Forte de Queixome

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Forte de Queixome
Apresentação
Tipo
Estilos
arquitectura colonial portuguesa (en)
arquitetura safávida (d)
Material
pedra, madeira, saruj (en) e gessoVisualizar e editar dados no Wikidata
Abertura
Proprietário
Estatuto patrimonial
Localização
Localização
Condado de Qeshm (en)
 Irão
Localizado
Banhado por
Coordenadas
Mapa
Forte de Queixome, Irão: aspecto das ruínas
Mapa do Estreito de Ormuz vendo-se a posição estratégica da ilha de Queixome fronteira à de Ormuz

O Forte de Queixome localiza-se ao Norte da ilha de Queixome (Qeshm), no Estreito de Ormuz, atual Irão.[1]

Esta fortificação foi erguida para dar suporte às operações comerciais portuguesas na área, particularmente ao vizinho Forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz, os seus vestígios constituindo-se em um importante testemunho da ocupação portuguesa na região do golfo Pérsico entre os séculos XVI e XVII.

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em 1301, o soberano de Ormuz, Baa Adim Aiaz, transferiu a sua corte e uma grande parte da população para a ilha de Queixome, após um ataque dos Tártaros. Deste período em diante, a ilha tornou-se uma importante dependência do Reino de Ormuz, até mesmo fornecendo água potável para o reino. Quando o rei de Ormuz, Cotabedine Tantã III Firuz Xá abdicou em favor de seu filho, Ceifadim (1417-1436), em 1417, retirou-se para a ilha de Queixome.

A posição da ilha como o maior centro mercantil do reino é demonstrada pelo fato de que, no fim de Setembro de 1552, o almirante turco Piri Reis atacou-a, capturando "uma grande quantidade de bens, de ouro e prata e em moedas (...) o mais rico prêmio que poderia ser encontrado em todo o mundo", de acordo com uma fonte coeva.

O forte na ilha de Queixome[editar | editar código-fonte]

Em Janeiro de 1619, Rui Freire de Andrada, "General do Mar de Ormuz e costa da Pérsia e Arábia", partiu de Lisboa para o Golfo Pérsico, com instruções para dispersar os Ingleses, que haviam fundado uma feitoria em Jâsk desde 1616, pressionando os Persas, em parte desalojando-os da guarnição em Queixome e ali erguendo uma fortificação portuguesa. a armada fundeou em Ormuz a 20 de junho de 1620.

A principal fragilidade de Ormuz era a falta de água potável, o que obrigava a que não apenas esta fosse trazida dos vizinhos bandel do Comorão e da ilha de Queixome, mas também a lenha e os demais suprimentos necessários ao consumo da população e da guarnição. A sul de Ormuz, na ilha de Lareca, havia água, mas além de relativamente distante, durante boa parte do ano o regime dos ventos impedia a viagem de ida e volta. À época, os persas haviam conquistado o bandel do Comorão (1614) e tinham começado a instalar-se na ilha de Queixome (1618), o que deixava Ormuz à sua mercê. Por essa razão, a Coroa Portuguesa deu ordens a Rui Freire para a construção de uma fortaleza em Queixome, abrangendo alguns dos poços de água, o que garantiria a segurança de Ormuz. Assim que chegou a Ormuz, Rui Freire preparou-se para cumprir as suas ordens, no que foi contrariado pelo capitão de Ormuz, que tinha receio de que isso pudesse servir de pretexto ao Xá para iniciar a guerra contra os portugueses, dado que eles continuavam a fornecer água a Ormuz.

