Linda Brasil

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Linda Brasil
Linda Brasil
Linda Brasil
Deputada Estadual de Sergipe
Período 1° de fevereiro de 2023
até a atualidade
Legislatura 20ª (2023–2027)
Vereadora de Aracaju
Período 1 de janeiro de 2021
até 31 de janeiro de 2023
Legislatura 43ª (2021–2023)
Dados pessoais
Nome completo Linda Brasil Azevedo Santos
Nascimento 14 de abril de 1973 (51 anos)
Santa Rosa de Lima, Sergipe
Nacionalidade brasileira
Alma mater Universidade Federal de Sergipe
Partido PSOL (2015-presente)
Religião cristã[1]
Profissão educadora, ativista e política

Linda Brasil Azevedo Santos (Santa Rosa de Lima, 14 de abril de 1973) é uma educadora, política e ativista transfeminista pelos direitos humanos e da comunidade LGBTQIA+ de Sergipe, fundadora da associação Amosertrans e da casa de acolhimento CasAmor Neide Silva. Nas eleições de 2020, filiada ao PSOL, foi eleita a primeira mulher trans para um cargo público parlamentar em Aracaju. Em 2022 obteve êxito na disputa eleitoral por uma cadeira na Assembleia Legislativa de Sergipe, sendo eleita a primeira mulher trans da história sergipana a ocupar um cargo de deputada estadual.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude e formação acadêmica[editar | editar código-fonte]

Nascida em Santa Rosa de Lima, na região sergipana do Cotinguiba, filha de Maria Carmen Azevedo Santos e Apolinário José dos Santos,[2] Linda Brasil se mudou para Aracaju e logo iniciou trabalho em uma empresa de contabilidade. Por receio de como seria aceita a sua condição de gênero, sua transexualidade só foi externada aos 30 anos de idade quando saiu do emprego que tinha e iniciou um salão de beleza.[3]

Em 2013, Linda Brasil começou o curso de Letras Português-Francês na UFS e desde o princípio da graduação sofreu transfobia por conta de um professor que não respeitou o seu nome social e insistia em utilizar o seu nome de registro.[4][5] Isso fez com que ela entrasse com um processo administrativo para que seu nome social fosse respeitado. A ação culminou na Portaria nº 2209 da UFS que possibilita o uso do nome social no âmbito acadêmico e administrativo dentro da instituição.[6] Este fato fez com que ela tivesse maior visibilidade e se aproximasse do movimento estudantil e LGBTQI+ organizado. Ela foi uma das responsáveis pelo Coletivo Queer Transfeminista (Des)montadxs para discutir questões de gênero e sexualidade dentro da UFS e em todo o Estado.[4] Além disso, foi a primeira mulher trans a se formar pela instituição.[7] Posteriormente, Linda obteve também pela UFS o título de Mestra em Educação.[8][9]

Em 2015, juntamente com outras pessoas trans e apoiadores, Linda Brasil criou o projeto EducaTrans através da Amosertrans (Associação do Movimento Sergipano de Travestis e Transexuais). EducaTrans foi um curso preparatório para o ENEM voltado especialmente para pessoas trans cujo principal objetivo era ampliar a inserção de pessoas trans no ambiente universitário. Essa atitude, consequentemente, poderia colocar esta população para disputar um local no mercado de trabalho tirando da realidade da prostituição compulsória.[3][10][11]

CasAmor[editar | editar código-fonte]

Em 2017, Linda idealizou e fundou a ONG CasAmor, inspirada em iniciativa de casas de acolhimento pelo país como a Casa 1, em São Paulo, e a Casa Nem, no Rio de Janeiro.[5][12] Sua inauguração ocorreu em 29 janeiro de 2018, no Dia Nacional da Visibilidade Trans, e marcou a abertura dos trabalhos da IV Semana da Visibilidade Trans.[13] O objetivo da CasAmor é acolher e dar apoio as pessoas da comunidade LGBTQIA+ por meio de trabalhos voluntários realizados por diversos profissionais como psicólogos, arquitetos, designers, engenheiros, professores e jornalistas, entre outros. O projeto visa ainda além de acolher e hospedar provisoriamente as pessoas que não possuem apoio familiar por causa da orientação sexual ou identidade de gênero; proporcionar cursos e oficinas visando a inserção no mercado de trabalho.[5]

Em meio a pandemia de COVID-19, enquanto Linda Brasil era uma das diretoras, a CasAmor esteve ao lado dos LGBTQIA+ que se encontravam em situação de vulnerabilidade social ampliando a entrega de cestas básicas e materiais de limpeza e higiene pessoal.[14]

