Humanismo integral (Índia)

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O humanismo integral (em hindi: एकात्म मानववाद) é o conjunto de conceitos, elaborados pelo político indiano Pandit Deendayal Upadhyaya, e que foi adotado, em 1965, como base da doutrina oficial do partido Jan Sangh (BJS), e, mais tarde, como "princípio fundacional" do Partido do Povo Indiano (Bharatiya Janata Party, BJP).[1][2] Upadhyaya se baseou nos princípios de Gandhi, apropriando-se deles seletivamente para dar mais importância aos valores culturais-nacionais. Esses valores eram baseados na indiscutível subserviência de um indivíduo à nação como uma entidade corporativa. O Professor PhD Richard Fox caracterizou isso como "sequestro ideológico" e um "transplante" que foi projetado com o objetivo de se apropriar da autoridade que as expressões idiomáticas gandhianas tinham na política indiana.[3]

Upadhyaya considerou que era de extrema importância para a Índia desenvolver um modelo econômico nativo centrado no ser humano. Essa abordagem tornou esse conceito diferente do socialismo e do capitalismo. O humanismo integral foi adotado como doutrina política do Jan Sangh e sua nova abertura para outras forças de oposição tornou possível que o movimento nacionalista hindu tivesse uma aliança no início dos anos 1970 com o proeminente movimento Gandhian Sarvodaya acontecendo sob a liderança do ativista, teórico e político socialista J.P. Narayan. Este foi considerado como o primeiro grande avanço público do nacionalismo hindu.[2]

Filosofia[editar | editar código-fonte]

De acordo com Upadhyaya, a principal preocupação na Índia deveria ser a elaboração de um modelo de desenvolvimento nativo que tenha os seres humanos como foco.[2]

Ele se opõe tanto ao individualismo capitalista ocidental quanto ao socialismo marxista, embora seja receptivo à ciência ocidental.[4] Ele busca um meio-termo entre o capitalismo e o socialismo, avaliando ambos os sistemas em seus respectivos méritos, ao mesmo tempo em que critica seus excessos e estranheza.[5]

Quatro objetivos da humanidade[editar | editar código-fonte]

A humanidade, de acordo com Upadhyaya, tinha quatro atributos hierarquicamente organizados de corpo, mente, intelecto e alma que correspondiam aos quatro objetivos universais de darma (deveres morais), artha (riqueza), kama (desejo ou satisfação) e moksha (liberação total ou "salvação"). Embora nenhum possa ser ignorado, o darma é o "básico" e o moksha o objetivo "último" da humanidade e da sociedade. Ele afirmou que o problema com as ideologias capitalista e socialista é que elas consideram apenas as necessidades do corpo e da mente e, portanto, são baseadas nos objetivos materialistas do desejo e da riqueza.[6]

Rejeição do individualismo[editar | editar código-fonte]

Upadhyaya rejeitou sistemas sociais nos quais o individualismo "reinava supremo". Ele também rejeitou o comunismo em que o individualismo foi "esmagado" como parte de uma "grande máquina sem coração". A sociedade, de acordo com Upadhyaya, em vez de surgir de um contrato social entre indivíduos, nasceu plenamente em seu início como um organismo vivo natural com uma "alma nacional" ou "ethos" definitivo e suas necessidades do organismo social eram paralelas às do individual.[6]

Origens[editar | editar código-fonte]

Advaita Vedânta[editar | editar código-fonte]

Upadhyaya era da opinião de que o humanismo integral seguia a tradição de advaita desenvolvida por Adi Xancara. O não-dualismo representava o princípio unificador de cada objeto no universo e do qual a humanidade fazia parte. Isso, afirmou Upadhyaya, era a essência e a contribuição da cultura indiana.[6]

Mahatma Gandhi[editar | editar código-fonte]

O humanismo integral é quase uma paráfrase exata da visão de Mahatma Gandhi de uma Índia futura. Ambos buscam um caminho distinto para a Índia, ambos rejeitam o materialismo do capitalismo e do socialismo, ambos rejeitam o individualismo da sociedade moderna em favor de uma comunidade holística baseada no sistema varna-dharma, ambos insistem em uma infusão de valores religiosos e morais na política, e ambos buscam um modo culturalmente autêntico de modernização que preserve os valores hindus.[7]

O humanismo integral contém visões organizadas em torno de dois temas: moralidade na política e autossuficiência, e industrialização em pequena escala, todos gandhianos em sua temática geral, mas distintamente nacionalistas. Essas noções giram em torno dos temas básicos de harmonia, primazia dos valores culturais-nacionais e disciplina.[2][8]

Contraste com as políticas econômicas nehruvianas[editar | editar código-fonte]

Deendayal Upadhyaya rejeita as políticas econômicas e a industrialização de Jawaharlal Nehru, alegando que foram emprestadas acriticamente do Ocidente, em desrespeito à herança cultural e espiritual da Índia. É necessário, segundo Upadhyaya, encontrar um equilíbrio entre o pensamento indiano e o ocidental, tendo em vista a natureza dinâmica da sociedade e sua cultura. Considera que o modelo nehruviano de desenvolvimento econômico, ao enfatizar o aumento da riqueza material por meio da rápida industrialização, promoveu o consumismo na sociedade indiana, sendo uma ideologia que não apenas criou disparidades sociais e desequilíbrios regionais no crescimento econômico, mas também não conseguiu aliviar a pobreza no país. Segundo Upadhyaya, o humanismo integral, tal como o gandhismo, opõe-se ao consumismo, já que tal ideologia é estranha à cultura indiana - uma cultura tradicional que enfatiza a restrição dos desejos e defende o contentamento espiritual em vez da busca implacável da riqueza material.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Bharatiya Janata Party. Our Philosophy
  2. a b c d Hansen, Thomas (1999). The Saffron Wave: Democracy and Hindu nationalism in modern India (em inglês). [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 9780691006710. Cópia arquivada em 4 de setembro de 2009 
  3. Rao, Nitya (11 de abril de 2007). Adeney, Katharine; Saez, Lawrence, eds. Social justice and gender rights (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 978-1134239788 
  4. Gosling, David (2001). Religion and ecology in India and southeast Asia (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 0-415-24030-1 
  5. Téatreault, Mary (2004). Gods, guns, and globalization: religious radicalism and international political economy (em inglês). [S.l.]: Lynne Rienner Publishers. ISBN 1-58826-253-7 
  6. a b c Bhatt, Chetan (2001). Hindu nationalism origins, ideologies, and modern myths (em inglês). [S.l.: s.n.] ISBN 1-85973-343-3 
  7. Nanda, Meera (2003). Prophets facing backward: postmodern critiques of science and Hindu nationalism in India (em inglês). [S.l.]: Rutgers University Press. p. 217. ISBN 0-8135-3357-0 
  8. Marty, Martin (2003). Fundamentalisms and the state : remaking polities, economies, and militance (em inglês). [S.l.]: University of Chicago Press. ISBN 978-0-226-50884-9 
  9. Malik, Yogendra (1994). Hindu nationalists in India: the rise of the Bharatiya Janata Party (em inglês). [S.l.]: Westview Press. ISBN 0-8133-8810-4 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

  • Two Extracts from Integral Humanism por Jaffrelot, Christophe (2007). Hindu nationalism a reader (em tcheco). [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 978-0-691-13097-2