Orontes II

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Orontes II
Orontes II
Representação imaginária do século XIX do sátrapa Orontes II de Iakov Arzanov and Davi Arzanov
Sátrapa da Armênia
Reinado 336-331 a.C.
Antecessor(a) Dario III
Sucessor(a) Mitrenes (?)
 
Nascimento século V a.C.
Morte 331 a.C.
  Gaugamela
Descendência Mitrenes (?)
Dinastia orôntida
Pai Orontes I (?)
Mãe Rodoguna (?)

Orontes II (em persa antigo: *Arvanta-; em latim: Orontes, Oronta; em armênio/arménio: Երուանդ; romaniz.:Erwand; em grego clássico: Ὀρόντης; romaniz.:Oróntēs; antes de 317 a.C.) foi um nobre bactriano que serviu como oficial militar do Império Aquemênida no século IV a.C.. Deve ser identificado como o sátrapa da Armênia sob Dario III (r. 336–330 a.C.) e pode ter sucedido Dario nesta posição quando ele ascendeu ao trono da Pérsia em 336 a.C..[1]

Nome[editar | editar código-fonte]

Orontes (também atestado como Orontas, Orondēs, Aroandēs, Oro-, Aru-, Oruándēs) é a transliteração grega do persa antigo *Arvanta-, que continuou a ser usado no persa médio e novo como Arvand. O nome se associa ao avéstico auruuaṇt-, "rápido, vigoroso, corajoso", que por si só pode ser uma versão abreviada do nome avéstico Auruuaṱ.aspa-, "tendo cavalos velozes".[2]

Vida[editar | editar código-fonte]

Arriano (Anábase de Alexandre, III.8) lista Orontes e certo Mitraustes como dois comandantes das forças armênias na Batalha de Gaugamela em 331 a.C.. A interpretação desta passagem é controversa, com diferentes historiadores interpretando-a como indicação de que Mitraustes comandou a infantaria,[3] ou que havia dois contingentes diferentes de cavalaria armênia nesta batalha,[4] ou mesmo que a Armênia foi dividida em duas partes governadas por dois sátrapas.[5] Orontes lutou na Batalha de Gaugamela no flanco direito persa com 40 mil unidades de infantaria e sete mil de cavalaria sob seu comando,[6] onde morreu.[7] Seu filho, Mitrenes, sátrapa da Lídia, juntou-se a Alexandre, o Grande depois de ser derrotado em Sárdis em 334 a.C., e lutou em Gaugamela ao lado de Alexandre. Após a batalha, Mitrenes foi feito sátrapa da Armênia por Alexandre.[8][9][10]

A morte de Orontes em Gaugamela foi contestada; Diodoro e Polieno mencionam um homem chamado Orontes, que foi sátrapa da Armênia durante a Segunda Guerra dos Diádocos;[11] Diodoro acrescenta que este Orontes era amigo de Peucestas.[12] Andrew Burn, Edward Anson e Waldemar Heckel consideram este sátrapa o mesmo Orontes que lutou por Dario III na Batalha de Gaugamela;[13][14] Anson e Heckel afirmam que Mitrenes pode ter morrido numa tentativa malsucedida de arrancar a Armênia de Orontes. Heckel afirmou que muito provavelmente a Armênia, que foi contornada pelo exército macedônio, nunca fez parte do império de Alexandre.[1] Anson, por outro lado, considerou provável que em algum momento após a Batalha de Gaugamela Orontes tenha feito a sua submissão a Alexandre, que mais tarde o colocou no comando da Grande Armênia. N. G. L. Hammond interpretou as fontes como indicando que a Armênia já estava submissa quando Mitrenes foi enviado da Babilônia para lá no final de 331 a.C., que Mitrenes assumiu o controle como sátrapa governando em nome do novo regime macedônio e que foi deixado como sátrapa em 323 a.C., quando Pérdicas permitiu que algumas satrapias permanecessem sob os sátrapas existentes; em 317 a.C., Mitrenes não era mais sátrapa, mas foi substituído por Orontes.[15]

Uma das inscrições do monte Ninrode detalhando a ascendência de Antíoco I menciona um ancestral cujo nome foi preservado de forma incompleta e que era filho de Aroandas. Infere-se que este Aroandas (Orontes) seja o segundo ancestral de Antíoco listado nas inscrições do monte Ninrode que levava esse nome,[16] sucedendo ao primeiro Aroandas, que por sua vez era filho de Artasiro e que se casou com Rodoguna, filha de Artaxerxes II.[17] Friedrich Karl Dörner e John H. Young (1996) interpretaram a primeira letra preservada do nome do filho de Aroandas II como um delta, de modo que o nome terminasse com -δανης, -danes. Os autores consideraram esta leitura importante, pois firmou a proposta de Ernst Honigmann ([Mιθρ]άνην), bem como uma das sugestões apresentadas por Salomon Reinach ([Όστ]άνην).[18] Brijder (2014) também interpretou a inscrição como uma indicação de que o nome do filho de Orontes II terminava em -danes.[19]