A CasAmor passou a ser chamada CasAmor Neide Silva, em homenagem a "Tia Neide", uma amiga e integrante da assessoria de Linda, dedicada voluntária da ONG, que veio a falecer em março de 2021, em decorrência da COVID-19.[15][16]

Carreira política[editar | editar código-fonte]

Em 2016, Linda Brasil disputou a sua primeira eleição como candidata à vereadora em Aracaju e foi a 26ª candidata mais votada com 2.308 votos (0,83% do total dos votos válidos), sendo a candidata mais votada do PSOL à Câmara Municipal de Aracaju. Apesar de a cidade de Aracaju ter 24 vagas à vereança, Linda não ficou como suplente por conta do sistema de legendas da legislação eleitoral brasileira.[17] Uma marca desta campanha foi a transfobia institucional vigente que fez com que Linda fosse registrada com o gênero masculino.[18]

Em 2018, Linda concorreu à vaga de deputada estadual e foi a 38ª candidata mais votada em Sergipe com 10.107 votos, representando 0,93% do total de votos para a Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE), sendo a candidata mais votada do PSOL à ALESE.[19] Desses votos, 6.555 foram apenas na capital sergipana e ela chegou a ser votada em todos os municípios sergipanos.[20]Por conta de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral acerca das eleições de 2018, nesta candidatura, Linda Brasil pôde disputar a vaga dentro do gênero condizente com ela.[21][22]

Diante dos expressivos resultados nas eleições anteriores e a modificações da legislação eleitoral no tocante a legenda eleitoral,[23] em 2020 foi pré-candidata pelo PSOL para a Câmara dos Vereadores com o slogan "Coragem para Transformar"[24][25] e foi eleita como a primeira mulher trans vereadora de Aracaju[26], sendo a mais bem votada da capital sergipana, com 5.773 votos, fato que lhe garantiu o direito de presidir a primeira sessão plenária do Legislativo.[27][28][29][30]

Na mandata[4] da vereadora estão entre as principais pautas a defesa dos direitos humanos, das pessoas LGBTQIA+,[31] a diminuição das injustiças sociais, proteção das minorias,[32] o combate ao machismo e sexismo,[33] racismo[34] e a defesa da democracia.[35]

Em 2022 disputou uma cadeira na ALESE, logrando êxito, sendo a primeira mulher trans eleita deputada estadual de Sergipe com 28.704 votos.[36][37][38]

Desempenho em eleições[editar | editar código-fonte]

Ano Eleição Partido Cargo Votos Resultado
2016 Municipal de Aracaju PSOL
Vereadora
2.308

(0,89%)

Não eleita [39]
2018 Estadual em Sergipe Deputada Estadual 10.107

(1,02%)

Não eleita [39]
2020 Municipal de Aracaju
Vereadora
5.773

(2,27%)

Eleita [39]
2022 Estadual em Sergipe
Deputada Estadual
28.704

(2,36%)

Eleita [40]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

2022: Título de Cidadã Aracajuana[41]

