Dora Cavalcanti

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Dora Cavalcanti
Nome completo Dora Cavalcanti Cordani
Nacionalidade brasileira
Alma mater Universidade de São Paulo
Ocupação Advogada criminal

Dora Cavalcanti Cordani é um advogada criminalista brasileira, conselheira nata do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) e uma das fundadoras do Innocence Project Brasil.

Formação e carreira[editar | editar código-fonte]

Formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) em 1994, Dora Cavalcanti tem mais de 25 anos de experiência na área criminal. Em 2008, participou do Yale Summer Session, Crime & Punishment, sob coordenação do Professor C. Hacker Cordon, Universidade Yale.[1] Já em 2013, passou um ano como advogada visitante no Innocence Project, de San Diego, na Califórnia (EUA).[2]

Foi Diretora Presidente do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) de 2002 a 2007, e presidente do Conselho Deliberativo entre 2015 e 2019. Atualmente é a única conselheira nata do instituto. Dora também foi Conselheira do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD) de 2005 a 2007, e do Conselho Consultivo da Ouvidoria da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, nas gestões 2007-2008 e 2009-2010.[3]

Dora Cavalcanti é sócia do escritório Cavalcanti, Sion e Salles Advogados[1] desde 2018. Antes, foi sócia do Cavalcanti & Arruda Botelho entre 2009 e 2018, onde ganhou notoriedade ao defender a Odebrecht, maior construtora da América Latina, envolvida no esquema de corrupção da Petrobras, investigada pela Operação Lava Jato.[4] Dora Cavalcanti também foi sócia do Ráo, Cavalcanti & Pacheco Advogados, de 2003 a 2009, e de Márcio Thomaz Bastos por seis anos.[5]

Innocence Project Brasil[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: ONG Innocence Project Brasil

A versão brasileira do Innocence Project foi fundada por Dora Cavalcanti, em parceria com os advogados Rafael Tuchermann e Flávia Rahal, em 2016, e tem como objetivo libertar pessoas condenadas injustamente e reformar o sistema de justiça criminal brasileiro.[6] Integra o Innocence Network, rede que conta com 57 organizações espalhadas pelos Estados Unidos e outras 14 ao redor do mundo. Desde 1992, já conseguiu reverter a condenação de 350 inocentes. Em 2019, foi vencedor do Prêmio Innovare, na categoria advocacia.[7]

Premiações[editar | editar código-fonte]

Dora Cavalcanti foi reconhecida como destaque na área de Direito Penal Empresarial pelo Who’s Who Legal 2020 (WWL). A publicação britânica avalia profissionais de todos os continentes, nas mais diversas áreas do Direito, por meio de uma pesquisa feita junto ao mercado de trabalho e representantes do setor. O nome da criminalista foi listado em dois rankings do WWL 2020: o Global Leader, na categoria Business Crime Defense, e o National Leader, na categoria Brazil - Business Crime Defence and Investigations.[8]

Também em 2020, foi homenageada com a Medalha Myrthes Campos pela seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Instituída em 25 de fevereiro de 2016, a medalha Myrthes Campos é concedida pela OAB/DF a advogadas e autoridades com atuação efetiva no cenário jurídico do Distrito Federal, com destaque para a defesa dos direitos, dos interesses e da valorização das mulheres e de suas prerrogativas.[7]

Além disso, a advogada foi reconhecida pelo Guia Chambers Latin America 2021, divulgado pela Chambers and Partners, na categoria Dispute Resolution: White-Collar Crime – Brazil.[9]

Caso Odebrecht[editar | editar código-fonte]

Em 2015, Dora trabalhou na defesa da Construtora Norberto Odebrecht contra a denúncia do Ministério Público Federal (MPF).[10][11] Em agosto do mesmo ano, porém, executivos da empresa trocaram de advogado[12] e assumiram em delação premiada pagamento de propina a cerca de 200 políticos, entre eles, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha,[13][14] e o ex-presidente Lula.[15][16] A Odebrecht se comprometeu a pagar multa de 2,5 bilhões de dólares (equivalente a 6,8 bilhões de reais).[17][18]

Durante seu trabalho à frente da defesa de executivos da Odebrecht, Dora Cavalcanti foi crítica dos métodos usados pelo Ministério Público Federal e pela Justiça Federal do Paraná na condução das investigações e ações penais da Operação Lava Jato. Denunciou conduções coercitivas e prisões preventivas e a falta de elementos concretos que embasassem as acusações. Também apontou exageros e falta de isenção do juiz Sergio Moro, responsável pela operação,[19][20] tendo pedido a abertura de inquérito na Polícia Federal para apurar vazamento de informações sigilosas.[21] À época, recebeu apoio da Ordem dos Advogados do Brasil,[22] do Instituto de Defesa do Direito de Defesa[23] e do Ministério da Justiça, que determinou que a Polícia Federa investigasse o juiz por proibir que a advogada acompanhasse o depoimento de um cliente preso.[21]

