Usuário(a):Aline regina s/Testes

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Elvira Boni
Aline regina s/Testes
Nascimento 1899
Espírito Santo do Pinhal
Morte 1990
Cidadania Brasil
Ocupação ativista, política, sindicalista
Ideologia política anarquismo

Elvira Boni de Lacerda (Espirito Santo do Pinhal, 1899 - Rio de Janeiro, 1990) foi ativista política e líder grevista.[1] Nasceu no Espírito Santo do Pinhal - São Paulo. Se definia como a "mocinha do século passado". Era filha dos imigrantes italianos de Cremona[2] Angelo Boni e Tercila Aciratti Boni. Teve seu primeiro contato com as ideias socialistas dentro de casa, com seu pai que era operário metalúrgico, e seus irmãos. Aos oito anos de idade mudou-se junto com sua família para a cidade do Rio de Janeiro no bairro Cordovil[3]. Elvira teve que deixar os estudos para cuidar de um de seus irmãos que adoeceu e, por isso, não chegou a concluir o primário. Aos 12 anos começou a trabalhar como aprendiz em uma oficina de costura.[1] Casou-se com Olgier Lacerda, um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual participou também de suas atividades, mas sem se filiar.[4]

Em 1909 como consequência da propagação das ideias anarquistas fundou-se na então capital federal a Liga Anticlerical. A Liga desenvolveu intensa atividade, inclusive uma campanha chamada “Onde está Idalina?”, que durou dois anos, denunciando o padre Faustino Consoni pelo estupro e morte da menor de idade Idalina de Oliveira. No meio de toda essa agitação, Elvira iniciou-se na vida sindical e política.[1]

Depois de passar por algumas oficinas de costura, Elvira teve que decidir entre montar seu próprio negócio ou fazer o trabalho sindical - decidindo-se então pelo trabalho sindical. Em maio de 1919 fundou[4], com outras profissionais, a União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas promovendo greve vitoriosa para a categoria.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Família e primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Elvira nasceu no ano de 1899 em Espirito Santo do Pinhal. Filha dos imigrantes Italianos de Cremona[2] Ângelo Boni e Tercila Aciratti Boni. Teve seu primeiro contato com as ideias socialistas dentro de casa[5] com seu pai que era operário metalúrgico. Aos oito anos de idade mudou-se junto com sua família para a cidade do Rio de Janeiro no bairro Cordovil[3]. Devido a uma doença que um de seus irmãos contraiu, Elvira teve que abandonar os estudos e, como consequência não chegou a concluir o primário.

Elvira sempre teve contato direto com a costura, quando pequena observava de perto sua mãe costurando em uma máquina de mão vinda direto da Itália. Logo depois, seu pai as presenteou com a melhor máquina que havia na época, uma Singer gabinete.[6] Aos 12 anos de idade começou a trabalhar como aprendiz em uma oficina de costura.[1] Assim, aos 17, 18 anos de idade, Elvira já costurava para si mesma e suas irmãs. A costura nessa época surge como uma das principais atividades desempenhadas no lar por mulheres que tinham filhos, mas que precisavam trabalhar.[6]

Cresceu em um meio doméstico com viés libertário[1], seu pai, Ângelo, aproximou-se do anarquismo graças a uma amizade feita com um sapateiro espanhol chamado Francisco Carrillo e um italiano chamado Stefano Guacchi, com os quais discutia noites inteiras sobre artigos lidos em jornais italianos[2]. Esses amigos foram os responsáveis por apresentar para Ângelo o 'Círculo Socialista Dante Alighieri' fundado em Pinhal.[2]

Sua mãe, católica praticante, aproximou-se também das ideias anarquistas[2] por responsabilidade de seu marido, que quando achava algum artigo interessante de temática anticlerical lia para ela[5]. A família inteira de Elvira, portanto, se relacionava com o anarquismo de alguma forma, um exemplo disso, era seu irmão, que foi detido certa vez por propagar o Jornal Espartacus no Rio de Janeiro o que também resultou em sua demissão do trabalho.[5]

Vida profissional e sindical[editar | editar código-fonte]

Aos 12 anos começou a trabalhar como aprendiz em uma oficina de costura na rua Uruguaiana.[3] A principio, Elvira não recebia salário e depois de um tempo começou a receber 10 mil réis por mês. Já conhecia a Liga Anticlerical, com sede na Av. Marechal Floriano. Por essa época (1911-1912), a jornada de trabalho começava às 8h e terminava à 19h, mas quando o serviço era muito, prolongava-se até entre 20 e 22h.[3]

