Proclamação da República no Brasil e a abolição da escravatura, situam o estado nas últimas duas décadas de 1800. Nesses anos, o Paraná passou por uma série de mudanças políticas e administrativas.[2]

A sociedade paranaense era formada basicamente por colonizadores portugueses e negros, mais imigrantes, como alemães, italianos e poloneses, estabelecidos a partir do início do século XX.[2] A erva-mate era tida como a maior riqueza econômica, responsável por 31% do orçamento do estado.[2] Em termos de lazer ligado a espetáculos de artes, observe-se que não havia um grupo local em atividade artística, mas havia o hábito de assistir a concertos, teatro e ópera em apresentações itinerantes.[2]

No Paraná as primeiras exibições rudimentares cinematográficas pré-Lumière aconteceram em Curitiba em 25 de agosto de 1897, no antigo Teatro Hauer.[1] As companhias começaram a dedicar-se somente à exibição do cinematógrafo a partir do ano de 1900. Já as primeiras filmagens realizadas no Paraná eram produzidas por cineastas estrangeiros, vindos com as companhias de variedades, que abordavam o cotidiano da sociedade, como paradas militares e comemorações cívicas, a natureza exuberante, como as Cataratas de Foz do Iguaçu e até a Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, na Serra do Mar.[1] O jornal A República apresentou em 1902 a primeira crítica sobre a produção cinematográfica de um o conteúdo produzido no Paraná.[1]

Teatro Hauer em 1913, berço das primeiras sessões de cinema no Paraná.

Annibal Requião foi o pioneiro do cinema paranaense, considerado o patrono do cinema no Paraná.[1] O cineasta registrou em 1907 o desfile comemorativo ao aniversário da República no dia 15 de novembro.[4] Dos 300 filmes que teria produzido, dois deles foram recuperados: Panorama de Curityba e Carnaval em Curitiba, ambos da década 1910.[1] Outro pioneiro foi João Groff, que teve como primeiro trabalho as imagens de uma viagem a Foz do Iguaçu, as Cataratas do Iguaçu e as Sete Quedas, em Guaíra. Era a primeira vez que um cinegrafista paranaense filmava as Cataratas do Iguaçu. Feito e exibido em 1926, o filme recebeu o nome de Iguassu e Guayra, com um tal sucesso que chegou a ser vendido aos americanos, que o utilizaram como parte de um filme chamado Maravilhas da Natureza.[5] Foi também responsável por Pátria Redimida, de 1930, que se tornou o principal filme do período mudo paranaense, se transformando em um clássico do cinema documentário brasileiro.[1][4] A obra possui imagens raras e históricas da passagem de Getúlio Vargas pelo Paraná.[1][4] Groff comprou o Cine América, do qual foi proprietário durante dez anos.[5] Outros pioneiros foram José Cleto, Arthur Rogge e Hikoma Udihara.[1][4][6]

Cinemateca de Curitiba.

A partir da década de 1930 o Paraná sofre forte influência da atuação do Departamento de Imprensa e Propaganda do Paraná (DIP), predominando produções para o Governo do Estado, como os cinejornais estatais e cenas de registros de eventos oficiais.[7] Já na década de 1940 Eugênio Felix, proprietário de uma produtora chamada a Companhia Cinematográfica Paranaense, implantou o primeiro laboratório com som no Paraná e, como muitos cinegrafistas da época, também trabalhou para o DIP, e foi um dos principais realizadores dos cinejornais locais.[7] Na década de 1950 o destaque foi Wladimir Kosak, com um importante registro de indígenas do Paraná.[7][4] Na década de 1960, o premiado Sylvio Back, que começou a carreira no Paraná.[7] O primeiro longa produzido no Paraná foi Senhor Bom Jesus da Cana Verde (1967), dirigido por Gabrielângelo Caramore e Juracy Garanhani, na cidade de Siqueira Campos. Posteriormente, foram lançados Maré Alta (1968), de Eugênio Contin, e Lance Maior (1968), dirigido por Sylvio Back.[4]

