Nancy Mangabeira Unger

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Nancy Mangabeira Unger
Conhecido(a) por
  • uma das pioneiras da filosofia do meio ambiente no Brasil
  • presa política na Ditadura
Nascimento 27 de agosto de 1948
Rio de Janeiro, Guanabara, Brasil
Residência Brasil
Nacionalidade brasileira
Alma mater Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Estadual de Campinas
Prêmios
  • Prêmio Jaime Wright de Direitos Humanos (2014)
Orientador(es)(as) Rubem Alves
Instituições Universidade Federal da Bahia
Campo(s) Filosofia
Tese Cosmos e Polis: Fundamentos Filosóficos do pensamento ecológico (doutorado em 1998)

Nancy Mangabeira Unger (Rio de Janeiro, 27 de agosto de 1948) é uma filósofa e professora universitária brasileira com cidadania estadunidense.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nancy nasceu na cidade de Rio de Janeiro, capital do estado da Guanabara em 27 de agosto de 1948. Era filha de Arthur John Unger e Edyla Mangabeira Unger, neta do político brasileiro Otávio Mangabeira, ex-ministro de estado e ex-governador da Bahia, além de irmã do jurista brasileiro Roberto Mangabeira Unger, que veio a ser professor de direito na Universidade Harvard e ex-ministro de estado[1][2]. Durante sua juventude, residiu entre o Brasil e os Estados Unidos da América.[3]

Na condição de estudante da Faculdade de Filosofia (FAFIL) da Universidade do Brasil, ela se envolveu com o movimento estudantil, vindo a ser vice-presidente do Diretório Acadêmico da FAFIL, época em que começa a se envolver com o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Em 1969, prestes a concluir o seu curso de filosofia, Nancy Mangabeira Unger foi expulsa do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro e impedida de se matricular em outra instituição por razões políticas.[1][2][3]

Perseguição política[editar | editar código-fonte]

A Ditadura Militar de 1964 afetou a trajetória de Nancy M. Unger. Expulsa da Universidade por seu envolvimento político em 1969, ela decidiu se envolver ainda mais com o PCBR, vindo a participar de uma célula da organização situada em Pernambuco, quando foi presa em 16 de julho de 1970, após ser baleada por tiro de fuzil-espingarda que perfurou órgãos internos, além de ter decepado o seu polegar.[1][2][3]

Em virtude dos ferimentos, ela foi levada para o Hospital Geral da Restauração, em Recife, onde passou mais de um mês internada, período em que sofreu torturas psicológicas praticadas pelos agentes da repressão que a interrogaram e a ameaçaram de tortura física, após a saída dela do hospital. Em seguida, ela foi encaminhada para uma cela na Quartel da Polícia Militar de Pernambuco, depois foi transferida para a Colônia Penal do Bom Pastor até ser encaminhada para o DOPS, onde ficou presa até ser um dos 70 presos políticos que foram soltos em troca da libertação de Giovanni Enrico Bucher, Embaixador da Suíça no Brasil que havia sido sequestrado por grupos que lutavam contra a ditadura militar.[1][2][3]

Exílio[editar | editar código-fonte]

Imposta a pena de banimento pelo Governo Militar, Nancy esteve exilada do Brasil de 14 de janeiro de 1971 até 28 de agosto de 1979, quando retornou do exílio político após a promulgação da Lei de Anistia, a qual permitiu a restituição de todos os direitos, incluindo o reconhecimento pelo estado brasileiro de sua graduação pela UFRJ.[3]

Após sair do Brasil, na primeira metade da década de 1970, ela esteve internada em algumas clínicas e hospitais no exterior em razão dos tratamentos médicos precários que recebeu enquanto esteve na condição de presa política.[3]

Em 1977, Nancy ingressou na Université Paris Diderot onde prosseguiu os seus estudos interrompidos pela Ditadura Militar, chegando a obter em 1978 um Maitrise D'ethnologie, em que desenvolveu uma pesquisa histórico-etnológica sobre o processo de resistência colonial em Moçambique denominada de "1897-1897 Au Sud Mozambique: La Résistance Africaine et l'Implantation de la Domination Coloniale Europeène", sob a supervisão do professor Jean-Pierre Olivier de Sardan.

No ano da conclusão dessa formação, ela ingressou na École des Hautes Études en Sciences Sociales, onde cursou o mestrado em História Comparada das Sociedades Contemporâneas e sob a supervisão do professor Marc Ferro, defendeu em 1979 a dissertação de mestrado: "La gauche revolucionaire bresilienne 1967-1973:representations et mecanismes ideologiques". Após esta defesa, ela retornou ao Brasil.

