The End of a Love Affair

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The End of a Love Affair
Portugal Portugal  França
2003 •  cor •  8 min 
Género experimental
Direção Pedro Costa
Codireção João Fiadeiro
Elenco Gustavo Sumpta
Música Billie Holiday
Edição Patrícia Saramago
Companhia(s) produtora(s) RE.AL
Contracosta
Festival Temps d’Images
Lançamento 27 de setembro de 2003 (Portugal)
Idioma inglês

The End of a Love Affair é uma instalação de arte-vídeo e curta-metragem experimental luso-francesa de 2003, realizada e escrita por Pedro Costa e João Fiadeiro.[1][2] A obra, protagonizada por Gustavo Sumpta, retrata numa só take o estado de espírito de um homem quando o seu caso amoroso chega ao fim.[3] The End of a Love Affair foi apresentado originalmente no seu formato de instalação, a 27 de setembro de 2003, a propósito de um dos Estaleiros de arte do Festival Europeu Temps d’Images, em Lisboa.[4]

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Um homem está sozinho num quarto de hotel. De pé na janela, segura uma cadeira, como um empregado que espera o passar das horas. Há vagas de ruído que surgem da rua e, ocasionalmente, a cortina soprada pelo vento deixa entrar mais luz. Um cão está a latir ao longe. Começa uma música, The End of a Love Affair, com um arranjo de cordas elegíaco, acompanhado pela voz dilacerada pelo amor de Billie Holiday.[5]

Sentindo a agonia da canção, o homem da janela, senta-se na sua cadeira. A triste insistência da música retrata as suas emoções. Um sorriso parece começar a desenhar-se quando se ouve Holliday cantar "E o sorriso no meu rosto não é realmente um sorriso".[6]

Equipa técnica e artística[editar | editar código-fonte]

  • Realização e argumento: Pedro Costa e João Fiadeiro;
  • Intérprete: Gustavo Sumpta;
  • Música: Billie Holiday;
  • Espaço cénico: Walter Lauterer;
  • Som: Philippe Morel;
  • Montagem: Patrícia Saramago;[4]
  • Colaboração de Hugo Leitão.

Produção[editar | editar código-fonte]

O artista plástico Gustavo Sumpta, que antes deste projeto havia já colaborado com o coreógrafo João Fiadeiro (por exemplo, na obra Existência de 2002)[7], começou a pesquisar e usar a performance como seu meio artístico específico a partir de 2003 com participações no projeto LAB10 da banda portuguesa Bala e em The End of a Love Affair. Esta obra marca a primeira colaboração entre Sumpta e Pedro Costa, que se repetiria nas longa-metragens Juventude em Marcha (2006) e Cavalo Dinheiro (2014).[8]

The End of a Love Affair é uma co-produção entre Portugal e França, entre as companhias RE.AL e Contracosta, realizada em formato Insta2007, DVCAM, 4:3, para um dos Estaleiros artísticos do Festival Europeu Temps d’Images.[9] Nasce de uma tentativa de criação conjunta entre Pedro Costa e João Fiadeiro que resultou numa série de contratempos entre as visões dos artistas.

Para além da versão de curta-metragem de uma take, com a duração aproximada de oito minutos, a obra apresenta uma versão de instalação de vídeo mais longa, na qual é dividida em três takes que acompanham as três versões da mesma música homónima de Billie Holiday.[10]

Estética[editar | editar código-fonte]

O título The End of a Love Affair advém da canção homónima celebrizada por Billie Holiday.

The End of a Love Affair mistura influências do cinema experimental, na qual as versões da canção de Holliday se assumem como única fonte narrativa. Fiadeiro apresenta um corpo mudo e resistente enquanto a câmera de Costa mantém uma proximidade com o objetivo de gerar uma tensão extrema que incomode os espetadores. Este tipo de representação parece retomar o trabalho dos fotógrafos Jules Marey e Eadweard Muybridge, que tentaram reproduzir o imóvel e destruir a continuidade do movimento.

Do ponto de vista cinematográfico, a obra remete para os filmes de Jean-Claude Rousseau, nomeadamente para a atmosfera da curta Lettre à Roberto (2000), uma vez que ambas são ambientadas num quarto de hotel contextualizado enquanto espaço transitivo. A longa permanência no mesmo espaço fechado, remete igualmente para as anteriores longa-metragens de Costa: No Quarto da Vanda (2000) e Onde Jaz o Teu Sorriso? (2001). Do ponto de vista cénico, Fiadeiro demonstra o seu interesse por corpos que resistem em espaços de crise iminente. O modo como o coreógrafo apresenta o corpo de Sumpta à câmara de Costa procura semelhanças com os corpos que não dão os movimentos esperados, como o de Vanda ou de Danièle Huillet, dos filmes anteriormente referidos, respetivamente. Isso força a câmera a fixar-se num só lugar, numa tentativa de descobrir a "verdade" do personagem, algo característico do cinema de Costa.[10]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