A partir da década de 1970 teve um aumento significativo de cineastas e de produções cinematográficas.[8] Em abril de 1975 foi realizado em Curitiba o I Festival Brasileiro do Filme Super-8.[8] Outro festival que permitiu o intercâmbio de informações e consolidação do movimento paranaense foi a Mostra Nacional de Filme em Super-8, da Escola Técnica Federal do Paraná, com apoio da Cinemateca de Curitiba.[8] Já em 1976 é fundada, em Londrina, a Associação Londrinense de Cineastas Amadores - ALCA.[8] Nos anos de 1980, é sentida a modernização do setor e o cinema documentário paranaense passa a não se ater apenas ao descritivo, mas também se voltando ao posicionamento político, à denúncia e ao questionamento.[8]

Sala com projeção à laser em Londrina: primeira do gênero no Brasil.
Moderna sala de cinema em Londrina.
Cinema em Foz do Iguaçu.

Na década de 1990 o Paraná começa a produzir filmes com a criação de leis de incentivo.[9] Além dos incentivos fiscais, a mão de obra também começou a se profissionalizar com a criação de cursos livres de cinema, como a Academia de Artes Cinematográficas - Artcine (1998), O Núcleo de Cinema da PUC (1993), o Curso Especialização de Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná (1996) e as oficinas de cinema do Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba (1996).[9] Também no interior do Estado, como em Londrina, Maringá, Umuarama e Cascavel.[9] Em 2005 foi criado o curso superior na área de Cinema e Audiovisual, na Faculdade de Artes do Paraná.[10][11]

Ainda em 2005, foi lançado o livro Dicionário de Cinema do Paraná. A obra, de Francisco Alves dos Santos, resgata a história do cinema paranaense, os primeiros festivais no estado, além de citar profissionais envolvidos na produção, diretores e atores.[4]

Em 2010 foi criada a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) na cidade de Foz do Iguaçu. Em 2012 a instituição passou a ofertar o bacharelado em Cinema e Audiovisual.[12][13] Em 2019 entrou em funcionamento o curso de Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo na Universidade Estadual do Paraná (Unespar).[14]

Em 2019 um levantamento mostrou que apenas 30 cidades paranaenses possuíam salas de cinemas, sendo 55 complexos cinematográficos e 200 salas de exibição.[15] A maioria dos cinemas estão concentrados em Curitiba, que tinha cerca de 81 salas. O setor tem crescido nos últimos anos no Paraná, já que em 2011, por exemplo, haviam 152 salas de cinema em 25 municípios.[15] Cidades do interior do estado recebem eventualmente um programa de cinema itinerante, através do projeto Cinema na Praça. A iniciativa tem como objetivo em proporcionar inclusão, diversão e cultura aos moradores de municípios pequenos, que não possuem cinemas na rua, nem em centros comerciais.[16][17]

Festivais e eventos[editar | editar código-fonte]

A paranaense atriz de cinema Sônia Braga sendo agraciada com o Prêmio Ibero-Americano de Cinema Fênix de melhor atriz em 2016.
Festival de Cinema da Lapa em 2016.

Alguns eventos ajudaram a difundir o cinema no estado e acabaram consolidando-se, como o Festival de Cinema da Bienal Internacional de Curitiba.[18] A Mostra Londrina de Cinema, evento criado em 1999, com exibição de diferentes filmes entre curtas e longas metragens,[19][20] sendo que na Competitiva Nacional de Curtas, os filmes concorrem ao Troféu Udihara.[21][22][23] O Festival de Cinema de Maringá, evento regional que acontece desde 2004, que entrega o Troféu Cunha de Aço.[24][25]

Em 2006 foi criado no estado o Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino, evento de nível nacional e maior evento audiovisual já realizado no estado, com a entrega do Prêmio Araucária de Ouro.[26][27][28] O Festival de Cinema da Lapa, realizado desde de 2007, com mostra competitiva, oficinas e homenagens com o Troféu Tropeiro,[29][30][31] com apoio do Instituto Histórico e Cultural da Lapa.[32] Na mesma época foi criado o Festival de Cinema de Cascavel, com o objetivo de estimular a produção cultural na região, com mostras de filmes, palestras, oficinas e exposições, com destaque para as produções locais.[33][34][35][36]