Vida acadêmica[editar | editar código-fonte]

Em 1983, Nancy Mangabeira Unger ingressou como pesquisadora no Centro João XXIII de Investigação e Ação Social, onde permaneceu durante toda a década de 1980 e os primeiros anos da década de 1990, até se tornar professora do Instituto Superior de Estudos da Religião (ISER) em 1993. Neste mesmo ano, ela foi aprovada no concurso público de professora universitária para a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, passando a atuar no Departamento de Filosofia dessa unidade da UFBA[4], onde começou a ministrar aulas de História da Filosofia Antiga, História da Filosofia Medieval e de Introdução à Filosofia.

Em 1998, ela defendeu sua tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)[4] com o título de "Cosmos e Polis: Fundamentos Filosóficos do pensamento ecológico" sob a orientação do professor Rubem Alves.[5]

Pensamento[editar | editar código-fonte]

O pensamento de Nancy Mangabeira Unger tem oferecido uma contribuição para a filosofia, especialmente no âmbito da ética ambiental.[6][7] Unger critica o modelo vigente na sociedade contemporânea que orienta o modo como o ser humano vem se relacionando com a natureza, o qual não teria superado a razão instrumental, segundo a qual ser humano seria posto como um instrumento, ou seja, como um meio visando obter determinado fim, postura que acabar por reduzir a Natureza na mesma condição.[8]

Nancy defende uma ética ambiental holística e não hierarquizada, sustentando que o pensamento ecológico promoveria uma reaproximação das dimensões do social e do espiritual, em que todos os seres vivos, na condição de detentores de um mesmo valor intrínseco, mereceriam igual respeito.[8]

Obras[editar | editar código-fonte]

  • O Encantamento do Humano: Ecologia e Espiritualidade. São Paulo: Loyola, 1991.[8][4][6]
  • Fundamentos Filosóficos do Pensamento Ecológico. São Paulo: Loyola, 1992.[4]
  • Da foz à nascente: o recado do rio. São Paulo/Campinas: Cortez/ UNICAMP, 2001.[7]

Representação na cultura[editar | editar código-fonte]

Nancy M. Unger foi uma das pessoas entrevistadas pelo documentário estadunidense Brazil: A Report on Torture produzido em 1971 e dirigido por Haskell Wexler, em que ela relatou o que presenciou o tratamento dado pelo Governo Militar aos presos políticos.[9]

Referências

  1. a b c d «Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Comissão de Anistia do MJ julga hoje os processos de sete mulheres perseguidas entre 1946 e 1985». Migalhas. 7 de março de 2008. Consultado em 3 de abril de 2023 
  2. a b c d «União indeniza 7 perseguidas por ditadura militar no Brasil». Folha de São Paulo. 8 de março de 2008. Consultado em 3 de abril de 2023 
  3. a b c d e f Maria do Amparo Almeida Araújo (21 de maio de 2001). «PARECER SOBRE O PROCESSO N° 238/01-OG-A». Arquivo Público de Pernambuco 
  4. a b c d «Aquecimento global é tema de encontro». Diário do Nordeste. 10 de maio de 2007. Consultado em 3 de abril de 2023 
  5. «Cosmos e Polis: fundamentos filosoficos do pensamento ecologico». IBICT. 1998. Consultado em 3 de abril de 2023 
  6. a b Santos, Tiganá Santana Neves (2022). «Ressonâncias e ontologias outras: pensando com o pensar Bantu-Kongo». Trans/Form/Ação. 45 (1). doi:10.1590/0101-3173.2022.v45esp.09.p149. Consultado em 3 de abril de 2023 
  7. a b Leandro Belinaso Guimarães; Priscila Fernanda Rech; Aline Gevaerd Krelling. «Narrativas sobre um bosque e um rio: multiplicidades culturais em práticas educativas». Consultado em 3 de abril de 2023 
  8. a b c Gordilho, Heron Santana; Pimenta, Paulo; Silva, Raíssa (2017). «Balizas da ética ambiental: modelos axiológicos possíveis». Revista Brasileira de Direito. 13 (1). Consultado em 3 de abril de 2023 
  9. «Cinemateca Diálogos do Sul - "Brasil: Relatório sobre a tortura", documentário de Haskell Wexler». UOL. 30 de março de 2017. Consultado em 3 de abril de 2023