Mais tarde, trocas de mensagens entre o juiz e membros do MPF reveladas pelo site The Intercept Brasil comprovaram denúncias da advogada.[24] Os diálogos vazados mostraram a seletividade dos procuradores e do juiz em relação a alguns acusados,[25] manobras para convencer a opinião pública usando a exposição de investigados,[26] táticas para amedrontar réus ameaçando seus familiares,[27] parcialidade do juiz ao dirigir ações da Polícia Federal[28] e do Ministério Público Federal,[29] ataques públicos para desacreditar advogados dos investigados,[30] acesso ilegal a dados sigilosos[31] e reconhecimento das autoridades quanto às ilegalidades em prática na acusação[32] e à falta de provas para incriminar, o que tornaria as prisões atos políticos.[33]

Além disso, o Tribunal Penal da Suíça também considerou ilegal o uso, pela Lava Jato, de extratos bancários de contas da Odebrecht na Suíça, enviados ilegalmente aos procuradores, determinando à Justiça que retirasse esses elementos dos autos da investigação.[34][35] Essas provas foram utilizadas pela força-tarefa para sustentar as apurações de crimes atribuídos à empreiteira e seus funcionários.

Referências

  1. a b «Equipe». Cavalcanti, Sion e Salles Advogados. 2021. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  2. «Erro judiciário não é questão apenas de estatística, mas também de neurociência». Consultor Jurídico. 2020. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  3. «DORA CAVALCANTI CORDANI». Cavalcanti e Arruda Botelho Advogados. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  4. «"Lava jato" movimenta principais escritórios de advocacia de São Paulo». Consultor Jurídico. 9 de março de 2015. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  5. «QUEM SOMOS». Cavalcanti e Arruda Botelho Advogados 
  6. «Institucional». Innocence Project Brasil. 2021. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  7. a b «OAB/DF vai homenagear 12 personalidades com a medalha Myrthes Campos». OAB/DF. 2020. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  8. «Dora Cavalcanti Cordani». WWL. 2020. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  9. «Cavalcanti, Sion e Salles Advogados». Chambers and Partners. 2021. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  10. «Advogados da Odebrecht criticam denúncia "midiática e escandalosa" do MPF». Jota. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  11. «Odebrecht diz 'não ter motivos' para esclarecer anotações em celular». Estadão. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  12. «Presidente da Odebrecht terá novo advogado de defesa». Folha de S.Paulo. Uol. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  13. «Delator da Odebrecht cita R$ 7 milhões para Cunha». R7. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  14. «Delator da Odebrecht cita R$ 7 milhões para Eduardo Cunha». Uol. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  15. «Marcelo Odebrecht confirma dinheiro vivo a Lula». IstoÉ. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  16. Eduardo Gonçalves (15 de dezembro de 2016). «Em delação premiada, Marcelo Odebrecht confirma pagamentos a Lula». VEJA. Abril. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  17. «Com acordo de delação, Marcelo Odebrecht deve deixar presídio em 1 ano». G1. Globo.com. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  18. Jailton de Carvalho. «Emílio e Marcelo Odebrecht assinam acordo de delação na Lava-Jato». O Globo. Globo.com. Consultado em 18 de janeiro de 2017 
  19. «Lava Jato: Dora Cavalcanti deixa de acompanhar Marcelo Odebrecht em depoimento». CEPJUR. 2015. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  20. Oliveira, Germano (2015). «Advogada da Odebrecht estuda denunciar juiz da Lava-Jato por 'violação aos direitos humanos'». O Globo. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  21. a b «Nota à imprensa». Ministério da Justiça e Segurança Pública. 2015. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  22. «Marcos da Costa defende o direito de defesa em ato público». OAB/SP. 2015. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  23. «Nota Pública em repúdio às retaliações que a advogada Dora Cavalcanti vem sofrendo». Instituto de Defesa do Direito de Defesa – IDDD. 2015. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  24. «As mensagens secretas da Lava Jato». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  25. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 7». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  26. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 18». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  27. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 20». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  28. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 22». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  29. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 4». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  30. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 6». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  31. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 16». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  32. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 8». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  33. «As mensagens secretas da Lava Jato - Parte 3». The Intercept Brasil. 2019. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  34. «Decisão da Suíça faz Moro suspender reta final de ação». O Estado de São Paulo. 2015. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021 
  35. «Suíça decidiu que envio de documento do caso Odebrecht 'foi ilegal', diz advogada». O Povo Online. 2016. Consultado em 21 de maio de 2021. Cópia arquivada em 21 de maio de 2021