Militão Ribeiro

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Militão Ribeiro
Militão Ribeiro
Militão Ribeiro
Membro do Comité Central do Partido Comunista Português
Período 1946 - 1950
Dados pessoais
Nome completo Militão Bessa Ribeiro
Nascimento 13 de Agosto de 1896
Murça
Morte 2 de Janeiro de 1950
Estabelecimento Prisional de Lisboa
Nacionalidade Portugal Portugal
Cônjuge Luísa Rodrigues
Partido Partido Comunista Português
Ocupação Político

Militão Bessa Ribeiro (Murça, Vila Real, 13 de agosto de 1896Estabelecimento Prisional de Lisboa, 2 de janeiro de 1950)[1] foi um marçano, operário têxtil e político revolucionário antifascista português, dirigente histórico do Partido Comunista Português assassinado por maus tratos e possível envenenamento[2][3] pelo regime do Estado Novo no Estabelecimento Prisional de Lisboa.[4] No Brasil, também é conhecido por ter sido jogador do Club de Regatas Vasco da Gama, tradicional time do futebol carioca.[5]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Filho de agricultores, Bárbara de Jesus e Francisco Bessa Ribeiro, emigrou de Murça para o Brasil com 13 anos, onde trabalhou como marçano e operário têxtil.[6]

Foi jogador do Club de Regatas Vasco da Gama, um clube historicamente conhecido por seus laços com Portugal e lutas contra o racismo no futebol.

Início da Atividade Política[editar | editar código-fonte]

No Brasil, Militão Ribeiro torna-se membro do Partido Comunista Brasileiro ainda antes da entrada para o partido do líder histórico Luís Carlos Prestes. Consequência da sua atividade política, Militão Ribeiro é extraditado do Brasil para Portugal no início dos anos 30 pela Ditadura de Getúlio Vargas que o cataloga como "indesejável".[6]

Fuga e clandestinidade[editar | editar código-fonte]

Deportado do Brasil amarrado no porão do navio que o transportou, com a indicação de ser entregue à polícia portuguesa no porto de Leixões, conseguiu fugir com o auxílio de um marinheiro quando o barco aportou em Lisboa.[6]

Refugia-se em Murça e começa a militar no Partido Comunista Português.[6] Juntamente com outros habitantes locais como Mário José de Barros, a quem transmite o seu ideal comunista, viriam nas décadas de 1930 e 1940 a fazer circular clandestinamente nesta região literatura de Karl Marx, de Max Beer, ou obras como Os Dez Dias que Abalaram o Mundo ou O Estado e a Revolução, levando ideias revolucionárias a muitos e, por exemplo, à expulsão do Seminário do historiador António Borges Coelho em 1945, em função das suas leituras.

Prisão[editar | editar código-fonte]

Em 13 de julho de 1934, Militão Ribeiro é preso no Porto, por pertencer à organização a que aderira por intermédio de Lino Teixeira Pinto, o Socorro Vermelho Internacional.[6]

Julgado no Tribunal Militar Especial a 6 de abril de 1935, é condenado a 12 meses de prisão e transferido da Prisão do Aljube da cidade do Porto para a Prisão de Peniche a 20 de abril, onde reencontraria o seu companheiro Mário José de Barros, preso em 1935 por propaganda contra a ditadura fascista.

Já com a sua pena cumprida, a 8 de junho de 1935, Militão Ribeiro é embarcado, por alegado “motivo de insubordinação”, com destino à Fortaleza de São João Baptista em Angra do Heroísmo, e em 29 de outubro de 1936 sem julgamento é levado com o primeiro grupo de presos políticos que inauguram o Campo de Concentração do Tarrafal em Cabo Verde, entre eles Bento António Gonçalves, Secretário-Geral do PCP.

Reorganização do PCP[editar | editar código-fonte]

No dia 15 de julho de 1940 é amnistiado pela amnistia de 1940 decretada pela ditadura do Estado Novo. Em clandestinidade, a partir de orientações fundamentais discutidas com Bento Gonçalves e outros dirigentes no Tarrafal, participa na reorganização do Partido Comunista Português, integrando o seu primeiro secretariado, juntamente com Júlio Fogaça e Manuel Guedes.[6]

Foi um dos responsáveis, em 1941, pela reorganização de tipografias e de tarefas de militantes que permitiu o relançamento clandestino do jornal Avante! em agosto desse ano, cuja publicação não mais seria interrompida até à atualidade.[7]

Em 1942, é um dos dirigentes na tarefa de organização do movimento grevista desse ano, que reivindicava uma melhoria nas condições de trabalho em Portugal.