No meio da agitação depois da fundação da Liga Anticlerical e da propagação das ideias anarquistas, Elvira iniciou-se na vida sindical e política.[1] Passou por diversas oficinas de costura, até que então teve que escolher entre montar seu próprio negócio ou fazer apenas o trabalho sindical. Devido ao alto gasto que é tornar-se empresária, e também a baixa quantia que sua pequena oficina de costura lhe dava, Elvira não conseguia pagar devidamente as suas funcionárias e optou então dedicar-se apenas ao trabalho sindical.[6]

Em maio de 1919 fundou, com Elisa Gonçalves de Oliveira, Carmen Ribeiro, Isabel Peleteiro, Noêmia Lopes, Aida Morais e outras profissionais, a União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas, ainda no primeiro momento do movimento feminista no Brasil, essa União formava o movimento das operárias de ideologia anarquista, que proclamavam a situação da mulher nas fábricas e nas oficinas.[7]

A sede da União funcionava na antiga sede da "União dos Alfaiates do Rio de Janeiro".[3] Coube a Elvira Boni a tarefa de ler o discurso de inauguração, publicado depois no tradicional periódico Jornal do Brasil. Três meses depois, a União organizou a primeira iniciativa da associação - uma greve vitoriosa por melhores salários e jornada de trabalho de oito horas. Muitas grevistas foram punidas com demissão. Não obstante, apesar das medidas repressoras, as trabalhadoras continuaram sua marcha emancipadora.[8] A greve foi noticiada pelo Jornal do Brasil como “a greve das abelhas de luxo”.[3]

Em 1920, Elvira presidiu a mesa de trabalhos do III Congresso Operário Brasileiro, e também sua sessão de encerramento, que ocorreu no mesmo ano.[3]

É possível notarmos na foto, que foi publicada no Jornal Voz do Povo de 1º de maio de 1920, o número elevado de mulheres presentes no congresso. Na mesa, no entanto, havia apenas Elvira[9]. A partir daí, é possível notar a importância que Elvira adquiriu dentro do movimento operário, visto que ela foi escolhida para presidir a mesa de abertura do Congresso, e também para discursar, sendo muito aplaudida por aqueles presentes ao final de sua fala. A operária que não havia nem terminado o ensino primário[1], possuía o respeito da classe trabalhadora, conquistando ali seu espaço nas esferas discursivas políticas.[9]

Ela apresentou peças anarquistas e anticlericais, interpretadas por grupos amadores nos palcos dos salões das associações operárias do Rio de Janeiro.[8] Em 1921, por indicação de José Oiticica integrou o Comitê Pró-Flagelados Russos, que visava a auxiliar populações vítimas da seca naquele país, ocorrida após a Guerra Civil.[10] No período 1921 – 1922 participou da revista Renovação, dirigida pelo português Marques da Costa, dando-lhe seu nome como responsável pelo veículo (já que o diretor era estrangeiro, o que não era permitido na época). Em um dos artigos da revista, intitulado 'A Festa da Penha', depois de mostrar o lado alegre, mas também triste dos pagadores de promessas, subindo a Escadaria da Penha de joelhos, Elvira Boni termina com o seguinte comunicado: "E tu, mulher, que és indispensável ao êxito de qualquer iniciativa, deves impor-te abandonando todas essas manifestações de vício e depravação; deves conjugar todos os teus esforços, buscando a instrução como principal fator para uma vitória consciente, e ao lado dos homens, formar no batalhão de uma sociedade onde a cadeia seja substituída pela Escola e não exista o ódio no lugar do amor".[3]

Elvira também escreveu com certa frequência para o Jornal O Operário a partir do de 1912. É possível observar em seus sete textos publicados uma postura anticlerical (que combate a influência política, moral ou social do clero), defendendo, inclusive, o amor livre e a escolha de parceiros, como podemos observar neste trecho de seu artigo intitulado "O divórcio", de outubro de 1912[11] - "Parece incrível que essa jesuitada de casaca e outros tantos de batina se preocupem tanto com a resolução que tomaram meia dúzia de homens de repelir os preconceitos da infernal Madre-Igreja. Não contentes essa corja de destruírem o amor livre e levantarem códigos para o afeto e legislações para o poema do beijo, criando leis para união passional de duas almas completares que se encontraram e se amaram no embate das lutas (...): tentam ainda imporem a sua vontade na vida privada dos que se acham divorciados dos seus preconceitos".[11]