A instalação The End of a Love Affair foi lançada a 27 de setembro de 2003, na sala de ensaio da Cinemateca Portuguesa (Lisboa)[11], a propósito do Festival Europeu Temps d’Images.[4] Em 2005, a versão curta-metragem foi exibida no Festival internacional Vienalle (Suíça).[6] Em 2007, o Centre de Cultura Contemporània de Barcelona (Espanha) organizou o evento Xcèntric, que integrou um ciclo dedicado ao cinema de Pedro Costa no qual The End of a Love Affair foi exibido a 7 de junho.[12] Em Portugal, o formato instalação de vídeo voltou a ser apresentado em 2012, a propósito do DocLisboa. A exposição Passages do festival incluiu, de 20 de outubro a 30 de novembro, nas galerias do espaço Carpe Diem, The End of a Love Affair integrado com a instalação Mulheres de Antuérpia de Chantal Akerman.[13]A curta-metragem foi também editada em DVD. Em março de 2011, a Midas lançou Ne Change Rien numa edição de colecionador que inclui The End of a Love Affair.[14][15]

O Festival IndieLisboa 2020[16] estreou a curta-metragem experimental Chantal + Pedro de Júlio Alves, produzida pela Midnight Express, na qual o realizador sobrepõe imagens da instalação Mulheres de Antuérpia, de Chantal Akerman, com The End of a Love Affair.[17] No mesmo ano, a Grasshopper Film lançou Vitalina Varela em Blu-ray, uma edição que incluí Chantal + Pedro.[18]

Receção crítica[editar | editar código-fonte]

Os programadores da Vienalle 2005 descreveram The End of a Love Affair como prova do "poder manipulador da combinação de imagem e som".[6] Na Ípsilon, José Marmeleira comenta a sua visita da instalação no DocLisboa, sumarizando a obra como "um curioso bailado entre Gustavo Sumpta e uma cortina empurrada pelo vento".[19] Numa resenha acerca da curta-metragem, Celeste Araújo (Blogs & Docs) considera que a ausência de qualquer artifício de The End of a Love Affair promove uma melhor compreensão do cinema e método de Pedro Costa: "mais do que em outros filmes, expõe o seu dispositivo e a simplicidade absoluta desse dispositivo, de forma austera e concisa. O filme revela os elementos essenciais da obra de Costa.[10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «COLÓQUIO 'PEDRO COSTA — CINEMA E PENSAMENTO', NA UNIVERSIDADE DE ÉVORA - Notícias». ICA. Consultado em 21 de março de 2021 
  2. «Les Films de l'Etranger | Pedro Costa». lesfilmsdeletranger (em francês). Consultado em 21 de março de 2021 
  3. «The End of a Love Affair - Pedro Costa». Google Arts & Culture (em inglês). Consultado em 21 de março de 2021 
  4. a b c «DuplaCena :: temps d'images 2003». www.tempsdimages-portugal.com. Consultado em 21 de março de 2021 
  5. The End of a Love Affair, consultado em 21 de março de 2021 
  6. a b c «THE END OF A LOVE AFFAIR | Viennale». www.viennale.at (em inglês). Consultado em 21 de março de 2021 
  7. «Gustavo Sumpta | La Porta BCN». www.laportabcn.com. Consultado em 21 de março de 2021 
  8. «Gustavo Sumpta (FIMP 2016) / Assim Não Vais Longe - Teatro Municipal do Porto». Gustavo Sumpta (FIMP 2016) / Assim Não Vais Longe -. Consultado em 21 de março de 2021 
  9. «fimp'16». Festival Internacional de Marionetas do Porto. Consultado em 21 de março de 2021 
  10. a b c «B L O G S & D O C S » The end of a love affair» (em inglês). Consultado em 21 de março de 2021 
  11. «Temps d'Images - Navigação». www.rajele.net. Consultado em 21 de março de 2021 
  12. «Pedro Costa | Activities». CCCB (em inglês). Consultado em 21 de março de 2021 
  13. Lapa, After You, Interactive Solutions and Gráficos à. «doclisboa - Program». www.doclisboa.org. Consultado em 21 de março de 2021 
  14. «Midas Filmes». www.midas-filmes.pt. Consultado em 2 de janeiro de 2021 
  15. «Cinema Guild - Ne Change Rien Press Release». cinemaguild.com. Consultado em 21 de março de 2021 
  16. «Lisbon Screenings». IndieLisboa. Consultado em 21 de março de 2021 
  17. «Chantal + Pedro | Portugal Film - Portuguese Film Agency». www.portugalfilm.org. Consultado em 21 de março de 2021 
  18. Cole, Jake. «Review: Pedro Costa's Vitalina Varela on Grasshopper Film Blu-ray» (em inglês). Consultado em 21 de março de 2021 
  19. Marmeleira, José. «Nas salas escuras de Pedro Costa com Chantal Akerman, filmes e vídeos». PÚBLICO. Consultado em 21 de março de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]