Um efetivo de duzentos soldados portugueses, à frente de uma tropa de mil soldados do reino de Ormuz, desembarcou na ilha em 7 de maio de 1621, varrendo os Persas. No dia seguinte iniciaram um forte na sua extremidade oriental, concluído no curto espaço de cinco meses e meio, com a função de controlar os poços de água potável que abasteciam o vizinho forte na ilha de Ormuz. A construção deste forte foi interpretada pelo Xá Abas I da Pérsia (Dinastia Safávida) como um ato de franca hostilidade. No início do Inverno de 1621-1622, desse modo, o Imã Goli Cã de Shiraz, manteve um bloqueio terrestre de nove meses a esta guarnição portuguesa, sob o comando de Rui Freire, visando, efetivamente, cortar o suprimento de água potável e de suprimentos à ilha de Ormuz, o seu verdadeiro objetivo. A providencial chegada a Jâsk, a 24 de dezembro de 1621, de uma frota da Companhia das Índias Orientais Inglesa, em busca de seda, forneceu ao comandante Persa recursos para o bloqueio naval aos portugueses, em troca, entre outros pontos, do direito ao Forte de Ormuz. Desse modo, a 2 de fevereiro de 1622, cinco peças de artilharia inglesas foram desembarcadas. Após infrutíferas negociações entre Rui Freire e Edward Monnox, os ingleses passaram a bombardear o forte português, forçando-o à rendição (11 de fevereiro). Rui Freire foi aprisionado e enviado pelo "Lion" para Surate e uma guarnição persa estabeleceu-se na ilha. O navegador do Ártico, William Baffin, foi morto nesta operação.

Consequências[editar | editar código-fonte]

Voltando as suas atenções para Ormuz, a 20 de fevereiro uma flotilha persa com mais de 3000 homens e o apoio de seis embarcações Inglesas, colocaram cerco ao Forte de Ormuz. Os Persas ofereceram ao comandante português da praça a ilha de Queixome em troca de 500 000 patacas e o porto de Julfar, na costa da Arábia, recém-conquistado aos portugueses por uma força combinada de árabes e persas. A oferta, entretanto, foi recusada e, em poucos meses, a própria Ormuz era perdida para os Persas e seus aliados Ingleses (3 de maio). A guarnição e a população portuguesa na ilha, cerca de 2 000 pessoas, foi enviada para Mascate.

A posição Persa na ilha de Queixome era débil e, por essa razão, durante o Inverno de 1629-1630, a ilha foi atacada e conquistada por uma grande frota portuguesa. O comércio português voltou a florescer, de tal maneira que os Persas concordaram em pagar tributo aos portugueses pelo uso da ilha de Queixome. A morte do Xá Abaz I, entretanto, seguida pela execução do Imã Goli Cã, colocou um fim a estes pagamentos. Enquanto isso, os Neerolandeses estavam vivenciando dificuldades na negociação de um tratado com os Persas e, em 1645, atacaram a guarnição Persa em Queixome. Embora incapazes de conquistar o forte os holandeses conseguiram pressionar o Xá, aumentando a sua vantagem para negociar. Os portugueses, a seu turno, insistiram em reclamar junto aos Persas o tributo pela utilização da ilha de Queixome até 1673. À época, entre o final da década de 1670 e o início da de 1680, o comércio neerlandês na região tornou-se deficitário sob as condições então existentes. Por essa razão, uma frota sob o comando de Casembroot, capturou a ilha em 1683.

Do século XX aos nossos dias[editar | editar código-fonte]

Entre 1999 e a Primavera de 2000, uma campanha conduzida pelo arqueólogo Ehsan Yaghmayi, trouxe à luz três das quatro muralhas da fortificação histórica portuguesa, tanto interna quanto externamente.

Em 27 de novembro de 2005 um terremoto atingiu a ilha, destruindo o troço Leste da muralha da antiga fortificação portuguesa, antes que escavações pudessem ter colocado a descoberto este último setor do sítio.

As escavações permitiram identificar pratos de porcelana chinesa, vidros de Veneza e canhões.

Características[editar | editar código-fonte]

Uma representação do forte, datada do século XVII, mostra uma fortificação de planta quadrada, com baluartes nos vértices, envolvida por um fosso. Ao centro, no terrapleno, erguiam-se as edificações de serviço.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BOXER, C. R.. Commentaries of Ruy Freyre de Andrada. Routledge, 2004. ISBN 0415344697
  • LEITE, José Gervásio. Rui Freire de Andrada (edição comemorativa do duplo centenário da fundação e restauração de Portugal). Lisboa: Agência Geral das Colônias, 1940. 59p. mapas.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Forte de Queixome». no sítio do Património de Influência Portuguesa, da Fundação Calouste Gulbenkian 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]