A partir de 2014, Cornélio Procópio, no norte do estado, passou a organizar o CineUrge - Festival de Cinema de Cornélio Procópio, evento regional de caráter educativo e informativo, que promove atividades como oficinas e debates, com apoio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Cornélio Procópio, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e da Universidade Estadual do Norte do Paraná.[37][38][39][40][41] Mais recentemente, Foz do Iguaçu passou a promover e a sediar o Festival Latino-Americano de Cinema, evento internacional que busca reunir oficinas, debates e atividades culturais na fronteira.[42][43][44]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j Governo do Estado do Paraná. «Cinema Paranaense - 1a. época. A primeira época (1897-1930)». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  2. a b c d e f g h i Celina Alvetti. «Cinema do Paraná – Elementos para uma história» (PDF). Universidade da Beira Interior. Consultado em 6 de março de 2020 
  3. «Cinema: Espaços Culturais». Fundação Cultural de Curitiba. Consultado em 6 de março de 2020 
  4. a b c d e f g Katia Michelle Pires (2 de abril de 2005). «Lançamento: Paraná ganha dicionário de cinema». Folha de Londrina. Consultado em 6 de março de 2020 
  5. a b Governo do Estado do Paraná. «João Baptista Groff». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  6. «Palestra: Pioneiros do cinema paranaense». Serviço Social do Comércio - Sesc Departamento Regional no Paraná. 2019. Consultado em 6 de março de 2020 
  7. a b c d Governo do Estado do Paraná. «Cinema Paranaense - 2a. época. A segunda época (1931-1968)». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  8. a b c d e Governo do Estado do Paraná. «Cinema Paranaense - 3a. época. A terceira época (1969-1991)». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  9. a b c Governo do Estado do Paraná. «Cinema Paranaense - 4a. época. A quarta época (1992-2002)». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  10. Universidade Estadual do Paraná. «A Instituição: Apresentação». Campus de Curitiba II. Consultado em 6 de março de 2020 
  11. Universidade Estadual do Paraná. «Bacharelado em Cinema e Audiovisual». Campus de Curitiba II. Consultado em 6 de março de 2020 
  12. «Cinema e Audiovisua». Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Consultado em 6 de março de 2020 
  13. «Cinema e Audiovisua». Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Consultado em 6 de março de 2020 
  14. «Sobre o Programa: Mestrado em Cinema e Artes do Vídeo». Universidade Estadual do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  15. a b «Em todo o Paraná, apenas 30 cidades possuem salas de cinema!». Coluna Italo. 23 de julho de 2019. Consultado em 6 de março de 2020 
  16. Governo do Estado do Paraná (9 de outubro de 2019). «30 pequenos municípios recebem o programa Cinema na Praça». Agência de Notícias do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  17. «Cidades do interior do Paraná recebem 'Cinema na Praça'; confira a programação». G1. 19 de outubro de 2019. Consultado em 6 de março de 2020 
  18. «FicBic reúne mais de 100 filmes e outras atrações sobre a sétima arte». Catraca Livre. 28 de outubro de 2014. Consultado em 6 de março de 2020. Arquivado do original em 1 de outubro de 2016 
  19. «6ª Mostra Londrina de Cinema começa nesta 5ª». Bonde. 23 de abril de 2004. Consultado em 6 de março de 2020 
  20. «14ª Mostra Londrina de Cinema». LondrinaTur. 21 de setembro de 2012. Consultado em 6 de março de 2020 
  21. Guilherme Whitaker (26 de outubro de 2006). «Premiados na 8ª Mostra Londrina de Cinema». Curta o curta. Consultado em 6 de março de 2020 
