Terra Indígena Jaraguá

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T.I. Jaraguá
Terra Indígena Jaraguá
T.I. Jaraguá está localizado em: Brasil
T.I. Jaraguá
Localização no Brasil
Coordenadas 23° 27' 50.87" S 46° 45' 10.84" O
Localização Região Sudeste do Brasil
País  Brasil
Estado São Paulo
Municípios São Paulo
Área 1,73 ha[1]
População 586 (GT Funai, 2013[1])
Povos Guarani Mbya e Guarani Ñandeva
Status Regularizada
Modalidade Tradicionalmente ocupada

A Terra Indígena Jaraguá é uma terra indígena localizada no sudoeste do estado brasileiro de São Paulo. Regularizada e tradicionalmente ocupada, tem uma área de 1,73 hectare e uma população de 586 pessoas, dos povos Guarani Mbya e Guarani Ñandeva. Situa-se nas bacias hidrográficas do rio Tietê, dentro do bioma Mata Atlântica. É coberta por floresta ombrófila densa (100%).[1]

História[editar | editar código-fonte]

Ocupação Tradicional[editar | editar código-fonte]

De acordo com o estudo antropológico de demarcação da Terra Indígena Jaraguá, a ocupação guarani da região remonta a tempos ancestrais e abrange uma vasta extensão geográfica, se estendendo desde a região do atual Paraguai, passando pela área de Misiones (atual Argentina) até o litoral brasileiro, onde se sobrepunha a territórios de outros grupos indígenas falantes de dialetos Tupi.[2]

No período do início da colonização portuguesa, os Guarani ocupavam a porção meridional do atual Estado de São Paulo, tornando-se, posteriormente, o grupo indígena majoritário na então Capitania de São Vicente, principalmente devido às expedições de captura realizadas pelos bandeirantes paulistas no século XVII.[2]

Simbolicamente, a circulação entre a região central que os Guarani concebiam como o "centro do mundo" (yvy mbyte), correspondente à tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, e a região litorânea que eles entendiam como a "extremidade do mundo" (yvy apy), abrangendo toda a mata atlântica costeira, era de extrema importância para o povo Guarani. Essa movimentação entre o interior e o litoral é atestada desde a época da Conquista, evidenciada em documentos históricos que descrevem o Caminho do Peabiru e nos movimentos proféticos em busca da chamada "terra sem mal", estudados pelo etnólogo Curt Nimuendaju.[2]

O território também está relacionado com o aldeamento jesuíta de Barueri, criado ainda no século XVI por José de Anchieta, e destruído pelo bandeirante Raposo Tavares em 1663.[2][3]

Ocupação Recente[editar | editar código-fonte]

No início dos anos 1960, ocorreu uma ocupação do território conhecido como Jaraguá, resultando na formação de duas aldeias: Tekoa Ytu e Tekoa Pyau, situadas na região do Jaraguá e pertencentes aos Guarani. Tekoa Ytu foi estabelecida pelo casal Joaquim Augusto Martins e dona Jandira Augusta Venício, juntamente com sua família, enquanto Tekoa Pyau foi liderada pelo cacique José Fernandes, que sentiu uma conexão espiritual com o local sagrado.[4][5]

As duas aldeias da Terra Indígena do Jaraguá coexistiam em terras contínuas até a construção da Rua Comendador José de Matos na década de 1980, que dividiu o território e provocou trajetórias distintas em termos de regularização fundiária. Tekoa Pyau teve disputas com a família Pereira Leite, que alegava ser proprietária da área, mas os Guarani ocuparam a região devido ao crescimento populacional e a necessidade de encontrar novos locais para sobreviver.[4]

Protesto de indígenas Guarani da Terra Indígena Jaraguá em favor da nova demarcação do território, em 2017.

Na década de 1980, a necessidade de reconhecimento das terras indígenas Guarani em São Paulo se tornou urgente devido a projetos imobiliários e turísticos e à construção de rodovias em seus territórios. A Terra Indígena Jaraguá foi demarcada em 1987 com apenas 2 hectares, sendo a menor terra indígena do país até então, porém, devido à falta de um estudo antropológico aprofundado, áreas essenciais para agricultura, caça, pesca, coleta, moradia e reprodução física e cultural dos Guarani foram desconsideradas, gerando problemas sociais, de saúde e sustento.[4]

Na década de 1990, a especulação imobiliária aumentou na região noroeste de São Paulo, levando a família Pereira Leite a exigir que os Guarani desocupassem a Tekoá Pyau. Em 1996, uma ação de reintegração de posse foi movida, mas a Polícia Federal interveio após o Ministério Público Federal ser acionado. Um novo processo de demarcação foi iniciado no mesmo ano, buscando expandir o território da Terra Indígena de 2 para 532 hectares, mas o laudo antropológico foi considerado incompleto, resultando na negação do pedido de ampliação da área para os indígenas, sem explicação clara para essa decisão.[4]

Protesto de indígenas Guarani na Terra Indígena Jaraguá contra o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em 2017.

O processo de demarcação enfrentou obstáculos na justiça, e a área ocupada pelos Guarani chegou a ser objeto de ação de reintegração de posse. A FUNAI afirmou que os indígenas ocupavam as terras que a Constituição lhes assegura. No dia 29 de maio de 2015, a Portaria nº 581 atendeu uma antiga exigência dos Guarani, que reivindicavam o reconhecimento de uma área mais ampla, de 532 hectares.[4]

Em agosto de 2017, o Ministério da Justiça anulou a Portaria Declaratória que havia declarado a Terra Indígena do Jaraguá com 532 hectares, alegando erro administrativo. Essa medida gerou ampla mobilização dos Guarani e organizações indígenas e indigenistas para suspender a portaria.[4] Após negociações e mobilizações, importantes avanços foram conquistados, como a gestão compartilhada do Parque Estadual do Jaraguá. A Terra Indígena Jaraguá continua declarada com 532 hectares, aguardando a homologação presidencial.[4]

Referências

  1. a b c Instituto Socioambiental. «Terra Indígena Jaraguá». Povos Indígenas do Brasil. Consultado em 6 de julho de 2022 
  2. a b c d Pimentel, Spensy Kmitta (30 de abril de 2013). «Resumo do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Jaraguá» (PDF). Diário Oficial da União (DOU) de 30 de Abril de 2013, p. 52 a 54. Consultado em 28 de julho de 2023. Cópia arquivada (PDF) em 28 de julho de 2023 
  3. Verazani, Katiane Soares (11 de setembro de 2009). «Assenhorear-se de terras indígenas: Barueri - sécs. XVI-XIX». São Paulo. doi:10.11606/d.8.2009.tde-30112009-144605. Consultado em 28 de julho de 2023 
  4. a b c d e f g «SP - Indígenas Guarani Mbya exigem demarcação da Terra Indígena Jaraguá». Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil. Consultado em 28 de julho de 2023 
  5. Silva, Fabio De Oliveira Nogueira Da (7 de março de 2008). «Elementos de etnografia Mbyá: lideranças e grupos familiares na aldeia Tekoá Pyaú (Jaraguá - São Paulo)». São Paulo. doi:10.11606/d.8.2008.tde-26052008-150345. Consultado em 28 de julho de 2023 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]