Junto com Noêmia Lopes (também fundadora da União), foi determinada como representante da União das Costureiras, e também nomeada tesoureira entre os anos 1919 e 1922, quando a entidade acabou fechando por falta de interesse entre as mulheres em participar do movimento sindical.[1]

Com as divergências entre os fundadores do Partido Comunista Brasileiro e os anarquistas, Elvira Boni se afasta do movimento libertário.[8]

Casamento[editar | editar código-fonte]

Durante sua participação em um grupo de teatro operário, o Grupo Dramático 1º de Maio, Elvira conheceu no ano de 1917 o comerciante Olgier Lacerda, um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB), com quem casou-se algum tempo depois.[1]

Seu casamento coincidiu com o encerramento da União das Costureiras, quando Elvira deixou de trabalhar fora, e continuou a trabalhar em casa, fazendo não só os serviços domésticos, mas também alguns pequenos serviços de costura, como a produção de calças e coletes masculinos.[6] Entre 1925 e 1929, o casal morou no Rio Grande do Sul, estado onde nasceram suas duas filhas - Vanda Lacerda (atriz brasileira de teatro, cinema e televisão) e Zeni. Por culpa das crianças, durante essa época, Elvira participou pouco das atividades políticas. Mas, ainda assim, engajou-se no Socorro Vermelho, organização comunista internacional que tinha como principal objetivo recolher e encaminhar fundos para famílias de trabalhadores perseguidos e presos. Apesar de grande colaboradora da causa comunista, Elvira nunca filiou-se realmente ao PCB. Em 1938, foi morar na cidade do Rio de Janeiro em Santa Teresa. Lá, em 1949, fundou com outras mulheres a Associação de Senhoras de Santa Teresa, que desenvolveu um importante trabalho comunitário de proteção à infância, buscando melhorias para o bairro.[1]

Elvira morreu no Rio de Janeiro em 1990.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l Zahar, Jorge (2017). Dicionário Mulheres do Brasil (PDF). [S.l.]: Le Livros. 229 páginas. Consultado em 2018  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  2. a b c d e Toledo, Edilene. «Imigrantes e operários de origem italiana em São Paulo e em Minas da Primeira República ao Estado Novo» (PDF). UNIFESP. Consultado em 2018  line feed character character in |titulo= at position 69 (ajuda); Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  3. a b c d e f g h «BIOGRAFIAS DE ANARCOFEMINISTAS» (PDF). Coletivo Anarquista Bandeira Negra. Consultado em 2018  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  4. a b «Elvira Boni de Lacerda (1899-1990) – Mulher 500 Anos Atrás dos Panos». www.mulher500.org.br. Consultado em 18 de novembro de 2018 
  5. a b c Brunello, Giulia (2014). «MILITANTES QUE LEEM UM JORNAL ANARQUISTA: ANÁLISE DE UM RITO (SÃO PAULO, 1917-1935)» (PDF). Universidade de São Paulo – USP. Consultado em 2018  line feed character character in |titulo= at position 53 (ajuda); Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  6. a b c d Moura, Esmeralda Blanco B. de (12 de junho de 2017). «Trabalhadoras no lar: reflexões sobre o trabalho domiciliar em São Paulo nos primeiros anos da República». Diálogos. 4 (1): 161–184. ISSN 2177-2940 
  7. Silverol, Karla Paiva (maio de 2014). «Direito e feminismo. Abordagens sobre o feminismo». Consultado em 2018  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  8. a b c Dias, Mabel (2003). Mulheres Anarquistas - Resgate de uma história pouco contada. [S.l.: s.n.] 
  9. a b Porto, Boenavides, Débora Luciene (2018). «A escrita da mulher trabalhadora na imprensa operária brasileira da República Velha : a luta contra o enclausuramento e o preconceito linguístico» (em inglês) 
  10. RODRIGUES, Edgar (2007). Mulheres e Anarquia. Rio de Janeiro: [s.n.]  Verifique data em: |acessodata= (ajuda);
  11. a b Amaral, Fundação Ubaldino do. «Elvira Boni Lacerda em seu devido lugar». Jornal Cruzeiro do Sul