  22. «Mostra Londrina de Cinema terá projeções na Concha Acústica». Gazeta do Povo. 31 de outubro de 2007. Consultado em 6 de março de 2020 
  23. «14ª Mostra Londrina de Cinema recebe inscrições». Agência Nacional do Cinema. 10 de maio de 2012. Consultado em 6 de março de 2020 
  24. «Oitavo Festival de Maringá recebe inscrições até 7 de maio». Agência Nacional do Cinema. 4 de abril de 2011. Consultado em 6 de março de 2020 
  25. «No aniversário de Curitiba, É-Paraná exibe filme baseado na obra de Dalton Trevisan». Rádio e Televisão Educativa do Paraná. 28 de março de 2017. Consultado em 6 de março de 2020 
  26. «Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino». Secretaria da Educação do Paraná. 10 de outubro de 2007. Consultado em 6 de março de 2020 
  27. «Festival de Cinema do Paraná chega ao fim». Secretaria da Educação do Paraná. 13 de outubro de 2008. Consultado em 6 de março de 2020 
  28. «Festival do Paraná começa no dia 5 de outubro». Agência Nacional do Cinema. 14 de setembro de 2009. Consultado em 6 de março de 2020 
  29. Leonardo Coleto (13 de junho de 2010). «Paulo Betti recebe o Troféu Tropeiro». Tribuna do Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  30. «Troféu Tropeiro». Diário Indústria & Comércio. 11 de novembro de 2013. Consultado em 6 de março de 2020 
  31. «VII Festival de Cinema da Lapa começa nesta terça-feira». Gazeta do Povo. 2014. Consultado em 6 de março de 2020 
  32. «Calendário de Eventos - Eventos fixos». Prefeitura Municipal da Lapa. Consultado em 6 de março de 2020. Arquivado do original em 1 de outubro de 2016 
  33. «Festival de Cinema de Cascavel conta com mostras, oficinas e exposições». G1 Paraná. 18 de outubro de 2016. Consultado em 6 de março de 2020 
  34. «Festival de Cinema terá competição de melhor filme». O Paraná. Consultado em 6 de março de 2020 
  35. «10º Festival de Cinema coloca Cascavel de volta ao circuito da Sétima Arte». Folha de Londrina. 9 de março de 2018. Consultado em 6 de março de 2020 
  36. «O 10º Festival de Cinema segue até sábado em Cascavel». Catve. 3 de abril de 2018. Consultado em 6 de março de 2020 
  37. «Cornélio Procópio tem 1º festival de cinema». Folha de Londrina. 1 de outubro de 2014. Consultado em 6 de março de 2020 
  38. Paulo Bogler (11 de novembro de 2014). «Cornélio Procópio realiza 1º Festival de Cinema». Superitendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Consultado em 6 de março de 2020 
  39. «CineUrge começa hoje». Folha de Londrina. 22 de setembro de 2015. Consultado em 6 de março de 2020 
  40. «Festival de Cinema de Cornélio Procópio vai exibir 30 curtas-metragens». Cine Festivais. 23 de setembro de 2015. Consultado em 6 de março de 2020 
  41. «Cornélio Procópio ganha sala de cinema». Folha de Londrina. 9 de novembro de 2016. Consultado em 6 de março de 2020 
  42. «Foz será sede de Festival Latino-Americano de Cinema». H2Foz. 2 de junho de 2017. Consultado em 6 de março de 2020 
  43. «Foz do Iguaçu recebe Festival Latino-Americano de Cinema em outubro». Click Foz. 4 de julho de 2018. Consultado em 6 de março de 2020 
  44. Paulo Bogler (22 de novembro de 2019). «Festival exibe 50 filmes de graça em Foz, Ciudad del Este e Puerto Iguazú». H2Foz. Consultado em 6 de março de 2020 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Back, Sylvio (1968). Cinema Paranaense?. 1. Curitiba 
  • Alvetti, Celina (1988). «O cinema brasileiro na crônica paranaense dos anos trinta.». Dissertação de Mestrado. 1. São Paulo: Escola de Comunicações e Artes da USP 
  • Garschagen, Donaldson M. (1998). «Paraná». Nova Enciclopédia Barsa. 11. São Paulo: Encyclopædia Britannica do Brasil Publicações Ltda 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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