Segunda prisão[editar | editar código-fonte]

Em 22 de novembro de 1942 é preso em função do seu envolvimento no movimento grevista, ficando detido na Prisão de Aljube de Lisboa por dois anos sem julgamento. É julgado pelo Tribunal Militar Especial em 5 de abril de 1944 e condenado a 4 anos de prisão. É embarcado de novo, em 26 de julho, para o Campo de Concentração do Tarrafal. Anos depois, abrangido pela amnistia de agosto de 1945, é libertado em novembro desse ano.

Militância ativa no PCP[editar | editar código-fonte]

Integra o Secretariado do PCP com Álvaro Cunhal, José Gregório e Manuel Guedes, e participa no IV Congresso do PCP, o 2.º ilegal, em novembro de 1946, no qual é eleito para o Comité Central do Partido Comunista Português e respetivo Secretariado.

Terceira prisão[editar | editar código-fonte]

Militão Ribeiro vivia com a militante comunista Luísa Rodrigues na casa clandestina do PCP de Macinhata do Vouga, Sever do Vouga. Sendo esta detetada e Luísa Rodrigues presa em 10 de fevereiro, Militão Ribeiro escapa, sendo procurado e perseguido pelas polícias do Estado Novo, refugiando-se na casa habitada por Álvaro Cunhal e Sofia Ferreira no Luso, onde é preso a 25 de março de 1949.[8]

Reencontra Luísa Rodrigues pela última vez na prisão do Porto e é transferido para o Estabelecimento Prisional de Lisboa. Aqui, padecendo de uma doença infecciosa, consequência de eventual envenenamento pela PIDE evocada pelo próprio Militão Ribeiro,[2][3] e sem assistência médica e medicamentosa para as doenças causadas pelos maus tratos nas prisões e deportações de que foi vítima, viria a falecer em resultado do regime prisional a que foi sujeito. Isolado numa cela individual, vigiado 24 horas por dia, completamente incomunicável, decidiu recorrer à greve da fome como forma de pressão para que fosse tratado. Sem qualquer mudança de atitude por parte da PIDE, entrou em coma na manhã do dia 2 de janeiro, falecendo nesse mesmo dia pelas 13:30 horas com o peso de apenas 32 quilos aos 53 anos.[9]

Obra escrita[editar | editar código-fonte]

Militão Ribeiro é autor de 6 influentes longas cartas dirigidas ao PCP, escritas a partir da prisão, a última delas no próprio sangue, das quais apenas 2 chegaram aos nossos dias, ambas datadas de 1949.[10]

O poeta Pablo Neruda refere em versos da sua obra A Lâmpada Marinha a morte de Militão Ribeiro e a tortura a Luísa Rodrigues.[11]

Toponímia[editar | editar código-fonte]

Existe uma rua com o seu nome no Feijó, Almada, distrito de Setúbal.[12]

Referências[editar | editar código-fonte]

Citações

  1. PCP Militão Ribeiro, pp. 7-8.
  2. a b «Cópia arquivada». Consultado em 15 de dezembro de 2020. Cópia arquivada em 11 de agosto de 2020 
  3. a b «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 15 de dezembro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 13 de novembro de 2020 
  4. «Cópia arquivada». Consultado em 15 de dezembro de 2020. Cópia arquivada em 23 de outubro de 2020 
  5. «Museu do Aljube». Consultado em 15 de dezembro de 2020. Cópia arquivada em 23 de outubro de 2020 
  6. a b c d e f PCP Militão Ribeiro, p. 7.
  7. PCP Militão Ribeiro, p. 11.
  8. «Cópia arquivada». Consultado em 15 de dezembro de 2020. Cópia arquivada em 14 de agosto de 2020 
  9. «Cópia arquivada». Consultado em 15 de dezembro de 2020. Cópia arquivada em 18 de janeiro de 2021 
  10. PCP Militão Ribeiro, p. 13.
  11. https://www.avante.pt/pt/2404/temas/157650/Sabes-como-morreu--o-valente-Militão.htm Arquivado em 27 de dezembro de 2019, no Wayback Machine. Artigo sobre Militão Ribeiro no Jornal Avante!
  12. «Cópia arquivada». Consultado em 15 de dezembro de 2020. Cópia arquivada em 18 de janeiro de 2021 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações Externas[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • A Resistência em Portugal, José Dias Coelho
  • Memórias da Resistência, Literatura Autobiográfica da Resistência ao Estado Novo, António Ventura