Referências

  1. «Consciência & (R)existência». Alô News. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  2. Lima, Jozailto (19 de junho de 2021). «Linda Brasil: "Por um parlamento atento à visibilidade das pessoas inviabilizadas".». JL Política. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  3. a b Andrade, Tássio (22 de outubro de 2015). «Mulheres transexuais montam grupo de estudo para o Enem.». G1. Consultado em 2 de fevereiro de 2021 
  4. a b c «Linda Brasil: "Não teremos um mandato, e sim uma mandata!"». Jornal da Cidade. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  5. a b c «Achava que não podia ocupar certos espaços, diz 1ª trans eleita vereadora em Aracaju». Folha de São Paulo. 23 de novembro de 2020. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  6. «Altera a portaria nº 2209 que regulamenta o uso do nome social de Travestis e transexuais.». Portal UFS. 17 de novembro de 2016. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  7. «Visibilidade Trans: Linda Brasil e a luta contínua para transformar a realidade - E! Online Brasil». E! Online. 31 de janeiro de 2022. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  8. «Banca de Defesa: Linda Brasil Azevedo Santos». Portal de Programas de Pós-Graduação (UFS). Consultado em 24 de maio de 2022 
  9. CARDOSO, L. de R.; BERTOLDO, T. A. T., T. A. T.; SANTOS, L. B. de A. «Gênero e sexualidade na formação docente: um mapeamento das pesquisas entre Norte e Nordeste». Revista on-line de Política e Gestão Educacional. 24(esp3): p. 1743–1764. doi:10.22633/rpge.v24i3.14092. Consultado em 24 de maio de 2022 
  10. «Emprego formal ainda é exceção entre pessoas trans.». Folha de São Paulo. 29 de janeiro de 2020. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  11. Presse, France (20 de julho de 2021). «A passos lentos, pessoas trans chegam ao mercado de trabalho formal brasileiro.». G1. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  12. Andrade de, Yago; Almeida, Raquel. «Sergipe terá casa de acolhimento para população LGBT». Infonet. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  13. Araujo, Fernanda (29 de janeiro de 2018). «Sergipe passa a ter casa de acolhimento para população LGBTTT». F5 news. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  14. «CasAmor LGBTQI+ realiza campanha solidária.». Jornal da Cidade. 9 de abril de 2020. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  15. «Linda presta homenagem a Tia Neide, querida guerreira da mandata». Câmara Municipal de Aracaju. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  16. «História do Movimento LGBT é debatida em Ciclo de formação da Mandata Linda Brasil». Linda Brasil. 11 de abril de 2021. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  17. «UOL Eleições 2016: Aracaju-SE». UOL. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  18. «Linda Brasil 50180 - Eleições 2016». Toda Política. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  19. «Eleições 2018: Apuração Sergipe». UOL. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  20. «Resultado da votação para Linda Brasil no Sergipe: Eleições 2018.». Gazeta do Povo. 7 de outubro de 2018. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  21. Maia, Gustavo (1 de março de 2018). «TSE decide que candidatos "trans" devem contar para cotas nas eleições.». UOL. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  22. «Linda Brasil 50180 PSOL - Eleições 2018». Estadão. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  23. Calgaro, Fernanda (4 de outubro de 2019). «Saiba quais regras vão vigorar nas eleições municipais de 2020.». G1. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  24. «Sou Linda Brasil, pré-candidata a vereadora pelo PSOL em Aracaju». Canal Linda Brasil. 31 de julho de 2020. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  25. Estácio, Verlane (15 de novembro de 2020). «Mais votada, Linda Brasil é a primeira vereadora trans de Aracaju.». Infonet. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  26. «Linda Brasil — Câmara Municipal de Aracaju». Câmara Municipal de Aracaju. Consultado em 31 de maio de 2023. Cópia arquivada em 5 de dezembro de 2021 
  27. «Linda Brasil: "Estou vivendo um sonho coletivo".». Destaque Notícias. 3 de janeiro de 2021. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  28. Ferretti, Caio (26 de março de 2021). «Representatividade trans: as novas vereadoras.». Trip UOL. Consultado em 2 de fevereiro de 2022 
  29. «Aracaju elege primeira mulher trans como vereadora». G1. 15 de novembro de 2020. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  30. «Live Linda Brasil - Sessão de Posse da Legislatura 2021-2024.». Canal Linda Brasil. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  31. «Vereadores de Aracaju rejeitam projeto de Linda Brasil». Jornal da Cidade. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  32. «Linda Brasil aprova em primeira discussão projeto que exige de intérprete de Libras». FaxAju. 3 de dezembro de 2021. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  33. «Linda Brasil aprova seu primeiro PL e machismo será discutido nas escolas». Câmara Municipal de Aracaju. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  34. «Dia Municipal da Mulher Negra – Rejane Maria, é lei!». Câmara Municipal de Aracaju. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  35. «Mandata de Linda Brasil realiza balanço e planejamento semestral». Linda Brasil. 30 de julho de 2021. Consultado em 3 de fevereiro de 2022 
  36. «Resultado de Votação Eleitos» (PDF). tre-se.jus.br. Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe (TRE-SE). p. 4. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  37. «Análise das Eleições 2022: Deputados Estaduais Eleitos». noticias.uol.com.br. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  38. Fernandes, Nayara (4 de outubro de 2022). «Erika Hilton, Duda Salabert, Linda Brasil e Dani Balbi: quem são as deputadas trans eleitas em 2022». G1.globo.com. Consultado em 11 de outubro de 2022 
  39. a b c «Poder360 | LINDA BRASIL». eleicoes.poder360.com.br. Consultado em 5 de novembro de 2022 
  40. «Apuração das Eleições 2022 para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais». noticias.uol.com.br. Consultado em 5 de novembro de 2022 
  41. «Nitinho concede Título de Cidadania à vereadora Linda Brasil». Câmara Municipal de Aracaju. 13 de abril de 2022. Consultado em 24 de maio de 2022 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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