Aroandas II mencionado numa inscrição do monte Ninrode foi identificado com o Orontes que foi comandante na Batalha de Gaugamela por Karl Julius Beloch[20] e Herman Brijder.[21] Este Orontes também foi inferido como descendente de Orontes I e sua esposa Rodoguna,[22] possivelmente seu filho[20] ou neto.[13] Por outro lado, Friedrich Karl Dörner não tinha a certeza se as antigas citações de ligações dos portadores do nome Aroandas/Orontes com a Armênia ou o seu estatuto como líderes de unidades militares arménias são razões convincentes para assumir que eram parentes. Dörner considerou muito questionável se Aroandas II mencionado numa inscrição do monte Ninrode é idêntico ao Orontes da época de Alexandre; o autor enfatizou a necessidade de considerar que no decorrer do século IV a.C., além dos dois ancestrais de Antíoco I de Comagena, outros portadores do mesmo nome podem ter desempenhado um papel na política persa.[23]

Referências

  1. a b Heckel 2006, p. 185.
  2. Schmitt 2002.
  3. Heckel 2006, p. 168.
  4. Marciak 2017, p. 115.
  5. Adontz 1970, p. 306.
  6. Lang 1983, p. 508.
  7. Lang 2021.
  8. Arriano, III.16.
  9. Cúrcio, V.1.44.
  10. Diodoro Sículo, XVII.64.6.
  11. Polieno, IV.8.3.
  12. Diodoro Sículo, XIX.23.3.
  13. a b Burn 1985, p. 384.
  14. Anson 2014, p. 50.
  15. Hammond 1996, p. 130–137.
  16. Dörner 1996, p. 365.
  17. Brijder 2014, p. 330.
  18. Dörner 1996, p. 297.
  19. Brijder 2014, p. 373.
  20. a b Beloch 1923, p. 141.
  21. Brijder 2014, p. 331.
  22. Lang 1983, p. 506.
  23. Dörner 1996, p. 365–366.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Fontes primárias[editar | editar código-fonte]

Fontes secundárias[editar | editar código-fonte]

  • Adontz, Nicholas (1970). Armenia in the period of Justinian: the political conditions based on the Naxarar system. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 
  • Anson, Edward (2014). «The funeral games begin». Alexander's Heirs: The Age of the Successors. Hoboquém, Nova Jérsei: Wiley Blackwell. ISBN 978-1-4443-3962-8 
  • Beloch, Karl Julius (1923). Griechische geschichte. 3, Parte 2. Berlim: Walter de Gruyter & co. 
  • Brijder, Herman (2014). Nemrud Dağı: Recent Archaeological Research and Conservation Activities in the Tomb Sanctuary on Mount Nemrud. Berlim: Walter de Gruyter. ISBN 978-1-61451-713-9 
  • Burn, A. R. (1985). «Persia and the Greeks». In: Gershevitch, Ilya. The Cambridge History of Iran, Volume 2: The Median and Achaemenian Periods. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 292–391. ISBN 0-521-20091-1 
  • Dörner, F. K. (1996). «Epigraphy analysis; Sculpture and inscription catalogue». In: Sanders, Donald H. Nemrud Daği: The Hierothesion of Antiochus I of Commagene. Vol. 1: Text. University Park, Pensilvânia: Eisenbrauns. ISBN 978-1-57506-015-6 
  • Hammond, N. G. L. (1996). «Alexander and Armenia». Phoenix. 50 (2): 130–137. doi:10.2307/1192698 
  • Heckel, Waldemar (2006). «Orontes [2]». Who's who in the age of Alexander the Great: prosopography of Alexander's empire. Hoboken, Nova Jérsei: Blackwell Publishing. ISBN 978-1-4051-1210-9 
  • Lang, David Marshall (1983). «Iran, Armenia and Georgia». In: Yarshater, Ehsan. The Cambridge History of Iran, Volume 3(1): The Seleucid, Parthian and Sasanian Periods. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 505–536. ISBN 0-521-20092-X 
  • Lang, David Marshall (2021) [1970]. «Chapter V: The Forging of the Armenian Nation"». Armenia: Cradle of Civilization. Londres: Routledge. ISBN 978-1-000-51477-3 
  • Marciak, Michał (2017). Sophene, Gordyene, and Adiabene: Three Regna Minora of Northern Mesopotamia Between East and West. Leida e Boston: BRILL. ISBN 9789004350724 
  • Schmitt, Rüdiger (2002). «Orontes». In: Yarshater, Ehsan. Encyclopædia Iranica. Nova Iorque: Encyclopædia Iranica Foundation