Reino dos Angolares

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O Reino dos Angolares foi um Estado nacional africano, de existência breve, entre 1595 e 1596, a principal experiência de autogoverno da população escrava e mestiça antes da independência de São Tomé e Príncipe.[1][2]

O reino teve domínio somente sobre a ilha de São Tomé, com sede de governo em São João dos Angolares. Seu único governante foi o rei Amador Vieira.[1][2]

História[editar | editar código-fonte]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

A década de 1590 foi marcada por muita turbulência em São Tomé e Príncipe. Os conflitos iniciaram-se após a chegada do bispo dom Francisco de Vilanova, que havia sido eleito em 17 de fevereiro de 1590, e chegara à ilha em 1592, assumindo interinamente o governo da ilha, por ter falecido o governador Duarte Peixoto.[3]

Quando em 1593 veio de Lisboa o novo governador, Fernando de Meneses, acendeu-se uma luta entre os dois, que chegou ao extremo do bispo excomungar o governador. Entre 1593 e 1595 alastrou-se a Revolta Católica de São Tomé, como resultado do conflito entre a Diocese de São Tomé e Príncipe e o governador colonial. O conflito enfraqueceu o poder militar português e aumentou a polarização política entre a população. Esse panorama tornou favorável a organização dos escravos e mestiços da ilha de São Tomé, que sentiram o ambiente propício para tomada do poder.[3]

A revolta e Reino dos Angolares[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Revolta dos Angolares

A história do reino começou com a Revolta dos Angolares, ocorrida em 9 de julho de 1595, na batalha de Trindade, onde deu-se a tomada da igreja de Trindade durante uma missa, onde todos os brancos foram mortos; na igreja, o líder da revolta, que tinha o nome Amador Vieira, declara-se rei e capitão-general, fundando Reino, com domínio inicial sobre São João dos Angolares e o centro da ilha.[1][2]

Em 14 de julho de 1595 as tropas angolares empreenderiam a batalha de São Tomé, onde tomaram a cidade de São Tomé por completo, restando unicamente o Forte de São Sebastião, com uma pequena guarnição portuguesa. A guarnição permaneceu sitiada até janeiro de 1596.[1][2]

Em 4 de janeiro de 1596, após uma traição, as posições militares do reino seriam entregues, e a batalha de São Sebastião definiu o fim da entidade nacional, com os principais comandantes militares sendo presos e enforcados; o próprio Amador foi enforcado e esquartejado em 14 de janeiro, com seus restos mortais sendo espalhados pela ilha.

Durante a batalha final que deu fim ao reino, foram destruídos mais de setenta engenhos de açúcar, enquanto apenas 25 ficaram intactos. A produção do açúcar em São Tomé e Príncipe nunca mais chegaria ao seu nível de antes da revolta. A revolta acelerou o declínio da indústria açucareira do arquipélago que tinha começado por volta de 1580.[1][2]

Influências[editar | editar código-fonte]

A revolta, a pena capital ao líderes do Reino dos Angolares e a perseguição aos apoiadores deixou a ilha em um clima instável. Este panorama tornou propício que uma esquadra neerlandesa ocupasse o arquipélago (além de São Tomé e do Príncipe, o arquipélago ainda agrupava as ilhas de Bioco e Ano-Bom) em agosto de 1598, sendo derrotados e expulsos somente em outubro do mesmo ano, após contra-ataque liderado por João Barbosa da Cunha, que tornou-se governador interino da ilha de São Tomé. No ano seguinte, os neerlandeses, liderados por Laurens Bicker, novamente cercaram a baía de Ana Chaves, contudo sem conseguir tomar a ilha de São Tomé por completo, sendo expulsos rapidamente.[3]

A história de um reino independente de mestiços e escravos libertos marcou o processo de independência santomense, com a história sendo rememorada para dar suporte à luta anticolonial.[4]

Referências

  1. a b c d e Rei Amador. InfoEscola. Consultado em: 15 de junho de 2020.
  2. a b c d e Seibert, Gerhard. Rei Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São Tomé (1595). Buala. 8 de fevereiro de 2011.
  3. a b c Negreiros, António Lobo de Almada. Colonies portugaises. in: Chevalier, Augusto. L'ile de San-Thomé. Paris: Sociedade de Geografia de Lisboa. 1901.
  4. Kentake, Meserette. Rei Amador: General Captain of War. Kentake Page. 9 de julho de 2015.