Guerra Luso-Leonesa (1167-1169)

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Guerra Luso-Leonesa 1167-1169
Data 1167-1169
Local Galiza, Leão
Desfecho Vitória Leonesa
  • Perda de territórios conquistados na Galiza
  • Perda de territórios a leste do Guadiana
Beligerantes
Reino de Portugal
Coroa de Leão

Apoiado por:

Almóadas.
Comandantes
Afonso Henriques Fernando II de Leão

A Guerra Luso-Leonesa de 1167 a 1169 foi um conflito militar travado entre Portugal, reinando a esta data D. Afonso Henriques, e o Reino de Leão, cujo rei era D. Fernando II.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Com a morte do rei D. Sancho III de Castela em Agosto de 1158, sucedeu-lhe no trono Afonso VIII, então ainda uma criança de quatro anos, circunstância que deixava o reino vulnerável às ambições do rei D. Fernando II de Leão. Em Dezembro de 1160, D. Fernando II reuniu-se com D. Afonso Henriques em Cela Nova e deste encontro parece ter resultado um pacto ou aliança entre os dois monarcas, mediante o casamento do rei de Leão com a filha de D. Afonso, o que garantia ao rei leonês a segurança na sua fronteira ocidental enquanto se ocupava das questões castelhanas, a oriente.

Não durou o pacto muito tempo devido à fundação em 1160 de Cidade Rodrigo, na fronteira portuguesa, por D. Fernando II.[1] Os povoadores revelaram-se má vizinhança e pouco escrupulosos não só para com as cidades leonesas vizinhas como para os portugueses, cujas fronteiras foram desrespeitadas, povoações foram assaltadas e terras usurpadas.[1] As cidades de Salamanca e Ávila protestaram a D. Fernando II e revoltaram-se inclusivamente, mas a rebelião foi suprimida pelo rei em 1162.[1]

As transgressões em território português devem ter sido graves pois cinco anos mais tarde declarou guerra ao seu novo genro, pondo assim fim à paz que já durava desde o Tratado de Zamora, assinado em 1143.[1]

Decorrer das hostilidades[editar | editar código-fonte]

Fernando II de Leão.

De Portugal foi lançado um ataque contra Cidade Rodrigo, expedição oficialmente encabeçada pelo infante D. Sancho, que contava 13 anos por então, idade normal à época para o começo da aprendizagem militar.[1] Os portugueses foram porém confrontados pelos leoneses em Arganal e desbaratados.[1] Escapou D. Sancho mas foram cativados em combate muitos portugueses.[1] D. Fernando II libertou os prisioneiros mas, no entanto, não logrou pacificar D. Afonso Henriques.[2]

Aproximou-se então da fronteira galega o rei português.[2] Vários nobres galegos foram corrompidos e depois a cidade de Tui foi tomada, registando-se na ocasião a vandalização da catedral.[2] Neste edifício havia-se a guarnição da cidade recolhido para resistir aos portugueses. De Tui passou aos territórios de Toronho e Límia, que foram ocupados.[2] Ao castelo de Sandino, propriedade dos monges de Cela Nova, foi imposto cerco, porém tão violenta tempestade se abateu sobre as hostes portuguesas que tiveram de ser canceladas as operações militares.[2] Os monges de Cela Nova atribuíram este acontecimento à intervenção de São Rosendo, seu santo patrono.[2]

Um castelo foi erigido com rapidez em Cedofeita, perto de Cela Nova.[2] Entretanto, mais a sul, na Primavera de 1169 Geraldo Geraldes, célebre chefe que conquistava castelos muçulmanos na fronteira, sitiou a cidade de Badajoz e conquistou a medina mas revelava-se incapaz de tomar a elevada alcáçova, onde se havia refugiado a guarnição, pelo que pediu auxílio a D. Afonso, provavelmente quando este ainda se encontrava na Galiza.[2]

Depois de instalar guarnições nas novas conquistas, retirou-se D. Afonso Henriques para sul.[2] O castelo de Cedofeita foi rapidamente atacado por D. Fernando II e, quando um raio atingiu a torre principal, a guarnição rendeu-se.[2]

O cerco de Badajoz, 1169[editar | editar código-fonte]

A cidade de Badajoz era uma das mais importantes fortalezas almóadas no Andaluz. Devido a constantes ataques, razias, e conflitos civis, os arredores de Badajoz encontravam-se, por então, despovoados.[3]

A cidade de Badajoz.

Os habitantes de Badajoz pagavam páreas ou tributo ao rei de Leão em troca de protecção e ficara estipulado entre D. Afonso Henrique e D. Fernando II que a conquista da cidade seria deixada para Leão.[2] Condições, naturalmente, ultrapassadas aquando do reatar de hostilidades.

Enquanto D. Fernando combatia na Galiza para recuperar os castelos e territórios ocupados pelos portugueses, chegou a Badajoz D. Afonso Henriques à cabeça das suas hostes e instalaram-se os portugueses na medina.[2] Os defensores muçulmanos de Badajoz encurralados na alcáçova foram, no entanto, socorridos não pelo califa almóada, mas pelo rei de Leão, a quem haviam pedido ajuda. Começou este a sitiar os sitiantes portugueses e, quando tentou D. Afonso Henrique passar pela porta da cidade com os seus homens, a cavalo, partiu a perna ao bater contra um dos ferrolhos, sendo depois capturado pelos leoneses, em Caia.[2]

A captura do rei português revelou-se decisiva e foi dado termo às hostilidades.

Consequências[editar | editar código-fonte]

O rei de Leão tratou o seu homólogo português com cortesia mas, ainda assim, teve D. Afonso Henriques de pagar um avultado resgate e de prescindir de territórios na Galiza e na margem esquerda do Rio Guadiana em troca da liberdade.[2] Geraldo Sem-Pavor, por sua vez, regressou a Juromenha ao passo que o alcaide muçulmano de Badajoz tomou novamente plena posse da sua cidade.[2]

Embora tenha passado algum tempo nas Termas de São Pedro do Sul a recuperar, nunca mais pôde Afonso Henriques montar a cavalo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d e f g H. V. Livermore: A History Of Portugal, Cambridge University Press, 1947, pp. 84-85.
  2. a b c d e f g h i j k l m n o Livermore, 1947, p. 85.
  3. Edward McMurdo: The History of Portugal: From the Commencement of the Monarchy to the Reign of Alfonso III, S. Low, Marston, Searle, & Rivington, 1888, p. 224.