Pensamento social brasileiro

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O pensamento social brasileiro ou a sociologia no Brasil é um ramo das ciências sociais que tem como principal objeto de estudo os intérpretes e as interpretações da sociedade brasileira[1]. Trata-se de uma área multidisciplinar que se dedica a estudar diversos fenômenos culturais da sociedade brasileira à luz daquelas interpretações.

Na história do pensamento social no Brasil, é possível distinguir as seguintes fases:[2]

  1. Pré-científica, ou a dos precursores
  2. Consolidação da sociologia
  3. Crise
  4. Ressurgimento e profissionalização

História[editar | editar código-fonte]

Fase Período Descrição Temas abordados Pensadores
1) Pré-cienfífica, ou dos precursores Até 1930 Sociologia feita por intelectuais sem formação em sociologia (médicos, advogados, engenheiros, etc.). Tem por influência o evolucionismo, o darwinismo social, e o positivismo.[3] Escravatura, formação da unidade nacional,[3] início das pesquisas de campo Euclides da Cunha, Sílvio Romero, Alberto Torres, Nina Rodrigues, Oliveira Viana
2) Consolidação da sociologia 1930-1964 Inauguraram-se os primeiros cursos superiores de sociologia no Brasil, com auxílio de intelectuais estrangeiros. Os métodos de se fazer sociologia se tornaram mais sofisticados.[3] identidade nacional, influência do passado colonial e escravista[3] Caio Prado Júnior,Gilberto Freyre,Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro
3) Crise 1964-1980 Houve uma perseguição aos sociólogos após o golpe de 1964 e o início da ditadura militar.[2] Problemas socioeconômicos e políticos, choque entre a Igreja Católica e o governo, renovação social de esquerda.[2] Octavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, Florestan Fernandes, José Pastore
4) Ressurgimento e profissionalização 1980 em diante Em 1980, há o reconhecimento da profissão de sociólogo. Surgem aí os sociólogos profissionais, portanto. O ensino da sociologia volta às escolas.[2] Costumes; estudo das mulheres e de outras minorias; preocupações das etapas anteriores Roberto DaMatta, Jessé Souza

Institucionalização da área de Pensamento Social Brasileiro[editar | editar código-fonte]

Desde a década de 1980, a área de pensamento social brasileiro vem se consolidando no âmbito das ciências sociais praticadas no Brasil. É isso que indica a vitalidade nos Grupos ou Comitês de Pesquisa de associações científicas, como na Sociedade Brasileira de Sociologia - SBS – e na Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciências Sociais - ANPOCS -, cujo GT “Pensamento social no Brasil”, criado em 1981, é o mais longínquo da associação. Importante ressaltar que nesse processo de consolidação da área de pensamento social houve não somente o crescimento quantitativo do número de pesquisas sobre a tradição intelectual brasileira, como também uma diversificação dos objetos a serem estudados, das metodologias empregadas e das teorias propostas[4][5]. Como observam dois dos maiores especialistas da área:

“Hoje, as pesquisas desenvolvidas na área compreendem tanto os temas clássicos da formação da sociedade brasileira, em suas várias dimensões, como, por exemplo, modernização, modernidade e mudança social; construção e transformação do Estado-nação; cultura política e cidadania; quanto diferentes modalidades de produtores e de produção cultural em sentido amplo, literatura de ficção, artes plásticas, fotografia, cinema, teatro; e a própria ‘cultura’ como sistema de valores e formas de linguagem”[6].

Os clássicos do Pensamento Social Brasileiro[editar | editar código-fonte]

Embora o Pensamento Social Brasileiro não se dedique somente ao estudo dos grandes intérpretes do Brasil, é inegável que ainda hoje sejam eles a conferir, em alguma medida, identidade disciplinar à área. Entende-se por interpretações clássicas do Brasil aquelas obras que visavam e visam fornecer uma visão global da formação da sociedade brasileira, incluindo suas dimensões culturais, sociais e econômicas. De modo geral, todas realizam exercício metodológico semelhante de voltar ao passado da sociedade brasileira para compreender melhor o presente. Costuma-se lembrar de Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr. como os três maiores clássicos do pensamento social brasileiro[7]. No entanto, existem diversos autores e autoras que, desde o Império, se dedicaram a pensar o Brasil. Entre eles, podemos citar Visconde de Uruguai, Tavares Bastos, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Machado de Assis, Alberto Torres, Oliveira Vianna, Euclides da Cunha, Silvio Romero, Lima Barreto, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Jackson de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima, Raimundo Faoro, Alberto Guerreiro Ramos, Antonio Candido, Florestan Fernandes, Celso Furtado, Luiz de Aguiar Costa Pinto, Abdias do Nascimento, Maria Isaura Pereira de Queiroz, Maria Sylvia de Carvalho Franco, Paula Beiguelman, Virgínia Bicudo, Gilda de Mello e Souza, entre outros e outras que nos legaram obras e interpretações fundamentais sobre o país.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Oliveira, Lucia Lippi de (1989). Interpretações sobre o Brasil. In: MICELI, S. (org.). O que ler na ciência social brasileira (1970-1995). São Paulo: Sumaré/Anpocs 
  2. a b c d Lakatos, Eva Maria (18 de janeiro de 2019). Sociologia Geral. [S.l.]: ATLAS EDITORA 
  3. a b c d «Bernoulli 2a Série - Sociologia, capítulo 4». Belo Horizonte: Editora DRP Ltda. 2021 
  4. Maia, João Marcelo E. (2011). «Ao sul da teoria: a atualidade teórica do pensamento social brasileiro». Sociedade e Estado (2): 71–94. ISSN 0102-6992. doi:10.1590/S0102-69922011000200005. Consultado em 21 de abril de 2021 
  5. Schwarcz, Lilia Moritz; Botelho, André (2011). «Simpósio: cinco questões sobre o pensamento social brasileiro». Lua Nova (82): 139-159 
  6. Bastos, Elide Rugai; Botelho, André (2010). Horizontes das Ciências Sociais: Pensamento social brasileiro. In: Horizontes das ciências sociais no Brasil: Sociologia. Martins, Carlos Benedito; Martins, Heloisa Helena T. S. (orgs.). São Paulo: ANPOCS 
  7. Candido, Antonio (2015). O significado de Raízes do Brasil. In: Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras